Conheça Allan Aal, técnico do Grêmio Novorizontino, surpresa da Série B 2022
Com um bom começo no início de Série B, o comandante da equipe paulista, Allan Aal, conversou com o Footure.
Surpreendendo neste início de Série B, o Grêmio Novorizontino se encontra na quinta colocação da competição, com 12 pontos. Um ponto atrás do Vasco, quarto colocado. Muito dessa surpresa se vem da campanha ruim no Campeonato Paulista, onde terminou rebaixada. O trabalho do treinador Allan Aal tem sido bastante destacado. O comandante vem duas boas campanhas com Cuiabá e CRB no torneio. Em entrevista ao Footure, Aal comentou um pouco sobre os aspectos táticos que usa nos seus times. A primeira parte da conversa você confere abaixo:
Em 2020 você participou do acesso do Cuiabá. E na última temporada esteve na melhor campanha do CRB nos pontos corridos. Qual o principal segredo para conseguir manter campanhas tão competitivas em torneios de pontos corridos?
Eu acho que não é um segredo, mas é constância do trabalho, da intensidade, de uma série de fatores que contribuem para que a gente possa desempenhar bons trabalhos. Fundamental citar também que o grupo é muito importante no entendimento dos processos para que os resultados aconteçam. Foi assim no primeiro turno lá no Paraná Clube, quando a gente iniciou um campeonato muito bom, surpreendendo todas as expectativas. Depois a sequência no Cuiabá, no CRB a mesma coisa e a gente espera que aqui no Novorizontino fazer o que a gente vinha fazendo nas outras competições.
Como você falou, a Série B é um campeonato de regularidade e eu acredito que o nosso dia-a-dia de trabalho também tem que ser regular. Porque são os pequenos detalhes, são pequenas decisões que a gente toma durante a partida, é uma manutenção de uma organização tática independente do sistema que você joga. Eu acho que todos esses fatores contribuem para que a gente monte uma equipe competitiva e organizada, porque é uma competição que exige muito em todos os aspectos. Então eu valorizo muito o dia-a-dia do trabalho, valorizo o entendimento do jogador dentro de campo e também a qualidade técnica, para que a gente possa extrair o máximo possível de cada atleta.
Passando agora para a parte mais estrutural da equipe. Algo que percebi é que suas equipes no momento defensivo normalmente buscam atrair o rival para os lados do campo, fechando o espaço por dentro. Qual a principal vantagem que você enxerga para realizar esse movimento?
De um modo geral a gente sempre procura direcionar o nosso adversário para o lado que não seja o mais forte dele, vamos dizer assim. Para que a gente tenha, e eu falo isso para os atletas, a linha lateral como um marcador a mais a nosso favor. Você deixando a equipe adversária trabalhar pelo corredor central, fazer essa circulação com facilidade, acaba te desorganizando em algum momento. Então a gente procura definir um lado, procura direcionar o adversário pra onde a gente queira, para sofrermos o menos possível defensivamente é fundamental e que causa menos desgaste físico para a equipe.
Eu acho que o ponto principal para você se defender, é você se desgastar o mínimo possível. Então você direcionando, evitando essa circulação, acho que contribui de uma maneiro muito maior do que se você de repente direcionando uma marcação individual ou algo assim. Pelo menos essa é a minha maneira de pensar e o que a gente tem procurado fazer em todas as equipes que a gente passa.
Além dessa questão, seus times basculam muito para o setor onde a bola fica, tentando criar uma superioridade numérica no setor da bola. Mas qual o comportamento trabalhado em jogos que o adversário fique trocando rapidamente de corredor?
Esse direcionamento e esse entendimento, é como eu falei para você. A gente procura trabalhar muito da estratégia de jogo para jogo. Procurando detectar o lado mais forte ou a característica mais consistente do adversário para a podermos neutralizar. E quando acontece esse tipo de balanço com velocidade, a gente também tem que ter um balanço veloz e tirar a velocidade do adversário muitas vezes tendo a humildade de baixar um pouquinho mais a linha. Porque todo treinador costuma falar em pressão alta e muitas vezes você não consegue fazer isso durante o jogo todo.
E aí você tem que procurar alternativas para ter essa humildade de baixar um pouquinho a linha mais, tirar a velocidade dessa circulação e compactar o seu time o máximo possível para poder neutralizar esse balanço como você citou de uma maneira de velocidade, de troca de corredor com intensidade. Que tem equipes que fazem isso com muita facilidade e a gente tem que saber que a gente precisar um passinho atrás pra se proteger e engatilhar de uma maneira organizada a tua transição para também espetar o adversário no momento em que estiver com a bola.
Falando em pressão, no Novorizontino você começou realizando uma pressão em 4-4-2 nos primeiros jogos e nos últimos jogos percebi a equipe realizando uma pressão em 4-1-3-2 (como no duelo contra o CRB), com um volantes saltando para colar no volante rival. Gostaria de saber quais as diferenças de uma para a outra, o motivo dessa alteração na forma de pressionar e como você enxerga essa ideia de pressionar a saída de bola adversária?
Eu vejo que primeiro você tem que analisar as características dos atletas que tu tem na tua mão. Você por exemplo exigir uma pressão alta de alguns atletas que não tem essa característica é você deixar ele desconfortável no jogo e exigir fisicamente aquilo que ele não pode te entregar. E pelo fato de nós alternamos em algumas partidas esse 4-4-2 para esse 4-1-3-2, primeiro em questão de estratégia, aquilo que a gente vê que pode explorar em relação ao adversário e também pela característica dos nossos atletas. Nós temos ali um volante de muita força que vem jogando os últimos jogos com constância, que é o Jhony, e um segundo volante ou um meio campista o Bochecha, que tem essa característica de se juntar a frente com mais facilidade. Então, a gente vem procurando fazer essas alternâncias, em alguns momentos empurrando um lateral nosso para que a gente fique só com três atrás, e direcione (como você disse na primeira pergunta) o adversário para um corredor só e fazer com que ele não use os outros corredores, fazer com que ele não circule essa bola. Então essas variações a gente vem trabalhando diariamente, vem procurando transmitir aos atletas, para que a gente possa variar até mesmo durante uma partida e explorar aquilo que temos de melhor, de característica individual de cada atleta.
Continuando na defesa, quando os rivais encontram passes na entrelinha, os zagueiros do Novorizontino (CRB idem) costumam avançar para encurtar a distância deles. Como é feito esse trabalho para essa reação ser executada no tempo correto?
Exatamente. Essa sincronia é fundamental e essa leitura do atleta dentro de campo para perceber em qual zona do campo está entrando esse passe entrelinhas é fundamental. Você perto da tua área ali tem que diminuir um pouquinho mais esse espaço, porque é uma zona do campo que eu particularmente acredito que a sobra tem que ser do goleiro. Ali você tem que ter um encaixe um pouco maior e diminuir espaço, porque uma finalização próxima do nosso gol pode gerar muito perigo. Já saindo um pouco disso, numa zona mais intermediária, de meio de campo, você ter essa leitura de diminuir, mas ao mesmo tempo em alguns momentos temporizar. Quando essa distância é maior dá para encaixar um volante no espaço entrelinhas.
E quando sai um zagueiro a gente procura fazer sempre uma cobertura com os outros três, o outro zagueiro e os dois laterais, para que a gente não dê o espaço que o adversário busca quando acha esse passe entrelinhas, esse espaço de profundidade. Então essa leitura vem sendo muito bem executada por todos nossos defensores. Nós começamos com uma dupla de zaga, estamos trabalhando com outra e é um setor que a gente ta muito bem servido. Então essa variação vai ser constante e o entendimento tem que ser muito firme, muito seguro pra essas tomadas de decisões, que são os atletas que executam durante as partidas.
E como controlar para que o defensor não suba muito, gerando buracos? Como fazer para que ele não se empolgue. Sabemos que defensores no Brasil normalmente são formados muitas vezes através de encaixes individuais, muito no homem a homem.
Eu falo para eles que, não lembro onde, li um artigo que falava que a cada dois botes errados em um adversário é uma chance de gol. Então a gente tenta evitar isso. A gente diminui o espaço, mas sem dar aquele bote errado, aquela precipitação que você ta falando na marcação. Que acaba gerando uma superioridade do adversário. Então esse controle a gente busca fazer no dia-a-dia de trabalho, de superioridade numérica do adversário, no passe entrelinha, dessa temporização da nossa linha defensiva. E ao mesmo tempo a gente ir para o confronto individual na zona do campo onde sabemos que ainda temos o recurso da falta. Daquela falta técnica, aquela falta tática sem tomar cartão, que você pode arriscar um pouquinho mais. Isso a gente vem buscando passar nos trabalhos no dia-a-dia.
E da leitura. A leitura dos zagueiros eu acho que é fundamental. De você saber que sair para quebrar linha ou é para roubar a bola, ou então fazer uma falta tática ali e não deixar um setor descoberto que gere muito espaço para o adversário pra poder atacar o espaço. Então eu acho que é fundamental o trabalho e também a característica, aquilo que te falei da característica individual. Nós temos zagueiros com uma característica muito boa dessa quebra de linha. E a leitura da cobertura dos laterais quando acontece esse tipo de saída dos nossos zagueiros também vem sendo um equilíbrio defensivo muito grande a nosso favor.
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