AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Inspirando-se em estudo do The Athletic, a Footure analisa 26 funções exercidas por jogadores no futebol brasileiro.

No mundo do futebol existem vários casos de atletas que não conseguiram desempenhar bem em um clube. Porém, ao partirem para outro contexto, elevaram rapidamente o nível de atuação. Às vezes isso acontece no mesmo time, contudo, com outro treinador. E tais casos sempre trazem à tona discussões sobre diversos assuntos, principalmente a respeito das funções desempenhadas em campo. 

Dentro das quatro linhas, jogadores podem desempenhar várias funções diferentes. Mas a grande pergunta é: quais funções seriam essas e quais características são necessárias de cada atleta para desempenha-las? Claro que o esporte em si é bem mais complexo que isso, não há como tratar os atletas como robôs e visar algo totalmente linear. Até porque os mesmos podem desenvolver algumas valências novas com o decorrer do tempo. Contudo, recentemente o The Athletic escreveu um artigo muito interessante abordando 18 funções presentes em campo e exemplificando, com estatísticas, alguns jogadores que se encaixavam em cada uma delas.

O artigo traz à tona diversas formas que um jogador pode atuar e é bem diversificado. E a Footure resolveu reproduzir esse estudo para a realidade do futebol brasileiro. Além das funções citadas pelo veículo inglês, também foram adicionadas outras funções que são bastante vistas no nosso contexto. Em uma avaliação bastante criteriosa, a Footure listou 26 funções, com três exemplos em cada uma delas. Os atletas citados foram escolhidos através de análise quantitativa e qualitativa, chegando a 78 exemplos.


  • Finalizadores: Como o nome indica, são atletas focados em entrar na área e finalizar as jogadas. Podem ser jogadores de boa capacidade com a bola, porém, normalmente não participam ativamente da construção. 
  • Jogador Alvo: São envolvidos na construção de jogo de sua equipe. Em especial em jogadas pelo alto (via jogo direto) ou realizando movimentos no pivô. Em sua maioria, são mais uma ameaça finalizando as jogadas do que driblando ou passando.
  • Centroavantes de mobilidade: Gostam de se movimentar pelas laterais ou recuando, visando criar para seus companheiros através do passe, quando não estão em direção ao gol. Destacam-se pela boa capacidade em criar oportunidades através do passe. Inclui atacantes móveis, falsos-nove e alas híbridos.
  • Segundos atacantes: Atuam ao lado de um camisa 9, sendo mais móveis e trabalhando muito fora da área, normalmente pegando a bola para finalizar “de frente”. Normalmente são jogadores bons em espaço curto.
  • Extremos de ruptura: Atacam a profundidade e entram muito na área. Podem realizar cortes para linha de fundo ou buscar alçar a bola na área, mas preferem receber a última ou penúltima bola. 
  • Extremos construtores: Gostam de centralizar bastante, atuando muitas vezes no meio de campo adversário. Ótimos com passes, associações, criações de jogadas e cruzamentos. São muito mais criadores e geradores de oportunidades do que velocistas. 
  • Dribladores: Jogadores que recebem muitos passes, dentro e fora da área, tendo uma grande participação em lances de 1×1. Levam muita vantagem em lances de vitória pessoal. Nem sempre envolvidos com gol. Recebem muitas faltas em campo. 
  • Finalizadores: Não tocam muito na bola, exceto quando estão mais próximos ao gol. São mais corredores sem bola do que necessariamente passadores, mas com bom último passe. Tem boa capacidade no drible. 
  • Criadores: São os meias que buscam os passes mais arriscados, que quebram as linhas adversárias. Jogadores chave para o funcionamento da criação de sua equipe. 
  • Maestros: Tem preferência em participar mais da circulação de bola do que arriscar os passes finais. Jogadores que trabalham bem em passes curtos. 
  • Meia total: Conseguem influenciar de todas as formas no último terço, sendo jogadores de muita criatividade com a bola. Porém, também com envolvimento com gols, além da capacidade em espaços curtos e drible. 
  • Todocampistas: Como o próprio nome indica, são jogadores que são influentes em todas as áreas do campo para sua equipe, participando ativamente da construção e também com boa chegada na área. Geralmente são as bases ofensivas de suas equipes. 
  • Box to box (área a área): Defendem em campo próprio, mas também entram bastante na área rival, inclusive com chances de finalizar. Não são jogadores tão envolvidos na construção e buscam passes mais conservadores. 
  • Distribuidores: Dão preferência à passes mais longos, lançamentos, inversões e lances de jogo direto. São mais ativos no campo de ataque adversário do que defendendo em campo próprio. 
  • Construtores: Servem como base para a circulação de bola, sendo o ponto de retorno em muitas oportunidades. Além de serem o ponto de firmeza defensivo do meio-campo. 
  • Destruidores: São as bases defensivas de seus times no meio-campo. Normalmente são jogadores bons em duelos defensivos, em situações de desarme e interceptações. Com a bola, são pouco envolvidos na parte ofensiva, arriscando pouco com a bola nos pés. 
  • Ultrapassador: Entram no terço final, driblam e acertam cruzamentos. Preferem receber passes em profundidade ou bolas longas, ao invés de construírem a jogada. Usam muito as ultrapassagens para a linha de fundo. A maior parte dos laterais se enquadra aqui.
  • Criador: Trabalham ativamente na construção de jogadas, com passes curtos, longos ou cruzamentos. São ativos durante toda a fase de construção, podendo jogar mais por dentro, na base da jogada.
  • Defensivos: Não se envolvem muito na parte ofensiva. Ficam mais retidos a defesa próxima ao seu gol, evitando correr riscos em lances com a bola. Normalmente são bons defensores.
  • Agressivos: Gostam de desarmar e conduzir/driblar. Não são muito bons em cortes ou passes longos. Inclui muitos zagueiros atuando pelos lados em situações de três defensores.  
  • Âncoras: Seguros passando a bola e bons defensores próximos ao gol. Normalmente se destacam em rebatidas e cortes. Como o próprio nome indica, são referências defendendo. 
  • Velocistas: Bons em passes mais longos e mais diretos. Às vezes, saem na posse ou fecham na defesa. Boa capacidade em correr para trás, cobrindo uma área de campo em linhas altas.
  • Rebatedores: Zagueiros com baixo índice de qualidade no passe. Suas maiores qualidades são defendendo em linha baixa, próximo ao gol, destacando-se por vitórias pelo alto e capacidade de rebatida. 
  • Construtores: Defensores com forte predominância no passe, sendo os principais agentes de iniciação de jogadas de seus times, com passes curtos ou longos. 
  • Goleiros ativos: São os goleiros que participam mais da construção de suas equipes. Sendo bons com a bola nos pés. Além da boa capacidade em jogarem adiantados, conseguindo cortar lançamentos rivais e saindo rapidamente nos pés dos atacantes.
  • Goleiros reativos: Preferem ficar mais retidos à grande área. Não atuam frequentemente na construção de jogadas. Normalmente são jogadores de boa colocação embaixo das traves.

JOGADORES MULTIFUNCIONAIS AO LONGO DA CARREIRA

Apesar do artigo apresentar exemplos de jogadores por função, vale destacar que existem vários atletas capazes de jogar em muitas funções e desempenhar de várias formas diferentes. E alguns vão mudando ao longo da carreira, alterando sua forma de jogar. Um dos exemplos a nível nacional é Gustavo Scarpa, hoje no Atlético Mineiro. Nos primeiros anos de carreira no Fluminense, em uma faixa mais central, era o principal criador de jogadas do Tricolor, se enquadrando no conceito de Criador. Usava bastante cruzamentos, buscando a referência na área, ou atletas em infiltração. 

Já no Palmeiras, Scarpa alternou bastante. Em alguns momentos manteve sua função de criador, porém, Abel Ferreira chegou a utilizá-lo como um ala esquerda, sendo um Lateral Criador ou um Extremo Construtor no lado direito do campo. Recebia muito a bola por dentro, em zonas entrelinhas. O jogador manteve o bom rendimento nas funções novas, chegando a se destacar em uma final de Copa Libertadores. E agora, no Atlético, Scarpa novamente está sendo usado como um Ala Criador. Porém, diferentemente de Abel, Gabriel Milito utiliza o atleta pelo lado direito, usando seu pé esquerdo calibrado para encontrar os companheiros com inversões de jogo ou cruzamentos no lado contrário da defesa. 

Gráfico no Palmeiras
Gráfico no Atlético-MG


Além disso, alguns atletas vão mudando de funções devido às mudanças corporais. O experiente atacante Vagner Love atuou como segundo atacante durante a maior parte de sua carreira, utilizando bem sua velocidade para conduzir a bola ou realizando desmarques próximos ao gol. Com o passar dos anos, Love perdeu explosão e ganhou mais massa muscular, passando a ser um centroavante de mobilidade, também obtendo um bom rendimento na carreira.

O artigo busca entender as características dos atletas, onde cada um naturalmente se encaixa dentro de campo, somado a demanda que o clube busca. Essa é uma união determinante para o sucesso ou desenvolvimento de atletas, dentro da sua equipe ou ao longo de sua carreira. Esse debate costuma ser amplo e sempre aberto a novas atualizações.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?