A nova aventura de 'El Loco' Bielsa: o Uruguai
Anunciado na seleção uruguaia, Marcelo Bielsa tem histórico em seleções e desenvolvendo jogadores.
Na última segunda (16/05), a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) fez o anúncio de uma parceria que a princípio parece inusitada, mas que causa um enorme senso de curiosidade na comunidade futebolística: Marcelo “El Loco” Bielsa.
Ao pensar na forma que a Celeste atua historicamente, El Loco parece ser a completa antítese do histórico e vencedor futebol charrua. Mas ao observar as características das principais referências técnicas da seleção, podemos encontrar razões para acreditar em um match do técnico com a seleção.
Antes de tudo, é preciso ter em mente que Bielsa é admirado e uma referência para vários profissionais do meio. Antes de um duelo pela Premier League, Pep Guardiola referiu-se ao argentino como a pessoa que ele mais admira do futebol. “Acho que ele é o treinador mais autêntico o tempo todo. Em termos de como ele conduz suas equipes, ele é único. Ninguém pode imitá-lo, é impossível, principalmente seu comportamento como pessoa fora do campo e relacionado à mídia”.
Ao ouvir pessoas que trabalharam com Bielsa a impressão se mantém, seu ex-auxiliar Javier Torrente certa vez falou que Bielsa mudou completamente a sua forma de ver futebol. “Quando cheguei para trabalhar com Marcelo Bielsa, eu pensava que sabia de futebol. Porém, foram necessárias duas semanas com ele para me dar conta que havia um universo pela frente para ser estudado e compreendido”.
O MODELO DE JOGO DE BIELSA
Dentro de campo, uma das principais características dos trabalhos de Bielsa é o momento dos pós perda. Quase sempre buscando uma pressão forte no portador da bola, o treinador exige um esforço físico alto e um nível de concentração elevado dos atletas.
Bielsa é adepto de pressionar com encaixes longos e pré determinados anteriormente. Seus extremos acompanham os laterais, seus meias colam nos volantes e o centroavante normalmente faz o trabalho nos zagueiros adversários.
Essa agressividade parte não só do momento em que perde a bola, mas também quando o adversário vai recuando. Seu Leeds tinha um gatilho para subir a marcação a cada momento que a bola chegava nos pés dos zagueiros. A partir desse momento, The Whites subiam as linhas, pressionando e forçando o erro para recuperar a bola.
Porém, é interessante observar a velocidade de recomposição da equipe quando a linha de pressão é quebrada. Com os extremos em especial chegando muito rapidamente para acompanhar os laterais rivais até o término da jogada.
No Leeds podia ser observado uma saída sustentada da equipe. Tentando atrair os rivais para o campo da equipe e gerar espaço no campo ofensivo da equipe. Por isso, em muitos momentos nessa fase, busca-se o passe a média e longa distância, tentando conectar aos extremos ou os meias na entrelinha.
Uma figura muito importante na criação da equipe era o volante Kalvin Phillips. Sendo um dos principais jogadores coordenando a pressão da equipe, o volante também mostrava um bom dinamismo ajudando na rotação de bola e fazendo o movimento de bascular para o setor onde a bola se encontra.
Porém, além do camisa 5, os meias tem muito destaque aparecendo no último terço. Infiltrando para aparecer na área, ou fazer o pivô rapidamente para os extremas. Em uma equipe que busca colocar muitos jogadores dentro da área.
O ataque da equipe consistia em uma troca rápida de passes, para chegar rapidamente a área. Usando bem o conceito de terceiro homem para obter vantagens, principalmente pelos lados do campo. Com Raphinha sendo a maior referência técnica da equipe.
A CHEGADA DE BIELSA NO URUGUAI E OS TRABALHOS EM CHILE E ARGENTINA
No Uruguai, o treinador voltará a realizar um trabalho em seleções. Já tendo tido passagens pela Argentina e pelo Chile. Na seleção de seu país, o trabalho se iniciou de maneira impactante. Classificada em primeiro, com 12 pontos de vantagem para o segundo colocado e com apenas uma derrota, criou-se uma expectativa de título, contudo, a equipe acabou eliminada ainda na primeira fase da competição, sendo uma das maiores decepções do maior torneio do mundo.
Já na sua trajetória pelo Chile, pode ser considerada positiva. Assim como na Argentina, Bielsa teve uma grande fase eliminatória, conseguindo a classificação em segundo lugar. E na Copa, mesmo caindo em um grupo complicado com Suíça e a campeã do Mundo Espanha, a seleção chilena alcançou as oitavas de final, sendo eliminada pelo Brasil.
Imaginando as opções disponíveis no Uruguai, é possível imaginar Ugarte, atualmente no Sporting, sendo uma das peças importantes na seleção. O volante tem facilidade para pressionar, tendo um bom tempo de bola para interceptar as jogadas, podendo ser um dos principais jogadores coordenando a pressão da equipe.
Veloz para a posição, o uruguaio consegue cobrir rapidamente os espaços do campo, em campo ofensivo ou defensivo. Entretanto, Ugarte ainda não arrisca tanto ao passar, mas apresenta uma boa visão prévia, conseguindo antecipar rapidamente os movimentos da defesa e passando mais rapidamente.
Ainda no meio-campo, Fede Valverde deve ser a grande estrela da equipe. O jogador do Real Madrid consegue participar ativamente em todas as áreas do campo, tendo uma facilidade para conduzir a bola com seu pé direito. Dono de um biotipo privilegiado, Fede consegue percorrer grandes distâncias em campo e também apresenta boa versatilidade, podendo atuar como um meia pela direita, ou como interior/volante a depender da situação do jogo.
Na atual temporada, Valverde começou a marcar mais gols, principalmente com chutes a média distância. Com as saídas de Suarez e Cavani, a tendência é que vire a nova referência técnica da Celeste.
Um casamento que a primeira vista parece ser complexo, mas ao se observar as minúcias, conseguimos ver que Marcelo Bielsa e Uruguai podem dar muito certo. Com um ciclo inteiro a sua disposição e eliminatórias de bom nível técnico — mas que classificam muitas equipes — o treinador terá tempo e adversários de qualidade para evoluir a Celeste e dar o salto para voltar a brigar por grandes títulos.
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