Bragantino: agressivo e dominante
Equilibrando agressividade e conservação da posse de bola, Bragantino dominou a Série B e conquistou o título de maneira antecipada
Os números do Bicampeonato da Série B do Bragantino são impressionantes. O título nacional veio com duas rodadas de antecedência, desbancando equipes de tradição (Sport, Coritiba, Ponte Preta), tendo mais vitórias (21), melhor ataque (62 gols) e a melhor defesa (26 gols sofridos) da competição. Mas os números são apenas um reflexo da forma com que Antônio Carlos Zago pensa o futebol. Uma equipe que busca ter a bola, mesclando manutenção e agressividade, com superioridade em todos os setores e bastante apoios.
O planejamento do Bragantino é minucioso e contempla todas as esferas, desde as contratações até a execução técnico-tática dentro de campo. O desempenho visto ao longo da Série B não é fortuito. Thiago Scuro e Antônio Carlos Zago pensaram de forma sistêmica cada detalhe para a disputa da temporada 2019, que foi iniciada no Red Bull e teve continuidade em Bragança Paulista. O elenco é composto por atletas experientes e promissores com potencial de venda.
MODELO DE JOGO
No momento em que tem a posse de bola, o time de Antônio Carlos Zago, possui comportamentos bem cristalinos. Na fase de iniciação, o Bragantino realiza uma saída de 3, com um dos volantes afundando entre os zagueiros e liberando os laterais para se posicionarem em amplitude média. Na fase de construção, já ocupando os espaços no campo adversário, a equipe empurra o adversário contra a grande área, “espeta” os laterais, os atacantes trabalham por dentro, Claudinho flutuando por todo campo, os dois volantes (Uillian Correia e Barreto) dando apoio por trás e os zagueiros (Léo Ortiz e Ligger) compondo o balanço defensivo. O Bragantino possui um timming perfeito entre o momento de conservar a posse ou buscar a progressão. Com média de 60% de posse de bola e 485 passes por jogo, a equipe de Zago necessita apenas de 265 troca de passes para fazer um gol. O volume de jogo do Massa Bruta é correspondente ao tempo que passa com a bola. Ao longo dos 36 jogos a equipe finaliza em 13 oportunidades e precisa de 7 finalizações para balançar a rede.
Estando sem a posse – organização defensiva – o Bragantino utiliza-se da marcação por zona pressionante, procurando impedir a progressão adversária e diminuindo o espaço efetivo de jogo. Isto é, fechar linhas de passe e pressionar o portador da bola. A equipe se defende no 4-3-3, com o atacante de lado do setor da bola fechando na segunda linha. O Bragantino possui uma ótima sincronia de cobertura entre os atletas. Quando algum jogador encurta à distância para o adversário (com a bola), o espaço deixado é imediatamente ocupado.
Ao defender no 4-3-3, o balanço ofensivo, adota um formato em “L” tendo a participação do centro avante, meia-atacante e o atacante de lado, como parte do plano de transição ofensiva. Ao recuperar a bola, o Bragantino tira a bola da zona de pressão, progride em campo aberto e finaliza a jogada independentemente da quantidade de atletas.
Instantes após a perda da bola, o Bragantino apresenta como comportamento padrão: agressividade e temporização. As ações treinadas por Antônio Carlos Zago visam de forma rápida recuperar a bola ainda no campo de ataque, fazendo com que um jogador pressione o portador da bola, outro realize um retardamento e os demais se dirijam à atrás da linha da bola para proteger zonas importantes. Caso não haja sucesso, a equipe se organiza defensivamente e tenta reaver a bola.
Os pilares da equipe:
ZAGUEIRO CONSTRUTOR
Léo Ortiz era um zagueiro incompreendido por onde passava (Internacional e Sport) e caminhava para viver uma carreira longe da elite dos atletas da posição. Até que sob o comando de Antônio Carlos Zago no Red Bull e Bragantino encontrou o melhor futebol. E não foi por acaso. Com Zago, além da importância dos aspectos defensivos inerentes a posição, o zagueiro passou a ter um papel importante na iniciação ofensiva da equipe. Em um modelo de jogo que procura realizar uma saída de jogo com passes curtos e apoios, Léo Ortiz se tornou uma peça chave. Uma vez que, possui muita qualidade em passes curtos e longos. No próprio campo, o aproveitamento de 91% dos passes, mostra que o zagueiro inicialmente busca passes de segurança. Pois se trata de uma zona em que qualquer erro pode ser fatal. Mas quando recebe a bola e está prestes a romper a linha que divide o gramado, Léo Ortiz “muda a chave” e executa passes verticais nos corredores direito e central. O primeiro gol do Bragantino diante do Operário saiu a partir de um passe de Léo Ortiz que deixou 9 jogadores adversários atrás da linha da bola. Sem a posse de bola, Léo Ortiz impressiona pela leitura de jogo e antecipação ao realizar interceptações. Além disso, se impõe nos duelos pela bola seja pelo alto ou por baixo.
TODOCAMPISTA
Todocampista é uma adjetivação para um jogador que atua em uma faixa extensa do campo. Com isso, exige naturalidade na execução de diversas funções ao longo de uma partida. Em apenas uma partida, Claudinho pode exercer a função de segundo homem de meio-campo, meia direita, esquerda ou centralizado. Ora está na base da jogada auxiliando na construção ofensiva, ora está na entrelinha, ora está na zona de finalização buscando um passe que deixe o companheiro na cara do gol ou finalizando de média e longa distância. A intuição e a naturalidade com que executa tais funções tornam Claudinho um jogador fundamental para a fluidez do time de Antônio Carlos Zago. O meio-campista sabe o momento ideal para acelerar, cadenciar, ocupar o espaço, perfilar o corpo, dominar com a parte interior ou externa do pé, finalizar, passar ou realizar a pressão no jogador adversário. E essa inteligência de jogo o transformaram no jogador mais influente do Bragantino com 19 participações diretas em gol. Gols e assistências que proporcionaram ao time em 95% das ações abrir vantagem ou sacramentar a vitória. A intuição,o instinto e a paixão por ter a bola, característica inerente ao jogador brasileiro, fazem com que Claudinho seja o jogador que mais cria chances de gol (passes-chave + finalizações) na Série B.
DEFINIDOR
Ytalo é um centroavante que alia imposição física, bom posicionamento e refino gestual na finalização. E dentro da engrenagem é potencializado por Claudinho, Morato e Wesley com passes ou cruzamentos em regiões próximas ou dentro da área para permitir o arremate sem dar muitos toques na bola. Não à toa é o artilheiro e jogador que mais finaliza na equipe. Dentro do modelo de jogo estabelecido por Zago, Ytalo tem a função de ganhar a 1º e/ou 2º bola – caso a equipe opte por uma bola longa -, realizar o pivô e dar continuidade a jogada com quem está próximo, movimentos de diagonal curta e entrar na área apenas para finalizar a jogada. Essa instrução de Antônio Carlos Zago fica clara ao observar o mapa de calor, o qual evidencia uma maior presença de Ytalo na entrelinha e na zona do funil para potencializar a leitura de espaço e o arremate. Assim como Claudinho, Ytalo possui destaque na campanha do Bragantino por marcar gols que dão a condição do time sair na frente ou matar o jogo.
O Bragantino está de volta à elite do futebol brasileiro. Com a fusão do Red Bull Bragantino em 2020, aliada a um planejamento meticuloso e uma visão à longo prazo, o “novo clube” brasileiro buscará estabilidade na Série A e participações em competições internacionais. O novo Bragantino planeja-se para ser protagonista e não se contentará em ser uma mera sensação como em 1991.
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