Guia Tático do Brasileirão 2023 | América-MG de Vagner Mancini
Depois da campanha sólida no Brasileirão 2022, o América Mineira chega nesta temporada sob expectativa com a manutenção do trabalho de Vagner Mancini
O América Mineiro chega para esta edição do Campeonato Brasileiro com mais solidez e um grupo fortalecido. Ainda sem perder na temporada, o Coelho quer manter o bom desempenho e seguir incomodando no pelotão de cima. O décimo lugar na temporada passada, em mais uma campanha positiva, provou que podem ir além. Finalista do Campeonato Mineiro deste ano, dono do melhor ataque e a segunda melhor defesa, Vagner Mancini tem em mãos um grupo extremamente confiante e ciente de onde pode chegar.
ESQUEMA DE JOGO
O Coelho joga em um 4-3-3, com a trinca no meio-campo composta na maioria dos jogos por Alê, Benítez e Juninho (ou Matheusinho). Responsáveis pela criação e dinâmica na saída de bola, possuem bons predicados para gerar superioridade e comandar todas as ações. Os zagueiros participam bastante do momento de construção da equipe e independente da dupla que esteja em campo o formato não muda.
Os atacantes são bem municiados e acionados atacando as costas da defesa em transições rápidas. Outro ponto importante desta equipe do América é a aceleração e desaceleração. Sabem como se portar no último terço para progredir no momento certo.
SAÍDA DE BOLA
Saída curta com os zagueiros trabalhando a bola com um dos três homens do meio – geralmente este segundo receptor é Alê, que aproxima dos defensores. O volante já recebe em condições de avançar, enquanto os laterais dão amplitude. Benítez e Juninho acompanham os atacantes e dão ainda mais opções de passe. O argentino, aliás, é quem costuma recuar para ajudar na construção das jogadas e tomar alguma decisão para quebrar as linhas de marcação. Enquanto isso o capitão pisa na área e centraliza junto ao homem mais avançado.
COMO A EQUIPE CONSTRÓI
O que caracteriza o América é a qualidade com que troca passes até chegar em campo mais avançado. Desde o goleiro, passando pelos defensores e acionando jogadores tanto no meio como nas alas, é sempre uma boa saída para a equipe chegar à meta adversária. Juninho é fundamental para ditar o ritmo com e sem bola. Atraindo marcações para os companheiros progredirem e aproveitar a desorganização dos oponentes, controlando espaço e conduzindo a bola até encontrar algum jogador livre para dar sequência, sabe os caminhos do gol. Não é uma liderança e referência técnica há anos por acaso.
Os pontas infiltram em diagonal para os laterais terem campo para correr, enquanto um dos meias avançam. Algo comum no modo como a equipe ataca é a troca de direção para aproveitar algum espaço cedido e acelerar enquanto a defesa adversária se encontra vulnerável. É quando a equipe gosta de gerar volume e chegar ao gol. Desde trás, com toques curtos e movimentações constantes, demonstram saber o que fazer com bola. É um conjunto intenso, focado nas transições ofensivas e extremamente agressivo.
COMO SAEM OS GOLS
O entendimento tático dos comandados de Vagner Mancini se destaca em momentos que o espaço para criar parece reduzido. O posicionamento inteligente faz com que saiam da pressão de forma rápida e assim são criadas várias chances perigosas. Os jogadores das beiradas são importantes em fase ofensiva por conta da facilidade em dar profundidade e empurrar a defesa enquanto os definidores infiltram. É assim que Aloísio, Juninho, e Wellington Paulista, por exemplo, buscam seus gols.
Concentrando jogadas pelos lados, o lateral oposto em que a bola está se aproxima da área para tentar aproveitar o cruzamento. Não apenas em cruzamentos, mas pelo chão são bastante acionados e possuem força no 1×1 para chegar à linha de fundo ou entrar na área com bola. Arthur é quem explora mais as deficiências do marcador avançando costumeiramente pelo lado oposto em que seu oponente tem facilidade em cobrir. Ganha espaço, tempo para pensar na próxima ação e executa com muito talento. Geralmente dois homens avançam enquanto um recua próximo à marca do pênalti para aproveitar uma sobra.
COMO TOMAM OS GOLS
A demora na recomposição expõe a defesa quando a equipe não consegue concluir em fase ofensiva. Com jogadores mais lentos para duelar em campo aberto, o América tem nestes momentos específicos um problema. Além disso, a falta de homens na faixa central contribui para que o adversário infiltre e dobre as opções de passe. Os cruzamentos requerem atenção e ligam um sinal de alerta em Mancini. Saem muitos gols e lances perigosos desta jogada nos momentos em que a equipe perde a posse e sofre a transição.
COMO DEFENDE
Pressionam em bloco médio/alto e encurtam espaços com rapidez para tentar a recuperação da posse. Os homens da frente dão intensidade na pressão da saída adversária e os induzem ao erro. Geralmente, se bem encaixada a pressão, a equipe não permite mais que oito toques na bola. Os homens do meio-campo são fundamentais nesta pressão para dar sustentação à primeira linha. Assim, conseguem fechar espaços de progressão e dar continuidade ao trabalho de recuperação.
Por vezes Alê fecha a primeira linha como quinto elemento para manter a estrutura enquanto os companheiros mais avançados fazem a recomposição. O que ainda é um problema para a equipe, que carece de mais velocidade nesta transição e é pouco efetiva. Os laterais, com ótimos aspectos ofensivos, compensam na defesa com velocidade e preenchimento dos espaços para impedir o avanço dos extremos adversários na entrelinha, forçando bolas para dentro da área.
BOLA PARADA
O responsável pelos lances ofensivos, Benítez, varia suas batidas de acordo com o posicionamento da defesa adversária. Entretanto, busca o companheiro de melhor estatura vindo da segunda trave para atacar a bola. Quando opta por lançar na primeira trave a cobrança ganha força e não sai tão alta. Facilita o desvio e pega a marcação desorganizada. Levam perigo com seus zagueiros altos e de boa impulsão, principalmente Iago Maidana e Ricardo Silva. Dois ou mais jogadores atraem seus marcadores para a primeira trave para quem chegar de trás agir com maior liberdade.
Nas bolas paradas defensivas, Mancini adota uma marcação mista. Os homens de marcação acompanham seus oponentes na pequena área, enquanto dois ou três companheiros preenchem os espaços entre a marca do pênalti e a segunda trave.
Há tempos Juninho tem sido o principal nome do América. O meia de 35 anos é o jogador que mais vestiu a camisa do Coelho na competição (138) e ainda tem muito a contribuir. Repetindo as boas atuações dos anos anteriores, o camisa 8 é o líder em assistências da equipe e dono de um repertório de jogadas completo. Iniciando e concluindo jogadas com eficiência e clareza, é de fato um primor no que diz respeito a preencher o campo com movimentações conscientes para gerar chances de perigo.
No esquema de Mancini é quem dita o ritmo ao lado de Alê e sabe sobrepor ofensivamente. Seus números em participações em gols falam por si. Quando recebe a bola de algum companheiro da linha defensiva ou recupera na intermediária, gosta de progredir e acelerar as jogadas acionando algum atacante ou lateral. Enquanto isso, se posiciona próximo à entrada da área para, de costas para o gol ou de frente, concluir ou dar o último passe. A equipe chega com muitos jogadores ao ataque e a frieza de Juninho é crucial para o melhor desempenho nas ações.
O atacante naturalizado chinês parece estar no América há anos, já que depois de muito tempo em solo asiático não sentiu o ritmo do futebol brasileiro e vem ajudando em mais uma temporada. Inclusive já igualou seu número de gols (4) em todo o ano de 2022. Para além dos gols, vem sendo fundamental na pressão ao portador da bola no campo defensivo e demonstra a velha conhecida raça para tentar recuperações.
Aloísio é um jogador que precisa de poucos toques na bola para concluir, ataca espaços e tem explosão para sair na vantagem em relação ao marcador para finalizar. Apesar de ser um exímio definidor, sabe jogar fora da área e se movimentar para balançar a linha defensiva e abrir espaços para outros companheiros infiltrarem. Tem contribuído em passes para a profundidade acionando quem pisa na área e seu estilo vai de encontro com o modelo ofensivo do América.
A joia do América vive uma fase especial na carreira. Campeão Sul-Americano Sub-20, convocado para a seleção principal e atualmente o dono da lateral direita, Arthur sabe muito bem como aproveitar as oportunidades que lhes são atribuídas. Sua personalidade para encarar os desafios e se sobressair tanto defensivamente quanto ofensivamente chama a atenção.
Quando a equipe progride e constrói através da faixa central, o jovem avança pelo lado direito para dar opção e chegar à linha de fundo para cruzar ou faz a diagonal para receber nas costas da defesa em profundidade. Arthur sabe o momento adequado para acelerar e não ficar em condições ruins de receber e prosseguir. Já defensivamente possui velocidade para recompor e consegue usar isso a seu favor para ter eficácia nos duelos.
Seu teto é altíssimo e ainda tem muito a evoluir, mas é inegável que será extremamente importante para o funcionamento da equipe por aquele lado. Ainda mais com a intensidade no terço final e trocas de direção constantes dentro do contexto de cada partida. O futuro é animador não apenas para Arthur, mas para o clube em geral, que pode ter ótimos retornos dentro e fora de campo. Mentalidade positiva e um caráter competitivo acima da média.
Você pode assistir a análise em vídeo, aqui:
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2 comentários
Parabéns pelo trabalho!
Se possível gostaria de ver de todas as equipes serie A e B do brasileirão
Muito obrigado, Sergio. Estamos produzindo o Guia de toda a Série A. Um time por dia. Quem sabe no futuro, consigamos fazer junto da Série B também.