GUIA DO BRASILEIRÃO 2025: BOTAFOGO
Apesar da demora até definir Renato Paiva como novo comandante, o atual campeão chega ao Brasileirão com peças para brigar novamente.
Atual campeão brasileiro e da Libertadores, o Botafogo sofreu um grande baque no começo de 2025: a saída de Artur Jorge. Sem o treinador português, a direção alvinegra demorou mais de 50 dias para definir Renato Paiva como novo comandante, deixando o elenco sem o direcionamento ideal para um início de temporada. Essa indefinição custou três potenciais títulos, perdendo para Flamengo e Racing a Supercopa do Brasil e Recopa, respectivamente. Além disso, sequer alcançou às semifinais do Campeonato Carioca.
Apesar dos resultados negativos, não faltou investimento. O Glorioso gastou mais de R$ 400 milhões em contratações. Chegaram:
- Léo Linck (Goleiro ex-Athletico)
- Jair Cunha (Zagueiro ex-Santos)
- David Ricardo (Zagueiro ex-Ceará)
- Wendel (Meio-campista do Zenit)*
- Santiago Rodriguez (Meia ex-New York City)
- Artur (Extrema ex-Zenit)
- Nathan Fernandes (Extrema ex-Grêmio)
- Elias Manoel (Atacante ex-Real Salt Lake)
- Rwan Cruz (Atacante ex-Ludogorets)
O mercado alvinegro foi bastante movimentado e buscou suprir saídas e trazer ainda mais profundidade ao elenco para 2025. Além de Luiz Henrique e Almada, Tiquinho, Junior Santos, Carlos Alberto, Lucas Halter, Adryelson, Oscar Romero, Marçal e Gatito deixaram a equipe, o que desconfigurou um pouco o grupo de atletas campões brasileiros e da América em 2024.
Os movimentos que mais chamaram a atenção foram as chegadas de Jair, Santiago Rodriguez e Artur, que se credenciam como nomes importantes à curto/médio prazo. Wendel, que só chegará à General Severiano em junho, também é uma contratação de impacto para o meio-campo, possibilitando maior rotação com Gregore e Marlon Freitas. Mesmo com tantas mudanças, o trabalho é promissor.

ESQUEMA BASE

À exemplo de 2024, o esquema base do Botafogo deverá ser o 4-2-3-1, formação amplamente utilizada por Renato Paiva em seus trabalhos anteriores. As peças à disposição tem um bom encaixe com o que pensa o técnico português ao montar suas equipes, principalmente do meio pra frente. Com isso, a linha defensiva não deverá sofrer alterações, já que John, Vitinho, Bastos, Barboza e Alex Telles foram a base da reta final na última temporada. A dupla de meio-campistas ainda deverá se manter com Gregore e Marlon Freitas, dois bons passadores e de características posicionais.
Tratando de quarteto ofensivo, podemos esperar a manutenção de Savarino como meia atrás do centroavante, que é Igor Jesus. Pelos lados, Artur deverá ocupar o lado direito, enquanto que Santiago Rodriguez e Matheus Martins são as principais opções para a esquerda. Jeffinho ainda corre por fora diante de problemas físicos.
COMO ATACA
Em questão de construção, os times de Renato Paiva adotam saídas de bola em 3+1 ou em 3+2. Nessas configurações, um dos volantes baixa para a linha dos zagueiros e o outro presta apoio ao tripé inicial, o que o Botafogo já praticava em alguns contextos. Por sua característica, Savarino pode ser outro agente para desafogar o time em saídas mais ajustadas, aproximando-se desse segundo meio-campista.
Sob pressão do oponente, era comum ver, no Toluca, Tiago Volpi como um goleiro ativo nessa primeira fase, muitas vezes se alinhando aos dois defensores e “empurrando” o primeiro volante para uma segunda linha. John também tem sido utilizado dessa forma, mesmo antes de Paiva assumir.

Os responsáveis pela amplitude nos times de Renato Paiva são os laterais. Vitinho e Alex Telles se adequam a essa atribuição, já que possuem naturalidade para buscar a linha de fundo e combinar com companheiros por dentro. Dessa forma, os extremas estarão em zonas interiores, buscando o meio-espaço e com caráter de apoio à construção, geralmente atuando de pé trocado. Artur, na direita, e Santiago Rodriguez, na esquerda, estão alinhados a essa ideia, com características interessantes para atuarem na entrelinha, somarem à criatividade de Savarino e serem opções de finalização entrando em diagonal na grande área.
Por propor uma essência posicional, apesar de coordenar movimentações variadas e cobrar verticalidade, o treinado português utiliza seu centroavante para “ancorar” a defesa adversária, o que promove, muitas vezes, espaços a serem explorados em campo ofensivo. Além disso, pela característica de Igor Jesus, a tendência é que o Botafogo force o oponente a jogar com linhas baixas em boa parte dos jogos, já que o atacante tem muita explosão para atacar a profundidade. Esse cenário alerta para uma possível adaptação de Igor, que passará a ter papel crucial em associações com quem for atacar a grande área, inclusive como pivô.
COMO MARCA OS GOLS
Nos poucos jogos que teve o time principal em campo, o Botafogo seguiu apostando nas armas da última temporada. Igor Jesus é o foco das transições rápidas com seus desmarques de ruptura e essa situação originou um dos gols do clássico contra o Fluminense. Além disso, as chegadas dos dois laterais à linha de fundo também se tornaram marcantes desde o ano passado. Dois artifícios para gerar gols que Renato Paiva certamente investirá.
COMO DEFENDE
Em fase defensiva, os times de Renato Paiva se postam em um 4-4-2, com o centroavante e o meia compondo a primeira linha. Esse esquema fica muito bem definido em bloco médio, que tende a ser a postura mais frequente do Botafogo durante 90 minutos. A partir desse bloco médio, a intenção é forçar o oponente a buscar os lados do campo. Esse é o gatilho para subir pressão e o responsável por isso, geralmente, será o extrema que estiver marcando a zona da bola. A partir daí, a equipe será agressiva por meio de encaixes individuais.
Portanto, os jogadores que fecharem os flancos dessa segunda linha de quatro precisarão de uma compreensão defensiva importante, encurtando espaços mediante a um erro técnico do adversário e fechando linhas de passe.

Entretanto, poderá haver um revés importante nessa dinâmica de pressionar a zona da bola quando a posse adversária chegar aos lados do campo. Isso fica evidente nas dificuldades defensivas que o Toluca de Renato Paiva enfrentava. A bola descoberta pelo meio é um alarme importante para o Botafogo. Isso pode acontecer porque, ao pressionar o portador, concentram-se muitos jogadores no flanco alvo e, em diversos momentos, estes não são suficientes para fechar linhas de passe decisivas.
Da mesma maneira, a bola descoberta no corredor oposto também tende a ser um ponto de atenção, principalmente por seus laterais não se notabilizarem como grandes marcadores. Duas situações que são produtos da dificuldade no balanço defensivo, principalmente diante de equipes mais técnicas.
COMO SOFRE OS GOLS
Neste início de temporada, o Botafogo vem enfrentando dificuldades com a defesa da área, sofrendo gols de bolas alçadas e infiltrações dos adversários. Além disso, o alvinegro já cometeu quatro pênaltis em 2025, todos contra adversários de maior exigência, como Flamengo, Fluminense, Vasco e Racing.
MELHOR JOGADOR – JEFFERSON SAVARINO

Jefferson Savarino foi um dos principais jogadores do Botafogo na vitoriosa campanha da temporada 2024, somando 27 participações diretas em gols (14 gols e 13 assistências) nos 55 jogos que disputou. Uma média de praticamente 0,5 participação por jogo. Com as saídas de Luiz Henrique e Almada, o venezuelano assume uma responsabilidade ainda maior, tornando-se a referência técnica do Glorioso.
O encaixe com o estilo de jogo de Renato Paiva é promissor, já que Savarino tem características de deslocamento e associação, mostrando boa mobilidade para se aproximar dos lados do campo e gerar superioridade nesses setores. Portanto, é um meia que circula pela entrelinha, de boa leitura do espaço e capacidade técnica para achar companheiros em profundidade, principalmente Igor Jesus.

MELHOR JOVEM – JAIR CUNHA (2005)

Sem um destaque agudo em suas categorias de base, o Botafogo investiu em um jovem para 2025. Trata-se de Jair Cunha (2005), zagueiro que se destacou no Santos. Destro, Jair tende a ser a primeira opção em possíveis ausências de Bastos ou Barboza, principalmente no caso do angolano, algo que já aconteceu duas vezes nesse início de temporada.
Em questão de característica, Jair tem bom trato com a bola e possui no seu passe uma possível arma para o jogo vertical que Renato Paiva prega. Em muitas situações, a melhor opção para a saída de bola será a bola longa e o jovem zagueiro alvinegro se destaca nesse aspecto, inclusive com uma estatística interessate: 19,2% de seus passes são progressivos, entre lançamentos e passes verticais rasteiros.
Essas situações devem ser exploradas com frequência, já que jogadores como Marlon Freitas, Savarino e Artur possuem boa abordagem a esses passes terrestres que quebram a primeira linha. Enquanto que, no caso dos lançamentos, Igor Jesus tem boa capacidade nos duelos aéreos e os laterais, principalmente Vitinho, serão opções em amplitude.

MELHOR ESTRANGEIRO – BASTOS

Bastos Quissanga é o melhor estrangeiro do Botafogo além de Savarino. O zagueiro angolano se tornou peça fundamental da equipe na última temporada, com sua liderança, imposição e capacidades físicas para os diferentes duelos. Pelo alto, por exemplo, venceu 58% dos disputas na última edição do Brasileirão. Além disso, Bastos é um jogador importante em situações de 1×1 e em saída de bola. Nas partidas em que não conta com o zagueiro, o Glorioso sofre mais que o normal. Tornou-se uma espécie de termômetro defensivo do time.

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