Guia do Brasileirão: Vasco
Com dificuldades a partir de perdas de jogadores importantes, Ramón Diaz aposta no esquema com três zagueiros e na dupla Payet e Vegetti para fazer um bom Brasileiro.
Depois de uma grande recuperação no segundo semestre de 2023, assegurando a permanência na primeira divisão, o Vasco evoluiu desde a chegada de Ramón Diaz e vive a expectativa de uma temporada mais segura neste ano. O mercado de janeiro, sob a responsabilidade de Alexandre Mattos, deixou a desejar e não preencheu lacunas emergenciais, como as baixas de Paulinho e Jair no meio-campo, por conta de lesões ligamentares no joelho. Dessa forma, a 777 Partners demitiu o badalado diretor de futebol e enxerga o mercado interno, após os estaduais, como uma oportunidade de oferecer peças a mais para a comissão técnica visando o início de Campeonato Brasileiro.
Em relação a 2023, o Vasco vendeu Marlon Gomes e Gabriel Pec, e assegurou nove contratações, com destaques para o zagueiro João Victor, o jovem meio-campista argentino Juan Sforza e o meia-atacante Adson. O trio vem ganhando espaço com Ramón Diaz e tende a fazer parte da espinha dorsal da equipe para o restante da temporada, com boas perspectivas de evoluções individuais.
Dentre os líderes técnicos do time, Dimitri Payet começou 2024 da forma que todos esperavam desde sua chegada, com boas estatísticas e se transformando na referência ofensiva cruzmaltina. Pablo Vegetti oscilou no início do ano, mas retomou a confiança com gols importantes na reta final do Campeonato Carioca, competição que o Vasco acabou decepcionando ao perder para o Nova Iguaçu na semifinal. Inicialmente, a perspectiva para o Brasileiro é buscar uma vaga na Sul-Americana.
ESQUEMA DE JOGO
Quando chegou ao Vasco, Ramón Diaz utilizava o 4-1-4-1, com Praxedes ou Marlon e Paulinho como meia interiores e Pec como extremo mais agudo pela direita. Devido as perdas, por negociações ou lesões, atreladas às chegadas de outros dois zagueiros, o esquema cruzmaltino passou a ser o 3-4-3, defendendo com uma linha de cinco. A nova plataforma de jogo proposta por Ramón Diaz buscou potencializar as descidas de Lucas Pitón pelo lado esquerdo, que passou a estar mais projetado em campo ofensivo e muito próximo de Dimitri Payet, a peça de desequilíbrio no ataque.
O comportamento mais ofensivo dos dois laterais possibilita a Payet e Adson a ocupação do meio-espaço em seus respectivos flancos, zonas mais confortáveis para ambos os jogadores, que jogam de pé trocado. A lacuna da equipe está na dupla de meio-campistas, já que Galdames ainda não tem a intensidade desejada e que Paulinho entregava, e Sforza está em processo de adaptação, disputando a posição de titular com Zé Gabriel. A tendência é que ao menos um reforço chegue para o setor.
SAÍDA DE BOLA
A saída de bola do time de Ramón Diaz tem como configuração base o 3+2, que pode variar para o 3+1. Os três zagueiros são muito importantes nessa fase, com Medel centralizado e João Victor e Léo abertos, oferecendo boa capacidade de passes verticais e projeções até o campo ofensivo com velocidade na condução. Prestando apoio e oferecendo linhas de passe aos defensores, aparecem os dois volantes, de costas para o campo ofensivo.
Em momentos de pressão alta do adversário, a saída se torna mais sustentada, com um ou ambos os laterais se alinhando aos meio-campistas na segunda linha de construção. A outra alternativa é a utilização do jogo direto com Vegetti, que tem ótimo aproveitamento nos duelos aéreos (venceu 52% dos duelos por jogo no Carioca). Diante desse cenário, o fato de ter um passador como Gary Medel como iniciador da saída qualifica bastante esses lançamentos buscando o centroavante.
CONSTRUÇÃO DE JOGO
A partir da saída de bola, quando chega ao campo ofensivo, o Vasco se posta no 3-2-4-1, com Adson e Payet explorando o meio-espaço (na entrelinha e entre zagueiro e lateral), enquanto os dois laterais dão amplitude no campo. Um dos mecanismos interessantes do time de Ramón Diaz em fase de construção é a dinâmica de movimentos de Galdames, com sua boa leitura do espaço. Quando a bola está do lado direito, o chileno apoia a dupla Paulo Henrique e Adson, muitas vezes formando triângulos para criar superioridade no setor e, consequentemente, chegar mais rápido até a área. Quando a posse está na esquerda ou circulando por dentro, Galdames infiltra bastante, aproximando-se de Vegetti. Assim marcou seus dois gols pelo Vasco, contra o Botafogo e o Água Santa.
Outra dinâmica interessante é a associação entre Payet e Pitón pelo lado esquerdo. Como já dito por Emiliano Diaz, auxiliar-técnico do clube, o camisa 10 tem total liberdade no terço final do campo e o que se observa é a busca pelo lateral em boa parte das ações. Payet alterna entre se movimentar por dentro na entrelinha, baixar pra buscar jogo próximo ao primeiro volante e, principalmente, receber em amplitude para combinar com Pitón ou conduzir em direção a área. A partir dessas possibilidades, Ramón Diaz consolidou sua principal arma ofensiva: a terminação das jogadas pelo lado esquerdo. Isso geralmente acontece a partir das inversões de corredor, quando há espaço para cruzamentos de Pitón, para o passe criativo de Payet ou propriamente para as finalizações do francês.
Por fim, uma outra alternativa bastante explorada pela equipe é o jogo direto, com Vegetti como alvo. O argentino é um especialista nesse tipo de duelo, já que tem ótima impulsão, imposição física e capacidade de sustentar a posse. A origem desses lançamentos buscando o centroavante é qualificada, já que os três zagueiros titulares tem boa capacidade de passe, seja pelo alto ou no chão. Medel, por já ter desempenhado a função de “5” em boa parte de sua carreira, é a referência nesse tipo de cenário, assim como nas inversões de corredor.
COMO MARCAM OS GOLS
O Vasco tem como grande arma ofensiva os cruzamentos na área adversária, seja chegando a linha de fundo ou nas bolas paradas. A partir desses tipos de lances, a equipe principal marcou nove gols na temporada, sendo que seis deles foram originados de faltas ou escanteios. Além dos bons cabeceadores, Vegetti e Léo, um jogador improvável vem se destacando recentemente ao se posicionar na área nessas cobranças de Payet: Lucas Pitón. Apesar de seus 1,75m de altura, Pitón marcou os dois últimos gols cruzmaltinos se colocando no centro da grande área, próximo a marca do pênalti, aproveitando justamente a atenção que as defesas adversárias dão a Vegetti.
Pelo chão, os gols costumam ter suas terminações do lado esquerdo do ataque vascaíno, com combinações de Payet e Pitón, e participações importantes de Vegetti como pivô ou no desmarque curto para finalizar. Além disso, as infiltrações de Galdames e as aproximações de Adson ou David ao centroavante são eficazes quando o passe decisivo sai da canhota.
COMO DEFENDE
Ao defender, o time de Ramón Diaz se posta em um 5-4-1 em situações mais conservadoras, que pode alternar para o 5-3-2, com Payet subindo para a primeira linha de marcação junto de Vegetti, ou até um 4-4-2, com Pitón se adiantando para a linha de meio-campistas e trazendo maior volume para defender a entrelinha. Isso acontece principalmente quando o Vasco se encontra em desvantagem numérica flagrante nos embates de meio-campistas.
Ao subir o bloco para pressionar alto, a configuração muda para o 3-4-3, com Vegetti liderando a intensidade e a profundidade dessa pressão, acompanhado por Adson e Payet, que, por sua vez, se concentra em fechar linhas de passe e não vai para os duelos efetivamente. Nesses momentos, ao adiantar o bloco, o Vasco tem muita dificuldade em defender a entrelinha quando o adversário consegue progredir com bola, ocasionando situações perigosas de finalização na frente da área cruzmaltina. E isso ocorre até em situações de bloco médio, o que tem alertado ainda mais sobre a necessidade de contratar um volante de maior intensidade e recomposição eficiente.
BOLAS PARADAS
Nos escanteios ofensivos, Ramón Diaz coloca cinco ou seis jogadores na área, sendo que Léo e João Victor geralmente vão atacar a primeira trave. Muitas vezes essa movimentação dos dois defensores é uma estratégia para abrir espaço para os desmarques de Vegetti, que busca o cabeceio próximo a marca do pênalti. A equipe também usa bastante o escanteio curto para manipular a linha de impedimento dos rivais e ter melhores possibilidades de movimentações na área a partir dos cruzamentos. Nas cobranças de falta, na maioria das vezes executadas por Payet, a estratégia é utilizar João Victor na segunda trave para buscar um cabeceio para o meio da área.
Nos escanteios defensivos, o Vasco tem nove jogadores defendendo a área e Adson na sobra, posicionando-se na meia-lua. A marcação vascaína nesses cenários é mista, com seus três melhores cabeceadores marcando por zona. Vegetti defende a primeira trave, com Léo e João Victor em sequência na linha da pequena área.
MELHOR JOGADOR – PAYET
Dimitri Payet chegou ao Vasco, ainda em 2023, aquém da sua melhor forma. Por isso, em boa parte do último Brasileiro, foi apenas uma opção de segundo tempo. Nessa temporada, com a evolução física evidente, Payet mostrou a que veio. Além da melhora nos movimentos, o francês passou a ser mais influente no time de Ramón Diaz, assumindo o protagonismo ofensivo e entregando bons números em 2024: dois gols e cinco assistências nos 11 jogos que disputou.
Geralmente recebendo a bola pelo lado esquerdo, Payet tem liberdade para transitar por dentro e se associar com companheiros como Galdames e Vegetti. Porém, o francês realmente se encontrou fazendo uma espécie de “dobradinha” com Lucas Pitón na canhota. É nesse espaço que surgem as melhores chances do time, principalmente quando a dupla está próxima a área adversária. Payet oferece muitas possibilidades nesses momentos, seja com um passe criativo, cortando pra chutar ou entrado na área. A grande diferença do francês para os demais, além dos gestos técnicos refinados, está na velocidade de raciocínio, utilizando o domínio orientado para simplificar ações, por exemplo. Dá pra dizer que o Vasco tem um craque no time.
MELHOR JOVEM – RAYAN (2006)
Rayan é a grande joia da base vascaína desde Andrey Santos. O jovem atacante, nascido em 2006, tem excelentes atributos com bola e se torna ainda mais completo por seu biotipo. Com boa força física, passadas largas e, principalmente, capacidade de finalização com a perna esquerda, Rayan tem tudo para estourar no Brasileirão. A priori, o técnico Ramón Diaz não vem dando tantos minutos ao atacante, que começou a temporada sendo utilizado como “9”. Entretanto, o camisa 77 se destacou nas categorias de base partindo do lado direito ou como um segundo atacante, curiosamente a posição que está em aberto no trio ofensivo. A oportunidade deve surgir.
MELHOR ESTRANGEIRO – VEGETTI
Pablo Vegetti foi uma das figuras mais importantes para o Vasco na recuperação no segundo turno do Brasileirão de 2023, marcando 10 gols nos 21 jogos que disputou. Nessa temporada, o centroavante argentino começou sofrendo com uma lesão nas costelas, o que o limitou consideravelmente. Depois de se recuperar, Vegetti emplacou uma boa sequência, com seis gols nas últimas oito partidas e confiança reestabelecida para iniciar o Campeonato Brasileiro.
O camisa 99 é muito importante para o funcionamento da equipe, com excelente capacidade no pivô e nos duelos aéreos. Vegetti é o desafogo da equipe em situações de pressão na saída de bola, tornando-se o alvo do jogo direto e iniciando construções ao vencer duelos. Dentro da área, o centroavante argentino tem ótimo desmarque e bom timing para os cruzamentos, gerando muita dificuldade para o seu marcador.
Comente!