Guia Tático do Brasileirão 2023 | O Corinthians de Fernando Lázaro
Em sua primeira experiência como treinador principal, Fernando Lázaro buscou um modelo de jogo para potencializar seus principais jogadores e chega com expectativas no Brasileirão
A efetivação de Fernando Lázaro como treinador do Corinthians em 2023 gerou sentimentos divididos no clube. A busca por, pelo menos, repetir o 4º lugar do Brasileirão e as disputas de Copa do Brasil (finalista em 2022) e Libertadores (quartas de final) geram uma pressão sob o treinador. Desde sua chegada, a equipe oscila em desempenho, mas tem uma identidade com a mudança de sistema em comparação aos seus antecessores.
ESQUEMA TÁTICO
Lázaro implementou o 4-3-1-2 como esquema tático base do Corinthians priorizando a movimentação e troca de posição entre seus meio-campistas para dominar o jogo a partir da posse de bola e sem a necessidade de acelerar o jogo com pontas a todo instante. Além disso, transformou Roger Guedes em segundo atacante de vez — uma reclamação do próprio jogador no período de Vítor Pereira quando jogava de ponta — para fazer parceria com Yuri Alberto.
SAÍDA DE BOLA
Apesar de não ter zagueiros construtores (Balbuena, Gil e Bruno Méndez), o Corinthians busca sair jogando desde a defesa com uma saída mais sustentada e a participação efetiva dos defensores e meio-campistas em próprio campo. Neste momento, pendendo mais ao lado esquerdo com Fábio Santos, enquanto Fágner fica mais livre para receber inversões rápidas ainda no campo de defesa.
Nesta fase do jogo, já é possível perceber a importância de Renato Augusto ao baixar próximo dos zagueiros, receber a bola e sair da pressão com facilidade a partir de passes curtos, enquanto a entrada de Fausto Vera tem auxiliado o camisa 8 a dividir tarefas para construir os lances de ataque.
CONSTRUÇÃO DO ATAQUE
Caracterizado por um jogo de muito aproximação dos meio-campistas, o Corinthians constrói seu jogo com passes curtos e dentro do seu próprio ritmo. Desde o primeiro passe (Roni/Vera), aos internos (Renato e Giuliano) com o meia-atacante (Adson) principalmente pelo lado esquerdo.
Com um jogo de “toca e aparece”, o Corinthians acaba atraindo a marcação e sempre com linhas de passe para toques curtos. Um dos jogadores que entende muito bem é Fausto Vera. O jovem argentino, desde os tempos de Argentinos Juniors, tem boa capacidade e relação com o passe e se movimentar no espaço.
Dentro da construção, o foco segue no lado esquerdo e, com isso, Fagner acaba sendo alvo “fácil” para inversões e recebendo a bola em diversos momentos livre para 1 contra 1 ou chegar cruzando.
COMO SAEM OS GOLS
A conexão Renato Augusto-Fagner é muito forte, com o camisa 8 lendo muito bem os movimentos do lateral corintiano para atacar o espaço e receber nas costas da marcação cruzando — vide o gol contra o São Paulo e jogadas de perigo contra o Palmeiras. Lázaro buscou potencializar Fágner a partir desse modelo focado em construir mais ao lado esquerdo.
No ataque, Yuri Alberto e Roger Guedes se entendem muito bem. Enquanto o camisa 9 tem alta velocidade para receber contra-ataques ou finalizar em um/dois toques contra o adversário, Guedes se movimenta como um segundo atacante partindo da esquerda ou até mesmo mais centralizado e, em jogadas de um contra um, consegue vencer a marcação com sua potência física e finalização de média e longa distância.
COMO DEFENDE
Atuando no 4-3-1-2, a fase defensiva é diferente. Roger Guedes baixa pelo lado esquerdo, enquanto Renato Augusto se aproxima de Yuri Alberto para defender em 4-4-2 ou 4-1-4-1. Em alguns momentos esporádicos, podemos observar Guedes mais adiantado e Renato fechando o corredor lateral.
Por não ter exatamente jogadores com perfil de marcação pressão a todo instante, o Corinthians se organiza em um bloco médio de marcação, podendo subir em alguns momentos específicos. O principal gatilho é a sequência de passes para trás dos laterais/zagueiros rivais. A partir desse instante, Yuri (principalmente) arranca para fechar ainda mais a linha de passe.
COMO SOFREM OS GOLS
Justamente por esses ajustes defensivos para encaixar a marcação, o Corinthians acaba deixando alguns espaços a frente do seus laterais, principalmente no lado esquerdo. Então, quando o adversário troca passes rapidamente de um corredor para outro, a equipe sofre. A defesa vem ajustando com a entrada de Bruno Méndez no lugar de Balbuena. O uruguaio tem mais velocidade e tem auxiliado com a marcação em linha mais alta.
BOLAS PARADAS
Falar das bolas paradas do Corinthians é falar de Gil. O zagueiro é o foco sempre (literalmente) de cobranças de escanteio ou bolas laterais. Seu ótimo posicionamento, aliado a estatura, fazem do camisa 4 uma arma ofensiva muito forte e, todo treinador que trabalha no clube, por isso Renato Augusto cruza sempre na segunda trave, onde o jogador se posiciona mais para vencer os duelos no alto.
Defensivamente, é uma equipe que tem marcação predominantemente zonal com 5 a 6 jogadores defendendo a pequena área, enquanto dois jogadores bloqueiam ou marcam individualmente os melhores cabeceadores adversários para atrapalhá-los.
Quando Renato está em campo, o Corinthians joga melhor. Simples. O camisa 8 é quem dita o ritmo da equipe desde que retornou ao futebol brasileiro. Baixando para receber com os zagueiros e iniciar os ataques ou de costas para marcação e realizando passes de primeira, Renato Augusto é o centro do jogo. Se aproxima, organiza e finaliza as jogadas do Timão.
Entre as principais jogadas da equipe estão encontrar o camisa 8 na entrada da área onde, com sua capacidade de finalização, leva perigo ao goleiro adversário e já marcou na temporada desta maneira. Além disso, com a liberdade para se movimentar por todo campo, tem muita facilidade em inverter o jogo para o lado direito com Fágner ou realizar passes em profundidade para Yuri Alberto receber nas costas da marcação. Um jogador completo.
Apesar de jogar como um 8 no 3-5-2 do Argentinos Juniors, Fausto Vera logo se adaptou como 5 no Corinthians para ajudar a equipe em construção e na saída de bola. O argentino tem boa leitura e continuidade ofensiva para manter a posse do time desde a defesa. Evoluindo em aspectos defensivos, consegue ter força para vencer duelos e realizar coberturas ou dobras de marcação nos lados do campo. Com pouco tempo, já se viu um jogador adaptado ao ritmo e ao Brasil para ir mostrando seu melhor.
Depois do bom Sul-Americano Sub-20, Pedrinho começa a pedir espaço e mais minutos na equipe de Fernando Lázaro. Segundo seu treinador na Seleção (Ramon Menezes), o jogador nascido em 2006 será “uma das maiores revelações do Brasil nos próximos anos”. Podendo receber mais aberto para jogadas de 1 contra 1, mas inteligência para ler o espaço chegando na área para finalizar, pode se adaptar como um segundo atacante no 4-3-1-2 do Corinthians — tendo em vista que Angel Romero não convenceu desde seu retorno ao clube.
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