Guia Tático do Brasileirão 2023 | Santos de Odair Hellmann

Ainda sem convencer nesta temporada, o Santos tem em seus jovens atacantes a esperança de dias melhores.

A preocupante situação do Santos fora dos gramados poderá refletir no desempenho em campo. Para evitar problemas ainda maiores, a diretoria escolheu Odair Hellmann para comandar a equipe e aplicar seu modelo de jogo com base no que o elenco oferece, e para tentar amenizar as fragilidades vistas em ocasiões passadas. O primeiro desafio, no Campeonato Paulista, deixou algumas lições a serem levadas para o decorrer de 2023. Foram apenas três vitórias em 15 partidas na competição.

ESQUEMA DE JOGO

Atuando em um 4-3-3 e alternando para 4-2-3-1 com velocidade pelos lados e infiltrações dos homens do meio-campo, o Peixe busca agredir o adversário nas transições e apoio constante dos pontas entrando na área para atrair a marcação, gerar espaços e facilitar a vida de Marcos Leonardo próximo ao gol. Os laterais também dão muita profundidade e apoiam constantemente. No terço final trocam passes e aproveitam as brechas cedidas no lado oposto em que a equipe se concentra com a bola.

Lucas Lima vem ganhando destaque pelas atuações com e sem bola, demonstrando assertividade nas conduções e bom aproveitamento nos passes em profundidade. Assumiu o protagonismo na construção da equipe e vem fazendo valer a renovação.

Outro jogador que vem contribuindo tecnicamente é Dodi. O volante baixa para ajudar na saída de bola e faz com que a construção seja limpa desde o primeiro bloco. No momento seguinte em que recebe a bola, gira e aciona os laterais na amplitude para dar sequência na jogada atacando as costas da linha defensiva adversária. Os demais jogadores povoam o meio-campo enquanto Marcos Leonardo arrasta a marcação para criar espaços na intermediária.

SAÍDA DE BOLA

A saída curta em 3+1, que como dito anteriormente é feita por Dodi sendo este homem de apoio aos defensores, deixa os laterais livres e assim o Santos ataca em superioridade na zona da bola. Os meias se movimentam e se posicionam nas entrelinhas para atrair os defensores e induzi-los a subirem os blocos de marcação. O que precisa ser melhor trabalhado é a movimentação neste primeiro setor ocupado por Dodi. O jogador tem aproveitado pouco os espaços entre a linha ofensiva que faz a pressão na saída da bola, tornando o avanço menos veloz do que deveria.

COMO CRIA AS JOGADAS E COMO SAEM OS GOLS

Quando a equipe consegue avançar e ganhar campo para levar a bola aos homens da frente, as jogadas são em sua maioria pelos lados. Os laterais fazem o jogo apoiado com os extremos chegando mais próximos ao gol, tornando a progressão mais perigosa. O Santos possui jogadores com boas características para atuar mais encostados ao homem de referência no ataque, já que são velozes, bons dribladores e tendem a tomar decisões mais rápidas. Marcos Leonardo se desmarca bem e consegue dar continuidade ofensiva para que a equipe construa bem pelo chão. Esta característica ofensiva será uma boa válvula de escape para os jogadores saírem da pressão, se bem encaixada, e pegar defesas desprotegidas com menos jogadores postados na primeira linha.

A transição ofensiva é muito bem aproveitada pela equipe para chegar aos gols. Os atacantes em velocidade conseguem fazer a leitura correta dos espaços para gerar opções de passe que levem à concretização da jogada. Marcos Leonardo consegue trocar rapidamente de direção e atacar o espaço onde a bola será lançada. Na frente do goleiro demonstra frieza e repertório para vencer o bloqueio.

Com laterais bem ofensivos, a chegada no terço final dá a possibilidade de bons cruzamentos para os jogadores de maior estatura, como Lucas Barbosa. O atacante infiltra bem na área adversária para atacar a trajetória da bola e possui boa impulsão para superar os zagueiros. A movimentação ofensiva facilita este tipo de jogada e tanto Felipe Jonatan quanto Nathan são eficientes no fundamento – os demais laterais também possuem características ofensivas e apoiam com bastante intensidade.

FASE DEFENSIVA

Marcando em bloco médio, os homens do meio dão sustentação à primeira linha para que sigam compactando e bloqueando a progressão adversária. Dois homens fazem a pressão no portador da bola e tentam recuperar para dar o contragolpe. Quando não conseguem, os defensores sobem as linhas e encurtam os espaços para induzir o adversário a tomar a decisão de tentar o passe. O encaixe defensivo ainda precisa ser melhorado, visto que os zagueiros não possuem tantas características físicas para duelar em velocidade com determinados tipos de atacantes, e a cobertura defensiva dos demais companheiros será fundamental para se portar melhor protegendo a área.

COMO TOMAM OS GOLS

O tempo de reação dos zagueiros tende a ser mais lento em determinadas ocasiões e sofrem contra adversários mais rápidos para atuar entre a dupla. No momento do passe, os defensores mal posicionados perdem segundos preciosos para tomar a decisão de bloquear o passe e são superados com facilidade. Porém, o problema vai além e não começa neste setor. A demora para pressionar e conseguir impedir uma progressão tem sido uma dor de cabeça e o meio-campo carece de intensidade para preencher espaços e reduzir as possibilidades de passe.

BOLAS PARADAS

O Santos pode tirar proveito das bolas paradas ofensivas, principalmente os escanteios, pela qualidade dos zagueiros nesse tipo de jogada. Sabem se posicionar em uma zona que privilegia o avanço até a bola e que dificilmente possibilita o corte do adversário. Bauermann, Maicon, Messias e Joaquim são extremamente perigosos no jogo aéreo.

Defensivamente há preocupação por conta da movimentação e marcação individual ineficiente. Deixam espaços determinantes para os adversários atacarem e a meta de João Paulo fica exposta.

Aos 20 anos, Marcos Leonardo já se consolidou como referência ofensiva do Santos. Dono de uma presença de área impressionante, sabe se posicionar e aproveitar bem a capacidade para se desmarcar dos defensores e definir com precisão. O atacante, quando a equipe faz a transição, tem boa velocidade e inteligência para preencher os espaços corretamente. Isso torna ainda mais fácil a progressão e o momento em que o companheiro faz o passe. Nesta temporada, apesar dos poucos altos e muitos baixos, tem tudo para se destacar ainda mais e colocar o Peixe na rota do sucesso.

De volta à Vila Belmiro, o venezuelano Soteldo é a esperança de criatividade na última faixa do campo. O baixinho de dribles rápidos e muita atitude herdou novamente a camisa 10 mais famosa do país para servir os companheiros de ataque em busca de volume próximo à área. Partindo da esquerda para dentro consegue boas jogadas ganhando espaço e se aproximando das zonas mais perigosas. A visão de jogo para encontrar passes nas entrelinhas para que os definidores ataquem as costas dos defensores casa perfeitamente com o estilo dos atacantes. Se estiver bem fisicamente para suportar a maratona de jogos, será imprescindível.

Não podemos deixar de dizer que o raio caiu novamente na Vila. Ângelo Gabriel é mais uma joia santista e, mesmo com seu futuro sendo discutido a todo momento, vai contribuir bastante na fase ofensiva santista enquanto ali estiver. Habilidoso, veloz e forte no 1×1, vem evoluindo a tomada de decisão e fazendo atuações convincentes. Faz do lado direito do campo sua zona de equilíbrio para atacar os espaços, gerar chances e colaborar também em fase ofensiva na recomposição. No auge dos seus 18 anos e amadurecendo de maneira satisfatória, o ano de 2023 será um ponto de partida para que o atacante se estabeleça entre as principais armas do Santos e quem sabe, num futuro próximo, da Seleção.

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