O que é um 'Falso 9' e quais as diferenças entre os diversos tipos de centroavantes

Com a disseminação exponencial de conteúdos táticos do futebol, cada vez mais vê-se uma confusão na hora de se falar de atacantes centrais. Como de fato podem ser definidos? Quais são as suas características? O que lhes diferenciam?

Em um universo futebolístico em que o enfoque nos fenômenos táticos do jogo cresce gradualmente, há o interesse e a dúvida do que é e como é cada jogador dentro das quatro linhas. Partindo do princípio, é necessário entender de antemão o funcionamento do sistema, ou seja, como joga o coletivo, antes de se analisar como cada atleta está encaixado dentro desse corpo.

A partir daí surge um velho debate entre “posição ≠ função“, em que independente do lugar em que o atleta inicialmente está localizado, influencia no que ele vai fazer em campo. A sua posição é menos considerável do que a sua função. Com isso, em uma mesma posição há diversas possibilidades de execução de diferentes papéis, como por exemplo no comando de ataque, onde encontra-se vários tipos de Camisas 9.

Os diferentes tipos de 9

A depender de cada contexto há um tipo de jogador necessário, e com os centroavantes não são diferentes. Onde pode-se encontrar um 9 de mobilidade, que ajude na circulação da bola, saindo da área oferecendo desmarques de apoio lançando os companheiros de frente, e que também faça movimentos de ruptura (ataque às costas da última linha) e chegue na área pra finalizar.

Exemplo: Harry Kane no Tottenham Hotspur e na Seleção da Inglaterra.

Como há um centroavante de área, sendo a referência para vencer duelos áereos e segurar os zagueiros, sustentando para quem chega e ocupando a área “brigando” mais pela bola, gerando menos jogo e dando mais imposição física (onde a proposta do time é atacar de maneira mais direta, dispensando a circulação da bola e menos posse).

Exemplo: Luuk de Jong, antes no Sevilla, e agora no Barcelona.

Assim como também há um camisa 9 de arraste, que é capaz de conduzir em velocidade a bola e ser uma ameaça em profundidade, possuindo bastante agressividade, onde se destaca pela leitura de jogo e o timing para se desmarcar e sair em condições, é um jogador que pode possuir maior refino técnico e boa capacidade física, e por vezes até ser utilizado pelas beiradas devido às suas condições.

Exemplo: Romelu Lukaku, principalmente na Internazionale.

E por fim, há o 9 completo, que consegue agregar todos os princípios citados, jogo associativo fora da área, físico pra duelar com adversários, capacidade de conduzir em velocidade e acelerar jogadas, oferecer desmarques de ruptura, além de participar diretamente em gols com frequência. Pode-se dizer que este é um sistema ofensivo por si só.

Exemplo: Karim Benzema no Real Madrid, durante e após a passagem de Cristiano Ronaldo.

Qual a diferença do Falso 9 para todos os outros atacantes?

Dentro das diversas possibilidades que um atacante oferece, por que o Falso 9 torna-se tão específico e tão escasso? A partir da pressão cada vez maior no momento em que um time tem a posse e o outro tenta recuperar, surge a necessidade de superioridades qualitativas (capacidade de jogar pressionado, imposição física, leitura mais rápida, bons passes etc.) e quantitativas (número de jogadores ocupando determinada faixa do campo). Um 9 de origem, que possua todos esses atributos, pode ser deslocado para jogar como um “quase” meia e desempenhar bem essa função. Entretanto um Falso 9 independe somente dele, onde em boa parte do tempo ele não estará ocupando a área e longe de oferecer perigo em profundidade para o adversário, cabe ao coletivo suprir essas necessidades. Como o exemplo do Liverpool. onde Firmino é a personificação da função, e os pontas e médios (principalmente nas temporadas anteriores com Georginio Wijnaldum) são os responsáveis por atacar os espaços abertos pelo camisa 9.

Há também exemplos do passado, como no Brasil Tricampeão do mundo em 1970, onde Zagallo optou por Tostão flutuando fora da área, circulando a bola e lançando Pelé, Rivellino e Jairzinho (artilheiro da competição com 7 gols). Sendo dessa maneira uma das primeiras vezes onde o futebol brasileiro pudesse ver um Falso 9, uma espécie de camisa 10 partindo da posição do 9.

A movimentação do quarteto de frente do Brasil de 1970 com Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho (Arte: TacticalPad)

Com isso cria-se um espectro muito limitado em relação a determinação se um jogador desempenha a função de ser um camisa 9, de fato, ou um Falso 9. Um Falso 9 sempre será um atacante de mobilidade, entretanto esse 9 móvel nem sempre é um “quase” meia.

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