O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O treinador de 46 anos está comandando pela primeira vez uma equipe na elite e analisamos seu trabalho até então.

Há alguns meses, o Cruzeiro escolheu um velho conhecido do clube para comandar a equipe após a saída do técnico Nicolás Larcamón. A SAF comandada por Ronaldo, na época, optou por apostar na metodologia de trabalho de Fernando Seabra, que já havia participado da comissão técnica interina da equipe mineira na reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado.

O técnico alcançou um grande destaque dentro da Toca da Raposa quando esteve à frente da equipe sub-20, conquistando o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil de 2023. Ao todo, comandou a categoria em 91 jogos, com 57 vitórias, 18 empates e 16 derrotas.

Seabra completou recentemente quatro meses no comando técnico do Cruzeiro e conseguiu causar um impacto positivo imediato na equipe. O técnico está construindo um trabalho sólido, estabelecendo uma estrutura de jogo que possibilita potencializar o individual de seus atletas . Neste curto tempo de trabalho, podemos observar duas características predominantes da equipe de Seabra: agressividade com e sem o controle da bola e a liberdade aos jogadores.

Neste período de Seabra no Cruzeiro, o clube realizou a venda de sua SAF para o empresário Pedro Lourenço. O atual dono da equipe mineira realizou um grande investimento para reforçar o elenco nesta janela de transferências do meio do ano. Sendo assim, o clube gastou aproximadamente R$140 milhões para contratar sete novos jogadores. Além disso, concluiu a compra definitiva do zagueiro João Marcelo e de Matheus Pereira, um dos principais – se não for o principal – jogador da equipe.

Com a mudança do comando da SAF e a chegada de jogadores com qualidade para brigar por titularidade, o Cruzeiro modificou seus objetivos no meio da temporada, criando uma expectativa alta entre os torcedores para voltar a competir no cenário brasileiro e continental.

Dessa forma, o trabalho de Seabra – que iniciou com o objetivo de construir uma equipe que conseguisse se manter distante da briga pelas últimas colocações do Campeonato Brasileiro -, transformou-se em briga pela parte de cima da tabela e concorrente ao título da Copa Sul-Americana.

A equipe utiliza a estrutura do 4-3-3 como base, porém, antes da chegada dos reforços, Matheus Pereira realizava a função de falso 9, tendo a participação de Arthur Gomes na ponta esquerda e Gabriel Verón pela ponta direita. O trio de meio-campistas era composto por Lucas Romero – o primeiro homem de meio-campo -, Lucas Silva mais aberto pela meia direita e Álvaro Barreal ocupando a meia esquerda.

Nos últimos quatro jogos contra Juventude, Botafogo, Fortaleza e Atlético MG, Seabra começou a introduzir os novos jogadores e houve uma mudança clara de características dentro da equipe. Com a entrada de Kaio Jorge e Lautaro Diaz no comando de ataque, a equipe ganhou um atacante de referência e modificou a característica de seus pontas.

A troca de Lautaro Diaz por Arthur Gomes resulto, dentro da equipe, na perda de profundidade pela esquerda e o ganho de um jogador mais associativo, tanto pelo corredor como por dentro. Já com a titularidade de Kaio Jorge, o time ganhou um atleta que possui mais presença de área e de boa capacidade de finalização, mas acabou perdendo a imprevisibilidade de Matheus Pereira como falso 9 e as movimentações constantes dos pontas atacando o meio-espaço entre zagueiro e lateral adversário.

No setor de meio-campo, a troca de Lucas Silva por Matheus Henrique era natural, pois o camisa 97 entrega uma capacidade maior de construção e associação com Matheus Pereira por dentro e também pelo corredor direito com o lateral William.

A equipe realiza uma saída de bola sustentada com a participação de sempre quatro ou cinco jogadores, buscando ter superioridade numérica nessa primeira fase de construção. As estruturas alternam entre o 3+1, 3+2 e o 2+3. Quando a equipe constrói no 3+1, o lateral esquerdo baixa para alinhar com os zagueiros e Lucas Romero se posiciona à frente dessa linha de três. Já na utilização do 3+2, teremos a participação do segundo homem de meio-campo (Lucas Silva ou Matheus Henrique) próximo de Romero para dar opção de passes aos zagueiros. Além disso, poderemos ver também Matheus Pereira baixando para receber na base da jogada e o segundo volante procurando as costas da primeira linha de marcação do adversário.

Ao utilizar o 2+3, os dois laterais se posicionam na mesma altura de Lucas Romero, deixando os corredores para Matheus Pereira pela direita e Barreal no lado oposto. Nesta estrutura, veremos também o segundo volante alinhado a Lucas Romero e o lateral-esquerdo, com William avançando para ocupar o corredor direito.

Os jogadores realizam muitos movimentos de apoio, gerando triangulações pelos lados do campo para vencer as zonas de pressão impostas pelos adversários. O primeiro volante, Lucas Romero, executa constantes movimentos de desmarques para receber a bola e progredir a construção da equipe.

O Cruzeiro de Seabra ataca sempre com muitos jogadores instaurados no campo do adversário, criando superioridade numérica preferencialmente pelo corredor esquerdo com a presença de Barreal, Marlon, Matheus Pereira e o ponta.

A equipe utiliza amplitude extrema para alargar o sistema defensivo do time adversário, tendo William rente a linha lateral pelo corredor direito e Álvaro Barreal no lado oposto – que alterna bastante o movimento com o ponta. Quando o meia argentino está por fora, o ponta vai para dentro e vice-versa.

A liberdade de posicionamento que Seabra entrega a Matheus Pereira para estar sempre próximo do setor da bola é o ponto chave para a engrenagem da fase ofensiva da equipe. O camisa 10 se movimenta nas entrelinhas, busca a posse na base das jogadas, recebe a bola pela direita, pela esquerda… tendo total liberdade para se conectar com os companheiros em todas as zonas do campo. No Campeonato Brasileiro, o meia marcou seis gols e distribuiu quatro assistências.

Em fase ofensiva, os comandados de Seabra já atacaram utilizando a estrutura do 3-1-6, podendo variar para o 3-2-5 e o 2-4-4. A diferença do 3-1-6 para o 3-2-5 será a função executada pelo segundo volante, que poderá atuar na base da jogada ao lado de Romero ou ocupará mais os espaços entrelinhas próximo de Matheus Pereira no corredor central.

Com as entradas de Lautaro Diaz e Kaio Jorge no ataque, Seabra ainda busca encontrar a melhor dinâmica para potencializar o novo trio de ataque. O atacante argentino exerce a função de falso ponta, realizando movimentos de fora para dentro visando finalizar com a perna dominante e procura se conectar a toques curtos com os companheiros. Já com a presença de Kaio Jorge como centroavante, a equipe e o jogador ainda buscam o melhor encaixe. Nos últimos duelos, o camisa 9 procurou se movimentar bastante, caindo pelo lado direito para atrair os defensores e gerar espaços para Matheus Pereira por dentro.

A equipe mineira, quando sobe o bloco para marcar alto, mantém a estrutura do 4-3-3 e executa alguns encaixes individuais no setor de meio-campo. Com isso, os dois volantes costumam realizar saltos com distâncias maiores para marcar os responsáveis pela construção desde a defesa da equipe adversária.

Já no momento que precisa se posicionar em bloco médio, a estrutura modifica-se para o 4-4-2, deixando o Matheus Pereira como dupla de ataque ao lado de Kaio Jorge. Matheus Henrique e Lautaro Diaz baixam para recompor pelos lados do campo e Lucas Romero e Álvaro Barreal fecham os espaços no corredor central.

Os comandados de Seabra são muito agressivos quando perdem o controle da posse da bola, pois pressionam rapidamente o homem da bola para recuperar o mais rápido possível.

O Cruzeiro comandado por Fernando Seabra já conquistou resultados expressivos realizando grandes atuações coletivas e individuais durante esses quatro meses de trabalho. A equipe, atuando como mandante no Campeonato Brasileiro até a derrota para o Fortaleza, em Cariacica, tinha vencido todos os jogos.

O trabalho conduzido por Seabra é extremamente promissor, mas precisará de respaldo do novo dono cruzeirense para o clube voltar a brigar por títulos no cenário nacional e internacional.

A convicção da nova diretoria do clube mineiro será importantíssima para dar continuidade em um trabalho que, obviamente, passará por suas instabilidades até o término da temporada.

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