Salamanca e o derby dos 50 metros

O La Unión Deportiva Salamanca era a maior expressão da paixão pelo futebol em Salamanca. Péssimas gestões depois, o clube encerrou suas atividades — mas que no fim acabaram criando um grande derby local. O surgimento do Salamanca CF UDS e o Unionistas é a história que contaremos hoje.

Não é novidade para ninguém que o futebol causa euforia em quase todos os seus seguidores pelo globo. Os torcedores querem ver o seu time campeão, desfilar por aí com a camisa de seu clube estampada com o nome de um grande craque do futebol internacional ou até mesmo afirmar ter um grande estádio.

Milionários de todo o mundo já entenderam esta obviedade, e cada vez mais passam a monetizar sonhos de grandeza dos amantes da bola. Não são estranhas as notícias que apontam possíveis novos investimentos na Inglaterra, Itália, França e até mesmo no Brasil, sobre figuras dispostos a investir fortunas para poder cumprir a expectativa dos torcedores, que, em prol da suposta ascensão dos times de coração, são capazes de aceitar e apoiar qualquer tipo de intervenção sem nem sequer considerar a origem do dinheiro aplicado em seus clubes de coração.

Na Espanha, país que conta com uma das ligas mais famosas e ricas do mundo, há vários clubes em todas as divisões comprados por investidores estrangeiros, como, por exemplo, Málaga, do sheik Abdullah bin Nasser, e o próprio Real Valladolid, recentemente adquirido pelo craque brasileiro Ronaldo Nazário. A promessa dos cartolas, quase sempre, é a mesma: transformar clubes decadentes ou com pouca tradição vitoriosa em grandes centros capazes de competir com os gigantes do futebol europeu. A realidade, contudo, nem sempre se concretiza.

Um dos casos mais curiosos de inversão financeira no futebol espanhol se dá em Salamanca, cidade que se gaba da tradição de uma das universidades mais antigas do mundo, mas que nunca foi um grande protagonista no futebol. Ainda assim, sempre foi apaixonada pelo esporte, tanto é que, por quase 90 anos, contou com um clube local, La Unión Deportiva Salamanca, sua maior expressão na modalidade. A agremiação acabou sofrendo com péssimas gestões, crescimento exponencial de dívidas, e em 2013 acabou encerrando as atividades e desaparecendo do mapa para a maiorias dos fãs de futebol, mas não para o empresário mexicano Manuel Lovato, sócio fundador de uma empresa de celulares registrada na Argentina.

O antigo La Unión Deportivo Salamanca

Lovato realizou uma arrojada operação econômica. Primeiro, começou com a compra do estádio Helmántico, principal palco esportivo da cidade — que inclusive no primeiro semestre recebeu as finais da Super Copa Rainha da Espanha de futebol feminino (versão feminina da Super Copa do Rei). Depois, começou a comprar ações da filial do original Unión Deportiva Salamanca, denominada Salmantino. Atualmente, o empresário é sócio majoritário deste clube que hoje se chama Salamanca CF UDS e disputa a Segunda Divisão (B). De acordo com declarações dos próprios dirigentes, trata-se do principal herdeiro do extinto clube local, e em pouco tempo, segundo eles, disputará com os grandes da primeira divisão espanhola.

Claro que a existência de uma figura estrangeira disposta a fazer um investimento tão massivo no esporte de uma cidade com pouca tradição futebolística, chama muito a atenção. No entanto, ao questionar jornalistas locais e torcedores de ambas agremiações sobre a história do mexicano, as respostas são imprecisas, alguns levantam teorias conspiratórias sobre os negócios do empresário e sobre a origem do dinheiro, mas ao que parece este “detalhe” já foi superado pela maioria das pessoas questionadas.

Por outro lado, no mesmo ano da desaparição de seu time de coração, um grupo de torcedores da antiga Unión Deportiva, de maneira coletiva em homenagem à instituição, fundaram o Unionistas de Salamanca. Desde então, este clube caminha alinhado aos critérios do futebol popular, transparente e democrático, contando com uma direção que se caracteriza pela ausência total de ânimo de lucro. O Unionistas atualmente disputa, assim como Salamanca CF, a Segunda Divisão B, acompanhado por seus torcedores que lotam semanalmente as apertadas arquibancadas do gramado das pistas de atletismo do estádio Helmántico, localizado exatamente ao lado do estádio do clube rival, comprado por Lovato, clamando por transparência no futebol contra a cegueira social do futebol moderno, e cada vez mais identificado com a população local.

Pelo menos uma vez ao ano, a cidade histórica se divide em dois. Por um lado, um clube que luta por ser o maior representante do futebol local, com estádio pomposo, patrocínios internacionais e elenco recheado de jogadores mexicanos desconhecidos, que não terminam de identificar-se com os torcedores; por outro, um clube humilde, organizado para homenagear uma paixão, comandado por sócios, levantando a bandeira do futebol popular, que teve no último mês de janeiro um enfrentamento histórico contra o poderoso Real Madrid na Copa do Rei.

Este duelo não é só um derby local, ou a disputa de mais sócios na cidade, ou mais um Davi contra Golias no futebol. Este duelo é a prova de que existem possibilidades além dos milhões que supostamente se mostram a única opção possível no futebol.


MIGUEL SANDOVAL, O PRESIDENTE CINÉFILO

Sobre o Unionistas e a gestão colaborativa, o presidente Miguel Sandoval concedeu uma entrevista exclusiva no final da última partida do clube em casa antes do estado de quarentena na Espanha:

Footure: No Brasil, nunca fazemos entrevistas deste tipo quando o time ganha…

Miguel Sandoval: Aqui no clube, fazemos sempre. Não importa se o time ganha ou perde. Sempre estamos dispostos a ajudar, e falar com os meios de comunicação. Aqui as derrotas também não levamos bem, estamos mais tristes, sem muita energia, mas fazem parte do futebol.

Na tua vida pessoal, ao que você se dedica?

Miguel Sandoval: Trabalho para IBM, sou especializado em informática. No dia a dia, trabalho em uma empresa que dá suporte informático a outras empresas.

Igor Guimarães e Miguel Sandoval após a entrevista (Imagem: Arquivo Pessoal)

Além do futebol, quais são os teus gostos pessoais, hobbies, talvez outro esporte, ou algum tipo de arte ou algo do tipo?

MS: Na verdade, sou bastante cinéfilo. Gosto de todo o tipo de cinema, fui de cabeça a vários gêneros. Sobretudo, histórico, daqueles que estão baseados em batalhas ou guerra, gosto muito desse tipo de filme. Cinema bélico, histórico e claro a comédia.

Sério? Interessante. Você tem filme e um diretor favorito?

MS: Sim. Se fosse para citar um diretor, Peter Jackson, para pensar em um filme favorito “O Poderoso Chefão”, aí automaticamente, vamos ter que falar sobre Coppola, e falar sobre Coppola me faz pensar no Scorsese não é? Eu gosto muito, muitos outros, além de “O Senhor dos Anéis” e a Trilogia de Corleone, também gosto muito de “Os Bons Companheiros”, “Casino”, sou fanático pelo gênero de máfia. Nas comédias além das americanas típicas, gosto também de The Party Animal de Beiard, já viu esse?

F: Não, acho que não, vou procurar. Faço esse tipo de pergunta, presidente, porque a partir da resposta do entrevistado, podemos pensar um pouco suas atitudes e pensamentos com os gostos pessoais, não é? Você consegue estabelecer alguma relação destes filmes com teu trabalho?

MS: Eu também gosto muito dos filmes de futebol também, que tem a ver com a vida de torcida. Há 6 anos tenho cargos diretivos no clube, mas sinto-me como mais um aficionado. Gosto também dos filmes que envolvem drama e futebol, como, por exemplo “ Duelo de Campeões”, sobre a seleção dos Estados Unidos nas Olimpíadas que conseguiu vencer a Inglaterra. Filmes de paixão pelo esporte, no final, são como Unionistas, momentos bons, momentos ruins, mas temos que seguir lutando para alcançar os objetivos propostos. E finalmente, como dirigente, observo muito o modo de levar as reuniões de Michael Corleone e nas negociações, entender que o inimigo sempre estará próximo. Essas frases do cinema que podemos aplicar ao futebol até utilizo em algumas reuniões ou entrevistas coletivas.

Cinema à parte, imagino que você tinha uma história com o time original, não é? Qual tipo de torcedor você era?

MS: Comecei a ser torcedor com 6 meses, meus pais eram sócios do clube. Minha família sempre frequentava o clube, era toda uma instalação com piscina e tudo, e eles fizeram-me sócio aos 6 meses. Também tive minha etapa de torcedor, ia a uma “Peña” que se chamava Fundo Jovem, eu era um torcedor bem apaixonado, gostava sempre de ter o megafone, era um dos mais ativos da arquibancada. Gostava muito de viajar com os torcedores. Quando o meu trabalho começou a me permitir ter os finais de semana livres e também nos tempos de estudante, não perdia nenhum jogo, seja aqui ou fora. Vivi cada cidade, tomar uns vinhos em outras cidades, sentir o ambiente que se forma ao redor do futebol é a melhor parte.

Como começou o desejo de ser dirigente? Como surgiu o Presidente Sandoval?

MS: Tudo começou no extinto clube, quando algumas pessoas se ofereceram para trabalhar grátis. Eram 18 pessoas que, dentro de sua parcela, tinham muito a aportar e iriam trabalhar para o time. O clube não aceitou. Nesse momento, a gestão já estava meio estranha, já percebíamos que o clube corria riscos.

Então, essas mesmas 18 pessoas se reuniram e criaram uma associação de torcedores em uma plataforma de torcedores. A partir desta plataforma, nos reunimos com dirigentes, com bancos, buscando uma saída para a União Deportiva. Quando entendemos que não havia outra saída resolvemos criar um clube. Esperamos um ano para não chocar com o ano que a Unión desaparecia.

No começo, eu comecei como porta-voz do clube, depois de alguns anos, assumi a vice presidência e em seguida, finalmente, a presidência. E como presidente, sinto que sou uma pessoa próxima dos torcedores, viajo com eles. Ao mesmo tempo, como dirigente, sou duro, vou a algumas entrevistas e não tenho problemas com a guerra, não tenho problemas com o debate, ao contrário, não tenho problemas em debater questões futebolísticas. Na vida privada, sou um pouco louco, mas na gestão completamente sério e muito dedicado ao clube. Acredito no que faço e isso é apaixonante.

Conhecer a história do Unionistas foi impactante, é muito diferente, na questão dos valores e a união com a gestão. Você, de forma interna, como enxerga isso?

MS: Os principais valores do clube para mim são: respeito à memória de La Unión Deportiva Salamanca, somos um clube novo, e queremos seguir um caminho novo, mas com o olhar sempre à memória, sem substituir a história da Unión; segundo, e seguirá sendo assim porque faz parte do estatuto do clube o compromisso da diretiva com a dívida zero Isso quer dizer que os dirigentes assumem o compromisso de deixar sempre o clube sem dívidas, e caso termine o ano desportivo e não se cumpra a missão econômica, há de se colocar do próprio bolso, assim se gere um clube, não se pode deixar um clube endividado. É fundamental gastar o que tem, e chegar onde consegue chegar, mas sem dívidas; e terceiro – e para mim mais importante-, a ideia de um sócio, e um voto, ou seja todos os sócios têm o mesmo peso de voto em qualquer decisão do clube.

O que a “grada” (arquibancada) canta de futebol popular ou contra o “dinheiro” também vem do clube ou é uma coisa exclusivamente dos torcedores?

MS: O clube são os torcedores. Eles também são sócios. É a ideia compartilhada entre sócios e dirigentes. Ganhando ou perdendo sempre vamos aplaudir os jogadores e os rivais. Um dos valores mais importantes dos torcedores do nosso clube é respeitar ao máximo o rival, não tem insulto, não tem coisas estranhas, políticas e nem pessoais. Acho que isso é a nossa essência. Não acho que a direção leve uma ideia e os torcedores outra. A diferença é que levamos conosco alguns valores que não são mais tão comuns nesse esporte: o respeito a todos que fazem parte do jogo.

Você falou uma coisa que chamou atenção, você disse que, na arquibancada, não se escuta nada sobre política, eu particularmente discordo: Quando uma arquibancada grita pelo futebol popular contra o Real Madrid ou contra o rival é um recado. Você não entende assim?

MS: A ideia de futebol popular não é política. Muitas pessoas colocam o time à esquerda aqui na Espanha, mas eu, por exemplo, não sou uma pessoa de esquerda. Cada pessoa tem a sua maneira de ver o mundo, e isso precisa ser respeitado. Na arquibancada, a política fica fora do campo. O futebol popular quer dizer que existem equipes que, ao final, querem tentar dar voos mais altos para chegar a categorias mais altas na Liga, mas acabam deixando dividas, e aqui prezamos por nunca deixar dívidas a ninguém. Eu penso que a mensagem é não gastar mais do que tem, e cada sócio ser dono do clube. Se o sócio não é dono do clube, no final é futebol empresa, um negócio. Se há dividas, logo o dono deixa a cidade e o clube, e aqui não funciona assim. Mais do que estar próximo de uma ideologia política, temos sim uma assembleia que sempre votamos tudo, talvez a ideia de assembleia se aproxime do que seria a esquerda, mas dentro do clube há pessoas de todas as cores, e o que nos une é o clube, isto não é negocio. O dinheiro é vital par seguir, mas usamos tudo dentro do clube, sem lucro algum de ninguém. Pagamos sempre em dia aos jogadores e todos os funcionários, e no final é fazendo as coisas corretas que demonstramos que um clube como o nosso pode estar em Segunda B.

Então você acredita que o que atrai os sócios ao clube são estes valores e práticas ou algo similar a tua história como torcedor da Unión?

MS: As pessoas que frequentam este clube, e estão sempre no estádio, vêm pela ideia do time e também pelo ambiente do estádio. Além disso, desfrutam as viagens. Sentem o clube como seu. Aqui não tem escadas e superiores, aqui somos todos um.

Miguel Sandoval costuma utilizar as redes sociais para responder os torcedores do Unionistas de Salamanca (Reprodução/Twitter Unionistas)

Sobre a rivalidade, como você observa o embate, é algo geográfico ou um problema ainda maior. Você os vê como legítimos?

MS: Legítimo? O outro clube? Não. Os dois clube se formaram em 2013. Um tenta pegar todos os símbolos da Unión, mas não é a Unión . E nós respeitamos a Unión.  Estamos enfrentados a qualquer clube que queira passar-se por outro. No nosso estatuto, somos contra as substituições, de qualquer tipo. A rivalidade mais que o desportivo e o geográfico é também de valores. Somo um clube popular, que acredita que o torcedor tem que ser dono do clube, e que há um presidente, e os outros são sócios.

A diferença é o trato à memória da Unión Deportiva Salamanca. Todos queremos defender o escudo, para mantê-lo, para que ninguém jogue com ele, e eles querem dar continuidade. E isso não nos parece legítimo, os dois clubes são novos, e estão construindo sua própria história. Eles dizem que têm 90 e poucos anos de historia, mas todo sabemos que a verdadeira Unión desapareceu.

Eu estive aqui no derbi e minha impressão é que, de fato, o jogo é secundário, o que se esta em jogo é outra coisa, certo?

MS: Sim, totalmente. Claro que qualquer rival quer derrotar o outro, mas este dia é especial. Vê-los utilizando o escudo é terrível. Estão sendo processados a nível europeu, mas isto ainda anda em litígio. Espero que isso se resolva um dia, e que tenhamos o escudo para guardar na memória. Eles seguem um outro modelo, vem um milionário e promete a Champions , e todo mundo vai atrás dele. O problema é quando não chega a Champions, cai de divisão, se afunda em dividas.

Vou te colocar uma situação hipotética, que talvez nem chegue a acontecer: você disse que todos os sócios têm o mesmo poder de voto, certo? Digamos que chegue aqui um investidor brasileiro milionário com muitos euros para investir no clube. Os sócios votam e aceitam o investidor. Como ficam os Unionistas?

MS: Eu acho que 90% dos torcedores cantam no estádio porque sentem e tem orgulho do time. Não queremos milionários. Se há um patrocinador que venha a investir dinheiro, vamos ouvir as propostas. O problema é que a nossa diretiva não trabalha com lucro, não acho que algum milionário queira colocar dinheiro para não ganhar nada. Há um pensamento único entre os torcedores: não queremos perder outro time.

Sandoval, gostaria de parabenizar o clube e a gestão, e claro a você. Mas, além disto, outro aspecto importante para a formação de um clube é sua filosofia de jogo. Este é um setor observador por vocês?

A verdade é que subimos tanto de categoria durante esses 6 anos e já alguns poucos anos estamos na mesma categoria. Acredito que tanto no time profissional como na base buscamos formar jogadores lutadores, que lutem pela camisa durante os 90 minutos. Se as pessoas acreditam que deixamos tudo em campo não é muito importante o placar.

Aqui não vai uma filosofia de toque, aqui temos uma equipe que vai entrar ao campo para lutar com qualidade e tentar jogar para frente, mas sempre com muita valentia. Marcar em cima, defesas sóbrias. Não sei se isso exatamente podia ser uma marca do clube, mas quando pensamos em um treinador buscamos um neste perfil.

No ano passado, por exemplo, tínhamos um treinador calmo, e tivemos uma ótima classificação. Mas este ano entramos em clube com times bascos. E nesta divisão os bascos e os navarros são lutadores, alguns times jogam em campo de barro, e o nosso time parecia sem alma contra eles que já entrávamos perdendo. Então, nessa divisão, a luta e a entrega é muito importante, e o time precisa responder.

Entendi. Há equipes no mundo que são conhecidas muito mais por sua parte extrafutebol do que pelo próprio jogo, talvez o exemplo mais evidente seja o St. Pauli da Alemanha. Daqui há 10 anos, como você gostaria de ver a história do Unionistas ser escrita como um time conhecido pela gestão ou pelo campo?

MS: Eu fui em novembro em Hamburgo para ver o St. Pauli, é muito legal. Mas eu insisto, eu não poderia ver o Unionistas como um clube de esquerda como este. Penso que, acima de esquerda, esse é um time dedicado a questões humanitárias e conectado com a comunidade. Temos trabalhos preocupados com questões feministas, temos trabalhos sociais com organizações locais. Mas para responder bem a pergunta, eu, em 10 anos, gostaria de ver o clube e sem importar muito a categoria, mas respeitando os valores, que cada sócio seja dono do clube e mais que tudo isto que as pessoas sintam-se conectada com o time.


UNIONISTAS, COVID E O IMPACTO DA SEGUNDA DIVISÃO B DA ESPANHA

A ultima parte dessa imersão de 8 meses no futebol espanhol seria coroada com a entrevista ao Presidente Miguel Sandoval e uma análise sobre o desempenho dos dois times na competição. Entretanto, todos podem imaginar qual foi o destino do nosso planejamento. O COVID-19 afetou ferozmente todo o país ibérico, e excluindo a irrealidade dos grandes times do país, ao futebol também. Os clubes, em sua grande maioria, vivem de patrocínios pontuais, renda de estádios e dos pacotes de sócio torcedor. Portanto, uma temporada não finalizada afeta drasticamente o panejamento não só da própria temporada, como de várias, até porque não se sabe ao certo se haverá ou não torcedores nos estádios quando a bola voltar a girar.

Segundo a própria assessoria de imprensa do clube salmantino, os efeitos do COVID foram devastadores, talvez um dos mais prejudicados na divisão. Mesmo que nenhum membro, seja da comissão técnica, diretiva ou próprios jogadores tenham acusado o vírus. No aspeto financeiro, tão bem cuidado e planejado pela diretoria dos Unionistas, as contas que já eram justas ainda tornaram-se ser mais limitadas. 

As entradas compradas pelos torcedores e pelos sócios são parte vital do funcionamento do clube e não ter terminado os jogos como mandante do último campeonato cancelado dificultou muito o fechamento das contas da temporada passada, tudo isto quando o clube vinha em uma ascensão desportiva impulsionada pela eliminação com cara de vitória para o Real Madrid na Copa do Rei, os bons pontos conquistados em casa na liga consolidavam um estilo de jogo calcado na intensidade nas movimentações ofensivas, marcação dura e a busca, sempre por tomadas rápidas de decisão coordenados pelo experiente técnico Jabi Luaces,  potencializado pela afirmação de jogadores como Alvaro Romero e De la Nava, infelizmente interrompidos por um inimigo silencioso e inesperado.

Esta nova temporada se iniciará com 20 equipes além do normal. Um campeonato já inchado com 80 times agora contará com 100. Mais jogos, mais viagens, a necessidade de um elenco mais gordo tanto em quantidade como em qualidade, um dos problemas do time já na última temporada com o caixa em dia. Tudo isto dentro de um mercado completamente desequilibrado que, em condições normais, já devia estar praticamente fechado e com os times preparando-se para começar a pré-temporada, mas que segue apontando novidades em todas as direções, tanto em baixas como em altas.

Com tudo isto, não há espaço para grandes investimentos. O COVID também dificultou a vida de boa parte dos patrocinadores, que acabaram, naturalmente, por reduzir o capital aplicado ao clube. Em conversa privada com membros da diretiva, sente-se que o sentimento mais do que nunca é da necessidade do apoio dos torcedores e sócios. A incerteza sobre a próxima temporada é grande, há o risco dos gramados seguirem vazios, e claro, isto dificulta a aproximação de novos sócios. Mas nem por isto, a confiança deixa de ser alta na filosofia ética do clube, tanto que a nova campanha do Unionista é “El limite lo marcas tu”. Graças ao perfil do torcedor, a expectativa da direção é que os sócios consigam ajudar ao máximo a manter a saúde financeira do time de coração em dia.

O desafio está posto na mesa, a união mais do que nunca é importante para o clube que leva este ideal no emblema. Em contrapartida, o clube vizinho continua a propor gastos e contratações de jogadores estrangeiros e caros, mas sem nenhuma certeza de efetividade, e apesar das seguidas insistências, o Salamanca UDS CF preferiu não responder às perguntas propostas e o contato do FOOTURE, nem antes nem durante os efeitos pandémicos.

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