Como Deschamps adaptou a França aos seus talentos

Atuando durante o ciclo com três zagueiros, Deschamps mudou a estrutura da França na estreia da competição e melhorou de rendimento ao ponto de voltar a ser finalista.

Neste domingo (18), a França de Didier Deschamps pode sagrar-se tricampeão mundial, sendo a segunda como técnico e de forma consecutiva. Muitas vezes visto com desdém devido algumas decisões ou pela forma que sua equipe joga, o ex-jogador da seleção aproveitou esse torneio para mostrar seus principais pontos fortes. Com um elenco bastante afetado por lesões, Deschamps mudou a estrutura tática do Le Bleus — que vinha tendo alguns problemas que serão citados — e também seguiu seu processo de favorecer as características de suas principais estrelas em campo. 

As complicações do 5-3-2

Visando acomodar seus principais jogadores (Pogba, Benzema, Griezmann e Mbappe), Deschamps desde a Eurocopa começou a desenhar a seleção em 5-3-2. Usando Kilyan e Karim como uma dupla de ataque e Griezmann atrás deles. Porém, essa configuração trouxe algumas problemáticas estruturais, que se mantiveram mesmo com as saídas de Benzema e Pogba por lesão. 

Nessa formação, Mbappe atuava como segundo atacante ao lado de Giroud e, sem outros extremos na equipe, fazendo a construção ser mais pelo centro. Atuando nessa dupla, Kylian não recebia muitos passes abertos, deixando a seleção com baixa capacidade de 1×1, já que quem abria o campo eram os laterais, que não tinham muita familiaridade com esse tipo de situação. 

Jogando por dentro, Mbappe aparece quase sempre na zona mais congestionada do campo. Mesmo lidando bem em espaços curtos, não é onde o jogador se sente mais confortável. 

As principais jogadas construídas da equipe se davam por pivôs de Olivier Giroud e espaços gerados pelas movimentações de Griezmann e Mbappe, que arrastam os rivais para áreas de menor tensão no campo e fazendo com que os demais jogadores conseguissem infiltrar e aparecer livres dentro da área ou próximos a ela.

Porém, em jogos que a seleção não tinha a transição a seu dispor, era comum ver algumas partidas onde a seleção tinha dificuldade em acumular chances através da posse. 

A transição defensiva e marcação alta da seleção foram outras fases do jogo afetadas por essa estrutura. Os adversários conseguiam superar a pressão com facilidade trocando o corredor. Os alas não subiam  para pressionar os laterais rivais no campo de ataque, com os meias subindo e a última linha ficando mais presa, os adversários conseguiam encontrar com mais facilidade inversões para os alas livres no canto oposto, ou passes no costado dos volantes. 

A mudança de Deschamps para o 4-3-3 

Para a Copa do Mundo, o treinador francês resolveu voltar ao 4-3-3 que curiosamente foi usado na primeira partida da Copa da Rússia, porém, naquela ocasião, a seleção não respondeu bem e Didier fez alterações no jogo seguinte. Bem diferente do que ocorreu no Catar. 

A primeira mudança visível na forma de jogar da seleção, foi o jogo pelas extremidades. Com Dembele e Mbappe abertos, a França busca sempre colocar seus pontas no jogo, e alguns dados ajudam a exemplificar isso. A França é a terceira seleção que mais tentou jogadas de 1×1 na Copa e é a quinta em aproveitamento (57.6%). 

Porém, talvez o grande ponto de virada da seleção foi a realocação de Griezmann em campo. Passando a atuar como terceiro homem de meio, Antoine passou a ditar completamente o ritmo do ataque francês – papel antes incubido a Pogba. 

O jogador do Atleti busca se movimentar entre as linhas e é bastante ativo para acionar Dembele e Mbappe nas laterais, situação analisada há alguns dias.

Defensivamente a equipe também precisou de reinventar. Tentando descansar Mbappe quando a equipe está sem a bola, a França criou um sistema de compensações, com Rabiot sendo o principal responsável por cobrir o espaço de Kyllian. A execução estava sendo muito boa, até o confronto diante da Inglaterra. 

Na ocasião, Gareth Southgate fez a sua equipe atacar excessivamente pelo lado esquerdo de defesa francesa. Com Saka e Henderson conseguindo várias ocasiões de gol atacando Theo Hernandez, com muita troca de posição entre eles. Fazendo com que o English Team criasse boas chances de gols, inclusive conquistando um pênalti partindo de uma jogada pelo setor. 

Essa problemática defensiva pode ser um fator importante na grande final da Argentina. Como Deschamps fará para que seu lateral não seja tão explorado? Como Scaloni tentará conter Mbappe e tirar espaço de Griezmann pelo centro? Esses e outros questionamentos alimentam a curiosidade dessa grande final que se aproxima.

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