Conhecendo Allan Aal e a fase ofensiva do Grêmio Novorizontino

Segunda parte da conversa com Allan Aal, treinador do Novorizontino. Equipe que tem surpreendido no início de Série B.

Se mantendo nas primeiras colocações da Série B, o Grêmio Novorizontino segue sua saga de maior surpresa nesse início de competição. Na última semana o treinador da equipe, Allan Aal, concedeu uma entrevista exclusiva ao Footure. A primeira parte já está disponível para leitura. Enquanto a segunda está abaixo dando uma maior ênfase na parte ofensiva da equipe. Aproveitem. e Não se esqueçam: pense o jogo. 

Em muitos momentos você usa o Romário, lateral esquerdo, mais na base da jogada, às vezes até entrando no corredor central ajudando na construção da equipe, enquanto o extrema esquerdo dá a amplitude do ataque. Quais os prós e contras dessa situação? 

A gente tem variado. Tem procurado fazer algumas variações conforme o adversário e o Romário tem essa versatilidade. Ele é um jogador que tem uma qualidade técnica muito boa na hora da construção. Que tem uma experiência muito grande, que sabe o momento certo de agredir o espaço. E a gente vem tendo essa ferramenta de variar um pouco. Nós iniciamos ali em alguns momentos baixando um pouquinho mais o nosso lateral direito e deixando o Romário como um homem por dentro um pouco mais avançado e fizemos essa variação que você ta falando, de segurar ele para dar liberdade ao lado oposto. Esse equilíbrio e essa variação dos dois lados vem sendo uma ferramenta muito importante pra gente no momento da construção. E a característica dos nossos laterais nos dá essa possibilidade. Nós iniciamos com o Lepo jogando de lateral, depois tivemos o Diadema, agora temos trabalhado com o Felipe. São jogadores que nos dão essa possibilidade de variação. E o entendimento do Romário, ele é um jogador que tem essa leitura, de saber o momento de construir e o momento de ser um homem surpresa saindo pelo corredor do lado dele. Isso vem trazendo para nós um equilíbrio muito grande e uma possibilidade de construir as jogadas de várias maneiras com os mesmo jogadores. Eu acho isso fundamental e me deixa muito feliz. 

Seguindo pela construção, no seu CRB a equipe tinha muito do Diego Torres (que agora está no Novorizontino com você) e no Novorizontino, tem o Daniel. E eles tem algumas características semelhantes: são dois camisas 10 que procuram estar sempre no setor da bola, participando o tempo todo. E são dois atletas que entram muito na área. Gostaria de saber se é algo que você procura, ter um jogador com esse tipo de características nos seus times. 

Eu sou um cara que sou um pouco romântico do futebol. Acredito ainda nos camisas 10. Eu tive o Renan Bressan no Paraná Clube, o Elvis no Cuiabá, o Diego (Torres) no CRB e agora o Daniel aqui no Novorizontino. Então eu acho que o futebol ainda tem espaço para esses jogadores, que tem uma qualidade e uma leitura de jogo um pouco diferente no setor que eles atuam. Obviamente não são atletas que vão ser os camisas 10 antigos, aquelas que faziam passes de 60/70 metros que não participavam do jogo, mas na maneira que vejo futebol, eu acredito que esses atletas podem contribuir de uma maneira muito grande. Primeiro em cima das características individuais que eles tem e segundo da maneira da gente jogar. É como você falou, são atletas que constroem, mas ao mesmo tempo ocupam um espaço do campo que tenha a possibilidade de pisar na área. Isso é fundamental, se tornar um segundo atacante. E para isso a gente procura trabalhar taticamente, ter uma leitura de ocupação de espaço e uma paciência, que às vezes é o que falta para o atleta que joga nesse setor. De trabalhar com a bola, mas estar em um setor que ele faça a diferença e vem dando certo. Nas equipes que eu passei sempre foram jogadores que se destacaram e que contribuíram de uma maneira muito grande no desempenho ofensivo e também no equilíbrio defensivo do jogo. É uma maneira que eu vejo futebol, é uma maneira que eu acredito e que fico feliz que venha dando certo até agora. 

Falando na forma que você vê futebol, como enxergas os volantes na sua equipe no papel de construção. Você falou do Bochecha. Ele tem um peso muito grande com a bola no Novorizontino, no CRB o Marthã e o Jean Patrick tentavam dar essa superioridade com a bola. Então queria saber como funcionam os volantes no momento ofensivo nas suas equipes. 

São peças fundamentais. São peças que hoje em dia dão equilíbrio total ao jogo. Tanto no momento ofensivo, como no momento defensivo. E eu costumo falar para eles que a questão de primeiro e segundo volante varia durante a partida. Ela varia conforme o andamento do jogo. O Jhony, como eu falei aqui, é um jogador de característica de força física, tem um poder defensivo maior que o Bochecha, mas que já fez gol contra o Londrina. Então a circunstância do jogo, muitas vezes faz essa variação quase que ao natural. E o posicionamento deles é fundamental. A gente precisa ter um equilíbrio defensivo, mas também precisa ter um homem a mais no momento da construção. E a gente vem procurando passar para eles isso. De ter essa liberdade, esse equilíbrio. De trabalhar defensivamente, mas também ofensivamente. E essa movimentação, essa troca que eles fazem durante a partida eu acho que vem fazendo a diferença. No momento que um deles pesa um pouquinho mais na parte física, dá liberdade para o outro que tá com a perna mais fresca e dá o ritmo do jogo ali. Fazer com que os zagueiros e laterais também alimentem esses jogadores. Que tenham coragem de alimentar esses jogadores. Porque é uma zona perigosa para você jogar, mas ao mesmo tempo quando você consegue jogar, tu envolve o adversário e cria muitas possibilidades de passe. Alimentando ali os nossos meias e atacantes de uma maneira equilibrada. Então são jogadores que bem posicionados são fundamentais para nossa maneira de jogar. 

5- No CRB você utilizou uma saída em 3 com um dos volantes afundando. Agora em Novo Horizonte, tens usado uma saída mais povoada, com 5 ou 6 jogadores. Gostaria de saber as principais diferenças nos métodos utilizados das duas, e o que busca ganhar com elas. 

A gente variava bastante com a preponderância da saída de 3 no CRB pelo fato do Reginaldo, sendo um jogador muito agudo, um jogador de muita velocidade, que não tem muita característica de puxar numa saída de 4 para uma construção. Então a gente procurava trabalhar com o Claudinei que já tinha uma experiência e uma tranquilidade maior no momento da construção e dar mais um pouquinho de liberdade para os nossos laterais, para que eles pudessem aproveitar. Já aqui no Grêmio Novorizontino, a gente tem essa característica e tem essa possibilidade de variação. Nós fizemos uma saída com 3 contra o Vila Nova, trazendo o Valber para a saída da bola. Trabalhando Joilson, Valber e Romário e dando mais liberdade para os homens da frente. E já no último jogo contra o CRB buscamos fazer uma saída um pouco mais construída, povoando para tirar o adversário um pouco mais de trás. Quando você, pelo menos eu vejo dessa maneira, coloca uma saída de 3, você procura empurrar o adversário para o seu campo defensivo. E quando você povoa um pouquinho mais a tua saída, tu procura atrair o adversário para que ele possa deixar espaços e você possa transitar com maior velocidade. E é o que nós precisávamos naquele momento. Então essa variação a gente procura fazer em relação ao adversário e em relação ao que a gente pensa pra início de partida principalmente, de você explorar alguns fatores que possam te levar ao gol mais rapidamente. 

Para finalizar, você falou agora sobre essa questão do estudo do adversário, sobre a saída de jogo e outras situações que variam de time para time. Como funciona no Novorizontino o estudo do próximo oponente e até as suas análises durante a partida, a sua leitura de jogo durante os 90 minutos? 

Eu acho que é fundamental você conhecer e saber muito do seu adversário. Facilita muito o trabalho. Obviamente que eu vejo dessa maneira. Você tem que manter o seu modelo de jogo, tem que manter as suas idéias, mas você também ter ferramentas tanto no momento ofensivo quanto no momento defensivo para poder maximizar aquilo que tem de melhor. Então esse estudo, essa análise do adversário é fundamental. Nós temos aqui um departamento de análise muito capacitado, onde a gente procura tirar o máximo desses profissionais. E aí entra no segundo ponto que você citou que é a leitura durante o jogo. Muitas vezes aquilo que você analisa do adversário em 3, 4, 5 partidas, ele acaba criando uma situação diferente durante a partida. E aí entra muito da nossa leitura ali, do encaixe, do momento do jogo. Nós tivemos no último jogo contra o Ituano que é uma equipe muito competitiva, é uma equipe muito forte, de marcação muito alta e que pela necessidade de correr atrás do placar acabou saindo de sua característica. Acabou terminando o jogo com praticamente cinco atacantes. Então você que saber se adaptar, ter essa leitura e ter o entendimento dos teus atletas para terem essas variações durante a própria partida. Acho que isso é trabalho, isso também entra muito na qualidade individual dos atletas, mas é uma coisa que procuramos passar para eles. Que é você ter esse direcionamento, essa visão do teu modelo de jogo, mas também essa versatilidade para que você possa se adaptar ao adversário tanto no momento defensivo quanto no ofensivo. E isso a gente procura alimentar no dia-a-dia. Hoje em dia eu vejo que o jogador tem que ser versátil em todos os momentos do jogo e nós temos um grupo muito versátil, qualificado que vem facilitando nosso trabalho de uma maneira muito grande, Tanto durante a partida, quando durante os treinamentos e o resultado graças a Deus vem aparecendo. 

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