EURO 2024 | COMO CHEGA PORTUGAL

Com o bom início de trabalho de Roberto Martinez, Portugal busca aproveitar o ápice desta geração em busca da Eurocopa.

Portugal passou uma transformação importante após a Copa do Mundo de 2022, com a saída de Fernando Santos e a chegada de Roberto Martínez como novo treinador. E no ciclo de Eliminatórias da Eurocopa já colheu bons frutos dessa mudança. A seleção portuguesa teve o melhor ataque (36 gols), o vice-artilheiro (Cristiano Ronaldo) e a melhor defesa (apenas dois gols sofridos). As estatísticas e os contextos de enfrentamentos já demonstraram a nova cara do time: possista, investindo em associações por dentro e por fora, além de ter diferentes sistemas para potencializar suas diretrizes a cada jogo.

Roberto Martínez já utilizou três zagueiros, lateral de pé trocado, dupla de centroavantes e até falso 9. Mesmo com essas diversas possibilidades já testadas, o estilo da equipe portuguesa não muda. A intenção é propor, trazer dinâmica à construção e ser sólido atrás. No principal teste recente, Portugal sofreu contra a Croácia e acabou por perder a partida. Porém, o resultado foi valorizado pelos jogadores no sentido de “descer do salto”. No geral, o grande mérito de Martínez era justamente a grande crítica ao trabalho de Fernando Santos: potencializar seus talentos. Cristiano Ronaldo e Bruno Fernandes foram os grandes beneficiados e isso tende a ser uma arma extra na Euro.

Gráfico: Footure PRO

Diante de tantas alternâncias, é possível afirmar que Roberto Martínez irá se adaptar ao contexto de cada jogo e as características dos adversários. Entretanto, o esquema mais utilizado partiu de um 4-1-4-1, com João Cancelo como lateral de pé trocado na esquerda, Palhinha na função de híbrida de primeiro volante e terceiro zagueiro e Vitinha como principal indicado a acompanhar Bruno e Bernardo Silva na construção. Na frente, Rafael Leão parte da esquerda, podendo ser o responsável pela amplitude na canhota ou se aproximar a Cristiano Ronaldo.

O time de Roberto Martínez tem a saída de três como pilar, com um ou dois meias prestando apoio a frente dos defensores (3+2). Nesse caso, João Palhinha baixa entre os dois zagueiros para formar essa primeira linha de construção, com Vitinha se aproximando para gerar apoio e ditar o ritmo dessa saída. Por vezes, a depender do bloco adversário, Cancelo e/ou Bruno vão gerar esse apoio por dentro também, para tornar o princípio da posse mais sustentado.

Em caso de escolher por três zagueiros puros, Gonçalo Inácio ganha espaço pelo lado esquerdo, principalmente por ter ótima capacidade de recuperação e bom passe com a perna canhota para quebrar a primeira linha.

Evoluindo a construção, veremos a seleção portuguesa em um 3-2-4-1 ao atacar, condicionados pelos movimentos dos laterais. Enquanto Diogo Dalot dará amplitude pela direita, empurrando Bernardo Silva para uma zona interior, João Cancelo terá um papel híbrido como um lateral construtor. Inicialmente, poderá se alinhar a Vitinha para apoiar a saída de bola, assim como inverter com Bruno, que tem liberdade para transitar e identificar espaços para receber a bola de frente pro campo ofensivo.

Esses movimentos beneficiam a participação de Rafael Leão, que apesar de ser, inicialmente, o responsável pela amplitude na esquerda, pode se aproximar de Cristiano Ronaldo através de diagonais. Em tese, poderemos ver o popular quadrado no meio-campo, assim como uma dupla de atacantes, com movimentos de dentro pra fora tanto de Cancelo quanto de Bruno Fernandes.

No caso de ter Nuno Mendes como lateral pela esquerda, as dinâmicas mudam um pouco, já que ele dará amplitude por esse lado. Dessa forma, naturalmente, Leão ocupará zonas mais próximas da área e Bruno estará se apresentando quase como um segundo homem de meio-campo. Mudanças que certamente serão estudadas de acordo com os adversários.

Sobre Cristiano Ronaldo, o camisa sete entrega possibilidades interessantes a partir de seus movimentos. Ao gerar apoio à construção de costas pro campo de ataque, vai utilizar poucos toques para achar um companheiro livre e em boa condição de progredir. Isso beneficia ataques ou transições mais rápidas, principalmente pelos espaços que se abrem no mometo que CR7 sai da posição natural, trazendo um zagueiro consigo. Inclusive, Portugal tem buscado explorar essas situações, principalmente com as passagens de Dalot pela direita e os ataques a profundidade de Rafael Leão.

No contexto defensivo, o time de Roberto Martínez costuma se postar no 4-1-4-1, geralmente em bloco médio. Essa postura está condicionada a Cristiano Ronaldo, que não tem o trabalho defensivo necessário para pressionar boa parte do tempo. Com isso, a instrução inicial é fechar linhas de passe e no momento que a bola chegar mais próxima dos meio-campistas, apertar a pressão e recuperar o mais rápido possível, seja para transição ou retenção da posse.

Apesar de Palhinha ficar muito próximo de constituir uma linha de cinco em determinados jogos, esse padrão é mais flagrante quando Martínez utiliza três zagueiros puros. Esse comportamento gera menos possibilidades dos meio-campistas saltarem pressão, mas torna o time mais compacto na entrelinha, dificultando muito o acesso do adversário. Outra variação possível de acordo com o enfrentamento.


Bruno Fernandes chega a essa Euro sendo pela primeira vez o grande destaque individual da seleção. Sua influência no time de Roberto Martínez é brutal, com muita liberdade na construção e na busca por espaços oportunos, além de ser o principal criador da equipe. Não é a toa que tem números bastante relevantes por Portugal num recorte recente, com seis gols e sete assistências nos 10 jogos que disputou durante a temporada 2023/24.

Pelo Manchester United, o meia foi um dos poucos que se salvou da temporada de altos e baixos dos Red Devils. Além de ter contribuído com 18 gols (10 gols e oito assistências), Bruno Fernades se destacou em três métricas dentre todos os meias da Premier League: 0,79 passe infiltrado por jogo (3º), 0,87 passe chave certo por 90 minutos (2º), além de 36,62 passes recebidos por partida (4º). Definitivamente tende a ser o grande pilar de Portugal nessa Eurocopa, como já vem sendo na Era Roberto Martínez.

Gráfico: Footure PRO

Em seu 21º ano de seleção, Cristiano Ronaldo se acostumou a ser o destaque individual em diferentes gerações e mesmo aos 39 anos, tem um peso enorme como protagonista. A final, estamos falando do melhor europeu da história e dos maiores que o jogo já viu. Além dessa eterna alcunha, CR7 segue entregando muitos gols e boas capacidades para ajudar suas equipes, principalmente em construção e nos desmarques para finalizar.

Por Al-Nassr e Seleção, durante 2023/24, Cristiano marcou 57 gols e gerou outras 15 assistências, sendo o artilheiro do mundo na temporada, da Liga Saudita e vice-artilheiro das Eliminatórias da Eurocopa. Em sua sexta participação na competição, ele chega em bom momento técnico e oferecendo boas dinâmicas, como o apoio à construção com poucos toques na bola e abrindo espaços na defesa adversária a partir desses movimentos, os desmarques curtos e de ruptura, além da boa capacidade nos passes progressivos. Isso tudo sem esquecer do enorme arsenal de ferramentas para finalizar, seja pelo alto, com a perna direita, com a perna esquerda e cobrando faltas. Ninguém poderia estar a beira dos 900 gols oficiais na carreira sem ser um absurdo de finalizador.

Gráfico: Footure PRO
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