Guia do Brasileirão: Botafogo

Sob a dúvida da chegada do novo treinador, o time de Fábio Matias mostra evolução e profundidade de elenco para ser competitivo nesse Brasileiro.

Depois da decepção ocasionada pela reta final do Campeonato Brasileiro de 2023, o Botafogo renovou suas expectativas para essa temporada, mesmo com alguns percalços. O trabalho de Tiago Nunes foi interrompido logo após o primeiro jogo da Pré-Libertadores, quando houve um sinal de alerta concreto diante das atuações da equipe. Desde então, Fábio Matias assumiu o time interinamente e conseguiu bom desempenho.

Sob seu comando, o Glorioso não só garantiu a classificação para a fase de grupos da Libertadores, diante do RB Bragantino, como evoluiu como equipe de forma expressiva. Retrato dessa evolução é o momento de Junior Santos, potencializado a partir da montagem de Fábio Matias e pelas combinações com Tiquinho Soares. Trabalho que provavelmente adiantará o processo de montagem por parte do novo treinador, a ser escolhido por John Textor.

Gráfico: Footure PRO

ESQUEMA TÁTICO

Fábio Matias mantém um esquema que deu certo no Botafogo de Luis Castro: o 4-3-3, variando para o 4-2-3-1. Mas com novas peças que agregam bastante pensando na competitividade interna e na proposta de jogo da equipe. Em relação a última temporada, a linha de defesa se renovou completamente. John e Lucas Halter chegaram para substituir Perri e Adryelson, vendidos ao Lyon, Damián Suárez foi contratado para preencher a lacuna da lateral-direita e Hugo tomou a posição de Marçal na canhota.

No meio-campo, a fartura de opções a partir do ótimo mercado de janeiro é um bom indicativo para disputar três competições simultâneas sem prejuízos técnicos ao rotacionar o time. Inicialmente, Danilo e Tchê Tchê são os mais testados e os que mais jogaram entre os titulares em 2024. Porém, Marlon Freitas vem crescendo com Fábio Matias e ganha cada vez mais espaço, assim como Gregore, que chegou já no fim do Carioca. No decorrer do Campeonato Brasileiro, o setor tende a se reforçar ainda mais. Patrick de Paula, que já se recuperou de grave lesão no joelho, e Allan, que chegará de forma definitiva em julho, serão incorporados ao elenco.

Na frente, a diversidade de opções também foi pensada na gestão John Textor, com André Mazzuco como executivo de futebol até meados de março, quando deixou o cargo. Antes sem um suplente concreto para Eduardo, Óscar Romero foi contratado para preencher essa lacuna. Já entre os extremos, Luiz Henrique, Jeffinho e Savarino chegaram para encorpar o setor. Inclusive, antes de sua lesão, Jeffinho foi um dos principais jogadores da equipe, marcando gols nos primeiros três jogos da temporada. Apesar das contratações, as permanências de Tiquinho e Junior Santos são cruciais para as pretensões do Glorioso em 2024.

SAÍDA DE BOLA

Nessas primeiras partidas, o time de Fábio Matias tem como configuração de saída de bola o 2+3, com o primeiro volante alinhado aos laterais na segunda linha, enquanto os dois zagueiros estão na base. Em situações de pressão alta do adversário, a saída tende a ser sustentada, com mais um meio-campista baixando para oferecer uma linha de passe a mais, originando um 4+2. Além da saída curta, o jogo direto é uma alternativa bastante explorada pela equipe, a partir de lançamentos cruzados de Barboza (média de sete por jogo) e Damián Suárez, buscando os extremos.

CONSTRUÇÃO DE JOGO

Passando pela primeira fase da construção, o Botafogo tem como característica explorar os lados do campo. Sendo assim, formam-se triângulos quando a bola está em uma das extremidades. Estes são formados pelo lateral, geralmente na base da jogada, o meio-campista interior e o extremo, mais adiantado e próximo a linha lateral. Essa configuração pode rodar de acordo com as características dos jogadores. No entanto, observa-se uma fluidez maior dessa associação quando o ponta está de pé trocado, como tem acontecido com Savarino pela esquerda, já que dará o corredor para uma possível ultrapassagem do lateral e terá também a possibilidade de conduzir para o meio. Isso pode ser bastante aproveitado com Luiz Henrique pela direita, deslocando Junior Santos para o outro lado.

Outro destaque para a construção e definição das jogadas do Botafogo é Tiquinho Soares e seus movimentos saindo da área, seja como pivô ou nos desmarques de apoio para criar tabelas com os pontas. Esses tipos de movimentações tem sido muito aproveitadas por Junior Santos, que, pela direita ou pela esquerda, tem entrado bastante em diagonal na área, justamente aproveitando o espaço criado pelo centroavante ao atrair os zagueiros.

Entretanto, um aspecto a se aprimorar é a paciência com a posse. A ansiedade em produzir uma jogada para chegar a área está muito ligada a verticalidade que alguns jogadores tem como característica, como Eduardo, com os passes progressivos, e Junior Santos, com as corridas.

COMO SAEM OS GOLS

Muitos dos gols do Botafogo em 2024 foram originados de cruzamentos na área, seja por uma assistência direta ou uma sobra a partir dos duelos. Nesse sentido, o lateral-esquerdo Hugo vem se destacando ofensivamente. O jovem, de 22 anos, já concedeu seis assistências na temporada em 16 partidas. Outra arma importante para marcar gols é a combinação Tiquinho e Junior Santos. Em cinco oportunidades as interações da dupla renderam bolas nas redes.

BOLA PARADA

Nos escanteios ofensivos, é possível perceber um padrão de movimentação. Geralmente, cinco atletas esperam o cruzamento na área. O primeiro movimento é a corrida pra trás, buscando a segunda trave, do jogador que estiver próximo ao goleiro, na direção do meio do gol. Dois jogadores vão de encontro a primeira trave para atacar a bola (Lucas Halter faz bem esse movimento), enquanto os outros dois que sobrarem estarão na região da marca do pênalti.

Já nos escanteios defensivos, a equipe adota uma marcação por zona com a primeira trave bastante protegida. Porém, em situações de enfrentar um cabeceador imponente é feita a mista, principalmente para bloquear ou atrapalhar a subida desse adversário.

COMO DEFENDE

Ao subir o bloco em campo ofensivo, o time de Fábio Matias defende em um 4-1-3-2, com Tiquinho e Eduardo na primeira linha de pressão. Conforme esse bloco vai baixando, a estrutura muda para o 4-4-2, com o primeiro volante se incorporando a segunda linha, que também conta com os dois extremos. Nesse contexto, Tiquinho fecha as linhas de passe dos zagueiros, enquanto que Eduardo fica mais próximo do primeiro volante, dificuldando o giro do adversário ao receber a bola. Um aspecto a se aprimorar é a defesa dos intervalos, principalmente entre zagueiro e lateral, espaço que foi bastante explorado pelo RB Bragantino nos dois confrontos da Pré-Libertadores.

COMO TOMAM OS GOLS

Em oito partidas no comando técnico do Botafogo, Fábio Matias teve sua defesa vazada em seis ocasões, sendo que três foram em bolas aéreas. Ainda com Tiago Nunes, a equipe também mostrou dificuldade ao defender o intervalo entre lateral e zagueiro, sofrendo alguns gols dessa forma. Com Fábio, dois foram por esse caminho.


MELHOR JOGADOR – JUNIOR SANTOS

Apesar de toda a capacidade já demonstrada por Tiquinho, o grande protagonista do Botafogo neste início de 2024 é Junior Santos. O extremo não só é o artilheiro da equipe no ano, como também do Brasil, com 13 gols em 16 partidas. O interessante é que o camisa 11 supera completamente as expectativas, já que, a princípio, seria apenas uma opção de composição de elenco nesta temporada, principalmente com as chegadas dos outros pontas.

Gráfico: Footure PRO

Junior Santos tem como grande característica a ótima leitura para atacar profundidade, especialmente nos desmarques de ruptura em diagonal, visando o gol. Dessa forma, marcou muitos dos seus gols no ano e tem formado uma dupla complementar com Tiquinho Soares. Outro ponto importante é o bom biotipo para a posição, com 1,88m de altura, passada larga e força para vencer duelos. É uma ameaça em diversos contextos do jogo. Além disso, a sua confiança ao usar o pé não dominate é destacável. Dos seus 13 tentos na temporada, quatro foram com o pé esquerdo. Até por essa característica, apesar de ser escalado mais vezes pela direita, Junior pode atuar no lado oposto, oferecendo ainda mais agressividade pelo flanco, que já conta com descidas frequentes de Hugo. Essa é a tendência com o retorno de Luiz Henrique.

MELHOR JOVEM – LUIZ HENRIQUE (2001)

Maior contratação da história do futebol brasileiro, Luiz Henrique ainda tem uma margem imensa de crescimento aos seus 23 anos. O extremo chegou do Real Bétis sob a expectativa de ser protagonista dentro do Nilton Santos, mas uma lesão precoce atrapalhou essa adaptação em campo. Com seu retorno, o poder ofensivo do Botafogo sobe consideravelmente de patamar, oferecendo armas interessantes pelo lado direito.

Luiz é muito imprevisível nos dribles. Seja em espaço curto, com diversos traços do futsal, utilizando os dois pés, da boa condução e dos movimentos do marcador ao seu favor, assim como com campo aberto, por sua passada larga e verticalidade ao driblar em direção ao gol ou linha de fundo. Um aspecto ainda a melhorar, como já era visto na Espanha, é a capacidade de marcar gols e tomar decisões melhores dentro da área.

MELHOR ESTRANGEIRO – SAVARINO

Mais um dos reforços para essa temporada, Savarino tem um perfil diferente dos demais extremos do Botafogo. O venezuelano se caracteriza pela boa capacidade de associação e dribles curtos em direção ao centro. Além disso, tem uma boa finalização e bola parada, o que tende a ser crucial para buscar uma vaga na equipe titular. Assim como Junior Santos, pode jogar em ambos os lados do campo, oferecendo ainda mais possibilidades para o treinador.

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