Guia do Brasileirão: Flamengo

Com solidez defensiva, fluidez na construção e grande fase de Pedro, o Flamengo de Tite é o favorito ao titulo brasileiro.

Com uma pré-temporada completa para trabalhar e reforços pontuais, Tite conseguiu trazer o equilíbrio necessário ao Flamengo para almejar os principais títulos na temporada. Nico De La Cruz, Léo Ortiz e Matías Viña foram contratados e qualificam ainda mais um elenco que já tinha boa profundidade. Inclusive, o ex-River já se encaixou na equipe e é o melhor jogador do time ao lado de Arrascaeta. Ortiz e Viña terão que brigar por espaço com os titulares de uma linha defensiva que ainda não foi vazada em 2024.

Em questão de resultados, o Flamengo já deu um passo importante para conquistar o título carioca, ao vencer o Nova Iguaçu por 3 a 0 no jogo de ida da decisão. Além da defesa principal, que ainda não sofreu gols em jogos oficiais na temporada, Tite conseguiu trazer a fluidez necessária para o meio-campo rubro-negro ao mexer na função de De La Cruz e, consequentemente, potencializou Pedro.

Gráfico: Footure PRO

No início da temporada, com Gerson à disposição, Tite utilizou uma espécie de 4-1-3-2. Nessa plataforma, De La Cruz tinha uma função mais ofensiva pelo lado direito, enquanto que Gerson aparecia mais na base da jogada. Dessa forma, o lateral-direito tinha que se projetar no corredor para dar a opção de linha de fundo, algo que não trouxe tantos resultados quanto o esperado. Com a ausência de Gerson, por um problema renal, Tite promoveu Luiz Araujo à equipe titular, trabalhando assim com dois extremos puros e recuando De La Cruz na construção.

Partindo desse esquema, a equipe conta com uma linha de quatro na defesa, geralmente composta por Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira e Ayrton Lucas. Léo Ortiz e Matías Viña devem brigar por vaga no onze inicial no decorrer do campeonato. No meio-campo, Pulgar é absoluto como “5” do time, com De La Cruz e Arrascaeta completando o setor. Na frente, estão Luiz Araujo, Pedro e Everton Cebolinha. A questão que tende a ser uma boa “dor de cabeça” para Tite é a volta de Gerson. O encaixe do meio-campista deverá acontecer junto da dupla uruguaia, com funções passíveis de alterações.

A saída rubro-negra é variável, podendo se configurar no 3+1, com Ayrton Lucas na primeira linha junto dos zagueiros, ou no 4+2, geralmente quando o adversário está em bloco alto. Essas formações podem evoluir para o 2+3 conforme a saída avança. Assim, Pulgar fica centralizado a frente da dupla de defensores e alinhado aos laterais, que ganham alguns metros para se projetarem. O goleiro Rossi também é importante, com boa capacidade de passe, principalmente nos lançamentos buscando os lados do campo. Um padrão que vem se repetindo é um movimento de De La Cruz, que muitas vezes vai buscar a bola nos pés dos zagueiros para acelerar a construção e acionar Arrascaeta o mais rápido possível na entrelinha.

Já em fase de construção a partir do meio do campo, é interessante observar os movimentos coordenados entre laterais e extremos. Na esquerda, Ayrton Lucas geralmente aparece por dentro, deixando a amplitude para Everton Cebolinha, mas com liberdade para infiltrar em direção a linha de fundo. Enquanto que na direita, por Luiz Araujo procurar bastante o meio, Varela dá a opção pelo corredor, algo que pode variar de acordo com o momento em que a bola chega até este flanco. O uruguaio muitas vezes aparece por dentro também, característica dos times de Tite quando possui dois extremos efetivos em campo.

Outra característica a se destacar são os triângulos que o time forma ao construir, tanto por dentro como pelos lados do campo. Isso fica nítido ao observar a disposição da equipe quando a bola está próxima a linha lateral, quando dois jogadores se aproximam para gerar linhas de passe e, consequentemente, superioridade no setor. O raciocínio é o mesmo quando um dos meio-campista está com a posse e os outros dois aparecem para formar estes triângulos, possibilitando tabelas ou associações capazes de acessar mais rápido o terço final.

O retorno de Gerson, que deve ser na vaga de Luiz Araujo, deverá condicionar projeções ainda mais agressivas por parte do lateral-direito, já que tanto o camisa 8 quanto De La Cruz podem exercer a função de meia pela direita, mas quase sempre transitando em direção ao centro. Partindo desse princípio, Varela e Cebolinha deverão ser os principais responsáveis pela amplitude no campo, enquanto que a construção por dentro terá Pulgar, Gerson, De La Cruz e Arrascaeta.

Uma situação que gerou alguns gols já nesse início de temporada e tende a ser aprimorada com o decorrer do anoa é a criação de oportunidades por dentro a partir de tabelas, utilizando a verticalidade nos passes e movimentos de De La Cruz, aliadas às rápidas tomadas de decisão de Arrascaeta na entrelinha. Assim, Cebolinha marcou um belo gol contra o Fluminense. Algo que tem sido bastante explorado é o desmarque curto de Pedro dentro da área. O camisa 9 marcou seis de seus 11 gols na temporada ao receber cruzamentos, pelo chão ou pelo alto. Aliado a isso, o apoio dos laterais por dentro pode ser uma boa arma para infiltrar a área visando linha de fundo.

Gráfico: Footure PRO

Ao defender, o Flamengo de Tite se posta no 4-4-2, com Pedro e Arrascaeta na primeira linha de pressão. Essa formação se sustenta nos diferentes blocos de pressão que a equipe possa adotar. Arrascaeta se aproxima um pouco mais da linha de meias somente quando o adversário ultrapassa o meio-campo com a posse, fechando linhas de passe e dificultando um pouco o volante rival. Os pontas tem grande responsabilidade no momento defensivo, principalmente ao subir pressão, geralmente nos laterais, e ao recompor na segunda linha. Em algumas situações, a depender da profunidade e disposição do adversário, um dos dois extremos pode baixar para a linha defensores, formando linha de cinco.

Antes dos detalhes específicos, a bola parada ofensiva é uma grande arma do Flamengo. Só nesta temporada, a equipe já marcou cinco vezes a partir de cruzamentos oriundos de escanteios, com Pedro e Léo Pereira como principais alvos. Nos escanteios ofensivos, o Rubro-negro costuma preencher a área com cinco atletas. Três deles já estarão próximos ao gol no momento da cobrança, enquanto que os dois zagueiros se posicionam quase que na linha da grande área para fazer corridas em direção a pequena área e atacar a bola com maior força e impulsão.

Uma outra variação nessas situações é a utilização do escanteio curto, que muitas vezes gerará combinações capazes de desmontar estratégias prévias de marcação e manipular as linhas de impedimento a favor do time de Tite.

No escanteio defensivo, o Flamengo coloca todos os seus jogadores dentro da área, em uma configuração de marcação mista, com alguns encaixes individuais nos principais cabeceadores rivais. Pelo menos três atletas defendem a primeira trave, minimizando antecipações.


Em mais uma temporada, Giorgian de Arrascaeta segue como o melhor jogador do Flamengo. Além de seu talento e capacidades já conhecidas, o meia uruguaio se adaptou bem ao esquema de Tite e tem se aproximado mais da área, muitas vezes aproveitando os espaços gerados por Pedro ou se alinhando ao centroavante para buscar combinações. Sua leitura de espaço na entrelinha é algo a se destacar, tendo ótimo controle para receber e tomar a decisão certa rapidamente. Para ilustrar esse aspecto, Arrascaeta soma três gols e cinco assistências nos 12 jogos que disputou em 2024.

Gráfico: Footure PRO

Promessa cercada de expectativas, Victor Hugo pode ser importante e ganhar espaço de vez na equipe em 2024, principalmente no período de Copa América. Com sua capacidade de atuar em diferentes funções do meio pra frente, o jovem meio-campista se caracteriza por suas boas associações, condução com a perna esquerda, bom drible e visão de jogo. Um ponto a se desenvolver é a utilização da perna não dominante, que acaba por limitar algumas ações do jogador.

Nicolás De La Cruz chegou no início do ano ao Flamengo e em poucos meses já prova o seu valor. O meio-campista uruguaio se encontrou jogando ao lado de Pulgar e lendo o jogo de frente. Diante de sua intensidade, ótimo jogo associativo e capacidade de condução com os dois pés, De La Cruz deu ao time de Tite uma dinâmica diferente na construção, abreviando etapas para atacar a área e acionando Arrascaeta com regularidade. O camisa 18 se tornou uma engrenagem crucial para o funcionamento deste Flamengo, vencendo duelos ofensivos (média de 5,32 por jogo) e sendo vertical com sua média de passes progressivos em relação ao passes executados (19%). Além de Arrascaeta, é o melhor estrangeiro do time.

Gráfico: Footure PRO
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