Guia Tático do Brasileirão 2023 | O Flamengo de Vitor Pereira

O time "copeiro" de 2022 poderá fazer um campeonato melhor neste ano sob novo comando?

O atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores ainda não convenceu a torcida e Vitor Pereira já se encontra pressionado para o decorrer da temporada. O Brasileirão será o grande desafio do técnico português e cada jogo um teste de sobrevivência para que enfim seu trabalho evolua. Quinto colocado em 2022, se distanciando da briga pelo título e priorizando as copas, o Flamengo sem dúvidas é um dos favoritos ao título nacional e com um elenco recheado de estrelas vai até o fim pela nona taça. Apesar das frustrações já ocorridas neste início de temporada, a força da equipe é incontestável.

ESQUEMA DE JOGO

Rodando o elenco e utilizando o sistema 3-4-2-1, com os alas bastante influentes no ataque, o Flamengo usa a verticalidade e aproveita a liberdade que principalmente Gabigol possui para circular por todo o campo em busca de espaço e passes na entrelinha. Ayrton Lucas vem sendo uma das peças-chave para a concretização das jogadas, seja com assistências ou gols. O substituto ideal para Filipe Luís readquiriu a ótima forma, a confiança e é um dos mais beneficiados dentro desta proposta de jogo. No meio, ainda com pontos a ajustar, a preocupação é tanto na parte defensiva quanto na ofensiva.

Vitor Pereira mudou o sistema para o 3-4-3 ou 3-4-2-1 na temporada (Arte: Filipe Borin)

Vitor Pereira alterna o esquema de acordo com o que o adversário propõe e costuma utilizar também o 4-4-2 ou 4-2-3-1. Porém, não abre mão de uma saída sustentada com três jogadores, com os laterais avançando e os meias descendo para dar opção em uma faixa mais recuada. Na chegada ao ataque, cinco ou seis jogadores preenchem o último terço para superar o sistema defensivo adversário, principalmente se estiver em bloco baixo, bem postados e impedindo qualquer avanço pelo meio. A movimentação é de grande importância para que superem a marcação e cheguem ao gol. Ter um elenco repleto de jogadores com nível técnico elevado torna a construção ainda mais qualificada, se acertada.

SAÍDA DE BOLA

Com três homens fazendo a saída curta até o campo de ataque, a qualidade técnica dos zagueiros rubro-negros torna ainda mais eficiente a construção desde o primeiro bloco. Seja pela direita com Fabricio Bruno ou Rodrigo Caio, ou pela esquerda com David Luiz ou Léo Pereira, o que acontece após o toque do goleiro é atrair a pressão para que apareçam espaços na intermediária. Gerson encosta para se tornar o terceiro (ou quarto, dependendo do esquema utilizado) elemento na saída e dar mais dinâmica na faixa central. O bom domínio orientado do camisa 20 deixa a construção mais segura para que possa prosseguir e suportar a pressão.

COMO A EQUIPE CONSTRÓI

Retenção da posse de bola, aceleração no momento adequado e exploração das entrelinhas. O DNA agressivo da equipe do Flamengo não se perde e sabem usar os atributos para chegar à meta. Gabi, articulando e buscando jogo mais afastado do gol, ajuda os homens de criação e obriga o adversário a dobrar a marcação. Ayrton Lucas e Varela atacam o espaço dando profundidade, colocando mais jogadores no campo ofensivo. Pedro, já arrastando a marcação para dentro da área, se posiciona para receber e definir.

É uma equipe que sabe jogar sob pressão e troca passes rápidos. A nova fase de Gabi, agora armando mais do que definindo, tem sido fundamental para que a bola chegue com qualidade em Pedro. O agora camisa 10 se posiciona em espaços que facilitam a progressão com a perna esquerda ou que contribua para o primeiro toque e a corrida para dar opção novamente. Quando aproxima, os homens de lado avançam e se tornam armas interessantes no ataque.

Os toques envolventes, a chegada em superioridade ao ataque e as variações ofensivas são intensas. Seja em cruzamentos, toques pelo chão nas entrelinhas ou com chutes de média/longa distância, o coletivo tem tudo para ser ainda mais letal no decorrer da temporada. Sabem trabalhar a bola e gerar volume contra blocos baixos. Concentram jogadas nos lados para que os jogadores mais técnicos ocupem a faixa central podendo tabelar ou achar um passe que possibilite a definição.

COMO SAEM OS GOLS

Os alas surgem nas costas da marcação com frequência e ao levantar a cabeça após receber a bola encontram diversas opções tanto dentro da área quanto na intermediária chegando com liberdade. Essa jogada tem sido convertida em gols e vem dando esperanças a Vitor Pereira. Tantos jogadores com características favoráveis possibilita trabalhar ainda mais as investidas por fora. Varela gosta de chegar à linha de fundo para fazer o cruzamento, enquanto Ayrton Lucas se beneficia mais ao correr em diagonal para infiltrar na área com ou sem bola. É uma espécie de “homem surpresa” quando o jogo se concentra pelo lado direito. Algum jogador no meio-campo faz a inversão e pega a defesa desprotegida.

COMO TOMAM OS GOLS

Ainda uma dor de cabeça para Vitor Pereira, a transição defensiva vem gerando problemas e, claro, gols aos adversários. Tem sido “fácil” entrar na área rubro-negra e levar perigo ao goleiro Santos. Mesmo em inferioridade numérica o adversário consegue se movimentar e encontrar espaço para finalizar. Uma falha que começa no setor de ataque e compromete todo o sistema.

Além disso, as bolas paradas também preocupam. Não apenas dentro da área ao sofrer o gol de cabeça ou de uma bola alçada, o momento após o corte leva enorme perigo ao Fla neste início de temporada. O adversário é quem conquista a posse e consegue atacar novamente. Falta intensidade na marcação e ao acompanhar a trajetória da bola para conseguir sair da pressão.

COMO DEFENDE

Predominantemente pressionando em 5-2-3, com Gabi e Pedro dando o primeiro combate com apoio de um terceiro homem chegando de trás, e alternando para 4-3-3, buscam a recuperação rápida na saída de bola adversária. Porém, se não encaixar o primeiro combate a segunda linha encontra dificuldades para recuperar e dar continuidade defensiva. E com jogadores com menos características de velocidade isso tende a ser um problema, mesmo com uma linha com mais jogadores na defesa.

A pressão ao portador da bola é constante e por vezes dobrada para recuperar e fazer a transição. Na defesa os jogadores possuem valências para proteger a área e bom senso de posicionamento. Isso faz com que o adversário fique em desvantagem ao perder a posse e sofra o contragolpe.

BOLA PARADA

Colocando quase todos os jogadores de linha dentro da área nos cantos defensivos, fazem marcação mista com quatro a seis jogadores formando uma estrutura próxima à pequena área. Os demais jogadores marcam individualmente e impedem o avanço dos adversários para que não acompanhem o percurso da bola. Apesar da superioridade, a equipe vem sofrendo com gols em bolas paradas e além disso conseguem ser superados com facilidade pelo alto. Por consequência, caso consiga afastar a bola do gol, a sobra na entrada da área costuma ficar com o adversário.

Nos cantos ofensivos, geralmente cinco ou seis homens se postam dentro da área para tentar o gol. Em cobranças mais fortes visando a segunda trave, três jogadores se posicionam para cabecear. Independente do cobrador ser destro ou canhoto, a forma como são cobrados os escanteios permanece. Ainda pouco efetivo, mas com jogadores de muita força no jogo aéreo, os cantos cobrados pelo lado direito, com o cobrador destro, levam maior perigo pois é mais aberta e tende a ser mais difícil da defesa fazer o corte. Faltam variações e ser melhor explorado, visto as opções no elenco.


Não poderia ser diferente. Gabriel Barbosa, o Gabigol, é a referência ofensiva da equipe. Ídolo, participativo e inteligente nas ações, vem para mais um ano de grande relevância para o time nas competições que ainda têm a disputar. Em fase “menos goleadora”, porém mais construtivo, coloca os companheiros na cara do gol com seus passes em profundidade. Vale destacar a mentalidade do atacante que em diversas ocasiões e contextos soube se superar e fazer o que sabe: decidir.

Desde que chegou se mostrou aberto a mudanças, se adaptou e hoje tem seu nome na história do clube. Com Vitor Pereira, apesar do início complicado, o camisa 10 consegue se destacar e se adequar ao que é pedido. Recua para construir, faz o jogo apoiado, verticaliza e progride. Não perdeu sua identidade e vem mostrando outros atributos de suma importância para a equipe.

O camisa 14 pode não estar em sua melhor forma física, mas tecnicamente desequilibra e mostra o quão diferenciado é com a bola nos pés. Concentrado em grande parte dos jogos pelo lado esquerdo, pisando na área ou balançando entre as linhas de marcação, De Arrascaeta é um ótimo companheiro para Gabigol ou Everton Ribeiro na criação da equipe por conta da grande capacidade em pausar ou acelerar no momento certo as jogadas. Possui um repertório interessante e também é um ótimo finalizador. Marcado na história do clube pelas conquistas e desempenhos acima da média desde que chegou, mostrará seu valor mais uma vez.

Craque o Flamengo faz em casa e isso é um fato que se comprova a cada ano. Matheus Gonçalves é a bola da vez e desde sua estreia no profissional mostrou personalidade. O jovem é um dos melhores jogadores nascidos em 2005 não somente do continente, e vem mostrando seu enorme talento no decorrer das partidas. Os dribles e acelerações partindo da direita para dentro chamam a atenção e logo caiu nas graças da torcida. Se tornou o xodó de Vitor Pereira e os bons minutos já colecionados até aqui crescerão no decorrer da temporada. É fato que sua passagem pelo Flamengo será curta, já que o assédio europeu é constante, mas enquanto ali estiver é inegável que fará a diferença.


Você pode assistir a análise completa em vídeo, aqui:

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