O substituto de Gerson no Flamengo

Como funciona um trabalho de scouting na prática? E se tivéssemos que achar um substituto para Gerson no Flamengo?

Bem, rumores de transferências nunca fizeram parte da pauta do Footure. No entanto, achamos este assunto interessante para darmos uma abordagem que tem a nossa cara.

Boatos dão conta que o meia Gerson, do Flamengo, está sendo sondado por clubes europeus que pretendem propor aos cariocas cerca de €35 milhões por sua transferência. E é aqui que começaremos a tratar esse tema do nosso jeito.

Considerando a hipótese de saída de Gerson, quem seria o seu substituto? É com isso que vamos nos preocupar a partir de agora. 

Para uma resposta tão complexa, chamamos o time do Footure Pro, o Departamento de Análise de Mercado Profissional do Footure. Além de buscar a solução para a questão, a ideia é mostrar como se dá um processo de scouting profissional, passo a passo.

A metodologia do Footure Pro não é de aplicação única e exclusivamente de dados. Usamos números, mas também muita observação, o que acreditamos ser a melhor forma de scouting. Dentro deste modelo de atuação, temos um banco de dados de mais de 3.000 jogadores que seguimos de maneira bastante próxima, e que estão disponíveis para relatórios na frequência que nossos clientes preferirem.

UM SUBSTITUTO PARA GERSON

BRIEFING

Essa é a bússola de todo processo, o que vai ditar toda a busca. Como estamos fazendo um exercício de scouting, sem a participação do clube, vamos nós mesmos criar alguns parâmetros em busca do substituto do Gérson.

Geralmente, em relação aos clientes do Footure Pro, este briefing se dá com um amplo estudo em conjunto com o clube, identificando o perfil de jogador, o modelo de jogo e de negócio que irá ditar toda a pesquisa. Saber o que se busca é fundamental para o sucesso do scouting

Dentro desta ideia, vamos atrás de um médio/meia-ofensivo com as seguintes características:

  • Sub-23;
  • Sul-Americano
  • Atuando em qualquer liga da América do Sul, México e MLS
  • Talento e nível técnico – ou no mínimo ser desenvolvido – para jogar no time titular do Flamengo

Um ponto importante, como se fala em uma proposta de cerca de €35 milhões por Gerson, é buscar uma alternativa que tenha valor de cerca de ⅓ disso. Portanto, limitamos nossa busca ao valor de €10 milhões. Ainda vamos acrescentar outro detalhe: jogadores que já estejam há mais de uma temporada no clube que detém seus direitos econômicos.

Arte: Filipe Borin

Como parâmetro de valor, usaremos o Transfermarkt. Apesar de ser um site de informações bastante popular — que, inclusive, conta com a utilização de muitas pessoas do mercado —, podem ocorrer alguns desequilíbrios entre o valor informado e o valor praticado, principalmente com jogadores sul-americanos.

Contudo, ao observarmos uma atribuição de um valor diferente do normal para a idade ou liga, podemos ter a certeza que se trata de algum jogador já bastante observado. Assim, e por estar disponível para todos, vamos utilizá-lo como critério no parâmetro de valor dos jogadores que buscamos.

Desta vez, utilizamos os Transfermarkt por não se tratar de um interesse real dos clubes. Do contrário, também é necessário o contato com os agentes dos atletas.

Feito o briefing. Por todos os critérios que envolvem o jogador-alvo, principalmente pelo preço estabelecido em contrapartida ao nível exigido para atuar no time principal do Flamengo, vocês já podem imaginar que nossa busca será bastante difícil. O mercado não possui muitos jogadores que reúnam essas características, mas é hora de começar o nosso scouting. Vamos lá. 

O MODELO GERSON

Precisamos de um jogador que seja o mais similar possível ao Gerson, dentro dos parâmetros estabelecidos no briefing, então, vamos descobrir as valências do modelo para o qual procuraremos um substituto.

Nascido em 1997, Gerson é um médio com 1,84m de altura, canhoto, brasileiro e que atua no Flamengo.

Revelado pelo Fluminense, ele gerava expectativa desde muito cedo, quando ainda era um meia atacante que costumava atuar pelas pontas. Após passar pela Europa e adquirir experiência, hoje pode jogar até como volante.

No modelo atual do Flamengo, atua numa posição intermediária: não é médio e nem meia ofensivo, mas atua naquele setor, um pouco à frente do volante e não tão próximo dos atacantes.

Nesta função, desempenha o papel de elo entre meio e ataque. Costuma buscar a bola e arrancar, usando muito bem o corpo nas disputas. Distribui bem o jogo para os meias e laterais armarem por fora, enquanto se projeta por dentro para associar e, na fase de conclusão, ser opção de chegada ou para a segunda bola.

Diferente de quando atuou no Fluminense, não busca tanto o 1×1 e a finalização.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

Chama atenção desde a base pela biotipia favorável. Vai bem nos duelos por ter força, potência e saber usar o corpo, principalmente quando possui a bola e recebe pressão, o que fica evidente nas arrancadas a partir do meio, quando consegue manter o ritmo sem perder o controle até a tomada de decisão. Numa função que exige deslocamentos constantes defesa-ataque e vice-versa, demonstra boa resistência. Seus movimentos são naturais, leves e coordenados. Apesar da altura e biotipia, não possui muita amplitude na passada.

MENTAL

Cognitivo alto, entusiasmo, concentração e ímpeto — sobretudo nos momentos favoráveis. Sente um pouco jogos grandes que exigem desde o início e em momentos desfavoráveis, como durante sua passagem difícil na Europa, pode se desmotivar. Em contexto positivo, pode ser brilhante.

TÉCNICO

Apresenta ótima relação com bola, controle fino junto ao pé e drible curto para sair da pressão. Seu passe curto é acima da média, e tem bons índices de passes para frente e em profundidade. O passe longo também é de boa qualidade. Apesar de finalizar pouco, possui boa mecânica para o chute de média distância. O controle é bem orientado e o primeiro toque refinado. Não se destaca nas bolas paradas e usa pouco o pé fraco.

TÁTICO

Possui boa leitura para se antecipar, é ativo no pós-perda e recompõe de maneira adequada. Com bola, oferece excelente visão de jogo e é cada vez mais associativo, sempre buscando o espaço vazio e se movimentando ativamente. Dentro do modelo que está inserido, é a peça angular da segunda fase de construção, servindo de apoio para a formação de triangulos dos dois lados.

INDICADORES

Bem, agora já temos o briefing e a análise do Gerson, além do modelo de jogador que iremos buscar um substituto. É hora de escolhermos os indicadores que vão nos guiar pelo primeiro filtro, no qual usaremos dados para chegarmos mais próximo ao jogador-alvo.

Diante da posição, função e dinâmica do Gerson, e do modelo de jogo do Flamengo, optamos pelos seguintes indicadores:

  • Passes/90
  • Passes para frente/90
  • Passes para o terço final/90
  • Passes chave/90
  • Desarmes/90
  • Interceptações/90
  • Finalizações/90

O PRIMEIRO FILTRO

Depois de termos o briefing, analisarmos o jogador modelo e escolhermos os indicadores, chegamos a um primeiro filtro que diminui muito o número de jogadores prospectados.

Nosso algoritmo nos entregou cerca de 100 jogadores com dados similares ao do Gerson. Agora, é hora de muito trabalho observacional, com uso de conhecimento dos nossos analistas e, principalmente, da base de dados do Footure Pro. Nela, estão os relatórios de acompanhamento, com observações para identificação de contextos e de padrões de comportamento que só se consegue obter assistindo aos jogos inteiros, de preferência localmente.

Nesta fase do processo de scouting, o trabalho é duro. Para encontrar as opções dentro do briefing, e com nível para jogar imediatamente no time do Flamengo, além do limite de valor estabelecido, seguramente teremos pouquíssimas opções.

Será que o time de scouts do Footure Pro conseguiu? Hora da seleção e análise individual.

SELEÇÃO E ANÁLISE INDIVIDUAL

Bem, recapitulando, recebemos o briefing do “cliente”, analisamos o modelo, escolhemos os indicadores, rodamos o algoritmo e gastamos muitas horas analisando o primeiro filtro já com as informações que tínhamos na nossa base de dados. Enfim, chegamos na nossa seleção final de possíveis substitutos para o Gerson. 

Antes de dar o próximo passo, porém, para os iniciantes no scouting, é importante falarmos da armadilha da “portabilidade da eficiência”. O jogador, ao mudar de contexto, leva seu talento, mas não seus números e indicadores. O clube que o receber vai ter de investir em adaptação para que a eficiência seja repetida no seu novo ambiente de trabalho.

Outro ponto muito importante é avaliar a margem de crescimento e evolução do jogador, obviamente conhecendo o histórico do clube para o qual ele será prospectado.

Olhar o momento e projetar o futuro, com base nos dados e em muita observação, são as chaves para o scouting.

Optamos por uma seleção em três níveis de preço, para que o cliente possa ter uma visão melhor e adequá-la a sua estratégia.

BARGANHAS: Vini Locatelli (Chapecoense) e Eric Ramires (Basel, emprestado pelo Bahia);

INTERMEDIÁRIOS: Igor Gomes (São Paulo) e José Paradela (Gimnasia y Esgrima/ARG);

VALORES ALTOS: Zaracho (Raging/ARG) e Jean Pyerre (Grêmio).


Vamos às análises de cada um:

VINI LOCATELLI

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Vini Locatelli era meia na base e se estabeleceu no profissional como um segundo volante de chegada e apoio. Rapidamente, se firmou, e, aproveitando o cenário difícil que a Chapecoense vive desde o ano passado, conseguiu angariar espaço e já é titular desde a reta final do Brasileirão.

Comparado a Gerson, é um atleta mais lento e que costuma partir um pouco mais de trás, mas tem origem ofensiva e acrescenta muito nas duas fases de construção e na fase de criação. Nos radares comparativos dos critérios que selecionamos, é quem mais se assemelha ao camisa 8 flamenguista.

É uma oportunidade de mercado interessante para o médio prazo. Mesmo sem lastro para substituir Gerson imediatamente, tem boa margem para evoluir e tem projeção de revenda. Além disso, há o conhecido desejo da Chapecoense de negociar jogadores por conta de problemas financeiros, podendo sair por um valor razoável, inclusive com o envolvimento de atletas na negociação.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

É um jogador que não se destaca pela velocidade das ações, sendo lento em alguns momentos, mas tem boa coordenação de movimentos: sua biomecânica é qualificada e troca de direção sem muita dificuldade. Tem se desenvolvido, também, no sentido de usar melhor a força em disputas de bola. Sua estatura e biotipia são vantagens competitivas que está aprendendo a usar. Os movimentos não chegam a ser bruscos, mas são menos leves e naturais que os de Gerson.

MENTAL

Começou a ganhar espaço como profissional com 20 para 21 anos, o que o favoreceu no sentido de ter mais maturidade neste momento de transição. No rebaixamento da Chapecoense, assumiu a posição de titular e virou destaque do time. Neste ano, já é uma referência técnica e demonstra habilidades de líder natural dentro de campo. É um atleta concentrado e comprometido.

TÉCNICO

Locatelli tem ótimo passe, assemelhando-se a Gerson nos índices de passe vertical e em profundidade por jogo. Seu passe longo também é preciso, e encontra com frequência jogadores em amplitude. Tem se especializado em romper linhas através da condução, apesar de fazê-las com menos agilidade e potência que Gerson, Igor Gomes e Paradela, por exemplo. Acrescenta muito em finalizações a gol de curta e média distância, se comparado a Gerson, com boa taxa de conversão de dentro da área. É também um bom cobrador de pênaltis.

TÁTICO

É um atleta muito versátil. Na base, atuou até como centroavante, mas era assiduamente meia ofensivo, jogando por dentro ou aberto. Foi recuando na medida em que se profissionalizou, um ciclo bastante semelhante ao de Gerson. É associativo, e sabe criar espaços através da movimentação, oferecendo sempre opção de apoio. Sua postura de recepção é adequada e consegue dar seguimento rapidamente às jogadas por conta disso. Tem boa chegada à àrea, resquícios de sua origem ofensiva. Não é um grande marcador ativo, mas se posiciona bem em linha e tem boa noção para fechar espaços.

ERIC RAMIRES

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Bem, precisamos de um “disclaimer” aqui. Como vocês já observaram, Ramires não está necessariamente na região de scouting que consta no briefing do “cliente”. Porém, pela limitação de possibilidades imposta pelo nível técnico exigido e pelo valor estabelecido, além do fato de o jogador pertencer atualmente ao Bahia, entendemos que era fundamental incluí-lo. Lembrem-se, precisamos resolver o problema do cliente, e os limites do “briefing” são um norte para nos guiar, e não um limite intransponível.

Eric Ramires apareceu no Bahia em 2018 e fez bons jogos. De meteórica ascensão, teve sondagens de Flamengo, Corinthians, e mesmo assim, seguiu no Bahia em 2019. Chegou a jogar nas seleções brasileiras de base, e acabou sendo negociado com o Basel da Suíça por empréstimo. Lá, não conseguiu se firmar, teve uma lesão na coxa e está voltando aos poucos. Mesmo assim, é um jogador muito promissor.

Ramires foi lançado no Bahia em uma estrutura de 4-1-4-1, sendo meia central do sistema por ambos os lados. Jogador de muita dinâmica e posicionamento na entrelinha para receber a bola e romper a linha adversária. Tem ótimas leituras e raramente pausa o jogo. É um atleta bem vertical.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

Bom biotipo. Mediolíneo, tem explosão imediata e boa troca de direção. Consegue se colocar muito bem nas disputas. Ramires tem uma rotação alta de jogo em todas as fases. Bom em embates físicos quando tem embates ofensivos ou defensivos, só tem problemas no jogo aéreo devido à altura. Bom atleta.

MENTAL

Jogador que oscila dentro do jogo. Precisa que o jogo tenha um desenvolvimento bom, que se sinta seguro para cumprir as tarefas. Ele se abate com erros, placares adversos. Quando o jogo está bom, ele vai junto com a equipe e joga confortavelmente. É uma lacuna na formação, pode ser moldado para momentos grandes.

TÉCNICO

Tem muitas ferramentas e soluções. Bom passe, boa troca de direção, preciso em lançamentos de média e longa distância. Usa (e bem) o pé esquerdo quando necessário. Boa troca de direção e passes em profundidade. É um jogador muito inventivo e técnico. Precisa, no entanto, de mais minutagem: não completa um jogo desde 14/07/2019.

TÁTICO

Adaptação a modelo não seria trabalhosa. Ramires sempre foi interior, poucas vezes jogou mais avançado. Sempre com um meia-central ao lado, seja pela esquerda ou direita. Ele é um jogador que gosta muito da bola, e precisa de estímulo para desenvolver o talento em ser mais incisivo com ela. Também requer um sistema que potencialize a visão de jogo e passes em ruptura. Faz bom trabalho de área a área. Defendendo, Ramires desarma muito. Jogador com bons números, que consegue equilibrar o setor. Sempre atento às formas de pressão e em colocar o rival em situação desconfortável. É um jogador ainda em desenvolvimento, mesmo com passagem na Europa.

IGOR GOMES

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Passada a fase das comparações com Kaká, Igor Gomes parece estar mais à vontade como profissional. Sua mecânica de movimentos e tipo físico são bem parecidos com Kaká, mas o estilo de jogo é um pouco diferente. Igor é mais associativo. Kaká era verticalidade pura.

Na comparação com Gerson, Igor possui algumas diferenças, mas suas características encaixam muito bem com a função desempenhada pelo camisa 8 do Flamengo.

A boa relação com bola, a facilidade para se desvencilhar da pressão e a mobilidade constante para circular pelos dois lados são essenciais.

As diferenças aparecem mais na fase defensiva. Igor é comprometido, mas não usa tão bem o corpo e não vence tantos duelos, apesar de estar tendo uma notável melhora nesta temporada neste sentido e de atuar em um modelo menos agressivo sem bola do que o do Flamengo. Além de mais novo, não tem a passagem pela Europa de Gerson, o que lhe dá uma bela margem de desenvolvimento para atingir nível semelhante.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

De boa biotipia, possui a passada larga e é capaz de sair facilmente da inércia com bola, além de ter ótima arrancada e de atingir velocidade satisfatória com e sem bola. Sua biomecânica é boa: os movimentos são coordenados e saem com naturalidade. Apesar de ter boa explosão, não tem tanta potência e força. Possui bastante mobilidade, mas a resistência é apenas razoável. Importante pontuar que está evoluindo em todos os quesitos que não ainda são tão notáveis.

MENTAL

Muito concentrado e entusiasmado, dificilmente desiste das jogadas, a menos que não consiga acompanhar fisicamente. É privilegiado cognitivamente, criativo para ler espaços e possui boa tomada de decisão. Falta um pouco de ímpeto e bravura para disputas e jogos mais duros.

TÉCNICO

Apesar de não ter um excelente primeiro toque, é muito ágil para corrigir e assegurar o controle da bola. Vai muito bem nos dribles curtos e giros pra sair da pressão no meio, algo que Gerson agrega muito ao modelo do Flamengo, bem como com relação às conduções para romper linhas que ambos oferecem. Por estar em um modelo mais posicional e menos direto que o do Flamengo, não possui os mesmos índices de passes verticais de Gerson, mas vai bem no quesito, tendo boa visão e encontrando companheiros em profundidade com frequência.

TÁTICO

Igor Gomes é muito inteligente para ocupar espaços e tem na infiltração uma característica preponderante. No meio, gosta de se movimentar fora da bola para oferecer linhas de passe e ajudar o time a evoluir, além da visão de jogo já citada. Precisa aprimorar questões defensivas sem bola, desde o pós-perda, passando pela transição defensiva e pelo posicionamento defensivo.

JOSÉ PARADELA

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Paradela é titular do Gimnasia e tem despertado atenção de clubes da Argentina e da Europa.

É um atleta bem conceituado no time de Diego Maradona. Por mais que não se destaque por gols e assistências, é essencial em todas as fases do jogo no modelo adotado.

Sua maior semelhança com Gerson está na associatividade. Embora não ofereça tantas pausas e valências físicas na comparação com o jogador do Flamengo, acrescenta mais em recomposição defensiva, posicionamento e inteligência para se movimentar e criar espaços, além de jogar em menos toques e ser mais vertical. Dificilmente olha pra trás, pausa, ou toca de lado. Seus olhos e movimentos estão direcionados sempre ao gol adversário.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

O biotipo é o mais adequado para a prática do futebol. Possui boa resistência de velocidade para realizar grandes ações em sequência, coordenação e boa mecânica de movimentos, bem como boa capacidade aeróbica. Não é um atleta veloz, mas tem as passadas largas, é móvel e executa rapidamente as ações. Seu nível de força é satisfatório, possui muita explosão e potência nas ações ofensivas.

MENTAL

É bastante concentrado e inteligente para se movimentar, o que indica um cognitivo alto. Sua tomada de decisão tática é excelente. O nível de intensidade varia de acordo com os jogos. Precisa ser mais contínuo neste sentido.

TÉCNICO

Boa relação com bola. O primeiro toque não é dos melhores, mas o controle e a recuperação são excelentes. Lidera seu time em dribles realizados. Gosta de fazê-los em progressão para romper linhas, saindo pros dois lados e com bastante repertório. Sabe sair da pressão em vários setores do campo, principalmente quando consegue ter a visão do marcador e espaço às suas costas, já que tem um gesto mais pesado e potente. Tem bom passe curto e bom cruzamento. Como Gerson, não finaliza muito a gol. Apesar de canhoto, usa muito o pé fraco para dominar, controlar e tocar.

TÁTICO

O pilar tático é o de maior destaque. Não tem grandes índices de passe pra frente, prefere progredir através de associações e conduções, nas quais se sobressai pela rapidez e inteligência com a qual se movimenta para gerar linhas de passe e confundir marcadores. Não tem como característica pausar o jogo com frequência. A postura é invejável, tanto em linha de marcação, quanto para receber a bola e já controlar de maneira orientada. Vai bem nas duas fases de transição e se posiciona rapidamente na linha. Sua tomada de decisão tática é ótima, e a noção de espaço é admirável. Os índices de desarmes e interceptações são semelhantes aos de Gerson, porém, não vence tantos duelos.

MATÍAS ZARACHO

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Mais um “disclaimer“. Óbviamente o valor de mercado extrapola o “briefing“, mas precisamos dar essa alternativa ao cliente, pois se trata de um jogador que, tecnicamente, preenche todos os requisitos — e com louvor. Este dado precisa constar no relatório de scouting, mesmo que o critério de valor seja bem acima do estabelecido. Scouting se faz com informação.

Matías Zaracho é formado no Racing Club. Já tem um histórico grande para quem tem apenas 22 anos: título argentino sendo um dos jogadores determinantes, passagens por seleção de base e tem um jogo na renovação argentina pela principal. É sondado constantemente por clubes grandes da Europa. Milan e Atletico de Madrid são os dois clubes que mais o querem. 

Trabalhou muito bem com Coudet, hoje treinador do Internacional, que o transformou em meia central em um 4-1-3-2. Antes, era ponta de enfrentamento. Sebástian Beccacece utiliza-o também como meia central, só que em um 4-3-3. Sua semelhança com Gerson se dá pela circulação de bola e leitura de espaços.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

Jogador de estatura baixa, mas isso não é impeditivo no seu jogo. Movimentos coordenados, muita mobilidade e resistência física. Jogador que aguenta os 90 minutos sem sofrer fisicamente e que cobre grandes áreas do campo correndo ou posicionando. Consegue aguentar bastante os enfrentamentos, usa o corpo com maestria.

MENTAL

Jogador concentrado e batalhador em campo. Nunca abaixa a guarda, tem índice de concentração alto e gosta de jogos grandes. Com 21 anos, já foi capitão de Racing e Seleção Olímpica, tendo um perfil de liderança mesmo muito jovem. Ainda tem tempo no futebol para agregar mais e mais qualidades.

TÉCNICO

Relação ótima com a bola. Usa, prioritariamente, o pé direito, mas tem alguma qualidade com o esquerdo. Preciso em passes e lançamentos. Tem, como Gerson, o drible refinado. Consegue ser um condutor no meio campo, driblando e colocando o time mais a frente. Jogador refinado e inventivo.

TÁTICO

Já foi ponta na fase inicial da carreira. Hoje, joga como meia central ao lado do volante no 4-2-3-1 ou o meia no 4-1-3-2. É versátil e inteligente. Consegue ler bastante o jogo e tem muita dinâmica. Não espera a bola no pé, gosta de estar perto de onde acontece o jogo. Ao mesmo tempo em que consegue iniciar as jogadas, termina-as. Finaliza mais que Gerson, mesmo com conversão baixa. Tem apenas 11 gols na carreira, no entanto, tem menos de 100 jogos. O talento que virá é grandioso.

O trabalho defensivo é muito maior que de Gerson, mesmo com menos estatura. Zaracho é um dos líderes de desarme e interceptações do Racing e da Superliga Argentina. Nunca se exime das divididas e consegue recuperar muitas segundas bolas graças à leitura.

JEAN PYERRE

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

Jean Pyerre é formado em uma das bases mais eficientes do Brasil. O Grêmio, com seu trabalho de captação e formação, conseguiu ter nos últimos anos um índice grande de vendas dos seus jogadores. Jean é o próximo da fila. O jogador, que chegou aos profissionais por Renato Portaluppi, teve a temporada passada interrompida por uma lesão na coxa. Com boa minutagem entre os profissionais e jogos de Libertadores, Jean desponta como um dos jovens mais promissores do país.

Joga em 4-2-3-1 como armador, mas também já foi interior em 4-1-4-1. Jogador que tem versatilidade para jogar no meio-campo. Mais construtivo e em base de jogada, sempre apresenta boas soluções.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

FÍSICO

Jogador com bom biotipo. Alto e móvel, com bastante resistência, é menos uma preocupação para qualquer treinador que o tenha na equipe. Sustenta bastante os toques dos rivais, consegue ter bons enfrentamentos defensivos quando necessário. Não corre tanto com a bola pois demora para imprimir o ritmo mais alto.

MENTAL

Jogador muito frio e inteligente. Não se assusta em grandes cenários. Teve ótima atuação contra o Olímpia, jogo bem difícil pela Libertadores em que o Grêmio necessitava ganhar. Não é um líder natural, mas é líder técnico desde já.

TÉCNICO

Jogador muito refinado. Tem boa relação com bola, ótima coordenação e mobilidade. Usa o pé esquerdo para tudo, consegue mascarar a falta de velocidade com soluções de primeira e controle orientado. Sai muito fácil da marcação. Jogador com ótimo chute de média e longa distância, tenta bastante. Acha muitos passes de ruptura, viradas de jogo e consegue acelerar ou frear o jogo. Dá muito ritmo.

TÁTICO

Jean foi armador em 4-2-3-1 e interior em 4-1-4-1. É um jogador com muita leitura e inventividade para resolver problemas. Como citado acima, tem um poder de organização muito alto pela inteligência de jogo. Consegue colocar seus parceiros em condições de finalização ou mano a mano com pontas. Jean tem números melhores que Gerson em todos os passes: seja para a frente, por jogo ou para o terço final. Jogador de muita agressividade com bola. Está, porém, abaixo de Gerson nos quesitos defensivos — o carioca é acima dele em todas as médias. Isso denota muito a diferença dos sistemas: Grêmio tem um encaixe pós-perda diferente do que utilizam no Flamengo.

COMPARAÇÕES ENTRE AS ESCOLHAS

Bem, já temos os nomes. Agora, precisamos apresentar ao cliente uma análise mais detalhada de cada um e compará-los, entre si e com o modelo. É importante deixar claro que a decisão é do cliente. O trabalho de scouting precisa entregar ferramentas para ajudar neste processo de uma maneira que seja compreensível e clara. Precisamos facilitar a tomada de decisão, então, vamos adiante.

Aqui, a abordagem será mais visual, com um gráfico comparativo que deixa clara a diferença entre cada um dos selecionados com o modelo em todos os indicadores. O importante aqui é saber que estamos comparando indicadores extraídos de contextos diferentes, uma armadilha na análise de dados. De qualquer forma, é o cenário que temos para utilizarmos. É uma ferramenta muito útil como um componente a mais na tomada de decisão, mas que deve ser usada sempre com cuidado e atenção.

Arte: Filipe Borin
Dados: Gabriel Gomide

DECISÃO FINAL

Depois de muitas horas de trabalho, analisando dados e observando comportamentos táticos, técnicos, físicos e mentais em muitas partidas, e, depois, produzindo gráficos e relatórios, é hora de entregar todo o relatório ao cliente — além de se colocar à disposição para qualquer esclarecimento complementar. O departamento de scouting não toma a decisão final de contratação, essa é uma prerrogativa exclusiva do cliente.

Agora a caneta está com você: quem contrataria em substituição a Gerson? Deixe nos comentários dos posts nas nossas redes sociais qual destes jogadores você decidiu contratar e por quê. Não esquece de deixar o #FooturePro, e qual o próximo conteúdo de scouting você quer ver aqui no Footure.

Depois desse difícil exercício de scouting, extremamente limitado por valor e condição técnica do jogador procurado, o que você acha de ter o Footure Pro no seu clube? Pode ter certeza que ter o departamento profissional de análise de mercado do Footure no seu clube é mais fácil e mais barato do que você imagina. E com uma vantagem adicional: estar fora da estrutura física do clube permite a continuidade e a solidez do trabalho sem a rotina diária de busca pela vitória no próximo jogo, que tira o foco de todo projeto de longo prazo.

Informe-se pelo [email protected] e #PenseOJogo.

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