Os treinadores de bolas paradas no futebol e a importância de Nicolas Jover no Arsenal

Arsenal de Arteta liderou a Premier League em gols de bola parada.

Nos últimos anos, os treinadores específicos para bola parada tem se tornado cada vez mais relevantes e importantes. Desde o treinador especializado em arremessos laterais, contratado por Jurgen Klopp no Liverpool, até a participação decisiva de Nicolas Jover no Arsenal.

O mercado de treinadores de bolas paradas (sim, isso existe), tem se movimentado cada vez mais, com grandes profissionais do mercado estando cada vez mais em evidência e sendo contratados por grandes clubes. O Chelsea está próximo de anunciar mais um dos profissionais do Brentford. Trata-se de Bernardo Cueva, estatístico e responsável pelas bolas paradas do clube. Inclusive tem se comentado que a contratação do profissional envolve um valor de transferência ao Brentford, o que é mais um dos sinais que deixam claro como essa função tem sido valorizada no futebol. O número de gols marcados através de bolas paradas tem crescido na Premier League e estudos mostram a importância direta de ser um bom time nas bolas paradas, com o rebaixamento na liga.

A carreira de Nicolas Jover tem passagens no futebol profissional pelo Montpellier, Brentford, Manchester City, e Arsenal, desde 2021. O jovem treinador (42 anos) teve sempre impacto nos clubes onde passou, entretanto, no Arsenal seu trabalho se manteve em evidência durante a temporada, contribuindo consideravelmente para os gols marcados pela equipe e pela disputa da primeira posição contra o City até a última rodada.

O Arsenal marcou 22 gols de bola parada nesta temporada da Premier League (38 jogos), sendo 16 deles de escanteio (igualando o recorde da Premier League considerando uma temporada). Não foram contabilizados nesses 22 gols de bola parada os gols de pênalti. Dessa maneira, analisaremos alguns dos conceitos e das jogadas feitas pelo Arsenal nessa temporada.


Qualidade técnica dos cobradores

Os escanteios do Arsenal tiveram muita variedade em termos de jogadas criadas, mas uma das principais características deste momento do jogo, inicialmente, são os cobradores de bola parada. Já que é de extrema importância a capacidade destes cobradores para terem uma batida na bola eficiente em termos de trajetória e velocidade, buscando atingir o local desejado dentro da área para que os companheiros ataquem a bola. Neste quesito, o Arsenal tem principalmente Declan Rice, que começou a participar das cobranças em meados da temporada e teve um retorno simplesmente sensacional, realizando várias assistências a partir de escanteios.

O tipo de cobrança predominante feito nos escanteios são de pé fechado, ou seja, um destro cobrando no lado esquerdo do campo (geralmente Rice, Martinelli, Trossard) e canhotos cobrando do lado direito (Saka, Odegaard). A batida com o pé fechado busca colocar a trajetória da bola em direção ao gol e muitas vezes dificulta o ataque a bola dos defensores e a saída do goleiro, como veremos adiante.

Movimentações na área, bloqueios e a arte do engano

Utilizando muito bem o perfil físico do elenco atual, que conta com vários jogadores altos e fortes (Havertz, White, Saliba, Gabriel, Rice, Tomyiasu, Kiwior), a execução dos escanteios dos Gunners impressiona. Somada a qualidade técnica dos cobradores, dois outros pilares são: as movimentações e o “timing” das jogadas. É possível notar alguns padrões nas movimentações e na zona desejada onde a cobrança seja feita. Basicamente o Arsenal conta com duas ideias centrais:

Ataque a zona a frente da primeira trave

Muitas vezes, mesmo com os jogadores iniciando em uma área mais próxima a segunda trave, o foco do Arsenal se concentra em juntar vários de seus jogadores mais altos na zona a frente da primeira trave, para um ataque no tempo certo da jogada. Desse modo, a jogada tem vários pontos positivos:

  • Com a marcação muitas vezes sendo feita em zona, os jogadores do Arsenal podem sair do “ponto cego” dos marcadores e atacar a bola em velocidade, enquanto muitos dos seus marcadores estarão mais estáticos.
  • Possibilita vencer duelos individuais, se a equipe optar por marcar ao menos alguns dos jogadores dessa forma, visto que Gabriel, que é a grande referência do time nesse momento do jogo, tem um ataque a bola e um “timing” muito bom. Se a equipe adversária marca-lo, ainda teremos Havertz, Rice, White, Saliba, todos altos.
  • Com a maior parte das batidas sendo fechadas, as vezes basta um leve desvio para marcar o gol, muito mais fácil do que ter que realizar todo o gesto da cabeçada que evolve muito mais equilíbrio e movimentação corporal como um todo.
  • Dificulta a saída do goleiro adversário com tantos jogadores naquela zona da área.

Ataque a segunda-trave ou zona próxima

Somados aos aspectos já analisados, a movimentação de alguns jogadores para a primeira trave pode ser uma “isca” para o adversário, visto que com o possível acompanhamento por parte dos adversários, gera-se espaço na pequena área e na região da segunda trave, onde o Arsenal também tem aproveitado para buscar marcar gols.


Sobretudo em cobranças direcionadas mais a segunda trave, faz-se importante salientar outro aspecto fundamental: os bloqueios dos jogadores (prática que pode ser tirada de inspiração do basquete, por exemplo), visando criar mais espaço para os jogadores atacarem a bola. Neste exemplo, observem o bloqueio realizado por Trossard, para que Gabriel cabeceie e marque o gol.

Ben White e o poder dos detalhes (Pergunte ao goleiro rival)

O jogador inglês é um dos mais interessantes a se observar a nível de detalhes nos escanteios do Arsenal, tendo quase sempre uma função muito específica que é a de influenciar mentalmente e taticamente no goleiro adversário (desde antes da cobrança) e na zona de pequena área, e faz isso com maestria. O atleta consegue desestabilizar muito bem o goleiro, atrapalhar a movimentação ou saída do mesmo e consegue ser discreto de certa maneira (poucas vezes se marca falta em suas ações). Vejam abaixo um exemplo básico:

Faltas laterais e pênaltis

Nas faltas laterais, o Arsenal também tem suas estratégias claras. Quase sempre os cobradores são Odegaard e Rice, variando entre deixar um ou dois jogadores próximos da cobrança. Existem variações de batida aberta ou fechada, jogadas curtas ensaiadas (assim como também existe nos escanteios), variações entre uma cobrança mais rápida, buscando os jogadores mais próximos, ou mais viajada, para o meio/final da linha adversária.

É comum vermos os jogadores saindo da posição de impedimento antes da batida, para já gerar vantagem de movimento e posição sobre os marcadores, inclusive marcando gol contra o Liverpool.

Nos pênaltis, o Arsenal variou durante a temporada os cobradores, com o principal deles sendo Saka, adotando também a estratégia que se tornou comum neste momento do jogo, quando um atleta fica com a bola até passar para o companheiro que realmente irá cobrar o pênalti.


O Arsenal de Mikel Arteta (e Nicolas Jover) é o time da liga que mais marca gols neste momento do jogo desde a chegada do treinador de bolas paradas, que ganhou a confiança dos jogadores para a execução de seu trabalho e impactou muito a temporada do clube, e porque não da Premier League neste aspecto. Resta saber, quais serão as modificações neste momento do jogo para a próxima temporada, recomenda-se observar de perto para aprender mais sobre esse momento do jogo que está cada vez mais decisivo.

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