4 histórias para se observar na fase de grupos da Libertadores 2021

A principal competição da América do Sul entra em sua etapa mais movimentada com circunstâncias interessantes a se desenrolarem logo adiante

Ela está de volta. Com o ineditismo do calendário entre 2020 e 2021 por conta da pandemia, houve pouco tempo para sentir saudade. Ainda assim, as narrativas e os sentimentos que apenas a Copa Libertadores é capaz de despertar estão de volta em sua forma mais quente. Após as definições das etapas preliminares, a fase de grupos tomou sua forma definitiva e terá seu pontapé inicial nesta semana.

Como sempre, as expectativas por determinados grupos, times e jogadores se criam logo que as bolinhas deixam os potes para definir os caminhos dos clubes rumo ao mata-mata. E aqui, vale pontuar quatro situações que podem ser bastante instigantes de se observar ao longo destes seis jogos classificatórios. 

A disputa entre entre argentinos e equatorianos no Grupo A, um underdog ansioso por fazer estragos, a capacidade de uma histórica potência ofensiva da América e as revelações de um tradicional clube que volta ao palco continental merecem um olhar especial a partir de agora.

O duelo entre as sensações do continente

De cara, o Grupo A promete ser um dos mais disputados desta fase da Libertadores. Além da presença óbvia do atual campeão, Palmeiras, o sorteio reservou o cruzamento de dois dos times que mais encantam dentro de campo na atualidade: Independiente Del Valle e Defensa y Justicia.

Os dois últimos campeões da Copa Sul-Americana, mesmo sem a potência financeira de equipes mais tradicionais, colocam em prática projetos sólidos para contornar a influência do determinismo econômico nos resultados. As taças recentes falam por si só, com o Del Valle vencendo a segunda maior competição do continente em 2019 e o Defensa y Justicia levantando tanto Sul-Americana quanto Recopa nos últimos meses. Mas agora, a busca é pelo próximo degrau na hierarquia.

Contraculturais na essência, rayados e halcones são, talvez, as duas grandes referências da aplicação bem sucedida do Jogo de Posição na América do Sul. Nas temporadas mais recentes, Miguel Ángel Ramírez elevou o patamar do Independiente Del Valle em termos de execução deste modelo e agora Renato Paiva dá sequência a isso com seus toques pessoais na concepção do time, como por exemplo, fazendo um uso muito mais constante de esquemas com três defensores e dois homens de frente, com alas estendendo o campo pelos lados.

O que não muda, claro, é a perspectiva pelo uso dos jovens formados na producente cantera do clube. Nesta fase prévia da Libertadores e mesmo antes, nos compromissos pelo Campeonato Equatoriano, já foi possível observar novos nomes que prometem empolgar e oferecer boas alternativas para o Del Valle no aspecto tático e técnico.

Também com mudança no comando técnico, o Defensa y Justicia passa por algumas alterações em termos de organização tática na comparação com o time que levantou a Sul-Americana, mantendo a ideia-base de uma lógica posicional. Após a saída de Hernán Crespo, a opção pelo retorno de Sebastián Beccacece traz novamente aquele que, por pouco, não levou o Campeonato Argentino em um duelo espetacular ponto a ponto com o Racing em 2018/2019.

Apesar de ter usado esquemas com três defensores em seus primeiros jogos (algo que Crespo utilizava por regra), os últimos compromissos mostram um começo de transição para plataformas táticas com linha de quatro, seja com dois homens mais avançados ou um atacante de centro escoltado por dois pontas. Aliás, foi justamente no 4-3-3 que o Defensa y Justicia explodiu com Beccacece em 2018. Porém, a fotografia do time é bastante diferente em comparação àquele ano e ainda há testes a serem feitos para observar o encaixe dos atletas. De qualquer maneira, as perspectivas são animadoras para ver o que tanto Defensa y Justicia quanto Independiente Del Valle podem oferecer na briga por uma vaga nos mata-matas.

A expectativa pelo próximo passo do Barcelona

Depois da louvável campanha semifinalista na Libertadores em 2017, sob o comando de Guillermo Almada, o Barcelona sequer chegou perto de repetir um desempenho minimamente positivo nas temporadas seguintes. Sem participar em 2018, voltou em 2019 caindo na segunda fase preliminar e em 2020 foi lanterna de seu grupo. Agora com uma sequência de trabalho nas mãos de Fabián Bustos, há ao menos a perspectiva de competir bem em um duro grupo com Santos e Boca Juniors.

O título equatoriano conquistado na temporada passada deixou boas impressões, assim como as primeiras apresentações desta temporada. A boa postura defensiva, com uma marcação cerrada e de muita pressão na saída de bola adversária rende frutos positivos. No último Equatoriano, esteve no topo na maior parte dos índices defensivos e vem repetindo isso nesta largada de 2021. Chama atenção exatamente o fato de permitir poucos passes em sequência dos seus rivais, com a taxa de PPDA (Passes por Ação Defensiva) em 7.36, a terceira melhor do torneio.

Em jogo contra o Independiente Del Valle pelo Campeonato Equatoriano, um exemplo da marcação alta do Barcelona, estabelecendo encaixes e pressionando a saída de bola

Na parte ofensiva, o que se vê é um time cada vez mais flexível e de alta movimentação, com meio-campistas circulando por todo o setor de frente com liberdade para associar e quebrar a organização da marcação oposta. Na zona terminal do campo, o experiente Damían Díaz é quem carrega o piano da criação e da finalização. A perda de Jonatan Álvez nos últimos metros do campo foi um golpe considerável para esta temporada e a reposição de Carlos Garcés até agora surtiu pouco efeito. Ainda assim, o rendimento vem sendo positivo no aspecto coletivo, e replicar isso em maior nível competitivo será fundamental para o Barcelona buscar outra vez o protagonismo.

Atlético Nacional e sua produção ofensiva colocada à prova

O 2021 do Atlético Nacional é de uma curva ascendente considerável sob o comando do técnico Alexandre Guimarães. Depois de um começo bastante instável no Campeonato Colombiano, com baixo desempenho e resultados pouco encorajadores, a equipe verdolaga explodiu, em especial no ataque.

O 4-2-3-1 armado na maior parte dos compromissos acabou sendo um encaixe perfeito para as peças do elenco. A formatação beneficiou, em especial, Jarlan Barrera. O meio-campista demonstra alta eficiência, seja centralizado ou aberto pela direita. Quando no centro, tem total liberdade de deslocamento para buscar jogo e aparecer na frente para infiltrações, como um típico enganche. Pela direita, se movimenta de fora para dentro puxando a bola para sua canhota e arriscando de média ou longa distância. Não por acaso, já soma 10 gols entre Colombiano e Libertadores.

Quem cumpre movimentação semelhante pelos lados é Andrés Andrade. Recebendo quase sempre por fora (mas pela esquerda), conduz em direção ao meio para abrir espaço para a subida do lateral Danovis Banguero. Com 7 gols e 5 assistências somando liga nacional e fase preliminar da Libertadores, exerce função fundamental para a dinâmica ofensiva.

No comando de ataque, Jefferson Duque e Jonatan Álvez revezam a atribuição de ser o recurso final na frente. E os dois cumprem papel de excelência neste início de temporada, principalmente Duque. De posicionamento inteligente, busca sempre se localizar às costas do zagueiro, em especial nas jogadas de linha de fundo. Assim, consegue antecipar o defensor ou aguardar os cruzamentos na segunda trave conforme a necessidade, tendo um deslocamento ágil em curto espaço para se adaptar a estas situações.

É curioso observar que o Atlético Nacional tem o melhor ataque do Campeonato Colombiano (30 gols marcados), mas é apenas o 11º no índice de expected goals, com um xG de 20.31. Ou seja, produz muito acima daquilo que as oportunidades que cria geram normalmente, convertendo chances de baixa probabilidade como, por exemplo, os chutes de média distância de Jarlan Barrera destacados anteriormente. Se mantiver essa rara marca nos duelos contra os oscilantes Nacional, Universidad Católica e Argentinos Juniors, pode ir adiante sem maiores problemas na competição.

Vélez Sarsfield e o teste de fogo para seus jovens

Depois de seis edições ausente, o Vélez Sarsfield enfim volta a marcar presença em uma Copa Libertadores. E este retorno não poderia ser de maneira mais ingrata, caindo em um grupo com Flamengo, LDU e Unión La Calera, considerado por muitos o “grupo da morte” de 2021 junto com o Grupo D. E para mirar uma vaga nas oitavas de final, os jovens jogadores que ajudaram a reerguer o time no cenário nacional precisarão dar as caras agora em um nível de exigência muito maior.

O trabalho na utilização dos pratas da casa estabelecido por Gabriel Heinze ganha sequência com Maurício Pellegrino, com alguns novos nomes pintando entre os principais destaques do time. Se Thiago Almada, mesmo com seus tenros 19 anos, já não é novidade nenhuma, dois nomes despontam como possíveis revelações para o Fortín no torneio continental: Agustín Mulet e Luca Orellano.

Com 21 anos, Mulet vem recebendo suas primeiras oportunidades mais constantes. Jogador das primeiras posições de meio-campo, pode ser utilizado tanto como primeiro volante quanto como uma espécie de segundo homem, levando em conta as variações entre o 4-2-3-1 e o 3-4-3 utilizados recentemente. Em momentos de posse da equipe, se caracteriza pelo bom suporte na saída de bola e a capacidade de acionar os companheiros com inversões ou bolas longas diagonais na direção do ataque. Defensivamente, se mostra um marcador de firmeza e alta concentração nas intervenções. Apesar de pouca rodagem, pode ser uma peça de alta utilidade mesmo contra adversários de alta qualificação.

Jogando quase sempre em dupla no miolo do meio-campo, Mulet alterna entre apoio na saída e opção de passe na intermediária. Aqui, contra o Huracán, mostra sua face de suporte nos primeiros metros para iniciar a construção

Também com 21 anos, Orellano assumiu a condição de titular há poucos meses. E de maneira incontestável, diga-se. O jovem extremo é o elemento de “desobediência” (no bom sentido) e desequilíbrio individual pelo lado direito do campo, apesar de ter a canhota como pé forte. Suas conduções cortando a defesa adversária de fora para dentro geram problemas, pois atrai marcadores para tentar o desarme e libera seus companheiros por meio disto. Elusivo, técnico e veloz, desponta como uma das principais revelações potenciais nesta largada de temporada em todo o continente. E para marcar território, nada melhor que um torneio da magnitude da Libertadores. Para o Vélez, o sucesso de seus jovens é o sucesso da equipe em campo.

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