A ARTE DE SOFRER

Por Valter Júnior *Jornalista, é editor de esportes no jornal Metro de Porto Alegre A Copa do Mundo passa num piscar de olhos e o título pode ser vencido ou pedido no mais ínfimo detalhe.O formato de disputa, entretanto, ainda consegue conceder uma segunda chance. Resta aproveitá-la. Com dois terços da primeira fase concluídos, algumas […]

Por Valter Júnior

*Jornalista, é editor de esportes no jornal Metro de Porto Alegre

A Copa do Mundo passa num piscar de olhos e o título pode ser vencido ou pedido no mais ínfimo detalhe.O formato de disputa, entretanto, ainda consegue conceder uma segunda chance. Resta aproveitá-la. Com dois terços da primeira fase concluídos, algumas grandes seleções já tiveram uma segunda oportunidade. Raros são os que não enfrentaram percalços.

Os favoritos apresentaram problemas e sofreram mais do que imaginado para um início de batalha.Em situações em que ainda não há um time a ser batido, quem acaba por ditar o ritmo da competição é ela mesma. Quem tiver uma melhor leitura das circunstâncias e se adaptar às novas exigências levará vantagem no momento decisivo.

A Copa não é  uma maratona em que o líder é capaz de imprimir a cadência que lhe convém. Tão pouco é uma corrida de 100m rasos em que qualquer erro exclui a oportunidade de vitória. Ela é uma prova de meio-fundo, em que existe a oportunidade de se recuperar, em que há espaço para a tática ser utilizada  e se chegue com fôlego nos metros finais. Não é necessário sair correndo enlouquecidamente rumo à linha de chegada, mas o tempo de recuperação não é grande.

Seleções tradicionais como Brasil, Argentina e Alemanha tropeçaram na largada e seus segundos jogos na Copa trouxeram uma pressão extra além daquela que cada uma das equipes já trazia consigo antes da estreia. A segunda partida delas teve pinceladas de um mata-mata antecipado. Se o trio compreender qual o ritmo que a Copa do Mundo está exigindo, sairão fortalecidas dos problemas. Argentinos e alemães viveram o drama de poderem ser eliminados precocemente.

Será preciso saber conjugar o verbo sofrer nesta Copa do Mundo. Transformar o sofrimento em força será a chave para aqueles times que tiveram obstáculos maiores do que os imaginados em seus primeiros jogos. A história da Copas mostra que aprender com os problemas leva longe, mas nem sempre com vitória no fim. A Alemanha campeã em 1954, levou 8 a 3 da Hungria de Puskas na primeira fase. A derrota foi transformada em energia positiva e na final os mesmos húngaros foram batidos. A Itália, ausente este ano, é pródiga em ressurgir. Foi assim no título de 1982 e no vice de  1994. A Argentina, mesmo aos trancos e barrancos, chegou à final em 1990.

No Brasil, se criou a ideia de que quando a Seleção chega ao Mundial após ter tido uma vida complicada nas Eliminatórias, a campanha será afortunada, como em 1994 e 2002. Não é uma regra, lógico, mas faz sentido. Apanhar na caminhada e sair vivo fortalece os laços da equipe, ensina a sofrer. Fica um sentimento de que o pior passou. Após a chegada de Tite, o o time não sentiu qualquer dor. Os problemas começaram a surgir agora, com o torneio em andamento. Será preciso aprender a lidar com o sofrimento com a bola andando.

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Da segunda rodada, Brasil e Alemanha são os times que saíram mais fortalecidos. Superaram a aflição, a angústia, o tormento de demorar a fazer o gol e o alívio de vencer nos instantes finais. As vitórias foram um martírio. Mas em nenhum momento deixaram de acreditar. De maneira dura, sentiram o ritmo que a Copa da Rússia exigirá até o fim. Foram persistentes e valentes. Conquistaram a vitória na base do forceps e não na base do talento, como era esperado. Os triunfos deixam um recado de que brasileiros e alemães não serão batidos com facilidade. A isso se dá o nome de peso da camisa. Ela não ganha jogo, mas participa da partida. Ela mexe no mental de quem a veste e no de quem usa outras cores. Traz dúvidas do que será necessário para batê-los. Traz uma pressão extra que qualquer vantagem contra eles será pequena.

Essa fortaleza mental ainda está ausente nos argentinos. Após a goleada sofrida para a Croácia, os jogadores, com olhos vazios, fitavam o nada. Pareciam eliminados. Mas a Copa lhe deu uma nova chance, o que é um perigo para os outros.

No mata-mata, os erros custam mais caro, tendem a ser definitivos. Para quem avança em velocidade de cruzeiro, os problemas ainda não apareceram. As fragilidades não foram expostas e quando aparecerem pode não haver tempo para ser contornadas. Casos de Inglaterra e Bélgica. Nem sempre sair bem da fase de grupos é sair preparado para os desafios mais importantes.

 

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