A consagração das joias de Xerém

A tradicional e prolífica categoria de base do Fluminense conseguiu um feito muito importante para o clube nesta segunda-feira, 21 de dezembro: conquistou o troféu de campeão brasileiro sub-17.

Liderados por uma geração extremamente promissora, os meninos de Xerém conseguiram aliar a qualidade técnica individual de seus principais nomes com a competitividade tática necessária na formação de atletas. E um título que quase se tornou realidade em 2018, quando o Flu perdera a grande final para o arquirrival Flamengo.

O tamanho da importância que se coloca sobre um título na base pode mascarar o trabalho e as nuances especificas desta fase do futebol. Nesse caso, o Fluminense conseguiu cobrir esses detalhes com muito merecimento e dominância sobre os adversários, sobretudo contra uma equipe muito qualificada como é o Athletico Paranaense, que acabou ficando com o vice-campeonato.

Apontado desde o início como um dos favoritos ao título, o Tricolor das Laranjeiras apresentou ao Brasil nomes de peso formados em sua base: o exuberante Metinho, o inventivo Kayky Chagas, o prodígio Arthur e o fatal Matheus Martins.

O mais famoso do quarteto é Metinho, que saiu na cultuada lista das maiores promessas do mundo pelo The Guardian em outubro passado. Inclusive, a indicação de Metinho fora abordada aqui. A expectativa em torno do volante fora justificada com atuações convincentes e sólidas no campeonato brasileiro da categoria, mesmo tendo sido expulso na partida de ida pela semifinal contra o São Paulo. Além da suspensão, a joia tricolor também enfrentou algumas lesões durante o certame, mas nada que tirasse o charme de um meio-campista especial.

O craque do campeonato, e um dos maiores chamarizes da geração 2003 do futebol brasileiro, atende pelo nome de Kayky Chagas. Assim como Metinho – e outros tantos meninos de Xerém -, Kayky começou a sua trajetória no futsal do Madureira. Dotado de uma qualidade técnica de cair o queixo, poucos jogadores atualmente na base brasileira driblam com tanta facilidade como Kayky. Além disso, o meio-campista tricolor é um exímio finalizador, seja de curta ou longa distância, tendo marcado das duas maneiras nos 12 gols que o tornaram artilheiro da competição.

Aliás, o único detalhe que precisa ser ressaltado quanto ao futuro de Kayky é a questão física. Apesar de estar na “nota de corte” da idade, o meia-atacante fora substituído com frequência na segunda etapa das partidas, especialmente na reta final. É até um fato curioso, porque nove dos 12 gols de Kayky foram marcados no primeiro tempo. No entanto, o promissor jogador do Tricolor esteve presente em todas as partidas da equipe carioca no campeonato.

A magia de Kayky Chagas em um lance específico. Num jogo truncado, o craque tricolor encontrou uma “janelinha” para abrir o placar na grande final contra o Athletico, na ida.

Mesmo não tendo jogado tantas partidas quanto os outros quatro, Arthur (ou Arthurzinho) foi importante para o Fluminense na conquista. Nascido em 2005, o prodígio das Laranjeiras já tem pré-contrato profissional assinado, que será validado quando o menino completar 16 anos em fevereiro de 2021. Canhoto, Arthur fora convocado pela seleção sub-15 e contraiu o novo coronavírus durante o campeonato brasileiro sub-17, tendo desfalcado o Flu em algumas partidas.

Desde os nove anos de idade no Fluminense, Arthur é outro que começou no futsal. Vendo-o jogar, fica evidente as raízes do futebol de salão no garoto que tem um controle de bola estupendo, velocidade de raciocínio muito além da idade, dribles e passes precisos e uma excelente finalização. Atuando como meia-ofensivo, Arthur fora preponderante na vitória tricolor por 2×1, em Curitiba, no jogo da volta na decisão do Brasileiro Sub-17. A jogada do primeiro gol, de Matheus Martins, nasceu de um domínio fantástico do garoto no meio-campo seguido por um drible rápido que clareou o campo de visão antes da assistência para o companheiro. Lances difíceis se tornam fáceis com Arthur e por isso a expectativa quanto ao futuro dessa grande joia brasileira é tão alta.

Matheus Martins é um dos prospectos com mais “cara de Fluminense” possível. Envergando a camisa 10 e atuando pelas beiradas, de preferência pelo lado esquerdo, o jovem de 17 anos é o clássico jogador veloz, driblador e goleador que o clube carioca está acostumado a revelar. Captado de uma equipe amadora do Mato Grosso do Sul, Martins está no Flu há muito tempo e desenvolveu-se muito bem em todas as camadas do clube e da seleção brasileira.

Associativo ao jogo, Matheus não fica resguardado a extrema do campo, participando das construções do jogo com Arthur ou Kayky pelo meio (Kayky joga tanto como meia-ofensivo ou atacante pela direita, dependendo da participação ou não de Arthur no sub-17), com Jefté, o lateral-esquerdo, e com o centroavante João Neto. Martins anotou oito gols em 14 participações com a camisa tricolor na competição, mas as assistências não passaram despercebidas. Em particular, a jogada do segundo gol na decisão contra o CAP foi recital do camisa 10. Ele recebera a bola em cobrança de lateral e instantaneamente tocou de primeira para João Neto, que devolvera para Martins disparar pelo flanco esquerdo e cruzar na medida para Kayky empurrar para as redes. Velocidade, técnica e visão. Há muito talento nesse menino.

A adequação e utilização do futsal na formação dos atletas e a excelente captação de prospectos em todo o país pelo Fluminense são as forças motrizes de uma das principais academias do futebol brasileiro. Além do famoso quarteto já citado, outros dois nomes foram importantes nessa caminhada tricolor rumo ao título: Jefté e Cayo Felipe.

Jefté é um defensor muito interessante apresentado pela equipe comandada por Guilherme Torres. Adquirido do Tigres, do Rio de Janeiro, Jefté pode ser lateral-esquerdo ou zagueiro central, aliando força física e qualidade técnica na construção de jogadas no primeiro terço. Além disso, o jovem de 17 anos é rápido e bastante concentrado no jogo, fazendo muitas vezes a leitura correta das ações. Vale muito a pena ficar de olho nele.

Cayo Felipe é um goleiro que precisa corrigir alguns detalhes técnicos, porém, que crescera em momentos críticos da equipe carioca, sobretudo no segundo tempo das partidas em que o Flu caia de rendimento físico. Corajoso, alto e rápido, Cayo Felipe demonstrou segurança nos dois jogos da decisão contra o Athletico Paranaense e nas cobranças de pênaltis contra o São Paulo quando agarrou o chute de Marquinhos.

E falando em Athletico Paranaense, a equipe comandada por Fernando Seabra tem que ficar orgulhosa da trajetória mesmo terminando com o vice. Salientando o segundo parágrafo, muitas vezes um título na base pode mascarar um trabalho (o que não é o caso do Flu) e demonizar quem ficou pelo caminho, algo que não pode ser feito com o Furacão.

Embora tenha sido assolado por um surto de coronavírus em fases agudas da competição, o Athletico Paranaense manteve intacto o jogo coletivo. Fernando Seabra, que teve passagens por Santos e Corinthians na base, chegou ao clube para dar uma identidade aos meninos revelados no CT do Caju. Apesar dos percalços, o treinador cumpriu seu papel e fora preponderante na evolução de Mycael, Vinícius Kauê, Ataíde, Juninho, Jader e Renan Viana.

Jogando desde a defesa, Mycael, que é o goleiro titular da seleção de base, se destacara nas saídas ofensivas da equipe, acionando muito bem os laterais Ataíde e Vinícius Kauê, sendo o primeiro mais completo nas fases do jogo e o segundo muito forte no apoio. Renan Viana, o centroavante da equipe, além de converter gols importantes, participou muito bem das partidas ao criar oportunidades saindo da grande área.

Com conceitos visíveis, jogadores mais técnicos se destacaram em produção. É o caso de Jader, que crescera durante o mata-mata com a liberdade de movimentação, e Juninho, que fora um dos melhores de todos no Campeonato Brasileiro por ser um camisa 5 de muita qualidade técnica. Aliás, Juninho, ao lado de Metinho, formaria uma grande dupla de volantes numa seleção dos melhores em cada posição.

O camisa 5 do Furacão é especialista na distribuição de jogo, possuindo uma visão privilegiada ao descolar passes longos e precisos. Ademais, Juninho é uma ameaça em bolas paradas e chutes de longa distância. No segundo jogo da final, o meia por muito pouco não empatou a partida contra o Fluminense num tirambaço da entrada da área que explodiu na forquilha. É justo dizer que o jovem fora o responsável por fazer a boa equipe de Seabra andar em campo.

Em meio a uma temporada marcada pela pandemia, o campeonato nacional de uma categoria tão importante foi decidido por jogadores de alto nível. Resta agora torcer pela transição correta dessas promessas por suas respectivas equipes, pois talento não falta.

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