A HORA DE PARAR

Por Valter Júnior Jornalista, é editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre Gênio da bola, Zinedine Zidane decidiu deixar os gramados aos 34 anos. Em 2006, o craque francês achou que já tinha dado tudo o que podia dentro de campo, mesmo que o futebol nunca fosse negar a sua genialidade por mais […]

Por Valter Júnior

Jornalista, é editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre

Gênio da bola, Zinedine Zidane decidiu deixar os gramados aos 34 anos. Em 2006, o craque francês achou que já tinha dado tudo o que podia dentro de campo, mesmo que o futebol nunca fosse negar a sua genialidade por mais alguns anos, com tantos maltratando a bola por aí. Hoje, aos 46 anos, ele é um treinador tricampeão europeu. Achou que já tinha dado tudo o que podia ao Real Madrid e saiu de cena. O desapego do francês não é comum. Alguns atletas se aposentam, mas em seguida retornam. Decidir a hora de parar pode ser mais difícil do que disputar uma decisão.

Há aqueles que querem espremer o máximo possível do futebol. Não se sentem preparados para perder a adrenalina de competir. Há o desejo de sempre deixar algumas gotas de suor a mais pelos gramados. Mesmo aqueles de carreira vencedora aceitam colocar currículos vastos a serviço de clubes sem tradição ou até divisões inferiores. É o prazer de jogar futebol.

Em uma época em que o futebol não era globalizado, as informações não estavam a um clique de distância com estatísticas completas de cada jogador, a Copa do Mundo trazia mais surpresas. Poucas foram tão carismáticas quanto a Seleção Camaronesa na Copa de 1990. O time africano tinha feito uma campanha digna oito anos antes, mas era uma grande azarona. Em um torneio que tinha Maradona, as melhores memórias recaem sobre Roger Milla, um simpático e banguela atacante camaronês. Tão simpático quanto desconhecido para a época.

Foi numa derrota por seis gols, mas nada impediu a alegria do povo panamenho de comemorar o gol de Baloy
Foi numa derrota por seis gols, mas nada impediu a alegria do povo panamenho de comemorar o gol de Baloy

Assim como Zidane, Milla também achava que já tinha dado o que podia ao seu país. Sua carreira na seleção começou em 1973. Com uma longa carreira na França, o irreverente atacante havia disputado a Copa da Espanha e os Jogos Olímpicos de 1984. Uma lista de serviços prestados digna para alguém de um país com pouca tradição esportiva. Instigado por um telefonema do presidente camaronês da época, ele vestiu a camisa 9 no Mundial da Itália aos 38 anos. A idade não lhe dava mais o mesmo fôlego, nem a mesma velocidade e força nas pernas de outros tempos, o que fez com que ele se tornasse como uma arma no segundo tempo das partidas. Saindo do banco, Milla marcou dois gols sobre Romênia e Colômbia, o jogo mais emblemático de sua vida. Os gols eram comemorados com uma dancinha cativante junto à bandeirinha de escanteio.

A campanha na Itália o manteve em ação para chegar até a Copa dos Estados Unidos, quatro anos depois. Sua presença foi mais uma homenagem do que uma necessidade, mesmo que os Leões não fossem mais indomáveis. A campanha esteve longe de ser memorável, mas foi o suficiente para Milla fazer história. Aos 42 anos, Albert Roger Mooh Miller se tornou o mais velho jogador a disputar uma partida de Copa do Mundo.

Recordes, infelizmente em algumas circunstâncias, foram feitos para serem batidos, porque figuras como Milla não deveriam ter as suas marcas superadas. Em 2014, em uma homenagem pela carreira, o goleiro colombiano Faryd Mondragón bateu a marca de Milla e se tornou o jogador mais velho a jogar uma Copa, com 43a nos.

Sempre que uma marca demora a ser batida, imagina-se que ela nunca mais será superada, mas os Deuses do futebol mexem seus pauzinhos, no caso devem ser bolinhas afinal são deuses do futebol, e atualizam a história. Esses forças externas colocaram Mohamed Salah na Seleção Egípcia, fazendo o país voltar a jogar uma Copa após 28 anos. Difícil explicar o tamanho desta ausência. Entre 1998 e 2010, os Faraós da bola venceram a Copa Africana de Nações quatro vezes. Entre os tetracampeões estava o goleiro Essam El Hadary. Fadado a nunca disputar um segundo de uma Copa do Mundo.

O Deuses devem ter convencido El Hadary a prolongar a sua carreira por algum tempo. Tempo suficiente para Salah surgir. O atacante do Liverpool colocou o Egito na Copa da Rússia. Colocou El Hadary na Copa. Aos 45 anos, ele estreou em Mundiais contra a Arábia Saudita. O presente recebido pelos faraós do futebol foi recompensado com a defesa de um pênalti. Nada mal para um velinho da bola.

O carisma de Roger Milla empolgo a todos.
O carisma de Roger Milla empolgo a todos.

Tanto Milla quanto Mondragón e El Hadary não teriam o ponto alto de suas vidas esportivas próximo da aposentadoria, em uma idade que ninguém apostaria neles uma nota de R$ 3 furada. O mesmo vale para o zagueiro Felipe Baloy. Aos 37 anos, ele fez um país inteiro chorar ao marcar o primeiro gol do Panamá na história das Copas. Impossível não se emocionar com a vibração do ex-gremista e de sua gente festejando o gol.

Pouco importa se o trio perdeu os seus jogos e não avançou de fase. Eles surpreenderam o mundo. Não se preocuparam com os ditos limites. Não significa que Zidane estava errado. Apenas cada um sabe a sua hora de pendurar as chuteiras.

Milla, Mondragón e El Hafary mostraram que nunca se deve dizer que um recorde é imbatível. Baloy, com seu gol, disse que nunca se deve sonhar com um gol em Copa.  Nunca duvide de um atleta e de sua vontade. Nem diga quando ele deve se aposentar. Nunca se está velho o bastante para fazer história.

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