A importância de competir; notas sobre o FC Porto

Três jogos sem vencer não é um estado habitual para o FC Porto. Frente ao Manchester City, houve uma oportunidade para aprender e mostrar as garras competitivas. Sérgio Conceição tem agora caminho a fazer para tornar a sua equipa mais forte.

Um Futebol Clube do Porto competitivo, a dificultar a vida a um Manchester City que parece ter entrado demasiado convencido da sua vitória na primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, são boas notícias para Sérgio Conceição. A equipa azul e branca não conseguiu, no entanto, trazer pontos desta viagem a Inglaterra, somando o terceiro jogo oficial sem ganhar. Uma análise aos pontos positivos e negativos da exibição portista no Etihad. 

Pensamento e organização defensiva

Sérgio Conceição tinha recorrido a um sistema híbrido, com três centrais, na sua última visita a Liverpool, em 2018/19, sendo que desta feita, tendo em conta o facto de ainda não ter todas as opções do plantel disponíveis, acabou mesmo por desenhar um esquema de cinco defesas. Essa linha defensiva, junto a uma outra linha de quatro, com Sérgio Oliveira e Uribe a fechar bem por dentro, criaram imensos problemas ao City durante a primeira parte, não permitindo a criação do adversário no corredor central. 

A mudança de sistema permitiu ao FC Porto ser uma equipa competitiva a este nível e acredito que os resultados dos dois últimos jogos ajudaram a definir o modo como Sérgio Conceição enfrentou o jogo com o City. O que sairia deste jogo passou a ter outro tipo de leituras, depois de dois jogos sem ganhar. Pelo que os portistas apostaram em defender primeiro, não subindo tanto as suas linhas, acomodando-se às subidas do City e buscando, nas transições, aproveitar o espaço que ficava em aberto. Durante uma hora, a estratégia dos portistas criou muitos problemas ao City e a equipa ganha com esta capacidade competitiva. 

Problemas laterais, lacunas ofensivas

O plantel portista não tem um lateral para atuar a este nível. Manafá, Nanu, Zaidu respondem todos ao mesmo tipo de perfil, laterais de grande expressão física, muita velocidade, mas pouca capacidade posicional e com bola. Essa enorme lacuna no plantel do Porto obriga Sérgio Conceição a procurar alternativas, como aconteceu com a colocação de Corona no flanco direito. O mexicano cumpriu defensivamente, mas acabou por ficar muito fora do jogo ofensivo, sem remate nem nenhum drible bem sucedido.

A manta curta do plantel sente-se, então, em duas posições que podem ser fundamentais para encontrar maior segurança defensiva, fechando também a partir das faixas, e um ponto de partida para a ação ofensiva, dando maior capacidade à equipa, permitindo melhor ocupação do espaço central, se forem opções com capacidade de ter bola no meio-campo rival. A escolha por Corona, a lateral, escondeu o mexicano do jogo e não permitiu um Porto mais forte na definição. No final das contas, olhando aos xG da partida, e apesar de ter feito 6 remates, o Porto somou apenas 0.26xG contra 1.53xG do Manchester City. 

O talento de Luis Diaz

Há um jogador que não engana desde o dia em que aterrou no Porto e, se necessário fosse, ontem deu mostras, em Inglaterra, para ser figura na dimensão da Premier League. O lance do golo é uma evidência que ficará para mostrar, mas a sua capacidade de drible, facilidade de remate, aceleração e inteligência para encontrar espaços definem toda a base do que é um grande talento.

Com Luis Diaz em campo, há festa a vestir de azul e branco. Já tinha sido assim, aliás, no jogo de Alvalade. Faltou ao ataque do Porto, apenas, melhor acompanhamento para explorar as dimensões que Diaz abre na partida. Marega é um ponta-de-lança pouco associativo e Fábio Vieira, em estreia como titular na Europa, não conseguiu alargar a ameaça (a ausência de Otávio, lesionado, também pesou). Mas o mundo, quando voltar a olhar para o Porto, vai estar à procura do camisola 7. 

A gestão mental do jogo

A dimensão europeia das equipas gere-se no talento e nas opções, mas é a dimensão mental que sustenta boa parte do sucesso entre os grandes tubarões. Em Manchester, Pep Guardiola acabou a dar uma lição a Sérgio Conceição sobre a gestão mental a todos os níveis do jogo. Se dentro do campo o Porto colocou dificuldades ao City, as ações a partir do banco foram desequilibrando para o lado dos ingleses. As constantes trocas de palavras entre os dois técnicos foram uma artimanha de Guardiola na qual Conceição caiu. 

Para além disso, num aspeto já definido pelo técnico catalão na antevisão da partida, as reações do banco portista fazem parte de uma cultura que os diferencia. Guardiola jogou com isso, vendo-se um banco mais acicatado e queixoso das decisões de arbitragem, se bem que a realidade não o comprovasse (foi o FC Porto a poder sair com mais lamentos a esse nível). Perceber que o foco competitivo obriga a uma melhor gestão das emoções será um fator de crescimento para os portistas. 

Guardiola e Conceição, o jogo fora das quatro linhas

À procura do onze mais forte

Sarr estreou-se ontem na equipa portista, numa linha de três centrais que servirá os intentos da equipa na exigência europeia, mas que dificilmente será opção na Liga Portuguesa. Felipe Anderson e Grujic não saíram ontem do banco, com o técnico do Porto a aproveitar os números que pesavam para dar minutos a estreantes nestas andanças. Para lá da questão dos laterais já apontada, parece que Sérgio Conceição ainda busca o seu melhor onze, mesmo para lá da tardia chegada de reforços para compensar as saídas de Danilo e Alex Telles. 

Na frente de ataque, a insistência em Marega tem retirado à equipa capacidade para se associar e triangular com os talentos que apresenta a partir da faixa. Nas laterais, a equipa carece de capacidade para oferecer vantagens numéricas. Resolver a forma como alimenta o seu onze poderá trazer para o lado do Porto uma capacidade criativa que lhe será fundamental na Liga Portuguesa e também nos confrontos frente ao Olympiacos e Marseille. Não haverá muito tempo para treinar, mas Sérgio Conceição está capacitado para tornar o seu Porto melhor. 

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