A MISSÃO INGLESA NA RÚSSIA

Por Valter Júnior Antes de mais linhas, um agradecimento aos ingleses por terem inventado o futebol. Como inventores deste jogo de bola e de suas regras, os súditos da rainha tiveram algumas primazias neste esporte. Entre elas está a criação do primeiro sistema tático, o WM, colocado em prática por Herbert Chapman, técnico do Arsenal […]

Por Valter Júnior

Antes de mais linhas, um agradecimento aos ingleses por terem inventado o futebol. Como inventores deste jogo de bola e de suas regras, os súditos da rainha tiveram algumas primazias neste esporte. Entre elas está a criação do primeiro sistema tático, o WM, colocado em prática por Herbert Chapman, técnico do Arsenal nos anos 1920. Como os “patenteadores” do futebol e sua primeira sistematização técnica mais concreta, a relação deles com a bola é tão forte quanto o valor da libra esterlina em relação ao real.

O futebol foi um fator importante para o país no pós-Guerra, sendo um instrumento para que os ingleses tivessem um motivo para se reunirem e no fim dos anos 1940 multidões foram ao estádio, não importava se a partida era de primeira, segunda, terceira ou qualquer outra divisão. Homens correndo atrás de uma bola eram uma grande atração. O fanatismo fez com que alguns dogmas, influenciados até pela religião, fossem quebrados na sequência. Primeiro vieram jogos à noite e depois as partidas aos domingos, por lá o horário tradicional para a bola rolar é nas tardes de sábado.

O terceiro momento central da relação inglesa com o futebol, após a sua invenção e o WM, foi a vitória na Copa de 1966. O efeito, a longo prazo, foi negativo. O único título inglês em Mundiais criou raízes tão profundas no modo de analisar o esporte no país quanto a família real com o solo britânico. Aquele time campeão abusava da bola longa. Baseado na matemática, este estilo de jogo tinha surgido alguns anos antes. Análises estatísticas levaram à conclusão de que a  maioria dos gols saia em uma determinada região do campo e após a troca de poucos passes. Então, dá-lhe chutão nas redondezas da área. De certa forma, funcionou e a Inglaterra foi campeã mundial correndo muito e pensando pouco. Nos 20 anos seguintes, os clubes da Ilha dominaram o futebol europeu aumentando o apego à correria e aos balões para frente.

obrswwjdvj6qbmjzcpsw

Além de um problema estatístico, já que a análise foi absoluta e não relativa, o problema inglês não foi necessariamente vencer jogando assim. A questão era a teimosia. O problema foi achar que esse era o único jeito de se vencer jogos de futebol.

Os anos 1980 e começo da década seguinte foram marcados pela violência das torcidas dentro e fora dos estádios, causando dois grandes desastres (Heysel e Hillsborough). No período, o English Team chegou badalado nas Copas do Mundo e falhou repetidas vezes. Com os clubes do países proibidos de participarem de competições internacionais, os ingleses se abraçaram com toda a força ao seu selecionado nacional.

O verão de 1990, na Itália, é para muitos ingleses, hoje na casa dos 50 anos, o ponto alto de sua relação com o futebol. Na Copa da Itália, a Inglaterra caiu nos pênaltis para a Alemanha na semifinal. Era uma geração que tinha Lineker e Gaiscoine. Foi uma geração sem título.

Com o passar do tempo, uma autoanálise chegou à conclusão de que era preciso mudar o estilo de jogo, embora os mais conservadores, aqueles que votaram a favor do Brexit, acreditem que todos os males presentes no futebol inglês tenham como origem os estrangeiros. Para eles, o Kick and Rush é o único jeito de viver o futebol. A criação da Premier League facilitou o processo de internacionalização do futebol inglês, atingindo a Seleção com a contratação de treinadores estrangeiros (Eriksson e Capello). Não foi o suficiente para o English Team conquistar os títulos sonhados, mesmo tendo uma geração que contava com Beckham, Lampard, Gerrard, Owen, entre outros. Os resultados foram similares, sempre com eliminações dramáticas e/ou traumatizantes, sempre com frustrações do tamanho de um Big Ben. A expectativas na hora do embarque sempre eram absurdas.

O paradigma começou a ser quebrado de forma mais brusca com Guardiola, dono de um título nacional incontestável e aplicando um estilo de jogo que o ingleses pensavam ser impossível de ser vencedor em suas terras. Há reflexos de seu trabalho no time de Gareth Southgate na Seleção. Sua vantagem é ter embarcado para Rússia com expectativas reduzidas em relação aos seus antecessores. A juventude da equipe diminuiu a pressão feita pelos inquietos súditos. A vitória com cara de Premier League sobre a Tunísia, sofrida e nos últimos minutos, manterá as esperanças perto do chão. Ele agradece porque sabe que sua missão é reinventar a seleção daqueles que inventaram tanto no futebol.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart
Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

André Andrade
As influências dos campos reduzidos na Copa América

As influências dos campos reduzidos na Copa América

Douglas Batista
FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024
André Andrade

FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

Douglas Batista
EURO 2024 | COMO CHEGA PORTUGAL

EURO 2024 | COMO CHEGA PORTUGAL

Gabriel Mota
EURO 2024 | COMO CHEGA A BÉLGICA

EURO 2024 | COMO CHEGA A BÉLGICA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A FRANÇA

EURO 2024 | COMO CHEGA A FRANÇA

Gabriel Mota
EURO 2024 | COMO CHEGA A HOLANDA

EURO 2024 | COMO CHEGA A HOLANDA

Lucas Goulart
EURO 2024 | COMO CHEGA A INGLATERRA

EURO 2024 | COMO CHEGA A INGLATERRA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A ITÁLIA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ITÁLIA

Lucas Goulart
EURO 2024 | COMO CHEGA A ESPANHA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ESPANHA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A ALEMANHA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ALEMANHA

Lucas Goulart
O crescimento de Andrey Santos no Strasbourg

O crescimento de Andrey Santos no Strasbourg

Douglas Batista
Os treinadores de bolas paradas no futebol e a importância de Nicolas Jover no Arsenal

Os treinadores de bolas paradas no futebol e a importância de Nicolas Jover no Arsenal

André Andrade