AJAX, WILLEM II E A BUSCA PELO SOL

Por Jéssica Miranda Frenkie de Jong, após driblar dois marcadores do lado esquerdo, toca para Tadic na entrada da pequena área e corre pra infiltração. O sérvio mete uma bola levantada com nojo, e, mesmo cercado por vários adversários, o camisa 21 consegue escorar para o seu compatriota Donny van de Beek estufar as redes, […]

Por Jéssica Miranda

Frenkie de Jong, após driblar dois marcadores do lado esquerdo, toca para Tadic na entrada da pequena área e corre pra infiltração. O sérvio mete uma bola levantada com nojo, e, mesmo cercado por vários adversários, o camisa 21 consegue escorar para o seu compatriota Donny van de Beek estufar as redes, de chapa.

Minutos depois o ponta direito do Willem II, Vrousai, leva um pisão de Blind numa jogada que aparentemente nada daria, se redimindo de um gol perdido no começo da partida, quando chutou em cima do goleiro Onana. Aleksander Isak, de 19 anos, converte o penal. O empate não é bacana para nenhuma das equipes, pois destrona o Ajax da liderança e impede o Willem II de dormir na sétima colocação, posição chave como veremos.

A Holanda tem direito a quatro vagas nas competições europeias, duas para cada competição. A segunda equipe apta a disputar a Liga Europa se classifica não a partir do quarto lugar no campeonato nacional e sim após um playoff entre o sétimo e o quarto colocados.

Sim, quem empatou o jogo foi aquele Isak, o garoto prodígio, de pernas longas. O novo Zlatan Ibrahimovic, tanto por suas características físicas quanto por sua origem: sueco nascido de pais imigrantes, tendo o mais jovem origens eritreias e Zlatan, bósnias e croatas. O que estaria o mais jovem marcador pela seleção sueca fazendo num modesto clube holandês?

Após ter sido contratado pelo Borussia Dortmund em 2017, Aleksander não conseguiu completar dez partidas pelo clube, em duas temporadas e meia. A oscilação natural de um jovem aliada com a concorrência podem ser explicativas para o baixo aproveitamento. A proposta de empréstimo do Willem II, na janela de inverno de 2018-19, veio a calhar. Os resultados foram imediatos, com média de um gol por partida após 12 jogos, com direito ao da classificação da equipe para a final da copa local.

Involuntariamente o zagueiro Herkeens completou de calcanhar um cruzamento de David Neres para colocar o Ajax na frente. O segundo tempo foi um passeio do líder, ficando o placar final de 4-1 ainda barato. O revés interrompeu a sequência de quatro vitórias seguidas do Willem II.

Um clube real

Willem é a grafia holandesa de Guilherme (William, em inglês). O time tem esse nome em homenagem ao rei Willem II, o qual faleceu em Tilburgo, a cidade que adorava, em 1849. Embora seu reinado tenha durado pouco menos de uma década, ele atuou em conflitos dos Países Baixos, como na Revolução Belga, cujo resultado foi a separação do que hoje conhecemos como Bélgica do território dos Países Baixos. Curiosamente, o time conta hoje com um patrocínio do Aeroporto de Bruxelas, a capital belga.

Um título na década de 10, dois na de 50. Esta é a história do clube em conquistas do campeonato nacional. Melhor campanha depois disso foi um vice, ainda que muito distante do campeão Feyernood, em 1998-99, a última das quatro temporadas do finlandês mais conhecido de todos os tempos, Sami Hyypia, antes de se transferir para o Liverpool e por lá virar uma lenda.

Mas o zagueiro não é o único nome que despontou para o mundo a partir do Willem II. Observado desde jovem pelo Ajax, o futuro jogador do Barcelona, Frenkie de Jong, fez a base no clube de Tilburgo. Apesar disso, mal fez jogos no time principal antes de se transferir. O combo formação na base e nenhuma/quase nenhuma aparição no time profissional se estende também ao melhor defensor mundial, Virgil Van Dijk, cujos passos no WIllem II foram trilhados como lateral direito (ainda bem que mudou de posição no Groningen!).

Fran Sol e o fã

Procurando edições de futebol que não pareçam terem sido feitas no paiting ou por alguém de extremo mau gosto e inabilidade no design, encontrei o perfil @footygraphic.  Assim, descobri não só um ótimo editor, mas um enorme fã do Willem II (chegando até a ser um mascote infantil do clube numa partida), levando-me a escrever este artigo.

Quem comanda o perfil é Joeri Gosens, de 22 anos. Apesar de não ter feito faculdade em design, tendo aprendido a mexer nas ferramentas através de tutoriais no Youtube, o talento do holandês é, ao menos na minha opinião de leiga, incrível. Salvei tantas edições para usar no meu celular que não morrerei de tédio por anos a fio.

Dono de um carnê, Joeri vai a todos os jogos do WIllem II em casa. Ocasionalmente deixa Tilburgo para outras partidas, na companhia de amigos. Dessa experiência in loco, acompanhou o surgimento do maior ídolo recente da equipe, Fran Sol.

Aleksander Isak chegou ao Willem II com uma ingrata missão: tentar acalentar o coração da torcida como o artilheiro espanhol fizera, nos dois anos e meio que serviu ao clube. Base do Real Madrid, Sol é mais um daqueles casos de jogadores que conseguem se destacar tardiamente, num centro mais periférico. Aos 27 anos, foi vendido ao Dínamo de Kiev, por três milhões de euros. A idolatria dos torcedores atingiu em cheio Fran, tendo o atacante inclusive mandado imprimir uma das obras de Joeri para decorar a sua casa.

Resolvi conversar com Joeri justamente para tentar entender essa relação entre Sol e a torcida. A paixão com que o atacante se entregava em campo, e a simpatia fora dele, foram fatores determinantes para conquistar os fãs. “Ele até sabia onde ficava a arquibancada dos torcedores mais fanáticos no estádio e quis bater uma foto dele em frente a ela”, ele me confidenciou. “Ele não apenas nos deu esperança em campo, como foi um atacante letal. Ele tinha aqueles jogos em que você não o via, mas quando a bola chegava nele, era gol. Com ele conseguimos a nossa primeira vitória em cima do Ajax, como visitante, desde muitos anos. Ele também fez parte do 5-0 contra o PSV na temporada passada”.

Será que poderá Isak poderá superar Sol? Para Joeri, apenas em números concretos, como gols e na habilidade técnica. A paixão e as outras emoções que Fran suscitou são inatingíveis. “Acho que o tipo de jogadores que tinham a conexão que o Sol tinha são muito raros. Além disso, não acredito que é realista imaginar que o Isak ficará aqui mais uma temporada, mas seria um sonho [isso]”, completa.

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