ANÁLISE DE DESEMPENHO: UMA VISÃO SISTÊMICA DO NORDESTE

Por Jonatan Cavalcante, A análise de desempenho é uma ferramenta recém inserida no cenário do futebol brasileiro, mas que tem mostrado grande relevância na engrenagem do esporte. Seja na análise da própria equipe, do adversário ou do mercado. Apesar disso, algumas pessoas acreditam que o analista seja responsável apenas por realizar edição de vídeos. No entanto, […]

Por Jonatan Cavalcante,

A análise de desempenho é uma ferramenta recém inserida no cenário do futebol brasileiro, mas que tem mostrado grande relevância na engrenagem do esporte. Seja na análise da própria equipe, do adversário ou do mercado. Apesar disso, algumas pessoas acreditam que o analista seja responsável apenas por realizar edição de vídeos. No entanto, a profissão requer horas e horas de dedicação em frente à uma tela em busca de padrões e respostas para transmitir ao restante da comissão técnica e jogadores.

Com o intuito de compreender um pouco mais do universo dos profissionais que não entregam vitórias, mas sim, informações com o objetivo que o time esteja munido da melhor preparação ao enfrentar o adversário na busca pela vitória. O Footure conversou com analistas de desempenho que atuam e atuaram em alguns clubes do Nordeste sobre: a estruturação física, humana, tecnológica, informação, captação e caracterização de atletas, restrições, visão sistêmica e necessidade de capacitação.

OTÁVIO AUGUSTO

 

“No geral a estruturação humana e física no Departamento de Análise de Desempenho no Nordeste ainda é bem simplista. Nada se compara ao que se observa nos clubes de ponta como Barcelona e Manchester City. No Brasil, o clube que possui maior recursos humanos é o Corinthians com 6 analistas no Departamento. Aqui na Região Nordeste é um setor que ainda carece de maiores investimentos.”

Otávio Augusto, Analista de Desempenho do Santa Cruz

A estruturação física, humana e tecnológica são aspectos cruciais para que os relatórios contendo as informações obtenham o destino almejado no tempo correto e consigam ter o efeito esperado. Diferentemente de Corinthians e Flamengo que detêm um investimento mais robusto dentro do Departamento de Análise de Desempenho (DAD), boa parte das equipes do Nordeste ainda estão iniciando o processo de estruturação do  DAD . Neste cenário, Otávio Augusto, sinaliza que o investimento é mais modesto.

“No geral a estruturação humana e física no Departamento de Análise de Desempenho no Nordeste ainda é bem simplista. Nada se compara ao que se observa nos clubes de ponta como Barcelona e Manchester City. No Brasil, o clube que possui maior recursos humanos é o Corinthians com 6 analistas no Departamento. Aqui na Região Nordeste é um setor que ainda carece de maiores investimentos. Boa parte dos clubes possuem 1 (um) analista no profissional auxiliado por 1 (um) analista estagiário e 2 (dois) estagiários nas categorias de base. No que diz respeito às estruturas físicas, os analistas contêm uma sala para tratar dos assuntos e realizar reuniões. No âmbito tecnológico é o oferecido notebook, Tv’s, câmeras e quadros brancos, além de plataformas de scout para realizar a análise quantitativa”, afirmou o Analista de Desempenho do Santa Cruz.

BRENNO

“A escassez de informação é muito forte. Pois o Central disputa a 4º divisão do campeonato brasileiro e não há uma cobertura de imprensa e televisiva como nas divisões superiores. Por isso, conseguir informações que garantam a análise do adversário é crucial para que tenhamos maiores chances de vencer as partidas.”

Brenno Lucena, Analista de Desempenho do Central

E mesmo em clubes de menor orçamento e estrutura, a ferramenta de análise de desempenho é capaz de causar impactos positivos e tornar o processo de tomada de decisão mais lúcido e assertivo. De acordo com, o até então analista de desempenho do Central, Brenno Lucena, em locais que o conhecimento não chega com a mesma velocidade dos demais e com o acesso restrito à dados, imagens e análises, toda e qualquer informação se torna valiosa para que a equipe consiga performar e realizar contratações que se adequem ao cenário financeiro.

“A escassez de informação é muito forte. Pois o Central disputa a 4º divisão do campeonato brasileiro e não há uma cobertura de imprensa e televisiva como nas divisões superiores. Por isso, conseguir informações que garantam a análise do adversário é crucial para que tenhamos maiores chances de vencer as partidas. Além disso, outro grande pilar é a prospecção de mercado. Porque diante da disponibilidade de poucos recursos, o erro tem que ser minimizado.”

*Brenno Lucena, foi contratado pelo Náutico e agora faz parte do quadro de analistas do Clube.

William Barreto, Analista de Desempenho do Bahia

 “É utópico afirmar que a caracterização de atletas é seguida à risca no processo de captação para as categorias de base e profissional.”

William Barreto, Analista de Desempenho do Bahia

Com o mercado de jogadores de futebol inflacionado, concorrência acirrada e necessidade de minimizar erros e custos, cada dia mais é imprescindível ter no DAD, profissionais voltados para a análise de mercado.  O analista de mercado tem como função monitorar e filtrar os destaques de cada competição e alimentar o banco de dados do clube. E para que haja a captação do atleta, geralmente, os clubes possuem critérios a serem atendidos no que tange a caracterização de cada posição com a finalidade de compatibilizar com a identidade da instituição (DNA). No entanto, para William Barreto, o clubes não conseguem ficar restritos a uma tipificação, pois o mercado é muito imprevisível.

“O trabalho de análise de mercado é dividido em dois segmentos: categorias de base e profissional. Nas categorias de base, os olheiros e os analistas são os responsáveis por observar o mercado. No profissional, os analistas monitoram juntamente com o diretor de futebol. O Bahia possui uma caracterização por posição baseado nos últimos jogadores e na identidade do clube. Mas é utopia afirmar que levamos essa caracterização ao pé da letra. Até porque o mercado é dinâmico demais e temos que estar atentos às oportunidades”, ressaltou o Analista de Desempenho do Bahia.

TCD 2“De uma forma geral o pensamento sistêmico de interdisciplinaridade, entre todos os setores que compõem o departamento de futebol, é algo que ainda precisa ser realmente implementado e desenvolvido durante a prática no futebol brasileiro, como um todo, não só na região nordeste.”

Thiago Duarte, ex-Auxiliar Técnico e Analista de Desempenho do Sport

Apesar de ter vivenciado uma única experiência no Nordeste, Thiago Duarte, conhece bastante a realidade da profissão por meio de informações extraoficiais ou através de conversas com profissionais da área. Afinal, foram 7 anos à frente do DAD e também atuando como auxiliar técnico do Sport. Para ele, os clubes carecem de ter uma visão holística, isto é, compreensão do todo para que haja uma integração e consequentemente um fluxo contínuo de informações e que auxilie no processo decisório.

“De uma forma geral o pensamento sistêmico de interdisciplinaridade, entre todos os setores que compõem o departamento de futebol, é algo que ainda precisa ser realmente implementado e desenvolvido no futebol brasileiro, como um todo, não só na região em questão. Não só o setor de análise de desempenho, mas todos setores precisam estar inseridos de uma forma mais contundente no processo de tomada de decisão, tanto da “comissão técnica” como do departamento de futebol. Coloco comissão técnica entre aspas, pois não vejo os analistas de desempenho fora desse núcleo. Penso que eles representam um pilar de sustentação, e não algo separado.”, analisou Thiago.

E diante da falta de uma visão macro em que os departamentos e setores dialoguem entre si, perdura a cultura de que cada função ou atividade é independente. Um erro crasso, que compromete a fluidez das informações, gera gargalos gerenciais e contamina o clima organizacional. Para o auxiliar técnico e analista, os clubes necessitam ter políticas, princípios e diretrizes definidos e coesos com o objetivo de evitar ruídos e restrições.

“As restrições que essa função ainda enfrenta, – e talvez não seja uma questão particular deste setor – são oriundas principalmente do não estabelecimento concreto e objetivo de princípios e diretrizes claros para a execução do trabalho e alinhamento do processo de pensamento/ideias, tanto para curto como à longo prazo. Claro que, ainda há diversas restrições em termos pessoais e particulares, mas, cabe relembrar, que o setor de análise de desempenho é mais um setor em um departamento de futebol – que por sua vez conta com diversos outros setores. Assim partimos do pressuposto que há, ou deveria existir, hierarquia e liderança, principalmente para que a ideia de interdisciplinaridade funcione.”, ponderou, Thiago Duarte.

LEANDRO

“Mesmo o analista não necessitando de uma formação acadêmica específica, é preciso que entenda sobre as ciências que envolvem o futebol.”

Leandro Costa, Analista de Desempenho do Fortaleza

Com a globalização e o boom de informações que estão ao dispor do indivíduo, o analista de desempenho tem um papel preponderante na filtragem do que é relevante ou dispensável para a comissão e jogadores. No entanto, não pode ter uma visão apenas dos scouts, fases do jogo e comportamentos e movimentos do atleta em um jogo. É necessário um olhar abrangente, qualitativo e intangível sobre o ser humano e as situações que os impactam no cotidiano. Por isso, Leandro, acredita que ter conhecimento nas demais áreas do saber (psicologia, sociologia, medicina esportiva, gestão de pessoas…) é essencial para que se compreenda o atleta e o porquê do baixo desempenho em uma partida ou treinamento.

“A análise de desempenho é essencial em qualquer clube que pense em minimizar erros e potencializar o orçamento. E a análise do próprio time, do adversário e do mercado é somente uma parte do trabalho. Mesmo o analista não necessitando de uma formação acadêmica específica, é preciso que entenda sobre as ciências que envolvem o futebol. E para isso, é crucial que o analista busque a capacitação para obter a percepção e compreensão do todo. Pois o analista de desempenho tem sido cada vez mais inserido no processo de tomada de decisão dentro das comissões técnicas”, afirmou Leandro Costa.

Alguns clubes se consolidam como referência na região, como é o caso de: Bahia, Fortaleza e Náutico. As equipes possuem um DAD mais estruturado no que tange ao capital intelectual na equipe principal com 4, 3 e 3 analistas de desempenho no profissional, respectivamente. O processo é gradual, mas aos poucos os clubes do Nordeste vão conhecendo a função, abrindo espaço para os profissionais e concedendo maior campo de abrangência dentro do clube.

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