Arda Güler e a atual política de contratações do Real Madrid

A contratação do jovem turco de 18 anos ressalta linha de atuação do Real Madrid no mercado de transferência nos últimos anos.

No início de julho, Arda Güler foi anunciado como novo jogador do Real Madrid. A contratação do jovem turco de 18 anos, que chegou após os ingressos de Fran García, Brahim Díaz, Joselu e Jude Bellingham, representa muito bem como tem sido o comportamento da equipe madridista nas janelas de mercados nos últimos anos.

Há quase uma década, o Real optou por alterar sua política de contratações, abrindo mão de sua vertente tradicional em buscar jogadores já desenvolvidos na elite do futebol mundial para direcionar seu radar em jovens promessas de grande potencial.

Essa nova postura está diretamente ligada com o insucesso na contratação de Neymar, que decidiu assinar com o Barcelona no longínquo ano de 2013. Desde então, sobretudo quando se trata de atacantes, o Madrid tem sido bastante agressivo no mercado brasileiro, tanto que o clube já investiu cerca de 192 milhões de euros nas contratações de Vinícius Júnior, Rodrygo, Reinier e Endrick.

E foi a partir daí que surgiu a figura de Juni Calafat, chefe do departamento de scouting do conjunto merengue, importante nas operações também pela boa relação que tem com jogadores sul-americanos. A tarefa do olheiro hispano-brasileiro, no entanto, vai além de encontrar jovens promessas em nosso continente: ele está à frente de qualquer assunto que envolva a busca por talento jovem independente do mercado.

O foco do Real Madrid em jovens nos últimos anos pode ser percebido através dos números: nas últimas 10 temporadas, o clube fez 35 contratações e gastou pouco mais de €1 bilhão de euros. A média de idade desses reforços é de 22,9, portanto, não superando a barreira sub-23 em média. Além disso, 10 destes jogadores tinham 20 anos ou menos quando firmaram seus acordos com os blancos.

Em janeiro de 2015, a contratação de Martin Ødegaard, na época então com 16 anos, foi a primeira da nova política merengue. Ela também marca outra tendência presente até hoje na postura do Real nas janelas de transferências: garantir a contratação antes mesmo da aproximação de outros gigantes europeus. Isso, inclusive, pôde ser observado nas operações que envolveram os brasileiros mencionados anteriormente: todos assinaram com o conjunto blanco antes de completarem 18 anos.

Ødegaard foi a primeira grande jovem promessa contratada pelo Real Madrid dentro da nova política do clube – Foto: Real Madrid CF

Posteriormente, o Real Madrid contratou figuras como Marco Asensio, Federico Valverde, Dani Ceballos, Eduardo Camavinga, Takefusa Kubo, Aurélien Tchouaméni, os brasileiros já supracitados e os recém-chegados Jude Bellingham e Arda Güler. Boa parte deles já estão bem consolidados no elenco madridista, somando minutos e ganhando experiência em fases agudas de Champions League.

Por outro lado, também aconteceram contratações que não vingaram, como Lucas Silva, Theo Hernández, Luka Jovic e Reinier. Mesmo assim, excluindo Jovic (€60m), Tchouaméni (€80m) e Bellingham (€103m), o Real gastou valores relativamente baixos na busca por jovens e ainda conseguiu valorizá-los ao ponto de sete de seus jogadores estarem na lista dos 25 mais valiosos do mundo do CIES Football.

A mescla com veteranos a partir de oportunidades de mercado

Quando se trata de contratações de veteranos e jogadores mais experientes, o Real Madrid está buscando sempre boas oportunidades no mercado de transferências. O clube tem olhado para bons atletas que estão entrando em último ano ou já sem contrato. Um exemplo claro disso foi o do goleiro Thibaut Courtois, que custou €35 milhões na mesma janela em que o Chelsea assinou com Kepa por €80 milhões e o Liverpool fechou com Alisson por €62 milhões.

David Alaba e Antonio Rüdiger são os casos de jogadores que chegaram ao Madrid à custo zero, em uma clara estratégia onde o clube de Valdebebas usufrui de sua grande influência no mercado.

Essa postura mais passiva do Real Madrid ao “mercado adulto” nos últimos anos só foi possível graças ao elenco construído previamente, estando relacionado com a Segunda Era Galática liderada por Florentino Pérez entre os anos de 2009 e 2014, que teve o objetivo de competir diretamente com o então Barcelona de Pep Guardiola. Por mais que não sejam contemporâneos, o consagrado trio Casemiro-Kroos-Modric foi consequência de anos e anos formando um meio-campo capaz de rivalizar com Busquets-Xavi-Iniesta.

Com os pilares bem estabelecidos e poucas lacunas para preencher, foi mais fácil para o Real colocar em prática sua plano de adquirir os principais jovens do futebol mundial.

Como Arda Güler encaixa no Real Madrid

Com a saída de Karim Benzema para o futebol saudita, e a nítida espera por Kylian Mbappé para 2024, o Real Madrid deve sofrer algumas mudanças no ataque. Alguns repórteres que cobrem o clube já comentam sobre a possibilidade de Carlo Ancelotti usar Rodrygo como centroavante no 4-3-3 ou utilizar um outro sistema, como o 4-3-1-2.

Nestes dois casos Arda Güler encaixaria sem tantos problemas. No desenho com três atacantes, o jovem turco poderia jogar na direita (flanco sem um dono fixo desde a saída de Bale), partindo aberto e fazendo movimentos de fora-dentro seja para ser uma presença entre linhas no meio-espaço, ou partindo em conduções desde dribles ou cortes com a perna canhota.

No sistema com losango, o novo camisa 24 merengue poderia atuar em duas posições: interior direito ou enganche atrás de uma possível dupla de ataque formada por Vini Jr e Rodrygo. Os movimentos e características naturais de Güler seriam respeitados nestes dois cenários. Primeiro porque, atuando como interior direito, ele ainda estaria confortável para receber a bola onde mais gosta (meio-espaço) e teria uma relação com jogadores de base de jogada (Kroos ou Tchouaméni) somando recepções seguidas de controles orientados em espaços reduzidos. Além disso, teria uma intereção importante habilitando o lateral que vem por fora (Carvajal).

Lances de Arda Güler na temporada 2022/23

Como enganche, onde suas as zonas de recepções seriam basicamente as mesmas, potencializaria outras virtudes de seu jogo: os lançamentos ao espaço e o último passe. Arda Güler bate muito bem na bola, tem facilidade para encontrar passes de trivela e é uma tremenda arma após recuperação da posse. Imaginando a capacidade de pisar na área de Bellingham e Valverde, e nas perigosas rupturas de Vini Jr, existe um potencial encaixe de produção goleadora aí.

Arda ainda é muito jovem, tem apenas 18 anos, e precisa evoluir em outros sentidos. Fisicamente ainda é frágil e sofre com algumas desatenções defensivas. No entanto, é inegável que possui um talento imenso e já apresenta uma mentalidade importante para se manter em um clube de máxima exigência.

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