As 3 principais histórias da fase de grupos da Libertadores em 2020

Na busca pela taça continental, surpresas e confirmações deram o tempero para uma etapa classficatória de bons destaques

Os 16 melhores clubes da Libertadores da América estão estabelecidos em 2020. A fase de grupos chegou ao final confirmando certos prognósticos, derrubando outros e, obviamente, oferecendo bons jogos e uma série de narrativas ao longo de 96 partidas. Com direito a uma longa parada por conta da pandemia, e uma retomada que mexeu bastante com a fotografia e o ritmo de trabalho das equipes envolvidas, desafios que até então não faziam parte constante da rotina do esporte passaram receber atenção.

Independente disto, algumas situações ganharam destaque. Se por um lado equipes icônicas da história do futebol sul-americano, como Peñarol, Colo-Colo, São Paulo e Olimpia, não conseguiram a classificação, algumas surpresas como Jorge Wilstermann e Delfín roubaram a cena e passaram aos mata-matas. Individualmente, alguns atletas também estiveram em evidência através de seus desempenhos e da influência para seus times. Por isso, no texto desta semana, destaco três situações relevantes da fase de grupos que, agora, já é história.

Toto Salvio e Julián Álvarez: os donos de Buenos Aires

Dois jogadores em momentos diferentes de suas carreiras e em clubes ainda mais opostos. Em comum, o grande rendimento demonstrado ao longo da fase de grupos desta Libertadores, o que resume bem a importância e o espaço que ambos vem concretizando em Boca Juniors e River Plate. Não há dúvidas de que Eduardo Salvio e Julián Álvarez estiveram entre os melhores nesta etapa da competição.

Pelo lado Xeneize, Salvio seguiu entregando o poder de decisão que havia mostrado na reta final da última Superliga Argentina. O meia de 30 anos foi responsável por 5 dos 10 gols marcados pelo Boca nos 6 jogos contra Libertad, Independiente de Medellín e Caracas. Mesmo posicionado aberto pela direita inicialmente no 4-4-2 montado por Miguel Angel Russo, tem como a sua principal virtude aparecer em zonas interiores para tabelar e buscar a infiltração, fora a boa condução que apresenta em direção à área. Nesta lógica, construiu suas oportunidades e ofereceu a dinâmica que o Boca Juniors necessitava para funcionar através do corredor destro.

10 anos mais jovem, Julián Álvarez não fez menos no outro lado da capital argentina. Suas atuações contra o São Paulo, principalmente, deixaram claras as razões de Marcelo Gallardo confiar cada vez mais no atacante (e meia) formado na base millonaria. Seu posicionamento como homem de frente ou meia pela direita no 4-1-3-2, ou na ponta-direita no 4-3-3, é o que menos conta. A liberdade que lhe é dada para ler a defesa adversária e explorar os melhores espaços buscando se colocar em condições de receber a bola para finalizar é o grande diferencial. E tal percepção tão apurada em um atleta de apenas 20 anos é algo digno de atenção.

Não por acaso, essa característica lhe rende algumas comparações com Thomas Müller. O fato é que por conta própria, vai fazendo seu nome e crescendo a cada jogo como uma peça-chave em uma das principais equipes do continente e favoritíssima ao título da Libertadores em 2020.

A liderança do Jorge Wilstermann no grupo C

Em um grupo com Peñarol, Colo-Colo e Athletico-PR, pensar que o Jorge Wilstermann terminaria não apenas classificado, mas também líder da chave, parecia impensável num olhar mais raso. Porém, os astros se alinharam a favor dos bolivianos. Ao mesmo tempo em que tiveram a competência de manter uma sequência de trabalho com o treinador Cristian Díaz, seus adversários passaram por mudanças na casamata. O Peñarol foi de Diego Forlán para Mário Saralegui. O Colo-Colo demitiu Gualberto Jara e contratou Gustavo Quinteros. Já o Athletico, abriu mão de Dorival Júnior e manteve Eduardo Barros até o último jogo.

E ter um time afinado do começo ao fim foi suficiente para alçar os aviadores acima de seus rivais. A variação tática mostrada, com capacidade para adaptar o time conforme a exigência da partida, mostrou a maturidade do projeto ao estabelecer competitividade de alto nível, apesar do resultado não ter vindo em todas as situações. Do 4-3-3, passando pelo 4-1-4-1 e chegando ao 5-4-1, o Wilstermann impôs superioridade em vários momentos. Além disto, jogadores como o lateral-direito Esteban Orfano e os meias Serginho e Patrício Rodríguez foram diferenciais importantes, sendo fundamentais tecnicamente e taticamente para esta flexibilidade demonstrada pela equipe de Cochabamba. Agora, tentarão fazer história e, ao menos, repetir a campanha de 2017, quando chegaram às quartas de final e acabaram sendo eliminados pelo River Plate.

O desempenho dos times equatorianos

Pela primeira vez na história, a Libertadores contará com três equipes equatorianas nas oitavas de final. Independiente Del Valle, LDU e Delfín conseguiram superar a fase de grupos, e agora seguirão brigando pelo sonho continental em um cenário de total pressão e adrenalina nos mata-matas. Enquanto os dois primeiros conseguiram garantir suas vagas para a etapa seguinte de maneira relativamente tranquila, o último assegurou a sua passagem para as oitavas apenas na reta final do confronto derradeiro.

Em meio a sua trajetória na Libertadores, o Delfín precisou lidar com uma troca de comando, embora a lógica de reatividade e um jogo mais direto praticamente não tenha mudado com a saída de Carlos Ischia, e a chegada de Miguel Zahzú. A marcação de linhas baixas, a busca pelas bolas longas em direção à dupla de atacantes e os escapes em velocidade pelos lados, sobretudo com Janner Corozo, seguiram sendo o padrão dominante da equipe. Num grupo em que a instabilidade e o baixo rendimento dos times que brigavam pela segunda vaga predominou, o gol de Agustín Ale contra o Olimpia em Assunção fez a diferença para garantir a classificação histórica para o clube de Manta.

Sem tantas emoções, o Independiente Del Valle confirmou a lógica e tentará ir adiante na missão que acabou batendo na trave em 2016. Os atuais campeões da Sul-Americana precisaram lidar com mudanças no time em nível de titularidade, e graças ao sólido trabalho de Miguel Ángel Ramírez, conseguiram superar tais readaptações. E o mais importante de tudo: sem perder a identidade construída ao longo dos últimos anos. O jogo altamente ofensivo baseado em uma organização posicional seguiu fazendo vítimas e criando superioridade sobre os adversários. Apesar de derrotas contundentes para Flamengo e Junior de Barranquilla, o caminho traçado contou com três vitórias consecutivas, incluindo um triunfo histórico sobre o Rubro-Negro por 5 a 0.

Não menos importante, a LDU de Pablo Repetto superou o São Paulo na luta pela segunda vaga, dado o amplo favoritismo do River Plate à classificação e o baixo nível do Deportivo Binacional no Grupo D. Claro, a altitude teve influência nos pontos conquistados. Nos três jogos em Quito, foram três vitórias, além de um triunfo extra sobre o Binacional em Juliaca, cidade que também possui elevação, embora isso pouco contasse contra os peruanos. No nível do mar, o rendimento passou longe de ser o mesmo, com derrotas contundentes para São Paulo e River. Ainda assim, foi possível notar alguma lógica na forma como o time é concebido taticamente em seu 4-4-2 e, mais do que isso, bons destaques individuais em Jhojan Julio e Adolfo Muñoz. Para tentar o bicampeonato, será necessário mostrar mais em território inimigo. A Libertadores afunilará cada vez mais, e chegará um momento onde depender do ar rarefeito pode não ser o suficiente para buscar a decisão.

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