BOLEIRO x ATLETA

Por @JPCastilhos *Administrador formado pela UFRGS e Sócio da Nou Performance GmbH empresa alemã que faz a preparação física de atletas em todo mundo De fato, hoje em dia não basta apenas ter talento e técnica para ser um jogador de futebol de sucesso, o futebol hoje exige mais. Exige uma vida verdadeiramente de atleta, […]

Por @JPCastilhos

*Administrador formado pela UFRGS e Sócio da Nou Performance GmbH empresa alemã que faz a preparação física de atletas em todo mundo

De fato, hoje em dia não basta apenas ter talento e técnica para ser um jogador de futebol de sucesso, o futebol hoje exige mais. Exige uma vida verdadeiramente de atleta, com muitas abdicações, desgaste, disciplina e investimento. O boleiro acabou, não há mais espaço para o jogador que não quer treinar, rebelde e sem postura profissional. No mínimo ele não vai durar muito tempo em alto nível, isso é fato!

A carreira de um jogador de futebol é muito curta, são em média 20 anos em atividade e nem todos em alto nível. Se compararmos a outros esportes, o futebol, por ser um jogo de muito impacto e alta intensidade, faz com que os jogadores se aposentem mais cedo em relação às demais modalidades.

Levando em consideração a transformação que o futebol vem sofrendo ao longo do tempo, se tornou uma modalidade que exige muito vigor físico e possui características muito distintas do futebol dos anos 70, por exemplo. Atletas com a mentalidade e a preparação das décadas de 70, 80 e até 90 hoje não teriam o mesmo sucesso que em suas épocas.

São inúmeros fatores que evidenciam essa transformação gigantesca que o futebol sofreu, os jogadores hoje chegam a correr cerca 15km em 90 minutos de jogo, o que era algo inimaginável há anos atrás. Além disso há diferenças inclusive entre esse número se compararmos ligas nacionais e as internacionais. Nas ligas brasileiras o futebol ainda é um pouco mais cadenciado e de menor ritmo que na Europa por exemplo, por isso a média de quilômetros percorridos é menor, isso é um fator que corrobora para entendermos o porquê alguns jogadores brasileiros têm dificuldade de se adaptar ao futebol europeu.

Chegando ao ponto principal da discussão que visa entender como os atletas de alto rendimento atualmente se preparam, ou como deveriam se preparar, para enfrentar os desafios que a carreira de jogador profissional os impõe, questionamos justamente esse ponto. Quais são esses desafios? Quais são as motivações que fazem com que o atleta olhe para sua carreira de maneira diferente de como um jogador da década de 80 fazia? O que ele tem a perder caso não se encaixe no modelo atual de profissional do futebol? Quais fatores externos fazem muitos atletas, principalmente brasileiros, perderem o foco, diminuírem o rendimento em campo e ainda colocarem em risco sua carreira?

Inicio o round de respostas dizendo que os desafios de um atleta de futebol começam desde as categorias de base até que ele consiga chegar ao grupo profissional, mas este é apenas o primeiro degrau. Depois de subir para o time profissional o jogador deve provar a cada dia que está apto para ajudar a equipe e fazer a diferença dentro e fora de campo, por isso um dos maiores desafios do atleta é estar entre os 11 titulares de seu clube e de fato conseguir exercer sua profissão com regularidade. Estar neste seleto grupo de jogadores só é possível se os aspectos técnicos, físicos, táticos e emocional do jogador estiverem em equilíbrio e harmonia, este é um princípio básico que grandes especialistas utilizam para definir a alta performance e o futebol de hoje é um esporte de pura alta performance. Quando as características técnicas dos atletas são muito niveladas a preparação e física, emocional e aplicação táctica são determinantes para a escolha do treinador, por isso cada detalhe é muito importante na preparação do atleta.

Além disso, a tendência é que estes fatores sejam cada vez mais levados em consideração pelos clubes e comissões técnicas a medida que o futebol se profissionaliza a cada dia mais, mesmo que na América do Sul este processo seja mais lento do que aqui na Europa. Logicamente não estamos falando aqui de Messi e Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, que são jogadores que os aspectos técnicos se sobrepõem a qualquer outro e é quase impossível deixá-los de fora do time principal pois são capazes de resolver um jogo com uma única jogada que beira a genialidade.

As lesões são o outro fator a ser analisado com cuidado, pois no nível de jogo atual a incidência de lesões está cada vez maior e é razão pela qual jogadores acabam perdendo espaço nos clubes e também um dos motivos porque os clubes acabam tendo rendimentos abaixo do esperado em competições e perdendo dinheiro com o afastamento dos atletas lesionados.

Não parece óbvio que se o nível de jogo tem evoluído tanto nos últimos anos a preparação física, nutricional e psicológica dos atletas deveria caminhar na mesma direção? Afinal todo esse contexto de preparação trabalhado de maneira harmônica é chave para a alta performance. No entanto os números provam que está acontecendo exatamente o contrário, se analisarmos os números dos clubes que jogam a Premier League inglesa, que é para muitos o campeonato mais nivelado e forte do mundo vemos que o índice de lesões não para de aumentar a cada temporada.

Somente na temporada de 2016/17 foram registradas 713 lesões em 524 partidas realizadas por times da Premier League, o que gerou um custo de 177 milhões de libras aos cofres dos clubes, enquanto na temporada 2015/16 esse custo foi de 20 milhões de libras a menos. Além disso o tempo médio de afastamento de um jogador por lesão na temporada em questão foi de 35 dias e na temporada anterior de 30. Os dados coletados da temporada 2017/18 são de até início do mês de fevereiro, no entanto já pontam que o custo com lesões desta temporada deve ser ainda maior, pois até essa data já haviam sido estimados um gasto de 134 milhões de libras com os jogadores que passaram pelo departamento médico. Os dados foram obtidos através de relatórios publicados pela JLT, corretora de seguros dos principais clubes da Europa.

O gráfico ilustra o aumento do gasto dos clubes ingleses da Premier League com jogadores lesionados nas ultimas seis temporadas e já nos mostra o custo que os clubes tiveram na atual temporada até 05/02/2018.
O gráfico ilustra o aumento do gasto dos clubes ingleses da Premier League com jogadores lesionados nas ultimas seis temporadas e já nos mostra o custo que os clubes tiveram na atual temporada até 05/02/2018.

Dados como estes nos fazem refletir e tentar encontrar alguma solução para estes problemas. Já é comum na Europa que jogadores contratem preparadores físicos particulares com o objetivo de reduzir os riscos de lesão e melhorar sua performance para não perder espaço no clube. Os clubes europeus, de maneira geral, realizam atividades físicas mais básicas e focam muito mais em quesitos táticos e técnicos, desta forma o atleta pode sofrer com alguma carência física e de um trabalho mais específico, que seja desenvolvido especialmente para suas necessidades biológicas e para sua posição em campo. Jogadores que não complementarem os treinos do clube com trabalho extra, em minha visão, já saem perdendo em relação aos que estão buscando este tipo de recurso.

Não só a preparação física ideal é a chave para uma carreira de sucesso no futebol, não se deve deixar de lado nunca a questão nutricional pois de nada adianta ter um excelente programa de treinamentos e uma alimentação que não tenha coerência com o lifestyle e com as necessidades do atleta. Também neste âmbito, muitos jogadores buscam especialistas em nutrição esportiva para hackear, digamos assim, o seu corpo e a partir desse processo saber exatamente a reação de cada alimento dentro do seu organismo e ingerir apenas aquilo que vai contribuir para o melhor funcionamento do seu corpo e consequentemente de sua performance. Fred, jogador do Shakhtar e da seleção brasileira, recentemente em uma entrevista coletiva comentou que trabalha com um especialista nesta área e que vêm colhendo excelentes resultados graças a esse processo. Messi é outro exemplo de jogador que faz consultas regulares com um profissional desta área, e seus resultados em campo são inquestionáveis, além de possuir um baixo número de lesões em toda sua carreira.

Para finalizar minha análise trago um assunto pouco discutido e que é uma das causas pela qual alguns jogadores acabam perdendo espaço no time, perdem o foco e podem até ver sua carreira ir por água abaixo. O entorno do jogador. Mas como assim? Primeiro é importante definirmos quem faz parte do entorno do jogador, são eles; família, amigos e profissionais que trabalham diretamente com ele, como empresário, assessor de imprensa etc.

Fred, meiocampista do Shakhtar Donetsk, faz atividades fora do clube para melhorar sua performance.
Fred, meiocampista do Shakhtar Donetsk, faz atividades fora do clube para melhorar sua performance.

Você é a média das 5 pessoas que mais convive, essa é uma máxima de Jim Rohn (empreendedor americano, autor e palestrante) que é amplamente aceita e tomada como verdade absoluta para muitas pessoas, principalmente no nicho de desenvolvimento pessoal. Partindo desse princípio é natural que relacionemos o entorno dos atletas diretamente com seu desempenho dentro de campo e isso faz total sentido no momento em que entendemos e conhecemos algumas situações de bastidores dentro do futebol.

É impossível um jogador render 100% em seu clube se seu entorno não lhe dá boas condições para que consiga trabalhar bem, se sua família só se importa com o dinheiro que cai na conta e se as pessoas que estão por perto estão ali por interesse. Jogador de futebol de alto nível tem fama, dinheiro e vive num mundo paralelo à realidade das pessoas “comuns”, por isso sempre haverá pessoas que se aproximarão para tirar proveito dessa situação e sugar tudo que puder do atleta. Por fim, o contrário também é verdadeiro, jogador com família estruturada e que trabalha com profissionais sérios que o ajudam a cuidar da sua carreira tem possibilidades muito melhores no longo prazo e é esse entorno que pode determinar o sucesso, ou não, de um atleta.

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