Celestino: um jogador "do futuro" na base do Náutico

Volante Celestino, aos 21 anos, demonstra compreensão tática e da necessidade de desenvolver habilidades para melhor se adaptar ao jogo moderno. Após se recuperar de grave lesão, sonha em jogar pelo profissional do Náutico e conquistar muitos títulos

Diferentemente de Erick e Thiago, as duas joias recentes das categorias de base do Náutico, Celestino passa longe dos holofotes. Pouco badalado e até certo ponto desconhecido do torcedor do Náutico, o volante que iniciou a trajetória no clube aos 10 anos através da escolinha, passa despercebido aos olhos do torcedor que vai aos Aflitos apenas para ver dribles e gols. Mas para o torcedor um pouco mais atento, Celestino é um caso raro de identificação com o clube, inteligência de jogo, trabalho duro e simplicidade no jogar.

A paternidade repentina aos 18 anos, contribuiu para a aceleração do amadurecimento emocional. O que se refletiu nas ações no campo de jogo. A temporada 2019 foi a melhor da carreira de Celestino. Titular absoluto do América-PE pelo Campeonato Brasileiro Série D. De volta ao Náutico, liderou o meio-campo no vice-campeonato Pernambucano Sub-20.

“A paternidade me impactou bastante. É uma grande responsabilidade. Ao entrar em campo, eu penso muito na minha filha. Pois quero dar tudo do bom e do melhor para ela. Por isso, encaro os jogos como uma verdadeira final.”

Celestino tirando uma selfie com a filha, esposa e os pais.

De cara Celestino rompe com todo e qualquer estereótipo de que jogador preto é sinônimo de força física e pouca inteligência. O camisa 5, possui sim atributos físicos interessantes e destacáveis. Mas são a técnica e a leitura de jogo, complementadas pelos aspectos físicos que tornam o volante um jogador dominante no meio-campo com e sem a bola.

Análise dos comportamentos de Celestino com a bola, atuando pelo América-PE na Série D 2019
(Edição: KlipDraw)

Atuando pela primeira vez como profissional e disputando uma competição nacional, Celestino mostrou tranquilidade e qualidade comuns a um veterano. Com a bola, o volante demonstrou busca incessante pela verticalização do passe. Sempre se posicionando como apoio para auxiliar na saída de bola e organizar o ataque do América.

No vídeo acima, fica claro a capacidade de Celestino de dar fluência ao jogo com apenas 1 ou 2 toques na bola. E soma-se a isso, a frequente utilização da perna “ruim” para realizar passes curtos e longos. Uma habilidade que foi treinada desde cedo e que teve o pai como maior mentor.

“Isso foi uma iniciativa do meu pai. Eu não entendia muito bem. Quando estava em casa com ele, a gente realizava algumas “sessões de treinamento”. E ele exigia que dominasse a bola apenas com a esquerda. O passe também era com a perna “mais fraca”. E nisso, eu fui me acostumando. Ao chegar na escolinha do Náutico, o meu desenvolvimento com a perna esquerda e direita era muito bom. E depois comecei a dar continuidade ao que o meu pai começou. Por isso, tenho tanta facilidade de dominar e passar com ambas as pernas”

Análise dos comportamentos de Celestino com a bola, atuando pelo Náutico no Pernambucano Sub-20 2019
(Edição: KlipDraw)

A utilização da perna esquerda, além de ser um recurso extremamente importante de ser utilizado diante do caos que é uma partida de futebol, traz vantagens como perder menos tempo quando se recebe a bola. Uma vez que, o atleta não precisará virar todo o corpo para dominar e passar com a perna direita. Se a perna esquerda é a mais indicada para realizar o domínio, passe ou finalização, assim executará. E um elemento muito importante nas sessões de treinamentos é o perfilamento do corpo.

“Eu valorizo muito o treino de perfilamento corporal. Até porque sou volante. E existem momentos que estarei de frente ou de costas para o jogo. E saber o posicionamento ideal para receber o passe me ajuda bastante para dar velocidade ao jogo”, comentou Celestino.

Análise dos comportamentos de Celestino sem a bola
(Edição: KlipDraw)

A trajetória de Celestino se iniciou como zagueiro na escolinha. Apenas quando chegou ao sub-15, foi adiantado para jogar de volante. E ao ser exposto em contextos de posições diferentes, o processo formativo foi mais rico e gerou uma apropriação de novas habilidades que facilitaram a adaptação e execução da nova função.

“A experiência como zagueiro me ajudou bastante quando fui adiantado para ser volante. Por exemplo, o momento de dar o bote, o cabeceio ao interceptar essa bola de frente quebrada do goleiro, tenho bastante facilidade devido a experiência como zagueiro”, pontuou o jovem de 21 anos.

E no vídeo acima nota-se a desenvoltura de Celestino sem a bola. Sempre constrangendo o oponente com a bola através da agressividade, fazendo-o jogar para trás, vencendo os duelos por baixo e tendo ótima leitura de espaço para impedir o avanço da bola e do adversário. Além disso, é um jogador importante na ação de realizar pressão na saída de bola do adversário, pois consegue cobrir uma área muito grande.

Fã de Casemiro, Celestino acredita que a sua forma de jogar se assemelha ao volante da Seleção Brasileira e do Real Madrid. E o mapa de calor do volante alvirrubro, mesmo que de forma tímida, aponta para uma similaridade de zona de atuação. Mas por estarem em estágios diferentes nas carreiras, também existem ações que ainda não ocorrem com frequência.

“Eu particularmente acho a minha forma de jogar semelhante a de Casemiro. Mas diferentemente dele, não sou de realizar muitos lançamentos. Seria algo que gostaria de importar dele”

Mas a vida possui roteiros que nem os melhores escritores de filmes, séries e novelas conseguem imaginar. Quando tudo parece dar certo, a vida vem e prega uma rasteira. E o emocional desmorona. O volante que vinha fazendo ótima temporada, sentiu um incômodo no tornozelo, no jogo contra o Retrô, pela Copa Pernambuco. Mas atuou os 90 minutos. No dia seguinte, a inflamação foi tamanha que nem conseguia andar. Ao realizar a ressonância, detectou que tinha rompido todos os ligamentos do tornozelo direito.

“Foi um período muito difícil pra mim. Pois a lesão interrompeu a boa temporada que vinha fazendo no América. Mas minha família me ajudou bastante. Principalmente a minha esposa. O Náutico também me deu um suporte muito bom.”

Quase 8 meses após sofrer a lesão mais grave da carreira, Celestino tem se dedicado dia após dia no Centro de Treinamento Wilson Campos, realizando treinos físicos e específicos para voltar a fazer o que mais ama: jogar futebol. O volante de 21 anos, que está compondo a equipe de transição do Náutico, espera jogar pela equipe profissional para realizar um sonho que iniciou lá atrás com apenas 10 anos de idade.

“Meu sonho é jogar pela equipe principal do Náutico e ser campeão vestindo essa camisa. Quero muito ouvir a torcida gritando o meu nome nos Aflitos lotado.”

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2 comentários

  1. “Eu valorizo muito o treino de perfilamento corporal. Até porque sou volante.”
    Garoto inteligente… espero que “chegue lá” !
    O fato de ter sido pai aos 18 e ter ficado 8 meses fora de jogo devido a uma grave lesão aliado à sua aparente boa inteligência emocional, tornou-o forte emocionalmente, resiliente, paciente e determinado. Esses são ingredientes fundamentais para atletas de elite, como ele deseja ser.

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