Destaques da 2.Bundesliga - Parte 1

Apresento-lhes algumas joias perdidas na segunda divisão da Bundesliga

Cada vez mais é comum vermos jogadores jovens migrando para a Bundesliga, independente da nacionalidade. Na internet é muito recorrente a aparição daquelas listas de jogadores jovens sendo vendidos por altas quantias por clubes como Borussia Dortmund, RB Leipzig, Bayer Leverkusen e outros que possuem um excelente trabalho de captação e desenvolvimento de atletas.

Se antes conhecida como uma liga muito nacionalizada (cheia de jogadores alemães), é curioso acompanhar essa mudança de perfil da Bundesliga, que está se tornando cada vez mais perto do que hoje a Premier League é sinônimo, uma liga multicultural

Um dos fatores disso é a quantidade de jogadores jovens tendo espaço nas equipes principais. Na temporada 20/21, são 48 jogadores U23 (nascidos em 1998 ou depois) com pelo menos 700 minutos jogados, sendo que 39 são estrangeiros, isso significa dizer que apenas 18,8% dos jogadores U23 com essa minutagem na 1º divisão são alemães. 

Bundesliga | FIFA 20 potential ratings: Jadon Sancho, Kai Havertz and the  Bundesliga's best Career Mode buys
Jadon Sancho, Josh Sargent e Kai Havertz

A segurança de terem minutos em uma liga competitiva e a chance de jogarem competições europeias é o principal motivo desses atletas migrarem para a Alemanha, sem sombra de dúvidas, mas existem outros fatores que ajudam. 

O fator socioeconômico (4º maior economia do mundo e o 6º maior IDH), a facilidade no idioma (56% dos alemães falam inglês e a 1º língua estrangeira mais ensinada nas escolas), os grandes clubes se localizarem no interior, onde se tem poucas distrações além do futebol ao contrário das grandes cidades.

Sem contar os salários mais baixos para os adolescentes para que não se percam, e alguns acordos feitos pelo governo em que a Alemanha tem status preferencial com oito países não pertencentes à UE, o que por exemplo facilita a contratação de jogadores jovens dos EUA.

A cultura no vestiário alemão é diferente. Os jogadores costumam ter níveis educacionais melhores do que na Inglaterra. Eles são menos vaidosos, menos materialistas; É muito mais realista. Se você se empolgar, o resto dos caras do grupo vai desaprovar isso – você se tornará um estranho. Os clubes alemães não pagam mal aos jovens, mas os clubes da Premier League tendem a pagar mais caro aos jovens antes de chegarem ao time titular – às vezes de maneira exagerada. Você tem adolescentes da Premier League ganhando £20.000 por semana que ainda não jogaram no profissional.

Palavras de alguém que trabalhou no alto nível com jogadores da Alemanha e da Inglaterra


Sugestão de leitura: https://www.gq-magazine.co.uk/article/why-is-the-bundesliga-the-best-place-for-young-footballers

Porém, na 2.Bundesliga, segunda divisão alemã, vemos o completo oposto. Os clubes tem poucos jogadores estrangeiros e quando tem são de países vizinhos como Áustria, Suíça e Polônia. Além da baixa utilização de jogadores jovens, pois dão preferência a atletas mais experimentados que não oscilam tanto, mesmo que tenham um teto de produção menor.

Ou seja, para se jogar lá sendo jovem, tem que ser um talento muito bom, com boa mentalidade e nível de competitividade alto, aspectos característico dos alemães. Para se ter uma ideia, são 37 jogadores U23 com pelo menos 700 minutos jogados, sendo que 25 desses jogadores são alemães (67,5%), o completo oposto da 1º divisão. 

Fazendo um recorte apenas de jogadores U22 (1999 para cima), esse número cai para 18 jogadores sendo 12 deles alemães. U21 (2000 em diante), são 9 jogadores sendo 6 alemães. Podemos afirmar que o espaço que os jovens têm na elite, não se aplica a divisão de acesso. O que vai na contramão de outras ligas como a Inglaterra e a Espanha, que na elite possuem jogadores mais experimentados e na inferiores muitos jovens tendo alta minutagem. 

Mínimo de 700 min jogados. Fonte: sofascore

Pensando nesse assunto, separei alguns jogadores U23 da 2º divisão que estão se destacando e muito provavelmente figurem na 1º divisão ou em outra liga grande em um futuro próximo, seja com seus clubes atuais ou em outros já estabelecidos na elite.

Dada a extensão que ficou esse texto, vou separar em duas partes. A próxima parte sairá no dia 04/04

Florian Krüger (99)

Nascido em 13/02/1999 na pequena Staßfurt, cidade próxima a Leipzig, Kruger é um atacante formado nas categorias de base do Magdeburg, localizado a 30km de sua cidade natal. Lá jogou dos 12 até os 16, chegou a seleção U15 da Alemanha e despertou o interesse do gigante alemão Schalke 04.

Nos azuis-reais, foi destaque na U19-Bundesliga West, anotando incríveis 35 gols em 26 jogos pelo time U17 e 28 gols mais 28 assistências pela equipe U19. Foi quando despertou o interesse do Erzgebirge Aue, sendo transferido para lá tendo apenas 19 anos à época.

Chegando ao clube de Aue, teve uma lesão que o afastou do começo da temporada. Acabou se recuperando e fez 16 jogos na 2.Bundesliga, anotando 2 gols e 4 assistências. Na temporada seguinte, teve grande destaque alternando entre titular e suplente, ao todo foram 34 jogos no ano com 8 gols e 10 assistências.

Porém, na atual temporada (20/21) é que teve sua consolidação no time titular, já são 10 gols e 6 assistências em 25 jogos (apenas 1 como suplente), alternando entre um 2º atacante pela esquerda ou um 9 de ruptura. 

(fonte: Sofascore)

Florian é um típico atacante alemão, não é tão refinado tecnicamente, mas possui boa condução e troca de direção com facilidade. Não tem um repertório de dribles muito vasto, acaba superando marcadores mais pela boa velocidade e ampliação do corpo nas disputas.  Tem de melhorar o 1º toque.

Jogo aéreo muito bom, tem explosão no salto, boa impulsão e sabe direcionar seus cabeceios. Acaba só utilizando uma perna (destro), tanto para finalizar quanto para executar outras ações mais complexas, não têm tanta confiança no pé esquerdo. 

Pode jogar tanto aberto na esquerda como um 2º atacante, puxando as transições e fazendo a diagonal pra área, como também um camisa 9 rompedor que oferece apoio, atrai os centrais e abre espaço, tem facilidade para sustentar o ataque baixando bolas longas porém sofre com ela em posse e longe do gol. Já fez jogos aberto na direita, mas sente dificuldade em jogar a pé natural produzindo cruzamentos. 

Bastante voluntarioso defensivamente, sobretudo quando joga aberto e é obrigado a recompor. Até por sua equipe usar marcações mistas, fica encarregado de vigiar individualmente o lateral que se projeta do seu lado. Não tem muita técnica para desarmes e pouca noção tapando linhas de passe, atua melhor no encaixe.

Atleta de ótima estatura (1,86m), bom biótipo, longilíneo e endomorfo. Possui boa velocidade, atinge rapidamente seu pico e mantém por uma distância satisfatória. Tem muita força física, difícil de deslocá-lo até por saber usar bem o corpo.

Sua concentração é muito boa, atua sempre em alta rotação e participando do jogo, seu offball é excelente, tanto criando espaços para os companheiros quanto atacando eles, é letal quando entra em diagonal nas costas da defesa. Não é um jogador criativo quando atua longe do gol, provavelmente se firmará como centroavante como já vem demonstrando nessa temporada. 

Atleta convocado para a disputa do Europeu U23

O Erzgebirge Aue hoje ocupa a 10º colocação na tabela, pouco improvável que consiga o acesso nesta temporada. Acredito que Kruger seja bastante assediado por clubes da 1º divisão, sobretudo os de meio de tabela/briga por UEL, mais compatível com seu nível atual. 

David Raum (98)

No dia 22 de abril de 1998, nasceu David Raum, na cidade de Nuremberg. Iniciou cedo no futebol, aos 8 anos ingressou no time da cidade vizinha (Fürth), no SpVgg Greuther Fürth, clube muito tradicional na Alemanha. Lá, jogou em todas as categorias até chegar ao profissional, em 16/17.

Nas equipes inferiores, sempre chamou a atenção pela qualidade técnica na perna esquerda, até o U17 era meia-esquerda, em sua última temporada na categoria anotou 9 gols em 25 jogos na U17-Bundesliga Süd/Südwest. Já no U19, começou a ser testado em outras posições, jogou como lateral-esquerdo, ponta-esquerda, ponta-direita, meia-atacante e até centroavante. 

Anotou 6 gols e deu 5 assistências em seu primeiro ano jogando a U19-Bundesliga Süd/Südwest. Em 16/17, começou a temporada pelo U19 destruindo, tanto que foi alçado ao time B que joga a 4º divisão alemã, e posteriormente teve seus primeiros minutos na equipe principal. Foram 11 gols e 13 assistências em 39 jogos, somando todas as competições.

Em 17/18, foi integrado ao time principal de fato. Atuou em 20 oportunidades na 2.Bundesliga, sendo 11 jogos como titular e mais 9 saindo do banco. Boa parte desses foram jogando na meia-esquerda, anotou 1 gol e deu 3 assistências. Na temporada seguinte começou a sua transição para a lateral, foram 11 jogos na 2º divisão alemã nessa função.

Porém nessa temporada (20/21) teve seu “boom” como lateral-esquerdo. Após o titular da posição, Maximilian Wittek, se transferir para a Holanda, assumiu a titularidade e vem fazendo uma temporada espetacular, ajudando a equipe a brigar por uma vaga na elite do futebol alemão. 

fonte: sofascore

Raum é um lateral muito técnico e criterioso nas ações, têm um bom primeiro toque, drible curto, coordenação com a bola em posse e troca de direção com facilidade. Tem um passe ativo muito bom, seus cruzamentos também são sempre perigosos, consegue cruzar mesmo longe da linha de fundo. Falta aprimorar sua precisão na bola longa e em cruzamentos com a bola coberta. 

Tem qualidade para jogar tanto na base de jogada, em amplitude média pela esquerda iniciando a construção com seus passes espetados, como também em projeção, recebendo no espaço e chegando no ⅓ ofensivo. É muito comum o Greuther Fürth juntar seus jogadores na direita e acionar David em profundidade. 

Defendendo é muito completo, pode jogar tanto no encaixe (prefere assim) quanto sustentando a linha em marcação zonal. Capacidade de antecipação muito boa, preciso nos desarmes e uma leitura razoável fechando opções de passe. Vai muito bem no jogo aéreo, tem muita explosão no salto, tempo de bola e consegue direcionar seus cabeceios. 

Trata-se de um jogador muito atlético, ótima estatura para a posição (1,80m), longilíneo e ectomorfo. Possui muita força física para sustentar o contato, consegue repor a bola em laterais para a área com facilidade. Sua velocidade é um dos melhores atributos, atinge seu pico rapidamente e mantém por uma distância grande.

Sua tomada de decisão é notável, sempre encontra o melhor passe. Jogador bastante concentrado durante as partidas, gosta de disputar os jogos grandes, porém não tem um perfil de liderança. Tem problemas com excesso de cartões amarelos, apesar de ter diminuído consideravelmente nessa temporada. 

Assim como Kruger, Raum também foi convocado para disputar o Europeu U23

Raum já está acertado para se transferir ao Hoffenheim na próxima temporada, assinou um pré-contrato em janeiro e foi sem custos. Vejo ele como um lateral de boa projeção a nível internacional, jogador de UCL e que provavelmente figurará na seleção alemã principal por vários anos, visto o histórico recente nas de base e pela carência nos últimos anos da Mannschaft na posição.

Rodrigo Zalazar (99)

Rodrigo Zalazar Martinez, nascido em Albacete-ESP, decidiu seguir o caminho de seu pai (José Zalazar), um volante uruguaio que disputou a copa do mundo em 1986. Mesmo tendo nascido na Espanha, optou por defender a seleção charrua, foi convocado para o sul-americano sub20 em 2019 e hoje faz parte da equipe sub23. 

Ingressou cedo no futebol, aos 8 anos foi jogar nas categorias inferiores do Albacete, clube que seu pai defendeu boa parte da carreira. Lá, chamou a atenção do Málaga quando tinha 15 anos, e se mudou para a Andaluzia, onde jogou até os 20 anos. Foi quando despertou o interesse do Eintracht Frankfurt, que o levou para a Alemanha dado o fim de seu contrato.

Primeiro foi emprestado ao Korona Kielce, clube da 2º divisão da Polônia, no qual não conseguiu se adaptar e teve números bem abaixo. Voltando à Alemanha, foi novamente emprestado, desta vez ao St. Pauli, clube da 2.Bundesliga, e vem rendendo aquilo que se esperava quando o Frankfurt o contratou. 

Fonte: sofascore

Zalazar é um meio-campista uruguaio na essência, une a garra charrua com uma qualidade técnica bastante acima da média. Tem muita coordenação com a bola posse, troca de direção com facilidade e consegue manter o controle em espaços reduzidos. Acaba pecando no primeiro toque e na não utilização da perna esquerda, até para movimentos simples como conduzir e receber.  

É um ótimo passador, preciso nas inversões e tem um passe ativo consistente, consegue criar boas chances tanto passando quanto carregando a bola. Tem uma boa finalização de média e longa distância, é uma ameaça constante próximo a área. Facilidade para bater na bola, é quem comanda as bolas paradas no St. Pauli.

Seu time atual joga normalmente em um 4312 com um losango no meio, Zalazar ocupa a posição de interior esquerdo, tendo total liberdade para se mover com a bola, como um médio área-a-área. Chegou a fazer alguns jogos como 10, porém não foi tão bem, seu posicionamento na entrelinha é bastante limitado, gosta mais de “chegar” do que “estar”.

Defendendo, fecha o lado esquerdo e faz o balanço para o meio quando a bola está no lado oposto. Seu atleticismo permite essa constante movimentação, e até compensa sua abordagem defensiva que não é muito boa, bem como sua técnica de desarmes e a leitura para fechar linhas de passe. Gosta mais de cercar o adversário no encaixe.

Jogador muito privilegiado fisicamente, boa estatura (1,78m), tem um excelente biótipo, longilíneo, mesomorfo, muita força nos membros superiores, o que combina muito com seu estilo de jogo. Bastante veloz, consegue atingir o pico rapidamente e manter por uma boa distância. Amplia bem o corpo para disputas, bastante difícil de derrubá-lo.

Bastante concentrado durante os 90’, gosta da bola e busca sempre na base mesmo quando colocado mais adiantado no campo. Offball ofensivo muito bom, sabe arrastar os marcadores e atacar o lado cego para receber livre. Têm protagonismo e não se esconde nos jogos grandes, capacidade produzir em lances sequenciais e jogar pressionado.

Jogador disputou o sul-americano sub20 em 2019

Tem contrato com o Frankurt até 2023, é provável que ao final da boa temporada que vem fazendo seja aproveitado pelo time principal ou reemprestado, mas dessa vez a algum time de maior nível. Até pela baixa minutagem de profissional, imagino que Zalazar tenha uma boa margem de evolução e vire um jogador de 2º escalão na Europa, jogando UEL e fase de grupos da UCL, compatível com o Eintracht.

continua…

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