DOSSIÊ BÉLGICA - OS PROBLEMAS DEFENSIVOS
Por @RodrigoCout Muito tem se falado sobre os problemas defensivos da Bélgica. Mas quais são eles exatamente? Mergulhamos nos comportamentos “sem bola” do próximo adversário da Seleção Brasileira, e traz de forma específica o que deve ser explorado para chegar ao gol. O técnico Roberto Martinez pode fazer mexidas para melhorar o cenário. As falhas cometidas […]
Por @RodrigoCout
Muito tem se falado sobre os problemas defensivos da Bélgica. Mas quais são eles exatamente? Mergulhamos nos comportamentos “sem bola” do próximo adversário da Seleção Brasileira, e traz de forma específica o que deve ser explorado para chegar ao gol. O técnico Roberto Martinez pode fazer mexidas para melhorar o cenário. As falhas cometidas contra o Japão foram bem visíveis. Por mais que a atitude deva ser diferente desta vez, há falhas sistêmicas.
Vale lembrar que o jogo contra o Japão foi o que mais exigiu do time belga até aqui na Copa do Mundo. No Grupo G, não teve tantas dificuldades com Tunísia e Panamá, e na última rodada fez um amistoso de luxo contra a também já classificada Inglaterra. O fato de ter atuado com um time reserva acaba excluindo esse jogo do alvo da análise. Cabe ressaltar também, que os problemas apresentados não são novos. No período pré-Copa já se abordava os percalços que a talentosa equipe passava, sobretudo em fase defensiva.
Pra começar podemos detalhar o esquema tático do time. Os comandados de Roberto Martinez atacam em um 3-4-2-1 e defendem num 5-4-1. Mertens e Hazard centralizam quando o time tem a bola e abrem para recompor pelos lados sem ela. Os alas se alinham ao trio de zagueiros no momento defensivo e na hora de atacar ganham total liberdade.
Leia as avaliações abaixo e constate nos vídeos ao fim de cada texto
TRANSIÇÃO DEFENSIVA
Era algo a ser ajustado antes da Copa do Mundo começar, mas nos últimos jogos vem se mostrando uma fase do jogo ainda mais problemática para a Bélgica. A grande questão está na falta de sintonia entre os setores. Na maioria das vezes percebe-se atitude correta de Lukaku, Mertens e Hazard. O trio mais avançado quase sempre pressiona logo após a perda, muda rápido de atitude, mas a linha que vem logo atrás não acompanha. Witsel e, principalmente, De Bruyne não apresentam o comportamento necessário.
Os alas buscam recompor a última linha. Meunier é eficaz, faz com velocidade, mas Carrasco além de lento neste processo é apático. Junta-se a isso a pouca velocidade e a indecisão de Vertonghen, e chegaremos ao principal alvo para os contra-ataques: o lado esquerdo de defesa da Bélgica. Isto parece bem assimiliado pelos adversários. Todos os quatro que jogaram contra os belgas neste Mundial utilizaram o corredor como via principal.
Os problemas persistem a partir do momento que o adversário vai se aproximando da área. As seguidas falhas de comportamento geram um “efeito cascata” que muitas vezes vai estourar na região do campo onde os gols são marcados com mais frequência: o “funil”, o espaço entre a marca do pênalti e a entrada da área. Os belgas não conseguem defender bem esse espaço pelos desequilíbrios que a transição defensiva causa. São apenas 5,3% de finalizações adversárias bloqueadas, o terceiro pior número entre todas as seleções da Copa.
O time japonês aproveitou muito bem o problema pelo lado esquerdo de defesa. Sempre que conseguia um espaço, mudava o jogo para setor e acelerava. A entrada de Chadli, um pouco mais ativo na recomposição em comparação a Ferreira Carrasco, pode melhorar. Ou até mesmo a escalação de Moussa Dembelé ao lado de Witsel para ganhar as coberturas. O volante do Tottenham é o 12º melhor de toda a competição em vitória nos duelos defensivos (45,4%). Fatores que poderiam amenizar o problema, mas não resolver a questão de ordem coletiva.
FASE DEFENSIVA
Neste momento do jogo, o principal problema da Bélgica é defender a frente da área. Novamente entra em questão a participação de Witsel e De Bruyne. O primeiro se esforça. Tenta ser o ”homem de contenção” da linha de meio, mas oscila na intensidade. Talvez o fato de ter mais liberdade na maioria dos jogos no Tianjin Quanjian esteja cobrando o seu preço na Copa. Já o craque do City, faz um Mundial abaixo do que pode, e a atitude defendendo possa explicar isso. Parece longe da entrega necessária sem a bola. Mais até do que uma questão técnico/tática, mostra-se relaxado no ímpeto com que disputa as jogadas. O resultado é um ”hectare” na intermediária.
O sistema de marcação é o zonal, com alguns encaixes quando há subidas de ‘pressão’ na saída de bola adversária. A coordenação nesse aspecto também deixa a desejar. Não é raro vermos distanciamento entre os atletas que fazem o movimento de subir a marcação e os demais. Junta-se a pouca agressividade ao portador da bola, e o adversário consegue sair até com certa facilidade. Conduzindo a bola ou encontrando as linhas de passe para progredir no campo.
Marcando em bloco médio, Mertens e Hazard, variam para o centro do campo quando a bola está no lado contrário, mas seguidamente erram no fechamento das linhas de passe e, novamente com pouca pressão ao portador da bola, o time oponente consegue girar o jogo de lado com facilidade e ganhar metros para conduzir ou ter espaço para o passe vertical. Essa situação aconteceu seguidamente contra Japão e Tunísia. Diante de equipes mais qualificadas pode ser letal. A média de bolas interceptadas é baixa, apenas 32 por jogo, a oitava pior marca neste Mundial.
A flutuação dos volantes para o lado da jogada também é lenta e dificilmente há ”temporização” dos ataques adversários. A linha defensiva acaba virando alvo. O que não torna a situação pior é o nível dos zagueiros. Vertonghen (por mais que seja muito lento), Kompany e Alderweireld são ótimos defensores. Se posicionam bem e ”apagam muitos incêndios”. Meunier é agressivo e rápido. Vem cumprindo bem o seu papel. O mesmo não se pode dizer de Ferreira Carrasco. Novamente o ala esquerdo é responsável pelas principais falhas defensivas. Tem problemas no posicionamento e é pouco intenso na abordagem de marcação. Expõe muito a lentidão de Vertonghen.
Talento com a bola e produção ofensiva coletiva a Bélgica tem. Em alguns setores mais do que o Brasil, mas como vimos, a chave para se classificar será ajustar os muitos problemas defensivos que a fazem cair no conceito competitivo em grandes jogos.
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