O futuro incerto da Salernitana de Fabrizio Castori na Serie A

O time de Fabrizio Castori conseguiu a façanha e colocou a Salernitana de volta a elite após mais de 20 anos, mas o time conseguirá jogar na Serie A?

Foi uma disputa e tanto na Serie B italiana na luta pelo acesso. Não pelo título, que sempre esteve nas mãos do Empoli de Alessio Dionisi, com todos os méritos, e que subiu antecipadamente em mais um retorno para a elite do futebol italiano.

Houve uma grande disputa nas primeiras posições, em que a Salernitana estava disputando com o Lecce, que desfalcado de sua estrela Mancosu, em luta contra um câncer que foi vencida nos últimos dias, mas que tinha o bom momento de Coda, e o badalado Monza de Cristian Brocchi, que teve muitos investimentos feitos pela eterna dupla milanista de Berlusconi e Galliani.

A disputa acabou se afunilando entre Salernitana e Monza, o que acabou por ser um confronto entre duas realidades. Uma realidade cheia de investimentos, como a do Monza, novato na praça, com uma realidade minguada, como a da Salernitana, que tem história na elite, mas que era vista como um clube satélite da Lazio.

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A situação de muitos jovens contratados por empréstimo da Lazio, ou mesmo jogadores que fariam ponte para a equipe da capital também presidida por Claudio Lotito, fizeram a torcida da Salernitana organizar protestos contra o dono do clube, o que em setembro, fez até mesmo a apresentação do técnico Fabrizio Castori ser até mesmo adiada.

No mercado de verão, com uma mistura de jogadores de equipes rebaixadas, como os de Gyomber (vindo do Perugia) e Bodgan (vindo do Livorno), salvo alguns bons empréstimos como os de André Anderson (Lazio) e Tutino (Napoli), ou resgatados da Serie C montaram o time da Salernitana, como bem reconstruído nos fatos que levaram o acesso dos cavalos marinhos em texto de Angelo Pisani para L’Ultimo Uomo que serve como referência para este post.

Em meio as polêmicas, Fabrizio Castori tentou fugir delas montando seu time e fugindo das brigas com a torcida e já armando suas táticas que são conhecidas desde o Carpi, onde conseguiu seu grande trabalho ao colocar o time emiliano na elite.

Dentre as principais características de Castori, um bloqueio rasteiro e compacto na fase sem a posse de bola, com a equipe mais comprometida em cobrir os espaços do que em recuperar a bola; uma fase de posse muito direta, onde a primeira bola vertical costumava ser em busca dos dois atacantes.

Ao longo da temporada a equipa alternou entre dois esquemas, o 4–4–2 e o 3–5–2, sendo a constante representada pelos dois atacantes, o bósnio Djuric, com dois metros de altura, bom para todas as bolas altas, e o meia-atacante Gennaro Tutino, o jogador mais técnico da equipe, e essencial para ela com o seu trabalho no desenvolvimento e finalização do jogo. 

O jogo dos cavalos marinhos é muito direto: quase todas as ações passam por um passe longo para Djuric, que tem a missão de ajeitar a bola e consolidar a posse, tentando acionar Tutino imediatamente, que dependendo do momento ou da posição ele pode decidir se quer atacar o gol adversário (aproveitando a sua grande habilidade na gestão da bola), ou procurar um parceiro ou segurar a bola antes de continuar o ataque.

Uma imagem da temporada da Salernitana: a procura por Djuric ou Tutino no ataque granata. (Foto: L’Ultimo Uomo)

Neste tipo de jogo mais direto, estão as principais características do treinador, onde atrás dos dois atacantes, encurtam as linhas toda a equipe, para aproveitar quaisquer segundas bolas ou dar suporte a Tutino e Djuric. Apesar disso, a ideia é de um “futebol agressivo e vertical”, onde o importante é chegar o mais rapidamente possível ao gol adversário. 

Como Castori disse a Gazzetta dello Sport em janeiro, “Me dá muita raiva ver o goleiro colocando a bola no zagueiro para iniciar a ação”. Não é coincidência que a Salernitana teve vários gols nascendo de longos passes verticais, transformados em oportunidades pelas grandes qualidades da dupla de ataque.

Tutino e Djuric foram as pedras fundamentais desse processo. Para ter uma ideia, o ex-napolitano marcou 13 gols e deu 6 assistências, sendo responsável por 43% dos 46 gols dos granata na Serie B. A Salernitana, assim, foi o primeiro time desde o Siena de 2002–03 a conseguir o acesso direto marcando menos de 50 gols na competição.

Apesar dos poucos gols, a outra parte do processo foi que a Salernitana teve a melhor defesa da Serie B, com apenas 34 gols sofridos, com suas linhas baixas e o bloqueio rasteiro na fase sem a bola já citados por aqui. Mas valem ser citadas os grandes responsáveis por essa parede defensiva do time do Sul.

Dentre a espinha dorsal dos cavalos marinhos estão jogadores de certa importância para Castori, como Casazola e Kupisz nas laterais, e Capezzi e Di Tacchio no meio-campo. Fora estes e a dupla de ataque, o treinador costumeiramente mudava seus titulares.

Entre as mudanças constantes, alguns jogadores tiveram seu papel importante e seu lugar dentre os granata no acesso, com a distribuição de responsabilidades na equipe entre jogadores como Anderson, Gondo e Cicerelli, que tiveram sua participação na subida dos cavalos marinhos.

É bem verdade que em alguns momentos a Salernitana foi irregular, com direito a goleada sofrida para o Empoli por 5–0, e outras derrotas em confrontos diretos como diante de Lecce e Monza, mas em meio a tropeços dos rivais, especialmente do Monza, aproveitou e conseguiu o acesso direto com vitórias importantes e sem vacilar tanto como os rivais.

Mas com o acesso, até de certa forma inesperado da Salernitana, um problema ocorreu com o clube: pelas leis de propriedade da Serie A, Claudio Lotito, terá de vender o clube para outro dono em alguns dias, o que poderá fazer até com que o clube granata perca o acesso.

O presidente salerno e laziale tem 50% das ações da Salernitana, e pelas regras da FIGC, não pode ser acionista de dois clubes na mesma divisão. O seu filho, Enrico, será proprietário por 30 dias. Há também uma possibilidade de Lotito vender o restante das ações a seu sócio no clube, Marco Mezzaroma, que por sua vez, é seu cunhado, já que é irmão da mulher de Claudio Lotito.

Mas essa possibilidade está descartada, já que clubes não podem disputar o campeonato com o mesmo dono e nem mesmo controlado por “familiares ou semelhantes de quarto grau”, seja pelo conselho federal de 26 de abril, aprovado pela proposta do presidente da FIGC, Gabriele Gravina, em que “até na hipótese de ingressar na Série C um clube amador controlado por sujeito que exerce como acionista controlador no profissionalismo” .

Seja pela segunda fonte, o artigo 16 bis do Regimento Interno de Organização Federal (Noif) da FIGC, este muito mais articulado. Aqui a proibição de participações múltiplas propriedades é alargada “às empresas pertencentes à esfera profissional ou ao campeonato organizado pela Comissão Interregional”, portanto também aos amadores, envolvendo também «familiares ou parentes de quarto grau». 

Portanto, sem filhos (Enrico Lotito, que controla 50% da Salernitana através da Omnia Service), nem cunhados (Marco Mezzaroma, acionista de referência da Morgensten, dono dos outros 50% da Salernitana). As únicas excepções estão previstas no artigo n.º 4: “Se o controle resultar da sucessão causa mortis de forma universal ou particular, ou de outros fatos não imputáveis ​​à vontade dos interessados”.

No caso de descumprimento da proibição ao término do prazo de inscrição no campeonato, “não são admitidos ao campeonato de competência e perdem as contribuições federais”, e assim, tanto a Lazio, quanto a Salernitana, estariam em risco.

Resolvida essa questão, a Salernitana terá de pensar na sua inicial sobrevivência na Serie A, em que pela primeira vez terá a companhia do grande rival local, o Napoli, que esteve fora da elite na única participação dos granata na elite, em 1998–99. 

Mas se os napolitanos estão entre as grandes forças históricas e atuais do campeonato, os salernos estão com objetivos de permanência, em que precisam montar um elenco para conseguir pela primeira vez, ficar na elite do futebol italiano.

Um desafio que o próximo dono dos salernos e que o treinador Fabrizio Castori, que treinou apenas o Carpi na elite em 2015–16, terão de enfrentar. Mas, para quem conseguiu a façanha do retorno a primeira divisão em 23 anos para os cavalos marinhos, não há desafio que intimide. 

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