GUIA DAS OITAVAS DE FINAL DA UCL - PARTE II

A Liga dos Campeões voltou, senhores! Para comemorar o retorno, estamos lançando nosso  Guia das Oitavas de Final da UCL. A segunda parte, lançada para analisar os confrontos dos dias 20 e 21 de fevereiro, juntou uma equipe que conta com Bruno Secco (Bayern de Munique), Matheus Souza (Besiktas), József Bozsik (Chelsea), Gabriel Corrêa (Barcelona), André Andrade (Sevilla), Lucas Filus (Manchester United), […]

A Liga dos Campeões voltou, senhores! Para comemorar o retorno, estamos lançando nosso  Guia das Oitavas de Final da UCL. A segunda parte, lançada para analisar os confrontos dos dias 20 e 21 de fevereiro, juntou uma equipe que conta com Bruno Secco (Bayern de Munique), Matheus Souza (Besiktas), József Bozsik (Chelsea), Gabriel Corrêa (Barcelona), André Andrade (Sevilla), Lucas Filus (Manchester United), Higor Leonardo (Shakhtar Donetsk) e Mairon Rodrigues (Roma).

Os duelos tem o forte Bayern contra o surpreendente Besiktas de Talisca, Quaresma, Pepe e cia. Um clássico europeu entre o Chelsea de Conte versus o mutante Barcelona de Ernesto Valverde. José Mourinho está de volta ao mata-mata da UCL enfrenta o Sevilla de Montella. Por fim, o Shakhtar Donetsk de Taison, Bernard, Fred e do técnico português Paulo Fonseca se depara com a Roma do goleiro Alisson num duelo aberto.

(Leia também: “Guia das Oitavas de Final da UCL – Parte I”)


Bayern x Besiktas

BAYERN

Por @BrunoSec

Quem acompanha o Bayern percebe que o clube sofreu mudança profunda na sua forma de jogar da pré-temporada para cá. Não é exagero dizer que nestes oito meses chegamos a ver dois tipos de Bayern em campo. O primeiro deles, então comandado por Carlo Ancelotti, era uma verdadeira bagunça: sem qualquer organização e com padrão de jogo totalmente ausente, o clube foi motivo de chacota e ganhou descrédito considerável no período preparatório que corresponde aos meses de junho, julho e agosto.

A preparação para 2017/2018 foi um verdadeiro fiasco e provou ter sido um belo tempo perdido. O que mais preocupou o torcedor naquele época, no entanto, nem foram as cinco derrotas em seis jogos disputados, mas sim a passividade da diretoria diante de problemas óbvios. Embora uma possível demissão de Ancelotti ainda fosse pouco cogitada, dado o retrospecto até bastante tolerante do clube com treinadores neste século, trazer reforços parecia ser a única forma de lhe dar alguma sobrevida à frente do Gigante da Baviera.

Ancelotti pouco se manifestava a respeito de reforços, o que passava um certo ar passivo ao torcedor, um ar acomodado, que inevitavelmente causou certo incômodo. A torcida, por sua vez, pedia um nome de impacto a Hoeness e Rummenigge, não apenas por necessidade de precisar de alguém renomado para um de seus setores mais fragilizados (a ponta-esquerda e a reserva de Lewandowski), como também para recuperar o prestígio com a mídia após a fraquíssima pré-temporada. A resposta da diretoria foi boa: James Rodrigues acabou sendo a tão aguardada contratação de peso. Uma contratação que com o tempo provou-se ainda mais certeira, apesar de não atender as expectativas anteriormente alimentadas para os dois setores carentes supracitados. Para Ancelotti, por incrível que pareça, pouco fez diferença, apesar de já terem trabalhado juntos no Real Madrid. O treinador não empolgou, o futebol do Bayern não decolou e sua iminente queda foi consolidada após a derrota por 3 a 0 para o PSG em Paris.

Explicar todos estes eventos, até a demissão do treinador italiano, é fundamental para entender a atual postura do Bayern. Foi a partir da queda de Carlos que este Bayern de hoje, respeitado, com credibilidade e candidato ao título desta edição da Champions, começou a surgir. Com quase três meses de atraso e sem qualquer planejamento, é verdade, mas o futebol acaba tendo dessas. Jupp Heynckes foi convencido a largar a aposentadoria, voltou a comandar o clube em que sagrou-se campeão da liga milionária e, jogo após jogo, sempre com a pressão do resultado fazendo marcação cerrada, o veterano devolveu o bom futebol e fez jogadores antes questionados, como Thomas Müller, voltarem a render o que sabiam.

Jupp Heynckes está de volta a sua casa, onde conquistou a Tríplice Coroa
Jupp Heynckes está de volta a sua casa, onde conquistou a Tríplice Coroa

Heynckes nunca foi orgulhoso. Sempre foi conhecido como alguém que respeita sua filosofia a risca, mas também mescla seu conhecimento com o que o plantel tem de positivo, somando assim estes fatores para se ter um denominador comum ainda mais poderoso. Ancelotti não deixou qualquer legado tático, o que foi uma grande decepção. Mas Guardiola deixou muitas coisas boas na Baviera. Não somente no sentido de aproveitar jogadores de determinada posição em outros setores, mas também nos conceitos e na forma ofensiva de jogar. Heynckes voltou ao Bayern com seu costumeiro 4-2-3-1, mas que ao longo da partida sofre variáveis mutações dependendo da postura adversária. O 4-1-4-1 e o 4-3-3, legados de Pep, são costumeiros ao longo de determinados momentos de cada partida, quando não começam o jogo como esquema base. Fato é que a postura do Bayern em si nunca é consolidada, e os números acabam sendo meros detalhes.

James Rodrigues, antes contratado para suprir a carência da torcida por um nome de peso e também ajudar Ancelotti a se reerguer no comando técnico do clube, acabou decolando mesmo sob comando de Heynckes. O colombiano não apenas tornou-se parte vital deste elenco bávaro como também é dito por muitos, e também por este que vos escreve, como o principal jogador do Bayern na temporada. James é incansável: volta para marcar, ajuda na distribuição do jogo, constrói jogadas, dá assistências, aparece bem no ataque e ainda marca seus gols. Pró-atividade é seu forte, junto com a técnica que por muitos é conhecida desde a Copa do Mundo do Brasil.

James foi a contratação de peso da temporada e não tem decepcionado até o momento
James foi a contratação de peso da temporada e não tem decepcionado até o momento

Vale citar também Müller, Robben, Kimmich e Coman, além de Lewandowski, como jogadores extremamente importantes para o Bayern nesta reta decisiva da Champions League. Müller por ter conseguido recuperar seu bom futebol desde que Heynckes reassumiu o Bayern, fazendo assim com que voltasse a ser importante na armação de jogadas, assistências e gols – feliz coincidência isso acontecer num ano tão importante como este, de Copa do Mundo, e com um recorde de gols possível de ser batido por ele à vista.

Robben, quanto mais velho tem ficado, melhor tem jogado. O holandês deixou mesmo aquela rotina de lesões para trás e segue tendo enorme importância no lado direito do Bayern, que com o excepcional Kimmich passou longe de ter qualquer perda técnica desde a aposentadoria de Lahm (uma enorme surpresa, por sinal). Coman tem surpreendido a cada oportunidade que tem ganhado de Jupp. A ponta-esquerda se tornou um setor deficiente desde que Ribery passou a ser presença certa no Departamento Médico do clube e Douglas Costa começou a cair de produção até sair da Baviera. Agora, quase um ano depois, finalmente temos visto alguém que, junto com Alaba, tem feito este lado do campo ser tão criativo e rápido como o oposto. Grata surpresa, já que poucos apostavam suas fichas em Kingsley. No ataque, pouca surpresa: Lewandowski segue sendo perigoso e letal, e sempre será uma ameaça às defesas adversárias. O polonês ganhou motivação extra nessa última janela de verão, já que o Bayern finalmente contratou alguém para lhe fazer sombra: Sandro Wagner – que embora passe longe de ter sua qualidade técnica, é suficiente para fazer com que não se acomode.

Quanto ao ponto fraco deste Bayern de Heynckes, é mesmo a defesa, o que em sua última passagem era uma das suas principais armas. Neste ano de 2018 já foram disputados seis jogos oficiais e, embora o ataque compense bastante, com 22 gols anotados, a defesa acabou sofrendo seis gols, o que em média confere um por jogo. Claro que nunca será um grande problema você sofrer um tento se antes tiver marcado três, mas esta é uma deficiência que precisa ser registrada. Seria injusto culpar Ulreich por esta média de gols sofridos, mas é sempre bom lembrar que desde o começo da temporada é ele quem tem a grande responsabilidade de cuidar das metas do Bayern, já que Manuel Neuer segue em sua infindável recuperação da fratura no pé esquerdo.

BESIKTAS

Por @MatheusESouza

O Besiktas foi uma das surpresas positivas da fase de grupos da Liga dos Campeões nesta temporada. Não por acaso, o time turco liderou um grupo com fortes concorrentes em uma das disputas mais parelhas da competição: o Mônaco do excelente treinador Leonardo Jardim, o renovado time do Porto e o forte RB Leipzig, em constante ascensão no futebol europeu, foram vítimas do conjunto letal de Istambul.

Dotados de uma agressividade muito grande, os comandados de Senol Günes trazem um repertório ofensivo destacável. Na fase anterior, com o artilheiro Cenk Tosun na referência, era comum ver os ataques do Besiktas em constante movimento, com o centroavante deixando a área e outros jogadores – especialmente o brasileiro Anderson Talisca – infiltrando para finalizar. Não à toa, o meia tem sido destaque no número de gols marcados. Com a saída de Tosun para o Everton, Talisca se tornou o grande artilheiro do time na temporada: foram quatro gols marcados nas seis partidas da Champions, além de outros dez nas competições nacionais. Pela maneira constante em marcar e o repertório de finalizações, o camisa 94 certamente será um dos grandes argumentos para assustar o Bayern: além de ser ótimo “achando” gols dentro da área, também é um exímio cobrador de faltas e finaliza muito bem de média/longa distância. O então lesionado goleiro Manuel Neuer já o conhece e testemunhou uma cobrança magistral do ex-Bahia, em 2016.

O momento ofensivo do Besiktas
O momento ofensivo do Besiktas

Na construção, dá para dizer que o Besiktas é uma equipe que mescla volume de jogo em passes curtos ou ligações diretas, especialmente pelas ótimas opções de jogada individual pelos dois lados do campo – Quaresma à direita e Babel à esquerda são capazes de provocar um verdadeiro caos frente aos seus marcadores nesse sentido. Ainda que, em alguns momentos, falte circulação e continuidade no jogo de toques mais curtos, a equipe de Günes possui a melhor média de posse de bola por jogo (57,6%) e é a segunda equipe que mais troca passes por partida (455 contra 516 do líder no quesito, Istambul Basaksehir) no Campeonato Turco. Muito dessa capacidade de rodar a bola se dá pela boa capacidade passadora dos zagueiros Pepe e Medel – ambos já atuaram como volantes em momentos da carreira -, do experiente volante Hutchinson, quase sempre como ponto de apoio aos defensores, e do meio-campista turco Ozyakup, geralmente mais próximo da base das jogadas para dar verticalidade, mas também escalado como “10”, mais próximo dos atacantes, em momentos de maior possibilidade de fluidez, posse e criação por meio dos passes e não necessariamente de um modo mais direto.

Mesmo variando entre duas maneiras de atacar, o que deve ser visto, independente da maneira utilizada na ocasião, é um time bem agudo com os seus dois pontas na tentativa de quebrar a defesa do Bayern por meio de individualidades. Bem como foi nas partidas da fase de grupos da Champions, Quaresma e Babel seguem como criadores de oportunidades e o ataque continua interligado por seus velocistas. A dúvida, no entanto, é referente a quem “herda” a vaga de Cenk Tosun. Recém-contratado, Vágner Love tem entrado gradativamente na equipe e deixou boa impressão nos minutos que lhe foram concedidos. Além da grande primeira metade de temporada com o Alanyaspor (11 gols marcados em 16 jogos, somados a atuações destacáveis no campeonato nacional), que o credenciou a subir de patamar e ser contratado pelo Besiktas em janeiro, o brasileiro deve fazer grande disputa com Álvaro Negredo, centroavante que desde agosto tem dificuldades para impressionar como atacante de referência da equipe.

Diante de um adversário tão forte e de muito repertório como o Bayern, o sistema defensivo certamente será o ponto mais exigido nos 180 minutos (no mínimo) de confronto. Os alemães geralmente dominam as partidas e mantêm a posse da bola e a ocupação no campo contrário, o que atrapalha bastante a proposta do Besiktas. Com as dificuldades mostradas quanto a proteger seu campo de defesa e não abrir espaços para o rival, os turcos terão uma prova de fogo que pode evidenciar problemas já vistos. Principalmente nos jogos finais da fase de grupos, em que já estava garantida a classificação da equipe com duas rodadas de antecedência, ficou nítido que a rapidez em subir a marcação e tentar ser rápido na retomada deixou muitas lacunas atrás.

Momento defensivo do Besiktas
Momento defensivo do Besiktas

Em momentos prévios, já foi visto que a dupla Pepe-Medel/Tosic pode deixar a desejar nessas subidas para combater o atacante rival, especialmente tratando-se de Lewandowski, que domina tão bem seus espaços. A maior preocupação do time precisa ser na proteção dos espaços e na organização da sua defesa, o ponto mais fraco da equipe até aqui. O dado fica ainda mais alarmante quando analisamos toda a temporada: em 24 dos 34 jogos (pouco mais de 70% das partidas), os comandados de Günes sofreram gols. Na Champions, é mais alarmante ainda: mesmo invicto no torneio, o time alvinegro teve sua defesa vazada em cinco dos seis jogos disputados.

Chelsea x Barcelona

CHELSEA

Por @Jozsef_Bozsik

Na temporada passada, o Chelsea de Conte apareceu como uma das grandes surpresas da Europa, trazendo como novidade o resgate do 3-4-3 como esquema base, o que lhe permitia atacar no 3-2-5 ou 2-3-5 (dependendo dos movimentos do “zagueiro-armador” Azpilicueta), e defender entre o 5-4-1 e o 5-2-2-1. Na fase ofensiva, os alas (Moses e Alonso) se tornavam pontas e os meia-atacantes (Hazard e Pedro) atacavam como os pontas-de-lança de antigamente, buscando estar entre a primeira e a segunda linha defensiva dos adversários, ou seja, nas costas dos volantes. Na fase defensiva, a primeira linha de 5 permitia vários balanços, com os alas marcando mais abertos do que na linha de 4, o que facilitava as transições dos homens de lado, como Hazard e Pedro, cobrindo menos metros por não precisarem defender tão abertos.

O que muitos achavam ser uma tendência que construiria uma era, como se a história da tática do futebol fosse um organismo com uma evolução linear e cumulativa, mostrou-se – como todos os outros sistemas – específico às características dos seus jogadores. E o peso da ausência de Diego Costa se fez sentir desde o começo.

Em primeiro lugar, a defesa em 5-2-2-1 costuma deixar o time muito espaçado. Na final da Copa das Confederações, sofrendo bastante no início do jogo para ter o controle dos espaços, a Alemanha teve que mudar rapidamente para o 5-4-1, alinhando Stindl e Draxler à dupla de volantes. Solução perfeita? Não. No futebol, sempre há perdas e ganhos. Defender em 5-4-1 significa estar alinhado em três linhas defensivas, mas com nove homens (5-4) começando as transições alguns metros mais recuados para a transição ofensiva. O 4-1-4-1, por exemplo, composto de quatro linhas defensivas, e com essa segunda linha de quatro mais à frente, facilita a pressão na saída de bola adversária.

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Chelsea defendendo em 532, com o ala-esquerdo saindo da linha de 5 para pressionar o homem de lado.

Aqui, entra o papel fundamental de Diego Costa. O brasileiro é de elite executando a função de pivô. Começando, por vezes, com muitos jogadores numa posição mais recuada no 5-4-1, Diego era fundamental para receber a bola longa, segurá-la um pouco, optando pelo ataque aos espaços de Hazard e Pedro ou pela segurança ao agrupar a equipe. O seu pivô era um fundamento tático para as transições ofensivas quando não havia uma saída rápida e segura por baixo.

Em segundo lugar, estabelecido no campo adversário, o Chelsea tinha dificuldades para gerar jogo interior com apenas dois volantes por dentro, e dependendo da chegada de um zagueiro, especialmente Azpilicueta, para construir o jogo de frente para os volantes. Essas dificuldades em gerar jogo no 3-2-5 na temporada passada, passava despercebido pelo jogo forte pelos lados do campo e também pelo pivô de Diego Costa, uma garantia na área, que facilitava as definições de Hazard e Pedro na segunda bola, e as infiltrações de Alonso. Assim, mesmo tendo em Hazard o seu jogador mais desequilibrante, o pivô de Diego Costa era essencial para o funcionamento do 3-4-3, potencializando o jogo de Moses, Alonso, Azpilicueta, David Luiz, Kanté, Hazard e Pedro.

A nova temporada começou e Diego Costa se foi. No seu lugar, outro espanhol, Álvaro Morata. No entanto, o ex-centroavante do Real Madrid não é um grande pivô, mas tem como seu forte a busca por desmarques, rompendo o contato com os zagueiros e aspirando a movimentação que facilite a enfiada de bola por trás da zaga. Além disso, é um excelente cabeceador. Sem o pivô de Diego, mas com os desmarques de Morata, defender em 5-4-1 dificultava a transição ofensiva. Do mesmo modo, o Chelsea não conseguia ter controle do jogo e criar jogo interior para Hazard e Pedro, mesmo com um bom início de temporada de Fàbregas.

Os primeiros resultados foram ruins, com a derrota na Supercopa para o Arsenal e na primeira rodada para o Burnley. No jogo seguinte, fora de casa contra o Tottenham, Conte já trouxe o 5-3-2. O trio de meio era formado por David Luiz, Kanté e Bakayoko, com o brasileiro sendo importante no pressing (uma pressão coletiva e coordenada de todos os jogadores após a perda da posse de bola), com Willian e Morata mais à frente. O Chelsea defendia no 5-3-2 e atacava no 3-3-4. Vitória por 2 a 1.

De início, quando o Chelsea recupera a bola não terá apenas o 9 bem a frente da linha da bola, mas dois ótimos jogadores em desmarques e atacando espaços, como Hazard e Morata. O que voltou a facilitar as transições ofensivas. No entanto, no 5-3-2, a equipe inglesa também tem sofrido com a espessura das compensações dos três de meio e dos alas, com adversários dominando o jogo entrelinhas, nas costas de Kanté, Fàbregas e Bakayoko. No ataque, posicionalmente, há mais jogo interior. Kanté é um motor, fundamental para a retomada pós-perda, Bakayoko ajuda com infiltrações, e Cesc controla o jogo, dando ritmo a troca de passes. Além desses três na base da jogada, Azpilicueta se junta a eles como quarto elemento. Deste modo, a equipe ataca muitas vezes num 2-4-4, com Hazard e Morata por dentro, buscando verticalizar as jogadas no terço final. Dominar o jogo interior tem sido fundamental na Champions League dessa década, como podemos perceber pelo ciclo do Barcelona com Busquets, Xavi, Iniesta e Messi, e do Real Madrid com Casemiro, Modric, Kroos e Isco (ou Bale).

Desde então, Conte variou o seu sistema. Em jogos onde o time teria mais a bola, apostou nos mecanismos do 3-4-3, principalmente com Hazard, Willian e Pedro juntos, com intensa movimentação. Entre dezembro e janeiro, essa formação se destacou pela ótima forma do belga e do brasileiro. Mas, nos “jogos grandes” (City, Liverpool, Tottenham, etc.), que exigiam variação entre pressão e contenção, estar com e sem a bola, preferiu os novos mecanismos do 5-3-2. Na Champions, jogou duas vezes contra o Qarabag no 3-4-3. Já contra o Atlético de Madrid e a Roma em casa, optou pelo 5-3-2. Quando enfrentou novamente a Roma, mas fora de casa, no 3-4-3, perdeu por 3 a 0. Dali em diante, o 5-3-2 tornou-se ainda mais fixo para os “jogos grandes”, com Kanté, Bakayoko e Cesc por dentro, Hazard e Morata mais a frente. Para ter mais versatilidade, buscou um “9 pivô” na janela de inverno e o encontrou no francês Giroud. Com ele e pela má fase de Morata e Bakayoko, talvez, Conte aposte novamente no 3-4-3 num jogo grande de Champions, mas o que parece mais provável neste momento é o uso do 5-3-2.

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Chelsea atacando com os zagueiros fazendo a saída na altura de Kanté, os alas abertos, e Hazard e Morata entrelinhas.

A primeira preocupação para o confronto contra o Barcelona é proteger as costas dos volantes da ação de Messi. O Barcelona de Valverde costuma jogar num 4-4-2, atacando numa espécie de 2-4-4, com Messi entrelinhas, Suárez buscando os desmarques, Alba aberto na esquerda e um lateral ou ponta (Dembele ou Vidal) aberto na direita. Na base da jogada, da esquerda para direita: Iniesta, Busquets, Rakitic e Sergi Roberto ou um armador que comece pela direita (André Gomes ou Rakitic com Paulinho por dentro). Deste modo, há sempre 4 jogadores na base da jogada, para segurar a posse e circular a bola, e sempre bem posicionados para pressionar após a perda, dando ampla liberdade para Messi encontrar o seu espaço entrelinhas e acelerar de frente para (e perto do) gol. Para conter o dano do argentino, é preciso cortar a linha de passes, mas chegando a bola deve haver alguém bem posicionado para a pressão no dez blaugrana. Talvez, Conte opte por sacar Bakayoko, colocando Kanté como armador pela direita para pressionar na zona de Iniesta, centralizando alguém como Drinkwater para cuidar da “zona Messi”.

A segunda será conter a ligação de Messi para Alba, com Moses ou Zappacosta tendo grande atenção para a invertida de bola nas suas costas. A terceira é dominar Suárez, caso contrário, as suas rupturas serão fatais como foram contra o Valência na Copa do Rey. Azpilicueta será fundamental, mas talvez precise ser menos armador com a bola para conceder menos espaços.

Por fim, uma preocupação mais global e tão séria quanto as outras, é escapar do pressing do Barcelona que costuma dominar o jogo junto com o controle do tempo na circulação de bola. Aqui, um 9 pivô seria de grande valia até para a possibilidade de um jogo mais direto na transição ofensiva.

O Chelsea deve conceder a posse de bola ao Barcelona, fazendo uma pressão média como fez o Getafe de Bordalás no último domingo, buscando neutralizar os seus pontos fortes, e apostar, sobretudo, em Eden Hazard para atacar o espaço entre Sergi Roberto e Piqué, por onde já se viu várias fissuras durante a temporada. Seja no 5-3-2 ou no 3-4-3, o belga será sempre a melhor opção de Conte.

 

BARCELONA

Por @_GabrielCorrea

Quando se iniciou a temporada 2017/18 e a derrota na SuperCopa da Espanha para o Real Madrid, nenhum torcedor imaginaria que o Barcelona estaria sendo tão consistente neste momento da temporada. Invicto em La Liga, há um projeto muito interessante sendo montado na Catalunha. A saída de Neymar poderia ter deixado uma lacuna na ponta esquerda, mas não é o que se vê até o momento. Esqueça aquele time baseado no MSN e sem poder de dominação contra os adversários, agora voltasse o protagonismo ao meio e a busca por um Lionel Messi cada vez mais próximo do gol.

Os mecanismos do Barcelona são ofensivos e, ao mesmo tempo, defensivos. Isso porque o time de Ernesto Valverde ataca sempre com pelo menos quatro jogadores na base da jogada – e esse tem sido um problema para adaptação de Coutinho – com Messi nas entrelinhas e Suárez buscando se desmarcar como 9. O que isso significa exatamente? Vamos por partes.

Nas laterais, Jordi Alba é um ponta esquerda na fase de ataque. O grande parceiro de Lionel Messi busca sempre amplitude e profundidade para o cruzamento em busca do argentino, após sempre receber passe do mesmo (a conexão Messi-Alba pode ser vista no vídeo abaixo). Na direita, Sergi Roberto dá profundidade se o meia direita for um meio-campista (Paulinho ou André Gomes) ou participa da base da jogada se Valverde escolher por algum ponta (Dembélé ou Aleix Vidal).

Como funciona a base da jogada do Barcelona. Iniesta, Rakitic, Busquets e Sergi Roberto atuam na mesma linha, com o Barcelona estando numa espécie de 2-4-4. Isso beneficia a pressão pós-perda do clube catalão a partir do momento que sempre há jogadores próximos da jogada e, também, tranquiliza na necessidade de iniciar um lance mais uma vez ao voltar a bola ao meio campo.

Ainda pelo centro do campo, é preciso fazer elogios a dupla Sérgio Busquets e Iván Rakitic. Ambos vivem seus melhores momentos com a camiseta culé. O primeiro, senhor do tempo e controle de jogo, não está mais sobrecarregado pois tem o croata ao seu lado para inverter posição, subir mais o campo para marcar alto ou diminuir o ritmo da partida através de passes curtos. O camisa 4 por sinal que deixou de ser um “compensador” dos espaços deixados por Messi quando atuava na ponta direita para ter total influência no meio de campo, sendo um dos jogadores que mais troca passes junto ao camisa 5.

No ataque, Lionel Messi é o início e fim do sistema. Atuando por dentro, sempre buscando a entrelinha, o argentino está mais próximo do gol e pode tanto assistir seus companheiros como definir o lance. É uma das temporadas mais completas do camisa 10. Mais a frente, Suárez parte um pouco mais a esquerda neste 4-4-2, sempre em busca do desmarque ao adversário. A grande notícia para Valverde neste momento é a fase goleadora do uruguaio que voltou.

Os mecanismos do Barcelona são claros e variam apenas com a escolha das peças pelo lado direito.
Os mecanismos do Barcelona são claros e variam apenas com a escolha das peças pelo lado direito.

Defensivamente, precisamos falar de Marc-André ter Stegen e Samuel Umtiti. O alemão é o melhor goleiro da temporada ao lado de David De Gea. Diferente do espanhol, Ter Stegen tem se mostrado soberano embaixo das traves, mas fundamental na criação de jogo. Seu entendimento com a bola faz com que os adversários sempre tenham uma dúvida: marcar o goleiro e deixar um homem livre ou permitir que o camisa 1 avance e possa quebrar linhas de marcação? Quanto ao zagueiro francês, sua força física, poder de recuperação e qualidade para achar companheiros livres o tornam, também, um dos melhores jogadores na temporada europeia. O equilíbrio promovido pelo Txingurri (“Formiga”, apelido de Valverde) deixou o time mais sólido e consistente atrás.

Para enfrentar o Chelsea, Valverde pode optar por Paulinho e ganhar mais músculos no meio de campo no confronto com Kanté-Bakayoko. A grande preocupação deve estar no lado direito de defesa. Apesar de todo aporte ofensivo que Sergi Roberto dá ao time, quando o canterano enfrenta pontas de elite, tem sofrido bastante.

Um outro problema – e também envolve o lado direito – é Marcos Alonso. Caso o espanhol se recupera da lesão que o tirou dos últimos dois jogos do Chelsea, será uma arma que o Barcelona precisará conter. Com muita força física, Alonso tem se destacada por suas infiltrações partindo do lado esquerdo para o centro da área. Sergi Roberto precisará cuidar deste ponto e Valverde está atento a isso.

Sevilla x United

SEVILLA

Por @PepGenius

O Sevilla em 2018 está renascendo, com um novo técnico, Vincenzo Montella e um novo espírito de grupo que se pode ver em campo, bem diferente das conturbações com Berizzo.

Claro que ainda se adaptando as ideias de seu novo treinador e com um pouco de inconstância nos resultados, mas o Sevilla já se mostra novamente uma equipe competitiva, que se defende agora de forma mais compacta, pode utilizar de várias plataformas de jogo e busca principalmente a incorporação de meio-campistas que possam fazer o lado, mas também pensar o jogo e ocupar o espaço central no terço-final do campo e exploração profunda dos laterais, principalmente Escudero que vive uma fase excepcional pela esquerda, somam-se a esses fatores a reincorporação de NZonzi ao lado de Banega, o homem que comanda o show no meio campo e no time e se tem um time muito diferente do Sevilla do ano passado.

Ao lado do reincorporado e eficiente Nzonzi, Banega é o ‘“epicentro’’ do time que controla todas as saídas de bolas, os passes entre-linhas, passes para abrir o jogo, é o cérebro do time e peça fundamental também nas bolas paradas onde o Sevilla também leva muito perigo por contar com cabeceadores bons(os zagueiros, Ben Yedder, Vazquez entre outros jogadores). Outra característica marcante no Sevilla de Montella é a posse de bola mais vertical e com objetivos mais claros, além da utilização de muitas ações combinativas pelos flancos, dos dois lados, mas principalmente na esquerda com Escudero que muitas vezes chega até a linha de fundo ou até a área adversária e leva muito perigo com chutes/cruzamentos e uso também dos extremos/meias-atacantes.

O time vem alterando geralmente entre uma plataforma de 4-4-2 e 4-2-3-1, tais configurações permitiram ao treinador italiana apertar as teclas certas no time e aumentar o rendimento de vários jogadores de uma forma benéfica ao coletivo, além de permitir momentos onde o time realiza uma pressão alta na saída do adversário em 4-4-2 com linhas bem definidas ou realizam a recomposição e defendem em bloco médio como percebido no Derby contra o Bétis de Quique Setién.

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Sevilla de Montella tem exercercido uma pressão média com intensidade, como observamos no clássico pela La Liga

Para o confronto da Champions League, o elenco já de boa qualidade(Lenglet, Mercado, Escudero, Banega, Nzonzi, Correa, Vazquez, Yedder, Nolito, Jesus Navas e por ai vai…. Detalhe: com o brasileiro PH Ganso FORA da lista pra UCL) conta com os reforços de Roque Mesa, Arana e Sandro. Esse é outro ponto a se notar no time, o elenco qualificado permite muitas variações nas peças e na tática da equipe. Sarabia é uma grata surpresa com Montella, tem jogado muito , assim como Correa que tem assumido a vaga na outra ponta e tem ido bem, mesclando posições por fora e por dentro.

As conexões do Sevilla de Montella parecem cada vez mais estarem evoluindo e aumentando, porém existem pontos fracos a serem corrigidos e que podem ser explorados pelo time de José Mourinho, a lateral-direita do time parece ser um sério problema, com Corchia atuando muito mal no jogo contra o Betis, sofrendo dois gols no setor e ultimamente, em alguns jogos a utilização de Jesus Navas na posição, sendo que o jogador não parece ter a minima capacidade de defender. Com os laterais subindo constantemente,o espaço atrás deles pode ser um sério problema se não houver coordenação e coberturas adequadas. O time também tem demonstrado dificuldade com passes entrelinhas, jogadas de velocidade do time adversário e no momento da transição defensiva(após perder a bola).

O Sevilla de Montella está se ajustando e por enquanto, de cara nova vai muito bem (eliminando o Atletico de Madrid da Copa do Rey) e com muitas peças que permitem diferentes interações e configurações, sendo imperativo uma fixação nos problemas defensivos. Para o jogo da Champions League, onde Mourinho reconhecidamente geralmente usa o ‘Park the Bus’ e se fecha atrás, será necessário muita inteligência tática, ocupação e uso correto dos espaços para potencializar as qualidades dos jogadores. Acredito que os pontos chaves para o confronto serão: conseguir ter uma atuação sólida na defesa, dominar o meio-campo , alteração em momento e intensidade e saber a forma correta de se pressionar alto(o United sentiu dificuldades contra o Tottenham) e com linha média, além de grande mobilidade dos jogadores na parte ofensiva do campo no momento de posse e as bolas paradas também podem acabar marcando a diferença no confronto. Será um confronto aberto e interessante onde a julgar pelos momentos atuais dos dois clubes, qualquer um tem chances de passar e a eliminatória passa muito pela atuação e resultado no 1º jogo na Espanha.

 

MANCHESTER UNITED

Por @FilusLucas

O Manchester United vive um gigante ponto de interrogação entre técnico, jogadores e a expectativa vinda de fora. As filosofias de Mourinho e aquilo que está enraizado no clube não batem completamente e, por certa debilidade do treinador, isso gerou uma confusão sobre o real estilo do conjunto. De qualquer forma, o desempenho no geral é bom e com três deslizes a menos os red devils estariam na cola do City na Premier League. Dentro de campo, o português organiza suas peças de acordo com as circunstâncias.

Em termos de formação, nesta temporada já vimos o 4-2-3-1 (22x), 4-3-3 (4x), 3-4-1-2 (4) e 3-4-2-1 (2x). A ironia é que o sistema mais utilizado gera a maior quantidade de questionamentos, englobando praticamente todos os setores – menos a última linha da defesa, sólida mesmo sem tanta proteção e com nomes duvidosos (ignorando De Gea). A equipe tenta jogar de forma expansiva, normalmente com vários atletas talentosos juntos e forçando vitórias através da qualidade individual. O maior exemplo disso é Paul Pogba, responsável por 9 assistências em 15 aparições no campeonato nacional.

É inegável o que o francês pode fazer e, sobretudo, vem fazendo na Inglaterra, mas seu posicionamento é alvo frequente de discussões. Sabemos que seus principais atributos são ligados ao desempenho ofensivo e, nesse sentido, ninguém pode reclamar. O problema começa quando a posse está com o adversário, expondo as deficiências do camisa 6 e a falta de noção por parte de Mou. Os times comandados por José costumam ter na espinha dorsal uma dupla de meias extremamente organizada e compacta.

Pogba e Matic ainda não conseguiram se tornar em pilares como um par, apenas particularmente. A função desenhada taticamente é a de um meia central, mas um é volante e o outro performa como um meia ofensivo (ou um interior – chegaremos lá em instantes). Na imagem abaixo, percebemos a exemplificação desse cenário – que não é isolado, sendo um padrão nessa esquisita estrutura. E provavelmente nunca veremos solidez nessa parceria, considerando o perfil do francês e sua evolução quase nula no aspecto defensivo.

Falta de coordenação do meio-campo deu ao Tottenham tudo que ele precisou para massacrar o United
Falta de coordenação do meio-campo deu ao Tottenham tudo que ele precisou para massacrar o United

O problema fica claro e as resoluções passam por diversas nuances. Existe a necessidade de ir ao mercado na próxima janela, com certeza, mas para o momento a formação é crucial. Até porque, no 4-3-3, as exibições costumam agradar. A mobilidade limitada do sérvio deixa de ser preocupação e Paul se coloca em zonas mais propícias para seu jogo indisciplinado e dinâmico. Qualquer um que entre para acompanhar os dois pode ajudar de maneiras distintas.

Com Herrera, o ganho (em tese) está na saída de bola mais qualificada – tirando a responsabilidade de Matic, apenas modesto nos passes – e a agressividade na pressão. Para momentos de maior contenção, Fellaini pode dar certa rigidez para o meio e bloquear oponentes com seu físico. A opção mais ousada é a utilização de Lingard por ali, tendo como ganho o entrosamento com Pogba e a manutenção dos seus serviços pelo centro (o inglês é o ‘10’ do 4-2-3-1 e, no 4-3-3, iria para o banco ou as pontas). No seguinte flagrante, podemos observar como idealmente funciona esse trio. Por fim, apesar – e através – desse meio-campo que precisa de uns ajustes, chegamos em um ataque de bom rendimento.

Diante do Everton, Pogba foi interior fez um de seus melhores jogos desde que chegou
Diante do Everton, Pogba foi interior fez um de seus melhores jogos desde que chegou

O ‘bom’ parte da própria capacidade individual dos atacantes e pontas, trazendo outras incertezas em relação ao processo do treinador. Como apontado por Hazard, o trabalho de Mou realmente parece fraco em relação a último terço do gramado. Ele não conseguiu criar artifícios para dar constância às tabelas entre os talentos ali presentes. Vários fazem ótimas temporadas, mas são parte de um bloco que vai chegando aos poucos e muitas vezes depende de momentos inspirados “soltos”. Do ponto de vista das combinações, o desenvolvimento é abaixo do esperado. A sorte é que Pogba, Sánchez, Martial e Lukaku conseguem produzir naturalmente e trazem o favoritismo para Manchester, independente de sistemas e estratégias.

Detalhados os setores, tudo isso culmina no que em um plano coletivo? No geral, se trata de uma equipe claramente qualificada, mas com fatores vulneráveis que podem ser cruciais em um mata-mata de Champions League. A responsabilidade nesse momento da campanha não está com os jogadores – que pouco vão se desenvolver em semanas, mas sim com o comandante. Mourinho precisa treinar e/ou fazer as mudanças necessárias no núcleo do seu time. Feito isso, o United pode surpreender com seu poderio ofensivo e a mente (se menos, ainda) inteligente do treinador português, dono de duas taças do torneio continental.

Shakhtar x Roma

SHAKHTAR DONETSK

Por @Higor10_OL

O caso de equipes do leste europeu que buscam competir em torneios de elite é paradigmático. Por causa de vários fatores, as exigências do próprio campeonato nacional estabelecem obrigações de dominar rivais através da posse de bola, enquanto para oferecer resistência em jogos continentais se torna necessário utilizar planos táticos reativos. A síntese do Shakhtar Donetsk é bastante específica indo nesta direção. Basicamente, a ideia principal de Paulo Fonseca está em criar um sistema ofensivo a partir do trabalho defensivo.

Para início de conversa, precisamos definir os mecanismos e meios dos ucranianos para alcançar a vaga entre as 16 melhores equipes do continente. Primeiramente, o ponto chave está na pressão média executada em campo inimigo. Este tipo de encaixe possui como objetivo final, unicamente, não tentar o desarme no primeiro passe adversário e buscar as recuperações após a recepção dos meio-campistas rivais. Neste cenário, o pressing normalmente conta com seis jogadores e posteriormente a intervenção defensiva, brasileiros como Taison, Bernard e Marlos transitam verticalmente em direção ao gol. Apesar de preferir adiantar suas linhas  para pressionar, o Shakhtar possui uma capacidade imensa em realizar uma saída de bola elaborada e direta, sempre buscando utilizar quatro jogadores para atrair, conservar e atacar os espaços vazios através das recepções de passe ao pé de Marlos, ganhando altura e contando com os movimentos de ruptura do argentino Facundo Ferreyra para agredir nos metros finais. Deste modo, Fred também é crucial somando passes, superando linhas contrárias e gerindo o jogo de forma pausada e criteriosa. O tema é que somando apenas 46% de possessão durante a fase de grupos da UEFA Champions League, os Hirnyky acumulam as maiores estatísticas de ações defensivas corretas da competição (53 em média) e adicionam um brutal índice de remates por jogo (11) levando em consideração o objetivo de não controlar a pelota em primeira instância.

Pressão média: dois jogadores em primeira altura apenas fechando campo de ação; outros quatro escalonados em mesma altura mordendo o passe dos meio-campistas e impedindo que o rival seja fluído e se estabeleça em campo inimigo.
Pressão média: dois jogadores em primeira altura apenas fechando campo de ação; outros quatro escalonados em mesma altura mordendo o passe dos meio-campistas e impedindo que o rival seja fluído e se estabeleça em campo inimigo.

Dito isto, o grande protagonista e maior favorecido dentro do sistema de pressões do treinador português é o meio-campista brasileiro Fred. Sem ir mais longe, o jogador revelado pelo Internacional é quem mais completa tackles (2.7), passes longos (6,7) e toques no esférico por jogo (123). Isto se trata de um claro reflexo de sua função na equipe: defendendo em posicional no segundo escalão da linha alta ucraniana, a predefinição do atleta está entre fechar linhas de passe, recuperar e aumentar o ritmo dos ataques, seja para conectar Marlos, seu maior sócio, ou somar chegadas à área desde a segunda linha.

Porém, além do gigante peso que possuem os tupiniquins no sistema, a virtude mais destacável do Shakhtar é a sua própria personalidade. Dentro disto, o triunfo por 2-1 contra o Napoli em casa pode ser apontado como uma representação do que foi dito. No que permite análise, Paulo Fonseca manteve as bases de pressionar em campo rival, entretanto, os encaixes foram realizadas em uma altura mais baixa. Com isto, a consequência foi menos agressividade após recuperar a posse, resultando em passes somados para tirar o ritmo altíssimo italiano e controlar as atividades da maneira mais cínica possível.

A grande debilidade (estrutural e não individual, diga-se): permitir espaços entre linhas.
A grande debilidade (estrutural e não individual, diga-se): permitir espaços entre linhas.

Após explicar a estrutura sistêmica, vamos ponderar algumas direções sobre o confronto contra a Roma. O que mais favorece a si próprio, sem dúvida alguma, é o nível de competitividade demonstrado contra dois dos adversários mais fortes do continente na temporada (Manchester City e Napoli), conseguindo derrotar ambos utilizando estratégias idênticas e mantendo a solidez mental sempre. Com a mesma pegada ofensiva mantida em âmbito nacional, onde a equipe executa o plano descrito como base, o número de 68 gols anotados em 2017-18 representa que a capacidade artilheira de seu ataque está produtiva, sendo que 9 destas anotações foram transformadas nos 6 jogos disputados no torneio de clubes mais importante do planeta. Ademais, o fato de possuir jogadores capazes de desequilibrar correndo em campo aberto e não precisando estar em superioridade posicional cria outra espécie de vantagem tática aos ucranianos, podendo pelear em várias coordenadas.

Em contrapartida, o lado mais preocupante é a tradicional falta de jogos durante os meses de dezembro e janeiro em países frios desta região da Europa. Dito isto, o Shakhtar não entra em campo oficialmente há quase sessenta dias, sendo sua última partida realizada contra o Zorya Luhansk, em uma derrota por 2-1 quando tiveram 3 jogadores expulsos. Em aspecto futebolístico, a grande barreira para duelar contra um time como a Roma será os cenários caóticos que os ucranianos costumam impor em seus jogos (o que claramente é pura consequência de pressionar em campo rival, ter a pressão superada ou transitar em poucos metros), contexto qual os italianos são acostumados pela própria tendência a desordem que seu estilo está direcionado.

 

ROMA

Por @Maiiron_

A Roma enfrentará um Shakhtar Donetsk enjoado nas oitavas da Champions League, mas ainda assim, é favorita. Com a afirmação de Alisson, Kolarov ter reencontrado a melhor forma, Nainggolan sendo o metrônomo do meio-campo e Dzeko fazendo de tudo na frente; a espinha dorsal dos Lobos é bem sólida.

Atualmente em quinto lugar no Calcio, é um time que está em remontagem. Monchi chegou do Sevilla com cheque em branco e em uma tacada se desfez de Leandro Paredes, pilar da equipe capitolina. Em contrapartida, trouxe Pellegrini, Kolarov, Gonalons, Karsdorp, Schick e Defrel e… bom, não foi tão legal assim. Sendo legal, os dois primeiros citados jogam bem. Pellegrini é um dos nomes da nova geração italiana e Kolarov é dono da lateral esquerda. Mas o time ainda sofre com a defesa, Fazio e Juan Jesus não se encaixam com Manolas; Perotti oscila demais e El Shaarawy é inconfiável. A partida contra o Chelsea, no Stamford Bridge, mostrou onde a Roma pode chegar. Tendo Dzeko saindo pra gerar apoio e linha de passe, Perotti saindo da ponta e vindo construir pra dentro; abrindo espaço pra progressão de Kolarov e Nainggolan abrindo espaço por dentro. É um time que tem o dinamismo e a mobilidade como seus pilares.

Mas darei início ao texto falando de suas fraquezas e a primeira é a transição defensiva.

A Roma, por ter a bola na maioria do tempo e espetar os laterais, deixa o meio campo vazio. Com Pellegrini ou Strootman trabalhando, se perde a bola fica com o time distante e com muito campo para correr na hora de recuperar. Esse gol sofrido contra o Chelsea é a prova do que ocorre volta e meia: transição lenta e com jogadores “abandonando” o retorno. Mesmo com igualdade, sofre o gol de Hazard.

Já em outro gol sofrido, um problema recorrente: a pressão na bola quando está perto do gol. O Chelsea gira a bola até achar um espaço pra cruzar e fazer o gol. Problema que ocorreu no último lance do jogo contra a Internazionale pelo campeonato italiano.

Agora falando das qualidades; Dzeko como citado acima é “o setor” da Roma no ataque, mas não só ele. Diego Perotti é soberbo tecnicamente e tem um “um pra um” muito forte. Nessa jogada contra o Chelsea, ele rasga a defesa com drible pra achar espaço na zona de finalização, mas não só isso: ele fecha da esquerda pro centro para Kolarov ter campo livre e cruzar.

Nainggolan é o metrônomo desse meio campo. Nessa pisada na área é o que acontece todo jogo: rompe a linha sem bola e invade a área. Seja pra combinar com Dzeko ou finalizar, é a dose de eletricidade da Roma.

Por fim; Dzeko participa demais da construção romanista. Faz pivô, liga os pontas que entram na diagonal, liga Nainggolan pisando na área e ainda faz seus gols. É uma faceta nova e que foi mostrada no comando de Eusebio Di Francesco.

 

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