Guia do futebol masculino na Olimpíada de Tokyo 2020: parte 2

Confira a continuação do Guia do futebol masculino com os grupos C e D, que no papel reúne seleções tradicionais e convocações muito fortes.

Dando continuidade ao Guia do futebol masculino na Olimpíada de Tokyo 2020, na segunda parte você encontrará tudo o que precisa saber sobre os grupos C e D, que, teoricamente, são os mais acirrados pelo nível das convocações e, especialmente, pelo chaveamento nos playoffs, haja vista que eles se enfrentam na próxima fase. Caso você não tenha lido a primeira parte e os grupos A e B, clique aqui.

Grupo C

Espanha

Embalada por uma convocação espantosamente forte para uma competição cujo prestígio fora diminuindo ao longo dos anos, a Espanha de Luís de la Fuente está disposta a repetir o sucesso das Olimpíadas de 1992, em Barcelona, que tinha Luís Enrique, atual treinador da seleção principal, e Pep Guardiola no elenco.

Com apenas dois jogadores acima dos 24 anos (Mikel Merino e Marco Asensio, ambos com 25), De la Fuente mesclou a lista de jogadores olímpicos com a da Euro Sub-21 de 2021, que parou na semifinal contra Portugal, com os convocados da edição de 2019 (Simón, Vallejo, Olmo, Ceballos, Oyarzabal, Merino, Soler, Mir). Vale ressaltar que o atual treinador dos olímpicos comandou as duas gerações.

Além dos pupilos, o treinador espanhol ainda vai contar com os reforços de Pau Torres e da nova prima-dona do futebol ibérico, o jovem Pedri (2002). Embora seja jovem e extremamente promissora, existem dois fatores que a Roja precisa ficar esperta nos jogos: a pressão da mídia espanhola por uma nova medalha de ouro e o desgaste físico de seus principais atletas, tanto dos que serviram a seleção na Euro quanto os que estiveram em campo pela sub-21. Apesar de favorita, a Espanha vai enfrentar a sempre perigosa Argentina e duas equipes fortes fisicamente (Egito e Austrália).

Argentina

O futebol argentino está em festa após a conquista da Copa América contra o Brasil, em pleno Maracanã, que culminou no primeiro título profissional de Lionel Messi pela Albiceleste. No entanto, engana-se quem pensa que as ambições argentinas para 2021 já acabaram. A Argentina é a única seleção com duas conquistas olímpicas com chances de igualar a Hungria, tricampeã dos jogos, nesta edição. A última conquista, em 2008, tinha Ángel Di Maria e um tal de Lionel Messi, que na época vestia na camisa 15, no elenco.

Ainda há espaço para mais uma coincidência. Fernando “Bocha” Batista, treinador da seleção olímpica em 2020/21, é irmão de Sérgio “Checho” Batista, que comandou a geração de Messi, Di Maria, Aguero e cia em 2008. Todavia, as expectativas da albiceleste atual, por mais que tenha um grande objetivo e algumas coincidências com o passado, são totalmente diferentes. Bocha, assim como outros treinadores, fora agraciado com uma chuva de “nãos” das equipes que detém os direitos sobre os jogadores.

Com apenas o goleiro Jeremías Ledesma, 28 anos, do Cádiz, como jogador acima da idade permitida, a Argentina está recheada de jogadores que atuam no futebol nacional, mas de equipes com “menor poder de veto” – que não pertencem a Boca, River, Racing e Independiente. Nomes de valor como Fausto Vera (2000/Argentinos Jrs), Tomás Belmonte (1998/Lanús), Martín Payero (1998/Banfield), Thiago Almada (2001/Vélez) e Pedro de la Vega (2001/Lanús) estarão presentes. Eles receberão a ajuda de outros nomes que estão em equipes menores da Europa e da MLS, como Facundo Medina (1999/Lens), Nehuén Pérez (2000/Atlético de Madrid), Claudio Bravo (1997/Portland Timbers), Alexis MacAllister (1998/Brighton), Ezequiel Barco (1999/Atlanta) e Adolfo Gaich (1999/CSKA). Pode ser um torneio de vitrine para vários desses nomes.

Egito

Após triunfar na Copa Africana de Nações Sub-23, em 2019, ao vencer a Costa do Marfim por 2×1 na prorrogação, o Egito voltou a conquistar um lugar nas Olimpíadas, que não disputava desde 2012. Sob o comando de Shawky Gharib, os Faraós conquistaram seu primeiro título na categoria, que entra em contraste com a dominância na versão principal, da qual eles são os maiores vencedores com sete títulos.

Com uma equipe forte fisicamente e veloz no último terço, o Egito contará com três reforços acima dos 24 anos de idade: Mohamed El Shenawy (32 anos/Al Ahly), Ahmed Hegazy (30 anos, ex-West Brom e atualmente no Al Ittihad) e Mahmoud Hamdi (26 anos/Zamalek). Obviamente, Mohamed Salah não foi liberado pelo Liverpool. Havia expectativa quanto a Mostafa Mohamed, 23 anos, artilheiro revelado pelo Zamalek, e peça chave na conquista da CAN Sub-23, mas o Galatasaray adquiriu os direitos do centroavante e não o liberou devido ao compromisso pela fase de qualificação da Champions League.

No entanto, Gharib ainda tem algumas cartas na manga para tentar surpreender no traiçoeiro Grupo C. Além da experiência dos três reforços citados, o treinador egípcio poderá contar com a eterna promessa Ramadan Sobhi (1997), que passou por algumas equipes inglesas no passado, porém, atualmente ele defende as cores do Pyramids. O extrema-esquerda, inclusive, fizera o gol do título sobre a Costa do Marfim aos 114 minutos de jogo. Na outra extrema encontra-se Abdel Rahman Magdy (1997), do Ismaily, que, assim como Sobhi, é um ponta alto e rápido (1,83m e 1,84m, respectivamente). A dupla deverá ser municiada por Nasser Maher (1997), do Al Ahly, um meia-armador de raciocínio rápido.

Austrália

Após duas Olimpíadas seguidas sem participar no futebol masculino, a Austrália está de volta a competição que costumava ser figurinha carimbada. Os Olyroos (forma abreviada de Olympic Kangaroos, os “Cangurus Olímpicos” em inglês) serão comandados por Graham Arnold, que também é o treinador da seleção principal, além de ter sido ex-jogador destacado no país. Arnold foi auxiliar da seleção principal por muitos anos, inclusive, de Guus Hiddink, cujo estilo o influenciou.

Apesar de ter sido o responsável por levar a seleção australiana para Pequim, em 2008, Arnold não teve vida fácil para quebrar a seca de dois anos, já que os Olyroos precisaram derrotar o Uzbequistão por 1×0 na disputa pelo terceiro lugar da Copa Asiática de Nações Sub-23, em 2020. O único jogador acima dos 24 anos convocado foi o centroavante Mitchell Duke, 30 anos, do Taawon-AS.

Os principais destaques da equipe que estará em Tóquio foram formados no futebol britânico. O goleiro Tom Glover (1997), do Melbourne City, é produto da academia do Tottenham e tem se destacado pela seleção. Também no setor defensivo, Harry Souttar (1998), do Stoke City, trocou a Escócia – onde nascera – pela terra dos cangurus, e com isso virou peça-chave tanto para a equipe principal como para os olímpicos. Mais jovem e com origem no Velho Continente, Caleb Watts (2002) nasceu na Inglaterra, mas está elegível pela Austrália devido a nacionalidade do pai. O meio-campista começou no Queens Park Rangers, mas o talento o levou para o Southampton, onde alterna entre a equipe reserva e principal.

Grupo D

Brasil

Atual campeão dos Jogos Olímpicos, o Brasil terá uma seleção bastante alternativa, porém, muito competitiva para encarar o grupo mais traiçoeiro de todos. Tolhido por várias negativas, André Jardine precisou aliar criatividade e contexto. Não é de hoje que a seleção olímpica possui um estilo de jogo específico, sendo pautado por elementos do Jogo de Posição, algo que afunila as possibilidades.

Por conta disso, a convocação de Daniel Alves, que assustou muita gente, faz sentido e torna-se necessária, pois o lateral-direito é uma das maiores referências nesse estilo de jogo. A opção por Santos, independente das atuações recentes pelo Athletico-PR, é a combinação do jogo com os pés e a predileção do treinador por jogadores experientes no setor defensivo, tal como Diego Carlos, zagueiro do Sevilla, que culmina como o terceiro reforço acima dos 24 anos de idade.

 A exigência e expectativa geradas sobre a seleção brasileira são justificadas também pela experiência de jogadores abaixo dos 24 anos, como Bruno Guimarães, Douglas Luiz, Richarlison, Antony, Malcom e Matheus Cunha, que disputam jogos grandes em ligas grandes da Europa. No entanto, vale a pena ficar de olho no desenvolvimento de jogadores jovens que atuam em solo brasileiro, como Abner, Arana, Nino, Gabriel Menino, Matheus Henrique e Claudinho, que naturalmente podem atrair olhares europeus. Outro ponto que pode ser muito positivo e servir de combustível para o Brasil é a recuperação do prestígio de jogadores que já estão no Velho Continente, mas que tiveram o progresso interrompido por conta de lesões sérias, como Gabriel Martinelli e Paulinho.

Alemanha

A Alemanha, uma das maiores potências do futebol mundial, dona dos mais diversos títulos, nunca foi campeã masculina de futebol nos Jogos Olímpicos quando esteve unificada. Nas Olimpíadas de Montreal, em 1976, quando o país ainda era dividido em dois, a Alemanha Oriental venceu a Polônia por 3×1 e ficou com a medalha de ouro. Como um país só, a Mannschaft chegou perto em 2016, quando perdera a final para o Brasil. No entanto, sob a batuta do papa-títulos Stefan Kuntz, a Alemanha pode sonhar com a honraria.

Mesmo com uma geração inferior a Brasil e Espanha, é prudente respeitar os alemães, pois o atual treinador já mostrou que consegue quebrar a banca. Kuntz levou a Alemanha para três finais consecutivas da Euro Sub-21, tendo vencido duas delas (2017 e 2021). Em ambas as ocasiões, os alemães não eram considerados favoritos, mas graças a engenhosidade do treinador, o triunfo aconteceu.

Entretanto, Kuntz sofrera do mesmo mal de Silvain Ripoll com as diversas negativas e mudanças de planos. A lista final exigiu uma manobra criativa, que ainda conta com os reforços experientes de Maximilian Arnold, 27 anos, do Wolsfburg, e de Max Kruse, 33 anos, do Union Berlin. Kuntz conseguiu manter a base defensiva com os zagueiros campeões da Euro Sub-21, Amos Pieper (1998) e Keven Schlotterback (1997), ele ainda recrutou o capitão Arne Maier (1999) da atual conquista e conseguiu chamar Nadiem Amiri (1996), que fora seu comandado no título de 2017.

Costa do Marfim

Vice-campeã da Copa de Nações Sub-23, em 2019, a seleção comandada por Soualiho Haidara possui um plantel com potencial para chocar o mundo no Grupo D. Reforçada com nomes de peso do futebol internacional, como Eric Bailly (27 anos, Manchester United), Franck Kessié (24 anos, Milan) e Max Gradel (33 anos, Sivasspor e ex-Leicester), os Elefantes ainda possuem uma geração muito promissora de atletas abaixo dos 24 anos de idade.

Além de Bailly, Haidara contará com a presença de outro jogador do Manchester United em seu elenco. O habilidoso Amad Diallo (2002), extrema dos Diabos Vermelhos, conseguiu a liberação para defender seu país num grupo realmente complicado. Podendo atuar dos dois lados do campo e com um menu de dribles estonteantes, Diallo será a arma ofensiva mais letal da Costa do Marfim em duelos contra os gigantes Brasil e Alemanha, além de encarregado em quebrar linhas contra a Arábia Saudita, que provavelmente selará o destino de alguém no “Grupo da Morte”.

Haidara está assegurado por jogadores decisivos em três áreas cruciais. Ele possui a liderança de Bailly na defesa, a técnica de Kessié no meio-campo e a imprevisibilidade de Diallo no ataque. Porém, os Elefantes ainda possuem jovens vindos de temporadas com alta minutagem em equipes tradicionais do futebol europeu, como Wilfried Singo (2000, Torino) e Eboue Kouassi (1997, Genk). Outro fator que implica no devido respeito aos marfinenses é a presença de jogadores “coadjuvantes” com experiência, como o volante Idrissa Doumbia (1998, Sporting), o centroavante Christian Kouamé (1997, Fiorentina), o veloz lateral-esquerdo Silas Gnaka (1998, Eupen) e o defensor Kouadio-Yves Dabila (1997, Lille).

Arábia Saudita

Vice-campeã da Copa Sub-23 da AFC, a Arábia Saudita estreará em Jogos Olímpicos na edição de Tóquio. Embora os Falcões Verdes passem a sensação de mistério devido a pouca visibilidade, a seleção dirigida por Saad Al-Shehri desfruta de um entrosamento valioso. Começando pelo próprio treinador, que passou por todos os escalões menores da Arábia Saudita, sendo responsável pela classificação do país para os playoffs do Mundial Sub-20, em 2017, quando fora eliminado pelo Uruguai, nas oitavas. Era Al-Shehri o comandante saudita da seleção que perdeu a referida final da Copa Sub-23 para a Coréia do Sul, em 2020, na prorrogação.

Para se ter noção do projeto de base saudita, cinco jogadores titulares na partida contra os sul-americanos pelas oitavas-de-final do Mundial Sub-20 estão na lista final de Al-Shehri: o goleiro Amin Al-Bukhari; o zagueiro Abdulelah Al-Amri; o lateral-direito Abdullah Tarmin; o volante – e capitão, na ocasião – Sami Al Naji; e o meia-ofensivo Ayman Al-Khulaif. Al-Amri deixou um gol e Al-Khulaif deixou uma assistência na competição. Aliás, esses cinco estiveram no plantel da equipe vice-campeã em 2020.

Dos 11 titulares que começaram a partida contra a Coréia do Sul, 7 estão na convocação que representará a Arábia Saudita: o goleiro Mohammed Al-Yami; o zagueiro Abdulbasit Hindi; o lateral-direito Saud Abdulhamid; o volante Ali Al-Hassan; o meia-ofensivo Abdulrahman Ghareeb; o extrema Khalid Al-Ghannam; e o centroavante Abdullah Al-Hamddan. Inclusive, atenção com o lateral Abdulhamid, pois trata-se de um jogador extremamente veloz e com ótimos cruzamentos. Al-Shehri também contará com três reforços veteranos, com Yasser Al-Shahrani; Salman Al-Faraj; e Salem Al-Dawsari. Os dois últimos jogaram a Copa do Mundo na Rússia e marcaram na vitória sobre o Egito por 2×1.

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