O que se espera de João Félix?
Como a presença e o desempenho de João Félix impacta diretamente nas últimas temporadas do Atleti? O que se esperava dele foi de fato visto dentro de campo? São perguntas que parecem simples, mas que demandam uma compreensão muito maior do que vimos dentro de campo.
![](https://footure.com.br/wp-content/uploads/2023/01/16265409953715.jpg)
Hoje podemos dizer que João Félix virou uma espécie de problema para o Atlético de Madrid. O jovem português teve desentendimentos com Diego Simeone, passou a ser um dos atacantes com menos minutos na atual temporada e isso ocasionou uma discussão sobre o que se deve levar em conta na hora da análise.
João chegou ao Atleti como substituto de Griezmann e por um valor consideravelmente alto. O investimento era notório, pelo status que um jovem chegava a um clube que nunca investiu dessa forma e por todo o potencial evidente desde a base no Benfica. Seu papel como ponta ou atacante era o que mais intrigava na sua adaptação dentro do ataque de Simeone, que sempre optou por jogar com 4-4-2, mas que se tornou mais aberto a novos esquemas nos últimos três anos – o que acabou por gerar muita discussão sobre o sistema reativo.
Lesões atrapalharam sua regularidade no começo e cortava qualquer ilusão gerada por conta de boas performances, ainda que em uma escala muito menor do que se imaginava. Conforme foi superando os aspectos físicos, João conseguiu voar. A temporada 2020/21, quando o Atleti vence a liga nacional pela segunda vez sob comando de Cholo, é o começo do que João Félix poderia significar durante sua construção como colchonero. Aqui temos a certeza que a criação da expectativa não chega perto do que é a superação da mesma.
![](https://footure.com.br/wp-content/uploads/2023/01/joao_felix.jpg_543116924.webp)
O camisa 7 vinha de desempenhos semanais espetaculares, ganhando jogos sozinho, fazendo gols como nunca e criando chances como sempre foi de sua característica no terço final. Ali o investimento se deu como certeiro. O jovem português construía sua linda história num primeiro título de expressão num clube como o Atleti, com um treinador tão significativo como Simeone e com uma torcida que abraça quem demonstra estar identificado com o clube.
Ainda que possa ser definido como craque antes mesmo de se consagrar como tal, João entregou tudo que se esperava de maneira racional. A abordagem dentro de campo finalmente se encaixou com tudo aquilo que Simeone pensa e tudo aquilo que o cholismo entrega. João nunca desistiu, até porque é um jogador inconformado com qualquer coisa que não seja vencer, e esse inconformismo é, de certa forma, excelente, traz a resiliência que é um dos motivos do cholismo vencer tanto, ainda que muitos discordem disso.
O grande problema vem quando isso tudo não significa mais nada. Experiência construída, um título nacional no bolso, mas agora um time sem nenhuma perspectiva de melhora no restante da temporada. O Atleti de Simeone se desmantelou de uma forma pouco vista desde que o argentino assumiu a função de treinador. Nada faz sentido. E nessa inconsistência coletiva, a necessidade do talento individual começou a gritar.
Na primeira metade da temporada, João faz partidas abaixo do ideal e não treina da maneira que Simeone gostaria, isso resulta em jogos no banco e cada vez menos minutos na equipe, o que acaba por revoltar João, que quer estar em campo independente disso, com base apenas no seu retorno técnico e o que pode oferecer por conta do seu talento. Entretanto, esse pensamento vai contra tudo que o cholismo acredita, não existe a possibilidade de se colocar acima do jogo em conjunto. Estamos falando de um treinador histórico que respeita o campo e a entrega do jogador além do individual acima da grande maioria das coisas. O grande incômodo disso é a narrativa bater diretamente com toda a questão envolvendo o Griezmann, por exemplo.
O retorno do francês começa a ser o ponto de reflexão e o que acaba jogando contra a posição de Simeone. É evidente que o jogador tem um talento acima da média, se transformou na carreira durante seu tempo no Atleti, mas todo o contexto da saída para o Barcelona e o retorno é ruim em vista daquilo que o próprio Cholo acredita. E como isso tem relação com João? Bom, o próprio Simeone trouxe essas questões para o campo quando precisou lidar com as idealizações do camisa 7.
Ángel Correa e João Félix tiveram momentos gloriosos durante o título da liga, e trouxeram todo aquele significado de que o Atleti não dependia de um jogador apenas. A equipe ter ganhado a liga sem precisar de Griezmann é chave aqui. Apesar disso, Simeone retorna com o francês na equipe titular independente de tudo que aconteceu nos últimos anos e isso é mais um problema – não é como se isso fosse um transtorno para João, mas sim no que se espera que Simeone faça numa situação como a do veterano.
O que Griezmann significa em campo é algo que realmente tem impacto direto no desempenho da equipe, podemos ver na temporada atual como isso é importante em meio ao caos que é o Atleti. Mas se Griezmann é tratado dessa forma, porque João, que sempre demonstrou vontade dentro das quatro linhas, não pode ser também? Aqui o jogo demonstra estar contrariado, porque ambos entregaram futebol e tiveram desavenças – em devidas proporções.
De qualquer forma, João segue recuperando seu espaço no Atleti nos últimos dois meses, por outro lado, resta saber se isso continuará até o fim da temporada. Tudo indica que o clube já busca uma transferência para o jogador que, aos 23 anos, deseja ser a grande peça chave de um grande clube.
![](https://footure.com.br/wp-content/uploads/2023/01/joaoatleticomadrid-scaled-1-1200x841.webp)
O encaixe não é tão simples, mas também não é algo difícil de se fazer muito por conta da variedade do jogo do português. O atacante se tornou muito completo e tem tudo para ser um motorzinho em ascensão além do seu trabalho como atacante. Rende bastante quando é cercado pelos companheiros, como vimos com a seleção portuguesa durante a Copa do Mundo. Além disso, consegue impor seu estilo se bem orientado taticamente, ou seja, seria interessante ver o craque numa equipe com um treinador de ponta.
No quesito evolução há de criar uma maior regularidade em torno do seu futebol, aspecto tranquilo, mas que determina como a carreira irá seguir daqui em diante. Outro ponto interessante são os gols. Suas performances como criador são excelentes, sabe sair da pressão como poucos e municia bem seus companheiros, mas talvez seja necessário um número maior de gols e poder de finalização caso queira se estabelecer numa grande liga e chegue no auge como um atacante completo.
Por fim, o mental. Como o psicológico de João Félix pode interferir no seu futuro? Um jogador que sempre se demonstrou bastante inconformado dentro de campo é um jogador a se destacar pela resiliência, mas grande “porém” é até quando isso será algo positivo em suas atitudes dentro e fora de campo, já que no clube espanhol virou uma bola de neve.
O que se espera de João é exatamente aquilo que ele demonstrou em campo desde que chegou ao Atleti, oportunismo, poder de decisão e intensidade para ganhar partidas a partir do seu talento. A sorte de ter alguém como ele será definida nos próximos meses deste ano. Veremos.
Comente!