Julen Lopetegui e sua trajetória até o bom trabalho no Sevilla

Após ótimo trabalho na base da Espanha e decepcionar no Madrid, Julen Lopetegui se reencontra em Andaluzia

Com parte da carreira sendo treinador na base da seleção espanhola, Lopetegui faz um trabalho notável com o Sevilla na temporada 2019/20. Toda a carreira do técnico espanhol é interessante para entender a temporada no qual a equipe da Andaluzia voltou a brigar pela vaga na Champions League.

Começo de carreira e período no Porto

Após pequena passagem pelo Rayo Vallecano e uma temporada no comando do Real Madrid Castilla, Lopetegui teve um grande período com as seleções de base da Espanha, sendo campeão europeu sub-19 e sub-21. No fim da temporada 2013/14 foi chamado pelo Porto para comandar a equipe a partir da temporada seguinte. Em Portugal somou 53 vitórias e apenas nove derrotas em 78 partidas, porém não foi o suficiente para manter o treinador no comando por muito tempo.

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Apesar de usar números e estatísticas para justificar a falta de títulos, era muito questionado pela falta de feitos relevantes e também em relação ao estilo de jogo, pois erros se repetiam a cada partida e nada parecia mudar. Não demorou muito para o treinador perder o vestiário, a torcida perder a paciência e com resultados nada a favor foi demitido menos de dois anos depois de chegar. O desempenho com o Porto foi minimizado e até considerado natural, afinal até então a maior parte das experiências do treinador tinha sido apenas com seleções de base da Espanha.

Sucesso com a seleção principal

A ideia de um jogador passar por todo um processo dentro da seleção, partindo da base e sendo lapidado para passar a brilhar na seleção principal aconteceu, porém com o treinador. Lopetegui foi chamado para comandar a seleção espanhola – que vinha de uma Copa do Mundo decepcionante e fracasso recente na Eurocopa. Depois de muito tempo no comando da base da seleção, Lopetegui conseguiu finalmente comandar a geração que foi campeã de torneios juniores com ele em 2012 e 2013, dessa vez na seleção principal.

Lopetegui
Com Lopetegui no comando, a equipe sub-21 campeã europeia em 2013 tinha jogadores como David de Gea, Daniel Carvajal, Álvaro Morata, Thiago Alcantara, Isco, Koke, Iñigo Martínez, entre outros.

Na ideia de renovar o elenco, a reformulação nas convocações veio e Lopetegui rifou grande parte dos jogadores que fizeram parte do elenco durante a Eurocopa e a Copa do Mundo. A geração que foi comandada pelo treinador no passado se mostrou em plena sintonia com suas ideias de jogo. Baseado em triangulações e na preservação da posse, a partir da troca de passes, os bons resultados retornaram acompanhados de boas atuações, e a Espanha voltou a jogar o futebol que brilhou os olhos de todos até 2014.

Sem uma única derrota no comando da seleção, Lopetegui terminou sua passagem com 14 vitórias em 20 partidas, e isso porque dois dias antes de começar a Copa do Mundo para a Espanha foi demitido por causa de um acordo do treinador com o Real Madrid que entraria em vigor após o mundial.

Decepção em Madrid

Depois da saída conturbada do comando da seleção da Espanha, Lopetegui chegou ao Real Madrid com o objetivo de substituir o tricampeão europeu Zinedine Zidane – que pediu demissão alegando que o elenco e a parte técnica da equipe precisava ser renovada.

Muito se esperava da relação do técnico com os jogadores – principalmente os espanhóis que eram comandados por ele na seleção – e o alto desempenho coletivo se repetir dentro do Madrid. Entretanto, o mesmo erro que ocorreu no Porto se repetiu no Madrid: a transição defensiva do time era deplorável, o ataque sofria para conseguir gols e as falhas crônicas não eram corrigidas. Outro fator foi a situação envolvendo minutos para Vinícius Jr. que, mesmo chegando para jogar no Castilla se adaptando ao futebol europeu, recebeu poucas chances do treinador na equipe principal.

Além do desempenho em campo ser abaixo do esperado, os resultados mais expressivos – que geralmente blindavam Zidane no comando – não aconteciam. Depois de quatro jogos sem vencer e uma goleada para o rival Barcelona, o Madrid decidiu pela demissão do treinador.

O fato é que o time vinha de uma temporada irregular, ainda com Zidane no comando, e, apesar do título europeu, não convencia nos jogos semanais. O trabalho de Lopetegui obviamente não foi fácil, fora o fato do principal jogador do clube nos últimos anos ter sido vendido e nenhuma outra estrela foi contratada para “repor”. Querendo ou não, o tempo que o treinador precisava Florentino não estava disposto a gastar, a ideia do clube de que vencer sempre é o ideal era maior do que esperar o treinador implantar seu trabalho no clube.

Novo projeto com o Sevilla

Depois de duas temporadas seguidas fora da zona de classificação para a Champions League, o Sevilla não rendeu o mesmo em relação ao que foi desde o começo da década. Na última temporada a equipe caiu para o Slavia Praga nas oitavas da Europa League e, como consequência, Pablo Machín, técnico na época, foi demitido. E assim como na temporada 2017/18, Joaquín Caparrós assumiu como interino. A verdade é que o clube não conseguiu achar o técnico ideal e que conseguisse manter uma ideia de trabalho por um tempo maior desde que Unai Emery saiu do clube em 2016 – foram contratados seis treinadores diferentes nesse tempo, contando com o interino Caparrós.

Muito se pensava como seria o próximo trabalho de Lopetegui depois de toda a confusão na saída da seleção e o desastre que foi no Real Madrid. A realidade é que o técnico demonstrou ter aprendido com seus erros passados e a boa temporada do Sevilla é consequência disso. Um dos seus maiores trunfos na seleção foi em relação ao coletivo, no qual a equipe era a principal estrela e todos os jogadores juntos faziam acontecer. Ao contrário do que foi no Real Madrid – equipe que com Cristiano Ronaldo tinha um jogador principal e o coletivo em segundo espaço, sendo mais difícil acostumar – Lopetegui conseguiu no Sevilla um encontro dessas duas forças.

A importância dos atacantes no Getafe de Pepe Bordalás.

Embora o coletivo fosse o ponto forte das equipes do treinador, no atual Sevilla dois jogadores nos dois extremos do campo se destacam mais que os outros. E são eles Diego Carlos e Lucas Ocampos. Os dois sul-americanos se tornaram os pilares do time nessa temporada e conseguem atribuir ao jogo tudo que Lopetegui quer e precisa nas duas extremidades.

Também contratação para a atual temporada, o zagueiro brasileiro Diego Carlos tomou conta do sistema defensivo com facilidade. Trazido ‘via Monchi’ é um dos melhores defensores da La Liga e chama atenção pelo seu porte físico. Entretanto é aquele zagueiro que coloca qualidade na saída de bola – com um bom passe. No radar da seleção e de gigantes europeus, disputou 25 partidas como titular das 27 que o Sevilla jogou no campeonato nacional e é titular indiscutível.

Apelidado de “Muro” pela torcida o zagueiro brasileiro é o terceiro defensor da La Liga com mais bolas rebatidas e tem um ótimo número de desarmes, interceptações e duelos ganhos.

Destaque do Marseille na temporada passada, Lucas Ocampos chegou no verão e se tornou um dos principais atacantes da equipe. Com os centroavantes da equipe em baixa – posição fundamental para o estilo de Lopetegui como foi Diego Costa com a Espanha – Ocampos conseguiu retribuir e compensar a falta de gols de um ‘camisa 9’. O ponta argentino, com toda sua imposição física devido à grande estatura (1,87 m), é o artilheiro rojiblanco no campeonato com 10 gols, além de ser fundamental no sistema de marcação alta e pressão exercida pelo time de Lopetegui. Antes da paralisação estava no seu mais alto nível – cinco gols e uma assistência nos últimos oito jogos do Sevilla na temporada.

O argentino é o atacante com maior número de interceptações e desarmes da La Liga.

Depois de sofrer com a falta de gols dos centroavantes, o sistema ofensivo do treinador foi agraciado com a contratação de Youssef En-Nesyri em janeiro. O atacante de 22 anos vinha sendo destaque da La Liga com o Leganés e soma sete gols na competição – sendo três deles com a camisa do Sevilla. No que se refere ao desempenho defensivo o Sevilla de Lopetegui não se compara com o que foi no Real Madrid.

No time da Andaluzia o treinador conseguiu fazer com que o sistema defensivo não se perca em campo com a perda da posse, gerando um contra-ataque adversário. Com todos os defensores bem posicionados, o desempenho é muito acima do que o treinador desejava com os merengues e de forma mais fluida e natural, se tornando na quarta melhor defesa do campeonato espanhol.

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