MLS SE DESTACA NA LUTA PELA IGUALDADE NOS ESTÁDIOS
Por Pedro Cuenca Em todo o mundo, cantos homofóbicos ecoam pelos estádios. No Brasil, não é diferente. Inspirados pelos mexicanos após a Copa do Mundo de 2014, milhares de torcedores decidiram que é legal cantar ofensivamente para os goleiros rivais durante os tiros de meta, como se o fato de alguém ser gay – ou […]
Por Pedro Cuenca
Em todo o mundo, cantos homofóbicos ecoam pelos estádios. No Brasil, não é diferente. Inspirados pelos mexicanos após a Copa do Mundo de 2014, milhares de torcedores decidiram que é legal cantar ofensivamente para os goleiros rivais durante os tiros de meta, como se o fato de alguém ser gay – ou ‘bicha’, como eles tanto cantam – fizesse a pessoa ser inferior a outra. Nos Estados Unidos e no Canadá, os gritos também existem, mas a Major League Soccer e os clubes locais começam a mudar a perspectiva de todos os envolvidos no esporte, causando mudanças na visão do futebol nos países e integrando a comunidade LGBT+ com o esporte.
Nos últimos anos, a Major League Soccer tem feito parceria com ONGs e grupos defensores dos direitos LGBT+. Um desses projetos é o You Can Play – em português, ‘Vocês podem jogar’ – que promove a igualdade de trabalho, inclusão e respeito a todos os atletas. Vários clubes da MLS aderiram ao projeto, além da US Soccer, federação de futebol local. Esse foi o primeiro de muitos pequenos passos dado nos Estados Unidos para unir as duas comunidades.
A MLS promove, anualmente, o ‘Pride Month’ para que diversas equipes incluam e façam homenagens a diferentes comunidades LGBT+ ao redor do país. Doações de dinheiro, geralmente da bilheteria das partidas, também ocorre com frequência. Em 2018, horas antes do ‘Pride Night’ – em português, ‘Noite do Orgulho’ – o jogador Collin Martin, do Minnesota United, usou suas redes sociais para assumir sua homossexualidade. O fato, inesperado para muitos, foi bem recebido por outros jogadores e pelas torcidas da liga. Aliás, se olharmos para as arquibancadas de jogos nos Estados Unidos e no Canadá, não será estranho se encontrarmos uma bandeira do movimento LGBT+, talvez até mais se prestarmos atenção.
O caso de Collin Martin não foi isolado. Em 2013, o lateral Robbie Rodgers assumiu sua homossexualidade e anunciou aposentadoria do futebol por medo da pressão de torcedores e da imprensa. Meses depois, porém, foi anunciado no Los Angeles Galaxy e se tornou o primeiro jogador assumidamente gay a atuar em um das grandes ligas americanas. No ano seguinte, conquistou o título da MLS com a equipe californiana por onde atuou até se aposentar definitivamente, por causa das muitas lesões, em 2017. Ambos podem deixar um grande legado para futuras gerações com o impacto e a coragem de seus anúncios atualmente.
A atitude positiva e acolhedora da liga tem feito a diferença nos últimos anos. É verdade que casos de cantos homofóbicos acontecem nas arquibancadas, como foi com a torcida do Atlanta United, em 2017. Na atual temporada, foi a vez dos ultras do LA Galaxy emitirem o grito de ‘puto’, o equilavalente espanhol ao grito de ‘bicha’, sendo repreendidos por jornalistas, dirigentes e até mesmo jogadores da própria equipe. O atacante Alan Gordon, em 2013, foi suspenso por uso de linguajar homofóbico, mostrando que a liga não aceitaria desrespeitos dentro de campo, mesmo que os jogadores estejam de cabeça quente durante os 90 minutos.
A marca da cultura LGBT e do respeito já está muito presente na MLS, e isso deve ser celebrado, como no caso do Orlando City separando 49 cadeiras em seu estádio com as cores do arco-íris, homenageando os mortos na boate gay Pulse, em 2016. O fato de jogadores estarem assumindo a homossexualidade ainda ativos na profissão mostra que a liga é acolhedora a eles e isso deve ser reconhecido, assim como os incentivos dos clubes ao movimento LGBT.
A Major League Soccer dá pequenos passos no caminho da diversidade. Não veremos uma avalanche de jogadores assumindo a homossexualidade, mas o caminho está sendo trilhado para que o preconceito não exista mais no futebol, dentro e fora das quatro linhas. A semente foi plantada, os frutos ainda estão começando a conhecer a luz, mas mostra que o futebol nos Estados Unidos está avançando a passos mais largos do que em diversos lugares do mundo, inclusive em relação ao Brasil, onde a homofobia ainda é tratada como ‘rivalidade’ ou ‘brincadeira provocativa’
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