Napoli: O impacto inicial de Anguissa com a camisa partenopei

Por que Anguissa, um jogador tido como “patinho feio” no mercado, conquistou a titularidade tão rápido no Napoli

O mercado de verão do Napoli acabou por ser aos torcedores napolitanos um tédio. Poucas especulações, de entrada e saída, e um elenco que praticamente não mudara, exceto pelas saídas de nomes como Hysaj, Maksimovic e Bakayoko, tão criticados pelos azzurri partenopei.

Luciano Spalletti deixou claro a necessidade de alguns reforços específicos para os napolitanos, primeiramente para a lateral-esquerda, fato que não foi atendido pela diretoria napolitana, que segue com Mário Rui, Ghoulam, e o jovem Zanoli.

Em seguida, especialmente com a longa lesão de Demme, que lesionou o joelho durante a pré-temporada, houve a grande necessidade de contratação de um meio-campista para que Spalletti executasse sua ideia de jogar com dois homens mais atrás no meio-campo em um 4–2–3–1.

Nos dias finais de mercado, o Napoli acabou por contratar André-Frank Zambo Anguissa, camaronês de 25 anos, para fazer a função de meio-campista e revezar com Demme e Lobotka, que se alternavam nas escolhas de Spalletti na função para a pré-temporada, isso quando o treinador não mudava o sistema para um 4–3–3.

A situação inicial de uma estreia justo num clássico do Napoli diante da Juventus faria muitos jogadores serem vistos com ressalvas. Mas Anguissa conquistou a titularidade de cara, o que para céticos napolitanos em uma liga tão conservadora como a Serie A já se faz um olhar de canto de olho.

Mas aos poucos no clássico, Anguissa foi crescendo a cada passe, na velocidade de participação no jogo, nos escapes de marcação frente aos adversários bianconeri, que fizeram o San Paolo (ou Diego Armando Maradona, para os napolitanos), aplaudir e ovacionar a cada momento de jogo, com também boas interceptações, índice de 96% de acerto de passes, e um bom controle de bola.

Desempenho que foi visto com elegância e com mais brilho ainda depois que o esforço foi recompensado com a grande virada dos napolitanos sobre a odiada rival. Atuações que também foram satisfatórias em boa parte das partidas do Napoli na Serie A 2021–22, todas com vitória, e no empate diante do Leicester, pela Europa League.

As atuações são vistas também pelas boas estatísticas: Os números defensivos, com média de 1.6 desarmes por jogo e 1.2 interceptações por partida até o momento agradaram os napolitanos, que precisavam de alguém que desempenhasse um papel que sobrecarregasse menos o parceiro do camaronês, Fabián Ruiz, que não se adaptou a dupla com Bakayoko no passado.

André-Frank é o 7º que mais dribla na Serie A até aqui, com média de 2,4 dribles/jogo, com média superior a grandes dribladores, como Damsgaard (Sampdoria), Brahim Diaz (Milan) e Chiesa (Juventus), que tentam mais dribles por jogo. 

É bem verdade também, que essa estatística diz respeito a uma grande qualidade do camaronês: o drible defensivo, que teoricamente, seria uma forma muito redutiva de chamar a forma como ele cria espaço em campo com o uso do corpo e da bola. É difícil traçar uma linha clara entre o drible defensivo, ou seja, voltado apenas para a manutenção da posse, e o ofensivo.

https://streamable.com/ccnvmu#
https://streamable.com/ubuq24#

Mas são dribles como estes das imagens acima contra Udinese e Sampdoria, que demonstram a qualidade de sair jogando, e de criar espaços para o nascedouro de jogadas ofensivas, deixando o campo mais limpo para os ataques em velocidade, do estilo que Spalletti gosta de atuar. 

Com o desempenho, muitos ficaram se perguntando como Anguissa passou tanto tempo despercebido no mercado, uma vez que não era tão cogitado e cortejado pelo Napoli, que fechou rapidamente sua contratação, em um movimento até incomum para o clube, quanto por outros clubes. 

É bem verdade que seu futebol não era tão conhecido por todos, uma vez que até mesmo Luciano Spalletti admitiu que não conhecia muito bem Anguissa antes de treiná-lo em Castel Volturno, mas como alguém passa tão desapercebido assim pela Premier League?

A resposta pode estar até mesmo no Fulham, rebaixado para a Championship, e que teve de desfazer de alguns de seus atletas. Para muitos, os Cottagers, como são conhecidos, formaram um time que desperdiçou jovens talentos sob o comando de Scott Parker. 

O fato dele não ter sido procurado, talvez seja explicado pelo desempenho coletivo do Fulham, rebaixado com muita antecedência, não deu a luz ao bom desempenho individual de Anguissa, que chegou a ser o segundo maior driblador da Premier League em 2020–21:

Uma carreira que já vem numa crescente desde que foi observado pelo Marseille em um torneio conhecido como G8 em Yaoundé, capital de Camarões e cidade-natal de André-Frank, organizado pelo procurador Maxime Nana, e que tinha observadores de diversos clubes, entre eles, Jean-Philippe Durand, campeão europeu pelo OM em 1993, e que se encantou com o futebol de Anguissa, e logo quis levar ao clube.

Apesar disso, quem o contratou em definitivo primeiro foi o Reims junto ao Cotonsport, onde deu seu pontapé inicial nos juvenis do clube que é o maior campeão camaronês. Depois de uma passagem pelo Valenciennes, finalmente o Marseille levou Anguissa. 

Na curta e louca passagem de Marcelo Bielsa pelo Marseille, Anguissa foi observado pelo treinador argentino, em palavras que o camaronês recordou em entrevista ao Canal Plus: “Ele acreditou em mim e me disse: “Você tem tanta qualidade, por isso vou colocá-lo no grupo’”, lembrou ele, que terminou com uma frase típica de um filósofo do futebol como Bielsa: “Se um jovem tem potencial, pode surpreender o mundo.”

Sem Bielsa, a sua temporada de estreia na elite francesa foi mais conturbada, e ele ganhou definitivamente seu espaço com Rudi Garcia, virando titular absoluto do Marseille e chegando a final da Europa League em 2017–18, perdendo para o Atlético de Madrid na grande decisão.

Em seguida, seria vendido ao Fulham por 25 milhões de euros, mas logo, os Cottagers tiveram uma temporada caótica em 2018–19, e foram rebaixados, o que os fizeram emprestar Zambo Anguissa ao Villarreal em 2019–20, em que o camaronês até fez uma boa temporada, mas o Submarino Amarelo não quis pagar os 25 milhões de euros pedidos pelos ingleses. 

Talvez pode se explicar essa baixa procura por alguns números: o fato de ter feito apenas 2 gols e ter dado 7 assistências como profissional, e atuar em um contexto específico de dois meio-campistas, pode ter feito com que ele virasse um “patinho feio” no mercado, o que o texto de Dario Saltari para L’Ultimo Uomo pode explicar:

Talvez seja apenas azar ter surgido numa altura em que os clubes, devido à pandemia, não têm vontade de apostar (mesmo em apostas bastante sólidas como a sua). Ou talvez seja porque ele não colocou seu nome no placar muitas vezes: na era pós-YouTube, é possível lembrar um jogador que fez apenas 2 gols e 7 assistências desde que era profissional? Mesmo o posicionamento tático não deve tê-lo ajudado: Anguissa não é um regista, nem um verdadeiro mezzala, e talvez não seja por acaso que ele se sente muito à vontade em um meio-campo de dois homens como o de Spalletti no qual ele tem muita liberdade de movimento e pode delegar as funções mais criativas na primeira fase de construção a um jogador mais cerebral como Fabian Ruiz.

Anguissa pode crescer num campeonato menos físico e mais tático que a Premier League. Spalletti declarou em coletiva após a vitória diante do Cagliari sobre sua inteligência tática: “No final da primeira etapa analisa a sua posição, continuamente toma notas, estuda os movimentos e comportamentos das equipes adversárias: é um rapaz muito inteligente”.

O seu desempenho inicial, para os céticos napolitanos, evita a empolgação por conta de Bakayoko, que começou bem, e acabou decaindo. Mas por outro lado, o seu desempenho inicial certamente fará boa parte dos torcedores napolitanos lamentarem a sua perda no mês de janeiro para a disputa da Copa Africana de Nações com a seleção camaronesa.

O fato é que o desempenho empolgou tanto, que já fez o Napoli declarar publicamente, por meio das palavras de seu diretor-esportivo Cristiano Giuntoli, quando pretende exercer o direito de compra de 15 milhões de euros, que ainda assim, não seria tão cedo: no fim da temporada. Final este que Anguissa e o Napoli esperam que seja feliz para ambas as partes. 

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart
Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

Cinco jogadores que se destacaram na Copa América

André Andrade
As influências dos campos reduzidos na Copa América

As influências dos campos reduzidos na Copa América

Douglas Batista
FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024
André Andrade

FIQUE DE OLHO: Jogadores Sub-23 que podem se destacar na Copa América 2024

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

A EVOLUÇÃO DE GABRIEL SARA NA INGLATERRA

Douglas Batista
EURO 2024 | COMO CHEGA PORTUGAL

EURO 2024 | COMO CHEGA PORTUGAL

Gabriel Mota
EURO 2024 | COMO CHEGA A BÉLGICA

EURO 2024 | COMO CHEGA A BÉLGICA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A FRANÇA

EURO 2024 | COMO CHEGA A FRANÇA

Gabriel Mota
EURO 2024 | COMO CHEGA A HOLANDA

EURO 2024 | COMO CHEGA A HOLANDA

Lucas Goulart
EURO 2024 | COMO CHEGA A INGLATERRA

EURO 2024 | COMO CHEGA A INGLATERRA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A ITÁLIA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ITÁLIA

Lucas Goulart
EURO 2024 | COMO CHEGA A ESPANHA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ESPANHA

Vinícius Dutra
EURO 2024 | COMO CHEGA A ALEMANHA

EURO 2024 | COMO CHEGA A ALEMANHA

Lucas Goulart
O crescimento de Andrey Santos no Strasbourg

O crescimento de Andrey Santos no Strasbourg

Douglas Batista
Os treinadores de bolas paradas no futebol e a importância de Nicolas Jover no Arsenal

Os treinadores de bolas paradas no futebol e a importância de Nicolas Jover no Arsenal

André Andrade