NÁUTICO INICIA REVOLUÇÃO CONTRACULTURAL NO NORDESTE

Por Jonatan Cavalcante A carência financeira, de títulos ou participações em competições do primeiro escalão do futebol brasileiro e sul-americano, fazem com que o torcedor nordestino se acostume a “perder” desde cedo os jovens talentos para centros mais pujantes economicamente. A saída precoce dos jogadores cria um “gap” afetivo e futebolístico entre os torcedores. Sem poder […]

Por Jonatan Cavalcante

A carência financeira, de títulos ou participações em competições do primeiro escalão do futebol brasileiro e sul-americano, fazem com que o torcedor nordestino se acostume a “perder” desde cedo os jovens talentos para centros mais pujantes economicamente. A saída precoce dos jogadores cria um “gap” afetivo e futebolístico entre os torcedores. Sem poder desenvolver e cultuar ídolos no próprio clube, os aficionados têm que se contentar com admirar outras ligas e nutrir uma expectativa de em algum momento ter o jogador em seu clube de coração. Diante desse lapso, os gestores de futebol abarcados pelo ufanismo e no anseio de estabelecer um marco na gestão, buscam a repatriação de atletas renomados. Na maioria das vezes, esse jogador “medalhão”, que “lota aeroporto” e “enche estádio” chega ao clube em declínio técnico, físico e mental. E mesmo assim, o status de craque faz com que os contratos sejam assinados contendo cifras vultuosas. O retorno em campo nem sempre condiz com a expectativa criada. E então, o desempenho da equipe se torna pífio, a média de público pagante cai drasticamente, o marketing de venda de camisas não funciona, as receitas previstas não entram no caixa do clube, os salários começam a atrasar e, o jogador que “se pagava” vira um problema. Essa descrição de cenário ocorre com certa frequência em clubes do Nordeste ou de centros não tão midiáticos.

E o Náutico pode ser considerado um clube que se encaixa bem nessa caracterização. Após o clube conseguir a permanência na Série A de 2012 e rebaixar o maior rival (Sport), os gestores se depararam com o maior orçamento da história na temporada 2013: R$ 48.105.068,00. O alto montante de recursos estabeleceu relação direta com a expectativa de boa performance nas competições. Entretanto, o que se observou ao longo da temporada foram contratações equivocadas(Maikon Leite, Rodrigo Souto, Magrão, Ricardo Berna, etc), 7 treinadores (Alexandre Galo, Vagner Mancini, Silas, Zé Teodoro, Jorginho, Levi e Marcelo Martelotte), reformulações com os campeonatos em andamento, salários atrasados, ameaça de greve, perda do campeonato pernambucano, eliminação na 1º fase da Copa do Brasil, eliminação para o Sport na Sul-Americana e rebaixamento à Série B. Nas últimas temporadas o clube ainda conviveu com inúmeras gestões desencontradas, rachas políticos, trocas de presidente, recursos financeiros mal aplicados, dívidas com fornecedores, trabalhistas, resultando na queda à Série C do Brasileiro.

Edno Melo (E) e Diógenes Braga (D)
Foto: Henrique Genecy/Folha de Pernambuco

Assim como a Revolução Pernambucana de 1817, os gastos exorbitantes e indiscriminados da cúpula gestora foram determinantes para que houvesse um ponto de inflexão e inicia-se um movimento contracultural no Clube Náutico Capibaribe. Capitaneados por Edno Melo e Diógenes Braga, o Náutico passou a adotar medidas austeras no cenário econômico e práticas organizacionais condizentes com o universo do business to business na gestão. Diante de um contexto de recursos escassos – orçamento previsto de R$ 14,97  milhões para a temporada 2019, imagem organizacional comprometida e um passivo de R$ 165 milhões, tornaram ainda mais árdua a missão de desenvolver um trabalho futebolístico no Náutico. Seguindo a modernização – proposta por Diógenes Braga – do Regimento Interno, os gestores passaram a disciplinar gastos com contratações e rescisões. Além disso, estipulou-se a contratação máxima de 35 atletas e que um percentual mínimo de 25% deveriam ser oriundos das divisões de base. Buscando garantir prudência na destinação dos recursos financeiros e, ainda, estabelecendo as categorias de base como o caminho para alcançar a sustentabilidade financeira, resgatar o protagonismo no futebol da região e se consolidar como um clube formador.

PROPULSOR DE TALENTOS

Imagem: Diário de Pernambuco
Imagem: Diário de Pernambuco

O Centro de Treinamento Wilson Campos é um equipamento que favorece ao desenvolvimento  de talentos. Nos 54 hectares de área construída, há cinco campos de futebol, incluindo dois com padrão Fifa. O terreno também abriga um hotel com 2 mil metros quadrados, 22 dormitórios com capacidade para 44 pessoas, salão de jogos, academia, auditório com 56 assentos, sala de fisioterapia, sala de imprensa, cozinha industrial e refeitório. E cerca de 500 atletas entre as categorias sub-09 e sub-20 desfrutam das instalações do Centro de Treinamento do Timbu. Entretanto, a subutilização do equipamento e dos profissionais responsáveis por formar atletas, resultou em um quantitativo baixo de comercializações. Recentemente, apenas, Anderson Lessa, Douglas Santos, Marcos Vinícius e Erick deram retorno financeiro ao clube. O que evidencia a aleatoriedade e falta de planejamento na forma com que se é lançado os jogadores ao profissional. Para tentar modificar o status-quo, desde a temporada passada que a promoção de atletas ocorre de forma planejada e mediante uma avaliação interdisciplinar, que vai desde ações técnicas e táticas até comportamentais fora das quatro linhas. Além disso, existe também uma integração entre os Departamentos profissional, base e de análise de desempenho. O que facilita o monitoramento e aproveitamento dos jogadores no elenco profissional.

JOGADORES DA BASE NO ELENCO PROFISSIONAL

Imagem: Footure
Imagem: Footure

Para esta temporada o técnico Márcio Goiano conta com 35 jogadores no elenco para disputar o Campeonato Pernambucano, Copa do Nordeste, Copa do Brasil e a Série C. Excedendo o que estabelece o Regimento Interno, o atual grupo é composto por mais de 54% de atletas formados nas categorias de base. Esse índice sofreu um incremento com os retornos de Jorge Henrique e Diego Silva, com as manutenções de Bruno, Rafael Ribeiro, Willian Gaúcho, Luiz Henrique, Robinho, Odilávio e Tharcysio e a ascensão de 10 jogadores do Sub-17 e Sub-20, como são os casos do atacante Thiago e o lateral direito Hereda, respectivamente. Traçando um comparativo com o Santos – que é globalmente reconhecido  por ser um clube formador e exportador de jogadores -, o atual elenco possui 19 jogadores enquanto que o elenco do Peixe conta com 13 atletas oriundos das divisões de base no time profissional. Ademais, todos os atletas que foram promovidos ao profissional em 2017 atuaram em ao menos dois jogos (Willian Gaúcho) e se consolidaram no time principal. O que aponta para, de fato, um aproveitamento efetivo de jogadores no time principal. E isso, faz com que o Náutico seja visto como uma possibilidade real de ascensão profissional por parte de atletas e empresários. Conferindo assim, um novo posicionamento dentro do mercado de formação de atletas no Nordeste. Apesar de ser uma Revolução recente, de acordo com técnico do sub-17, Adriano Souza, os efeitos já podem ser notados.

“O fato de o Náutico se tornar referência no Nordeste entre clubes que utilizam atletas da base, facilita bastante o processo de captação. Antes encontrávamos muitas barreiras para trazer um jogador. Tanto pela falta de participação em competições nacionais, quanto pela falta de recursos financeiros. Hoje, é diferente. O clube tem se destacado como formador e com chances concretas de ascensão, como é o caso de Thiago que estava no Sub-17 e foi integrado ao profissional”, ressaltou Adriano.

Campeão Pernambucano da categoria sub-17, Adriano Souza, aponta que o fato da instauração de diretrizes norteadoras e, a busca por jogadores que se encaixem com o “DNA” do clube – construída ao longo dos 118 anos de história – contribuem para a assertividade na prospecção, desenvolvimento e posteriormente aproveitamento dos atletas no time profissional.

PADRONIZAÇÃO NAS VENDAS

Imagem: FootureFC
Imagem: FootureFC

No entanto, as tomadas de decisão realizadas por dirigentes em priorizar jogadores com o perfil de renome e não aproveitamento da base rendeu ao Náutico pouquíssimas revelações nas últimas 8 temporadas. O clube vendeu apenas 4 jogadores formados no CT Wilson Campos. Pertencente ao setor terciário (serviços), o Vice-Presidente de Futebol, Diógenes Braga, entende bastante da arte da negociação. E para modificar este quadro, acredita que o clube alvirrubro necessita produzir e comercializar em maior escala para segmentar não só a marca Náutico como formadora de atletas, mas também para alcançar a sustentabilidade financeira.

“O Náutico precisa vender jogadores com mais frequência para estar inserido no mercado e se tornar um clube exportador. Quando a gente fala em ancoragem de preços, é que a primeira venda delinear a forma com o que o clube se posicionará no mercado de comercialização de direitos federativos e econômicos. Por isso, temos que estabelecer valores compatíveis com o de mercado e da marca Náutico para que consigamos o preço justo pelo atleta. E diante de um cenário de dependência de cotas de televisionamento, os clubes que conseguem revelar e vender jogadores conseguem alcançar patamares financeiros diferenciados”, afirmou Diógenes.

Na maioria dos clubes de futebol, a utilização e aproveitamento efetivo das categorias de base depende de quem está à frente da gestão do clube. Isso na maioria dos casos, torna o processo personificado, sazonal e atípico. Ao atualizar o Regimento Interno, o Náutico busca extinguir as interferências políticas de grupos e indivíduos e, assim, transformar as categorias de base em uma política institucional.

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