O COMEÇO DE BOSZ
Por @viniciusof Posse de bola e passividade são duas marcas que acompanham o titubeante princípio de trabalho do holandês Peter Bosz em Dortmund. Com um time que alterna velocidade com a bola, Bosz optou por apostar no mesmo formato que o trouxe para o Signal Iduna Park: o 4-3-3. Depois de embalar seis vitórias em sete […]
Posse de bola e passividade são duas marcas que acompanham o titubeante princípio de trabalho do holandês Peter Bosz em Dortmund. Com um time que alterna velocidade com a bola, Bosz optou por apostar no mesmo formato que o trouxe para o Signal Iduna Park: o 4-3-3. Depois de embalar seis vitórias em sete jogos, com dois gols sofridos e 26 marcados, o Dortmund encontrou dificuldades quando se deparou com oponentes mais qualificados, que pressionaram sua saída de bola.
CONSTRUINDO
Chama a atenção que, ao constrário da grande maioria das equipes que atua no 4-3-3, o Dortmund não promove a chamada “linha de 3”, movimento que marca o ingresso do primeiro volante na linha dos zagueiros para garantir superioridade numérica na saída de bola. Nuri Sahin, o volante escolhido por Bosz enquanto Julian Weigl se recupera de lesão, trabalha atrás da primeira linha de marcação adversária, como um meio-campista. O frame sinaliza, em amarelo, Sahin executando um movimento frequente do “primeiro volante” neste início da Era Bosz: se projetar entre as linhas de marcação quando sua equipe tem a bola. O mesmo ocorreu quando o treinador optou por Dahoud na posição. Logo temos um padrão de comportamento.
Sem o apoio deste “primeiro volante”, que se manda para receber bola entre as linhas adversárias, a linha defensiva costuma trocar pacientemente passes até o adversário se abrir. Isso marcou sobretudo as atuações das primeiras rodadas, quando Dortmund chegou a liderar o índice de posse de bola entre as quatro principais ligas européias, com médias próximas aos 64%. Abaixo, um mapa de influência e interação entre jogadores desenvolvido pelo @11tegen11 na partida do Dortmund contra o Freiburg, pela terceira rodada da Bundesliga. O alto índice de troca de passes entre os dois zagueiros fica bem ilustrado, enquanto os extremas Pulisic e Phillip são pouco acionados.
FASE OFENSIVA
Com a bola, o trio final do Dortmund faz preferencialmente dois movimentos: o de volume de área (ilustrado no frame abaixo) ou se abre para a penetração dos meio-campistas (vídeo abaixo). Quando os extremas se aproximam de Aubameyang propósito é gerar igualdade numérica numa região terminal e crucial do campo. E, ao saírem das extremidades, os pontas deixam a área vaga para que os laterais avancem, garantam amplitude e descongestionem o centro do campo. Trata-se de um movimento clássico de atração do oponente para atacá-lo em outra região do campo.
Outra arma importante utilizada frequentemente pelo Dortmund para romper a última linha adversário é o movimento de Aubameyang para buscar jogo, atrair um zagueiro consigo e assim deixar uma brecha para ser ocupada por algum ponta. Este movimento visa “quebrar” a última linha do rival e facilitar o ingresso à área.
SAÍDA SITIADA
Como Sahin ou qualquer um dos volantes não recua para fazer a chamada “saída de 3”, o Dortmund recorre ao goleiro Burki com o objetivo de garantir superioridade numérica na saída de jogo. Mas repare que no frame abaixo o Leipzig fecha inteligentemente as linhas de passe do Dortmund, enredando completamente a equipe de Peter Bosz. Foi o primeiro adversário que o marcou em bloco médio/alto os aurinegros na atual temporada, causando enormes dificuldades e os obrigando a recorrer à bola longa.
YARMOLENKO
Extrema de força física, habilidade e vitória pessoal, Yarmolenko é uma perigosa arma ofensiva, mas pouco intenso sem a bola. Assim como já resolveu partidas com assistências e gols, o ucraniano também comprometeu defensivamente a equipe, como ilustrado nos frames abaixo. No primeiro recorte, contra o Leipzig, o jogador cai na indução do lateral adversário, que o arrasta para o centro do campo. Movimento que acaba por expor o lateral-direito Toljan. No segundo print Yarmolenko não fecha a linha de passe e tampouco acompanha o lateral-esquerdo Alaba, que recebe uma bola às suas costas.
Yarmolenko está longe de ser o vilão ou mesmo a razão para sequência negativa do time, mas é a boa representação de um trabalho que ainda engatinha e, como tal, encontra problemas de execução em todas as fases do jogo. Rompendo com a intensidade insana que marcou as equipes do Dortmund de Klopp e Tuchel, Bosz aposta num jogo de controle e progressão gradativa ao gol adversário. Precisará de paciência para vencer num território há anos predominado pelo Bayern.
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