O DECLÍNIO E A LUTA POR MUDANÇA DOS CLUBES URUGUAIOS
Por Dimitri Barcellos Boas campanhas em Copas do Mundo, título de Copa América e desempenho de ponta nas competições de base. Os últimos 10 anos foram de sucesso e consolidação de um projeto bem dirigido por Óscar Tabárez na Seleção Uruguaia. Após uma fase ruim, que culminou com a não classificação para o Mundial de […]
Boas campanhas em Copas do Mundo, título de Copa América e desempenho de ponta nas competições de base. Os últimos 10 anos foram de sucesso e consolidação de um projeto bem dirigido por Óscar Tabárez na Seleção Uruguaia. Após uma fase ruim, que culminou com a não classificação para o Mundial de 2006 em derrota na repescagem para a Austrália, a Celeste se renovou e figura novamente entre as principais seleções do mundo. Entretanto, os elogios não se estendem à seara clubística no Uruguai.
Dominantes entre os anos 60 e 80 no cenário sul-americano, os times da República Oriental figuraram em 15 decisões de Libertadores no período entre 1960 e 1989. 9 delas foram por parte do Peñarol, com 5 títulos conquistados, enquanto o Nacional apareceu em 6 finais, vencendo três delas. Contra os europeus na Copa Intercontinental, os êxitos se repetiram. Foram três títulos para cada lado, incluindo triunfos memoráveis como o de 1961, do Peñarol de Luis Cubilla e Alberto Spencer sobre o icônico Benfica de Cavém, Coluna, José Águas e um jovem Eusébio, treinados por Béla Guttmann.
Mas os tempos de glória ficaram no passado e a decadência técnica e econômica dos clubes uruguaios foi avassaladora. Desde 1990, somente uma vez o Uruguai teve um representante na final da Libertadores: o Peñarol em 2011, contra o Santos. E essa falta de protagonismo tem inúmeras motivações.
Uma das principais se dá por conta de uma relação um tanto nebulosa entre a empresa Tenfield, que detém os direitos de transmissão do futebol uruguaio desde 1998, e a federação do país. Os clubes frequentemente reclamam da falta de transparência nesta sociedade e do baixo valor dos repasses das verbas de televisão, e não é raro ver protestos políticos por parte das direções das equipes, atletas e treinadores, inclusive em nível de seleção.
Recentemente, vários jogadores da Celeste boicotaram a Tenfield e não concederam entrevistas para a emissora após as partidas. O Maestro Tabárez também se recusou a conversar com repórteres do veículo, ficando ao lado de seus comandados e cobrando melhores condições para os clubes do país. A razão foi um veto levantado pela Tenfield que não permitia manifestações sobre a briga política nos bastidores entre AUF e atletas.
Inclusive, tal rusga deu origem ao movimento Más Unidos Que Nunca. Semelhante ao Bom Senso FC, que apareceu no Brasil em 2013, o grupo é responsável por lutar por condições de trabalho e remunerações mais justas aos jogadores profissionais, além de cobrar melhorias estruturais nos clubes e organizacionais tanto no sindicato dos atletas quanto na própria Federação Uruguaia.
Com os repasses baixos, o efeito dominó é inevitável. Os times são obrigados a encontrarem outras formas de fazer caixa e fechar as suas contas. E nisso, mora mais um motivo para o declínio técnico dos clubes uruguaios, em uma realidade que é comum a outros mercados sul-americanos. Contrariando a lógica demográfica de um país de pouco mais de 3 milhões de habitantes, as equipes conseguem revelar bons jogadores e oxigenar a renovação da seleção. Entretanto, os jovens talentos que surgem acabam deixando o Uruguai muito cedo. As promessas acabam tomando o rumo dos principais centros da Argentina, do Brasil, do México e até mesmo da Europa frente à necessidade de dinheiro das agremiações, e mostram muito pouco de sua capacidade no território charrua. O Danúbio, o Defensor, o Fénix e o Montevideo Wanderers são os principais exemplos de clubes que revelam atletas em quantidade considerável, mas não conseguem retê-los.
Ainda dentro das disputas políticas dentro da AUF, um episódio recente ajudou a agravar o quadro de crise na organização do futebol uruguaio. A FIFA realizou uma intervenção na federação local, após constatar que o processo eleitoral que define o presidente da instituição não cumpre os requisitos de transparência solicitados pelo órgão maior do futebol mundial e pela Conmebol. Como reflexo disto e de um escândalo de áudios vazados, o então mandatário da Associação Uruguaia de Futebol, Wilmar Valdez, renunciou ao cargo. Valdez também corre o risco de perder seu cargo como membro do Conselho de Gestão da FIFA pela Conmebol.
Assim, um comitê regularizador estará à frente da AUF até fevereiro de 2019, a fim de fazer a gestão provisória, revisar os estatutos da federação e organizar novas eleições. A principal mudança deve se dar no formato das eleições e votações de assembleia. Atualmente, os clubes da Primeira Divisão têm direito a um voto cada, enquanto as equipes da divisão inferior possuem um único voto conjunto, o qual é validado pela decisão da maioria que integra o segundo escalão.
Uma receita definitiva para solucionar a crise geral no futebol uruguaio ainda parece muito distante. Enquanto isso, resta ao torcedor a esperança de ver novamente grandes esquadrões e equipes fortes disputando títulos importantes o quanto antes, por mais improvável que isso possa parecer agora.
Comente!