O sistema de André Jardine na Seleção Olímpica

Os mecanismos ofensivos no Jogo de Posição, Pedrinho atuando por dentro, Antony-Emerson e Douglas Luiz peça-chave.

O trabalho do jovem treinador André Jardine sob o comando da Seleção Brasileira sub-23 está em plena evolução desde que ex-treinador do São Paulo assumiu o posto de diretor técnico da equipe olímpica para a disputa do Torneio de Toulon como preparação para os Jogos Olímpicos de 2020 que serão realizados em Tóquio. Com o título em Toulon em uma competição marcada por uma brutal superioridade do Brasil em relação aos seus rivais, com apenas o Japão representando um adversário exigente a nível competitivo na final, Jardine começou seu projeto com o pé direito e ademais desenvolvendo ideias de jogo claras.

Com Jardine, a seleção olímpica marcou 23 gols e concedeu apenas 6 anotações em 9 jogos considerando os amistosos preparatórios e o Torneio de Toulon

Para entender os padrões de comportamentos individuais e coletivos estabelecidos por Jardine, antes é necessário introduzir os conceitos do jogo de posição, a forma de atacar utilizada pela seleção olímpica nestes primeiros passos do trabalho de preparação para o grande desafio no próximo ano. Basicamente, o princípio consiste na ocupação dos espaços em zonas ofensivas fixas e pré-determinadas; existem três zonas em cada lado do terreno de jogo: a da amplitude (manter homens abertos para atrair rivais e gerar espaços), a do jogo entre linhas (distanciar jogadores da bola para ter superioridade nas costas dos meio-campistas do adversário) e a zona da base da jogada (a opção de retorno para iniciar as jogadas e servir de apoio na construção no campo de ataque). Dito isto, o Brasil ocupa todos estes espaços e, portanto, coloca em prática um jogo posicional que distribui as peças no campo de maneira organizada e com um propósito para oferecer linhas de passe em diferentes alturas para facilitar a progressão em um modelo de jogo que prioriza a manutenção da posse de bola.

“No meu modelo, os laterais atacam como pontas ou como meias dependendo do cenário da jogada”, disse André Jardine em uma palestra a respeito de suas ideias de futebol

Os mecanismos ofensivos

O aspecto mais importante no jogo curto e apoiado preconizado por Jardine é a saída de bola elaborada desde o goleiro e a participação dos zagueiros em fases de iniciação ofensiva. Neste cenário, centrais com qualidade no passe como Lyanco, Roger Ibañez, Luiz Felipe, Walce ou Murilo foram utilizados nos dois postos do 4-3-3 habitual da seleção sub-23. Com um dos conceitos fundamentais do jogo posicional em relação a função dos jogadores recuados sendo o “conduzir para atrair, fixar rivais e liberar companheiros”, a presença de defensores que saibam transportar a bola nos pés e filtrar passes que rompam linhas é decisiva. Por isso, pode-se dizer que a construção e armação das jogadas começa primordialmente desde eles.

Sem título

Outro ponto a se destacar nos mecanismos ofensivos praticados pela seleção é a constante formação de triângulos e fluidez nas trocas posicionais entre lateral, interior e extremo na ocupação dos espaços. As funções dos laterais são fundamentais para o funcionamento coletivo da equipe, seja com estes abrindo o campo ou especialmente aparecendo por dentro na base da jogada para liberar a zona da amplitude para os extremos. Dentro deste contexto, a relação entre o jovem Emerson e Antony pela direita está sendo uma das melhores notícias para Jardine, com o jogador do Bétis interpretando a melhor hora para aparecer por dentro, pelo corredor exterior ou até mesmo em zonas entre linhas dependendo do cenário do ataque, beneficiado pela capacidade de drible e jogo interior do jovem do São Paulo. No interior direito a completar a triangulação pelo setor, foram utilizados nomes como o de Matheus Henrique (já com a seleção principal), Bruno Guimarães e atualmente Wendel representa o titular da posição no sistema do time.

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Douglas Luiz, peça-chave 

O meio-campista do Aston Villa está demonstrando grande nível e entendimento dos conceitos do jogo de posição como um primeiro volante organizador no 4-3-3 de André Jardine. Sendo a peça que ordena os demais jogadores em campo através da relação com o passe, Douglas Luiz destaca tanto com passes verticais que encontram companheiros entre as linhas como com inversões que ativam os extremos em situações de 1vs1. Na campanha no Torneio de Toulon, o jovem formado nas categorias de base do Vasco da Gama foi eleito o MVP da competição e completou grandes atuações nos duelos contra Guatemala e França, com um nível destacável em termos associativos e inclusive pressionando após a perda da bola.

Pedrinho, em grande nível como interior esquerdo

O jogador do Corinthians desempenha uma função completamente diferente na seleção em relação a forma como é utilizado por Fábio Carille no Timão. Se no clube começa habitualmente como extremo pela direita, com Jardine todo o potencial criativo de Pedrinho é aproveitado a partir de um papel que relaciona o jovem de 21 anos com o jogo entre linhas. Com capacidade para receber nas costas dos meio-campistas adversários, girar através de controles orientados e qualidade na primeira relação com a bola antes de buscar últimos passes, Pedrinho também vem mostrando bom entendimento para esperar a bola chegar até seu espaço e inclusive variar de zonas com seus companheiros, normalmente com o lateral-esquerdo sendo utilizado na base da jogada como um interior (Iago Borduchi em Toulon e mais recentemente Caio Henrique) para o extremo, seja Bruno Tabata, Paulinho ou Rodrygo, garantir amplitude partindo de uma posição aberta pelo flanco canhoto. Ademais, sem a bola, Pedrinho costuma defender atrás do atacante, formando um 4-4-2 muito claro que é visto na fase defensiva da seleção canarinho.

Agora é acompanhar o desenvolvimento do trabalho nos próximos meses antes do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em que a missão dos brasileiros é seguramente alcançar a medalha de ouro que foi conquista na última edição do evento em 2016, quando o time sub-23 era dirigido por Rogério Micale.

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