O tetra de Gana e os destaques da Copa Africana de Nações sub-20

Na 16ª edição da Copa Africana de Nações Sub-20, a seleção de Gana tornou a levantar o troféu de campeã. Embalados por Fatawu, os Satélites Negros conquistaram o tetracampeonato numa edição recheada de jovens promessas.

Fundada em 1979, inicialmente como uma competição sub-21 e com formato de disputa diferente, a Copa Africana de Nações Sub-20 recebera a alcunha atual, que remete ao profissional, em 2015. A edição de 2021 foi disputada na Mauritânia, no noroeste do continente, sendo a primeira versão que contara com mais participantes, que passou de oito para 12 equipes.

A primeira partida aconteceu no dia 14 de fevereiro, quando a anfitriã Mauritânia perdeu por 1×0 para Camarões. A última partida aconteceu no sábado passado quando Gana venceu Uganda, na final, por 2×0, conquistando assim o tetracampeonato. Os Satélites Negros, uma brincadeira com o apelido da equipe profissional que é conhecida como Estrelas Negras, não conquistava o torneio desde 2009 e acabou igualando o recorde do Egito.

Aliás, a edição de 2021 não contou com os Pequenos Faraós, que haviam conquistado a CAN Sub-20 de 2013, e muito menos com a Nigéria, maior campeã do torneio com sete canecos. Mali, vencedora em 2019, não conseguiu se classificar para esta edição. Outros países tradicionais também falharam em conseguir um lugar na Mauritânia, como Senegal, África do Sul, Costa do Marfim e Argélia (a primeira campeã, em 1979).

Por outro lado, a edição de 2021 contou com estreantes como Tanzânia, República Centro Africana, Namíbia, Moçambique, Mauritânia (como anfitriã) e Uganda, que após falhar diversas vezes nas partidas de eliminatórias, conseguiu ser finalista logo na primeira vez que classificou.

Gana sagrou-se campeã após terminar em terceiro no Grupo C com quatro pontos. Os Satélites Negros estrearam com uma vitória por 4×0 sobre a Tanzânia, depois empataram em 0x0 com Marrocos e perderam por 2×1 para Gâmbia. Nas quartas-de-final, Gana empatou com Camarões por 1×1 e venceu nos pênaltis por 4×2. Na semifinal, uma vitória por 1×0 contra Gâmbia não só selou a passagem para a final, que posteriormente vencera por 2×0, como vingou a derrota na fase de grupos.

O grande destaque da equipe campeã e, porventura, eleito o melhor jogador do torneio foi o promissor ponta-direita Abdul Fatawu, 17 anos, do Steadfast-GAN. Tecnicamente, o ganês atuou na CAN com apenas 16 anos de idade, tendo completado 17 dois dias após a conquista. E não é só a idade que chama a atenção.

Logo na partida de estreia, na goleada por 4×0 sobre a Tanzânia, Fatawu marcou um gol antológico desde o círculo central do gramado, o famigerado “gol que Pelé não fez”. Esse fora o segundo gol do jogo, mas resumir a jovem estrela por esse lance é ignorar o fato de que Fatawu marcara outro golaço, na derrota por 2×1 contra Gâmbia, de longa distância, acertando o ângulo do goleiro adversário.

Embora seja bastante novo, Abdul Fatawu Issahaku já debutou como profissional na liga ganesa de futebol pelo Steadfast. Durante a CAN, o extremo se notabilizou pela qualidade nos chutes de longa distância, porém, a criatividade também chamou a atenção, sobretudo por ser um ponta diferente do clássico velocista. Fatawu é ligeiro, mas a precisão nos passes e visão de jogo realçam o potencial do camisa 22.

Graças ao elevado QI de futebol, a joia ganesa apareceu várias vezes como um meia mais centralizado, especialmente quando Percious Boah, centroavante alto e móvel, caia pela ponta e Daniel Barnieh Affriyeh se projetava como atacante. Na final contra Uganda, Fatawu deu assistência direta para Barnieh fazer o primeiro da partida em um cruzamento da extremidade direita, além de ter iniciado o segundo gol do camisa 10 com uma pré-assistência suntuosa em um passe longo do meio-campo que encontrou Boah na extrema-direita.

A equipe montada por Abdul Karim Zito jogava no 4-3-3, porém, devido a grande qualidade de Fatawu esse sistema era facilmente alterado para o 4-4-2 em momentos de transição, especialmente se fosse de maneira mais cadenciada. Com jogadores leves e com bom passe no último terço, a equipe de Zito usava a posse de bola para não sofrer riscos, controlando muitas vezes a partida mesmo com placares baixos.

Essa segurança no marcador também era justificada pelo goleiro Danlad Ibrahim, que merecidamente foi destacado como o melhor goleiro da competição. Alto e leve, o arqueiro ganês demonstrou um nível de concentração impressionante, principalmente quando a equipe esteve sob pressão. Ágil na saída do gol e em bolas aéreas, o jovem de 18 anos faz parte da tradicional equipe do Asante Kotoko FC, que disputa a elite do futebol local.

Fatawu e Ibrahim demonstram potencial para dar o próximo passo, potencialmente fora do país. Percious Boah, que deixou três gols na competição, é oriundo do Dreams FC, um clube de futebol da primeira divisão ganesa que há um bom tempo é solenemente focado no desenvolvimento de jovens atletas. Boah ainda parece um pouco cru, mas sob uma liderança adequada pode se tornar em uma referência ofensiva. Além dos três gols na tabela de artilharia, o centroavante ganês ganhou importância pela facilidade de locomoção pelos espaços do ataque.

Outros destaques

Com 77% da população com menos de 25 anos de idade, Uganda é um dos países mais jovens do mundo. Utilizando a seleção que entrou em campo pela CAN Sub-20 como parâmetro é possível compreender esse fenômeno, haja vista que pouquíssimos selecionados dos Grous passavam dos 18 anos.

Não obstante, Uganda não só conseguiu o vice-campeonato em sua primeira participação como também emplacou o artilheiro da competição. Derrick Kakooza, 18 anos, centroavante do Police Jinja, time que milita na elite ugandense, foi o grande destaque da organizada equipe comandada por Morley Byekwaso (eleito melhor treinador da CAN).

Kakooza é um centroavante com excelente posicionamento dentro da grande área, com força para brigar entre os zagueiros e uma facilidade tremenda para finalizar com os dois pés. Dos cinco gols que fizera no torneio, três foram na goleada por 4×1 contra a Tunísia pela semifinal. E por muito pouco não foi um hat-trick perfeito, pois foram dois gols com o pé direito e um de cabeça, que encobriu o goleiro tunisiano.

Além disso, o camisa 20 sabe trabalhar fora da área e se associar ao jogo dos meio-campistas. Kakooza faz muito bem o pivô e consegue ler os mismatches que pode causar contra defensores menores do que ele, algo que beneficia os companheiros mais velozes.

Se a organização de Uganda causou boa impressão, a Tunísia, que tinha uma equipe mais experimentada, demonstrou justamente o oposto e falhou em entregar o que era lhe esperado mesmo chegando em quarto lugar. Apesar disso, o meia-ofensivo Chibeb Labidi, 19 anos, foi eleito para a seleção do campeonato. Com 1,90m de altura, o canhoto tunisiano de passadas largas lembra aqueles jogadores dos tempos românticos do futebol com seus dribles curtos, porém, eficazes.

A seleção de Marrocos conseguiu a façanha de ser eliminada sem perder uma partida na CAN Sub-20, tendo empatado uma e vencido duas na fase de grupos antes de perder nos pênaltis para a Tunísia nas quartas-de-final. Entretanto, as quatro partidas foram importantes para mostrar ao mundo o talento de El Mehdi Moubarik, de 20 anos.

O meio-campista foi o principal orquestrador da equipe, fazendo-a andar com seus passes precisos e leituras de espaços no centro do gramado, sustentando a jogada ofensiva e dando opção de passe com a desmarcação. Sempre de cabeça erguida, Moubarik vestiu a camisa número seis na CAN, porém, o meio-campista é um “cinco clássico”, se posicionando a frente da linha defensiva e armando a equipe de trás. Além desses predicados todos, o marroquino deixou dois gols na competição em cobranças de pênaltis.

Assim como o Marrocos, Camarões também foi eliminado na Copa Africana de Nações Sub-20 sem perder uma partida sequer. Inclusive, até a eliminação perante Gana pelas quartas-de-final, nos pênaltis, os Leões Indomáveis detinham um aproveitamento de 100% na competição. Entretanto, outra coisa chamou a atenção nessa equipe, ou melhor, o sobrenome de um reserva.

Etienne Eto’o, 17 anos, não precisa de muita explicação, certo? O filho de Samuel Eto’o, lendário atacante do Barcelona e da seleção camaronesa, ficou no banco em três das quatro partidas, mas no último jogo da fase de grupos, quando o time já estava classificado, ele atuou como titular e acabou fazendo dois gols, sendo o primeiro numa belíssima cobrança de falta contra a Tanzânia. Ao contrário do pai, Etienne veste a camisa 10 e atua como meia-ofensivo. O pequeno Eto’o demonstra qualidade para conduzir a bola e um bom nível de ambidestria.

Sem o mesmo holofote, porém, vital na campanha de Camarões, Blondon Meyapya, 20 anos, foi o zagueiro com melhor desempenho na CAN. Praticamente imbatível no jogo aéreo, o defensor dos Leões Indomáveis demonstrou grande concentração ao realizar desarmes providenciais e facilidade para defender no 1v1.

A única equipe que venceu nas quartas-de-final foi Gâmbia, que atropelou a República Centro Africana pelo placar de 3×0. Além disso, os Escorpiões repetiram a campanha de 2007 ao ficar com o terceiro lugar da CAN Sub-20 ao derrotar a Tunísia nas penalidades. Muito dessa boa campanha deve-se ao trabalho de dois promissores jogadores: Lamarana Jallow e Wally Fofana.

Jallow, 18 anos, é um meio-campista muito habilidoso e incisivo em jogadas pelo centro. O jovem gambiano é um diamante que precisa ser lapidado com todo cuidado possível, pois ele reúne tudo o que há de melhor para quem está começando nessa função. Jallow tem ótima estatura ao mesmo tempo em que é ágil. Ele é capaz de inventar jogadas rápidas e possui um pé direito muito bom para passes e chutes de longa distância.

Fofana, 18 anos, pode jogar como extremo ou atacante. Embora tenha marcado apenas um gol na competição, na vitória por 3×0 sobre a RCA, Fofana demonstra possuir um teto de evolução bem espaçoso, pois ele consegue aliar velocidade com objetividade.

Devido à pandemia não teremos o Mundial Sub-20 nesta temporada. Gana, Uganda, Gâmbia e Tunísia seriam os representantes da Confederação Africana de Futebol na Indonésia.

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