PÃO E CIRCO?

Por @EryckWaydson Chegou a Copa do Mundo. Pelas próximas quatro semanas, o planeta estará mergulhado no universo do futebol – seja você um apaixonado pelo esporte ou não. Em meio a uma competição octogenária e de porte tão gigantesco (em 2014, a FIFA divulgou que 3,2 bilhões de pessoas acompanharam o torneio), atrair todos os […]

Por @EryckWaydson

Chegou a Copa do Mundo. Pelas próximas quatro semanas, o planeta estará mergulhado no universo do futebol – seja você um apaixonado pelo esporte ou não. Em meio a uma competição octogenária e de porte tão gigantesco (em 2014, a FIFA divulgou que 3,2 bilhões de pessoas acompanharam o torneio), atrair todos os holofotes é algo absolutamente normal. Entretanto, é preciso desmistificar alguns indivíduos que surgem neste período bradando o termo “Pão e Circo” – política adotada pelos líderes romanos. que ofereciam o lazer a fim de manter o povo à margem das discussões políticas.

Através da indicação de cinco livros, mostraremos por que o 11 contra 11 é muito maior do que o argumento falacioso que coloca os telespectadores do Mundial no balaio de quem não se preocupa com a sociedade.

Na lista abaixo, levei em consideração apenas títulos traduzidos para o português e fáceis de encontrar em livrarias ou sebos do Brasil.

 

1. A Bola Corre Mais Que Os Homens – Roberto DaMatta

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Publicado em 2006 por um dos principais antropólogos brasileiros, a publicação traz várias crônicas e três ensaios que tratam do papel social que o futebol exerce na criação da identidade do povo brasileiro – tendo relevante importância na transformação de contextos sociais.

Em uma linguagem simples – característica das obras de DaMatta – há destaques como os motivos que levam tal esporte ao status de paixão nacional, e de como isso se deu ao longo da história. É um livro interessante para entender por que um jogo de origem elitizada se tornou elemento fundamental de mudança para as camadas mais vulneráveis da sociedade. O tema central está nas experiências humanas, seus valores e significados dentro da nossa cultura.

“(…) foi certamente essa humilde atividade, esse jogo inventado para divertir e disciplinar que, no Brasil, transformou-se (sem querer ou saber) no primeiro e provavelmente no seu mais contundente professor de democracia e igualdade (…)”

 

2. O Negro no Futebol Brasileiro – Mário Filho

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Com a primeira edição publicada em 1947, o jornalista Mário Filho (sim, o mesmo do Maracanã) retrata a longa batalha que os atletas negros travaram para vencer o racismo e conquistarem o seu espaço no futebol brasileiro. Como já dito, o esporte que apaixona o nosso país era, primordialmente, praticado apenas pela elite – impedindo a participação de pobres ou negros.

O primeiro grande ídolo do futebol no Brasil, o paulista Arthur Friedenreich, alisava os cabelos para ter mais aspectos de branco. No Rio de Janeiro, os jogadores do Fluminense chegavam a usar pó de arroz para esbranquiçar a pele. Indo contra a cultura do período, o Vasco admitiu negros em seu time e foi até proibido de jogar. Nesta briga, o talento se sobressaiu e, no fim da década de 50, surge Pelé, negro e maior expoente do futebol mundial.

“A paixão do povo tinha de ser como o povo, de todas as cores, de todas as condições sociais. O preto igual ao branco, o pobre igual ao rico. O rico paga mais, compra uma cadeira numerada, não precisa amanhecer no estádio, vai mais tarde, fica na sombra, não apanha sol na cabeça, mas não pode torcer mais do que o pobre, nem ser mais feliz na vitória, nem mais desgraçado na derrota”

 

3. A Dança dos Deuses – Hilário Franco Júnior

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Hilário Franco Júnior publicou a obra em 2007 com o intuito de mostrar que o futebol está intrinsecamente ligado à forma de como as civilizações se constituíram. No livro, há a exploração do esporte sob o ponto de vista da linguística, antropologia, religião, psicologia e sociologia. Em linhas gerais, o autor expõe o futebol como o fenômeno cultural mais propagado pelo mundo – e como ele é poderoso no campo das relações interpessoais.

A publicação, dividida em uma parte histórica e outra mais analítica, é densa e aborda até o desenvolvimento de conceitos do próprio jogo, como a tática, transações de jogadores, direitos televisivos e relações com o empresariado de atletas. Mas vale a pena. Apesar de longo, a linguagem é fácil, tornando a leitura muito fluida.

“O futebol enquanto dança competitiva não é somente figura de linguagem, como alguém indiferente a ele poderia julgar. Para Gilberto Freyre, os brasileiros transformaram o jogo britânico ‘bem ordenado’ em ‘dança cheia de surpresas irracionais e de variações dionisíacas’”

 

4. Como o Futebol Explica o Mundo –  Franklin Foer

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Podemos dizer que esta obra é uma das mais completas no que se propõe a explicar vários marcos históricos que tiveram no futebol um fator transformador. Em 2005, Franklin Foer trouxe neste livro conflitos complexos como A Guerra Iugoslava, A Reforma Protestante, os confrontos no Irã, o Comunismo, a violência dos Hooligans e o Apartheid. É o esporte no centro da globalização.

Foer dizia que o futebol está inserido não só na comunidade, mas também na economia e na estrutura política de onde se encontra.

“Segundo a maioria das escolas de ciências sociais, lugares como Glasgow deveriam ter superado o antigo tribalismo. Era o que dizia a teoria da modernização, herdada de Marx, refinada nos anos 1960 por acadêmicos como Daniel Bell, cultuada pela política externa do governo norte-americano e reapresentada, sob nova roupagem, pelos entusiastas da globalização da década de 1990. Ela afirmava que, uma vez que uma sociedade tenha se tornado economicamente avançada, também deverá tornar-se avançada do ponto de vista político – liberal, tolerante, democrática.”

 

5. Futebol & Guerra  -  Andy Dougan

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Publicado em 2004, temos aqui uma obra apaixonante. O britânico Andy Dougan narra a história de um grupo de desportistas do time ucraniano Dínamo de Kiev antes e durante a II Guerra Mundial, período que engloba a ocupação nazista. Atletas chegaram a ser levados para campos de concentração e outros fugiram. Entretanto, os que permaneceram por Kiev, para sobreviver, conseguiram emprego em um dos poucos lugares viáveis: a padaria de Josef Kordik, um apaixonado por esportes e, consequentemente, pelo futebol.

Posteriormente, Kordik reuniu jogadores do Dínamo e do Lokomotiv – ambos de Kiev e, à época, as maiores agremiações da Ucrânia – e dali nasceu o Start FC. A equipe até conseguiu bons resultados , mas uma vitória específica, em cima do Flakel, time alemão da SS (Schutzstaffel, organização paramilitar ligar a Hitler), trouxe os piores problemas possíveis. O livro é rico em elementos geopolíticos e históricos.

“Konstantin foi uma criança magra e enfermiça, que ficava muitas vezes aos cuidados de vizinhos enquanto a mãe e os irmãos saíam para trabalhar. Logo após a Revolução, o futebol organizado ficou abafado pela turbulência política, mas as crianças ainda jogavam. Konstantin foi convocado para os jogos com os meninos da vizinhança e, como era o menor de todos, os maiores o vigiavam. Eles jogavam durante horas no jardim de uma igreja próxima, e o jogo os mantinha afastados de confusões numa época em que muitos dos seus contemporâneos acabavam como mendigos ou criminosos. O exercício constante e o ar puro também ajudaram Konstantin e em pouco tempo ele se tornou saudável e forte.”

 

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