QUANDO UM PROJETO ENCONTRA SEU TÉCNICO
Por @_GabrielCorrea Campeão Espanhol em 2003/04, o Valência viveu momentos turbulentos nas últimas temporadas. A chegada do empresário Peter Lim, magnata de Cingapura, gerou um pingo de esperança para sanar as dívidas, contratar jogadores e voltar a conquista o título de La Liga. Na prática, as saídas de André Gomes, Mustafi, Paco Alcácer, Barragán e Javi Fuego não […]
Por @_GabrielCorrea
Campeão Espanhol em 2003/04, o Valência viveu momentos turbulentos nas últimas temporadas. A chegada do empresário Peter Lim, magnata de Cingapura, gerou um pingo de esperança para sanar as dívidas, contratar jogadores e voltar a conquista o título de La Liga.
Na prática, as saídas de André Gomes, Mustafi, Paco Alcácer, Barragán e Javi Fuego não tiveram reposição à altura. Quatro técnicos em apenas uma temporada (Gary Neville, Pako Ayestarán, Cesare Prandelli e Salvador González). O fim das dívidas ainda não aconteceu. Mas há momentos em que você encontra o técnico para por em prática seu projeto. Marcelino García Toral esperava um chamado após comandar o Villareal e transformou os valencianos em candidatos a surpresa desta temporada.
O Valencia pode conquistar o título? Pode, é claro. Ainda é cedo para um prognóstico melhor num campeonato onde a chegada de janeiro muda estratégias e formações dos clubes. De qualquer forma, invicto e na cola do Barcelona, já podemos observar a autoralidade do trabalho de Marcelino na reconstrução de Los Ches.
A escolha do esquema
Nas equipes por onde passou, Marcelino Toral sempre aderiu ao 4-4-2 por inúmeras razões táticas e, principalmente, financeiras. Primeiro no Recreativo Huelva 2006/07, onde ficou em oitavo lugar no Campeonato Espanhol e a apenas seis pontos de uma classificação para Copa da UEFA. O auge daquela equipe foi num fatídico 3-0 sobre o Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu, após Cannavaro ser eleito o melhor jogador do mundo. O time tinha um jovem Santi Cazorla e o ataque com Uche e Sinama-Pongolle. Depois, Toral levou o pequeno Racing Santander a uma semifinal de Copa do Rey e conquistou uma vaga na Copa da UEFA, ficando a quatro pontos de uma histórica classificação à Champions League.
“É um esquema (4-4-2) que reparte bem a equipe no campo de jogo e necessidade menos especificidade dos jogadores. Acredito que em outros sistemas, em determinadas posições, necessitas de jogadores muito específicos e quiça nestas equipes não haja possibilidades econômicas de contratar estes jogadores que marcam um estilo… uma forma de jogar. Jogar com 2 atacantes é ruim por diminuir um atleta no meio, mas gera mais dúvidas as defesas adversários e gera sempre o casos de 2×2” – Marcelino García Toral
Seu trabalho mais recente antes do Valencia, foi no Villareal. Marcelino chegou ao clube após seu rebaixamento e, em três temporadas, levou o Submarino Amarelo a uma semifinal de Liga Europa e classificou-se à Liga dos Campeões. Em todos os times, algo em comum: a escolha pelo 4-4-2 bastante simétrico, com foco na força defensiva e velocidade nas transições para o ataque após retomada, sem deixar de propor quando necessário.
Uma defesa agressiva
“Se o Valencia sofrer 65 gols na Liga mais uma vez, não conseguiremos nossos objetivos”, sentenciou Marcelino em sua chegada a Mestalla. E logo percebe-se porque as escolhas de Murillo, Gabriel Paulista e Kondogbia não foram à toa. A defesa tem como objetivo marcar o espaço e não ficar correndo atrás do portador bola e é aí que entra a relevância do francês Geoffrey Kondogbia: com um físico potente e velocidade na marcação, ele deixa os defensores mais seguros para manter suas posições ante a chegada do time adversário.
No momento de ataque, vê-se a necessidade de zagueiros como Murillo e Gabriel Paulista, que são rápidos e agressivos quando marcam alto. Por isso, quando a equipe está atacando, ambos sobem linhas e, no momento da perda da posse, o time pode breca o adversário com mais homens. No caso de algum lançamento às costas da linha defensiva, a velocidade de recuperação de ambos entra em cena. Diferente do período com Garay e Mangala, defensores notadamente mais presados.
O cerebral Dani Parejo
Aos 28 anos, Daniel Parejo Muñoz vive o melhor momento de sua carreira – ou está inserido no melhor contexto desde sua chegada ao Valência, em 2011. Ele é capaz de dominar partidas contra o Barcelona de Busquets, Xavi, Iniesta e Fábregas (2014) ou o Real Madrid de Modric, Kroos e Isco (2017). Tudo passa por Dani Parejo.
Em média, é que mais passa a bola nos jogos do Valencia (64 por jogo) e o terceiro que mais acerta (88,1%), atrás apenas dos zagueiro Murillo (89,9%) e Gabriel Paulista (91,3%). Num time que não fica tanto com a bola, Parejo tem a capacidade de acelerar ou diminuir o ritmo conforme a necessidade da partida.
A inteligência e versatilidade de Carlos Soler
O jovem de 20 anos surgiu em meio ao caos da última temporada e não decepcionou. Nas categorias de base, Soler sempre foi mais próximo de ‘6’ ao criar jogadas no esquema 4-3-3. Com a chegada de Marcelino Toral, e a mudança para o 4-4-2 em linha, o valenciano moveu alguns metros para direita e está atuando como extremo. Suas principais virtudes: associação por dentro com Dani Parejo, infiltração nas linhas adversárias pelo lado e seus passes (já são 4 assistências na Liga).
Ao atuar nesta posição, o camisa 18 tende sempre a centralizar para criar jogo ao lado de Kondogbia e Dani Parejo, abrindo espaço para o lateral direito aproveitar os lados do campo. No jogo contra o Real Madrid, ainda no início de La Liga, mostrou suas virtudes ao abrir espaço para Montoya na direita, esperar a jogada chegar ao lado oposto (o esquerdo) e infiltrar na área para finalizar. Abaixo o vídeo do lance:
O foguete Guedes
Sem espaço no PSG, o português Gonçalo Guedes precisava de minutos para não ser apenas mais um foguete molhado no futebol mundial. Extremo puro e de pé trocado, Guedes usa de sua explosão física para aproveitar os espaços que os adversários deixam e sua forte finalização para superar os goleiros adversários. Até a 12ª rodada do Campeonato Espanhol, são 3 gols e 5 assistências.
No time de Marcelino, sua principal função tem sido aproveitar o espaço entre o lateral e o zagueiro que Rodrigo puxa ao recebe entrelinhas. A outra possibilidade, é receber a virada de jogo no “lado mais fraco” para enfrentar o lateral no 1×1.
Atacantes complementares
Marcelino gosta de atuar com dois atacantes ao centro para criar situações de 2×2 e deixar a defesa adversária em dúvida. Num primeiro momento, se pensava que a dupla Rodrigo Moreno e Simone Zaza poderia ser parecido e não dar certo.
O carioca naturalizado espanhol sempre foi uma grande promessa. Velocidade e inteligência para atuar entrelinhas (como pudemos ver no vídeo anterior) são algumas de suas qualidades. Mas para muitos, o atacante vive de gols, e Rodrigo não acertava a meta adversário. Neste temporada tudo mudou. Sete gols e três assistências são os números do atacante em apenas 11 jogos na temporada.
O italiano, contratado por empréstimo na última temporada e em definitivo para 2017/18, veio como salvador da pátria, não rendeu e agora voltou a fazer gols. Com o recuo de Rodrigo para participar ativamente da criação e abrir espaço entre os marcadores, Zaza vem sendo o pivô e é quem recebe os principais lançamentos e cruzamentos do time. Com nove gols em La Liga, briga pela artilharia do campeonato com Lionel Messi.
A grande qualidade dos dois atacantes de Marcelino é que ambos se mostraram autossuficientes, criando chances – e marcando gols – a partir do nada. Numa equipe que prioriza o jogo reativo e de transição em velocidade, a capacidade de ambos em produzir gols sozinho é importantíssima.
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