QUEM EU SOU?
Por Valter Jr. *Jornalista e editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre Provavelmente você me conheça, já que sou muito falada por aí, mas quero me apresentar, pois sempre há gente nova se interessando por mim. Sou uma robusta senhora de 88 anos. Comecei magrinha e fui ganhando tamanho. Sinto-me muito bem no momento, […]
Por Valter Jr.
*Jornalista e editor de esportes do jornal Metro de Porto Alegre
Provavelmente você me conheça, já que sou muito falada por aí, mas quero me apresentar, pois sempre há gente nova se interessando por mim. Sou uma robusta senhora de 88 anos. Comecei magrinha e fui ganhando tamanho. Sinto-me muito bem no momento, mas vão me engordar mais uma vez. Temo sofrer de obesidade mórbida no futuro, mas espero que o interesse por mim não diminua.
Infelizmente não possuo autonomia. É o preço do sucesso, me falaram. Sou manipulada por uma gente que usa terno e gravata. Homens de negócios, dizem eles. Não gosto muito deles. Acho que eles apenas se locupletam com o meu espetáculo. Com o tempo, acabei me acostumando. Faz parte, dizem. Sinto-me usada por eles. Mas peço que releve essas pessoas. Valerá a pena, lhe garanto. Relaciono-me também com gente muito interessante. Prefiro aquele pessoal mais despojado, que usa camiseta e calção, que troca o sapato de bico fino por chuteiras. Devo minha fama a eles.
Não se deixe enganar pela minha idade elevada. Foram anos muito bem vividos. Mesmo assim, ainda possuo vitalidade de uma garota. Tenho muito gás para gritar gol. Pode olhar de perto, não tenho rugas. Sou uma oitentona inteirona. Muita gente tem a sua iniciação comigo. Iniciação futebolística, que fique claro. As imagens de quando me veem pela primeira vez ficam pintadas eternamente na parede da memória.
Lembro como se fosse ontem aquele gol do francês Lucien Laurent. Ainda é vivida a imagem de Ernest Libérati rompendo pela ponta cruzando para Laurent. Foi o primeiro dos 2.379 gols que testemunhei. Lembro de cada um deles. Se não acredita, é só me testar.
Mesmo que eu seja uma octogenária, ainda sou muito desejada. São muitos os pretendentes. Só alguns participam da minha festa, dada a cada quatro anos. São ocasiões especiais. Viajo o mundo para celebrar a razão da minha existência, o futebol. Cada uma das festas ocorre em um lugar diferente. Foram 16 países ao todo. Tive problemas somente com a Guerra. Ela me fez cancelar duas vezes as minhas festividades. Acontece. Aquela danada foi a única que conseguiu me parar. De resto, superei tudo. Passei por cima de terremotos, má organização e aproveitadores.
Os locais são os mais diversos possíveis. Às vezes escolho casas modestas, como o estádio Pocitos, para 5 mil torcedores, no Uruguai. Outras vezes são construídas casas suntuosas, mansões esportivas, como o Maracanã e o Azteca. Acho um exagero. Não preciso mais do que um campo, uma bola, jogadores e torcedores para ser e fazer os outros felizes, unir as pessoas em torno de mim. Culpa dessa gente de terno e gravata que falei há pouco. Reclamem para eles.
Independente de onde seja, todos querem participar do meu evento. Nem todos conseguem. Somente 77 países tiveram essa honra. Poucos conseguem me conquistar. É verdade que por vezes sou injusta. Já fui conquistada por Guivarc’h, Ronaldão, Barone, Ray Wilson, entre outros. E esnobei gente como Platini, Zico e Cruyff. O que fiz com Puskas em 1954 foi uma brutalidade. Peço desculpas. Também tenho defeitos. Paciência. Jogo que segue.
Essa sou eu, a Copa do Mundo. Agora preciso ir. Acomodem-se, a minha festa vai começar!
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