Quique Setíen e uma nova era em Barcelona?

Após a saída de Ernesto Valverde, clube aposta no ex-treinador de Las Palmas e Real Bétis para "resgatar suas origens" e buscar títulos ainda em disputa

Chegou ao fim a passagem de Ernesto Valverde no Barcelona. Depois da negativa de Xavi Hernández, o nome de Quique Setién foi confirmado com contrato até junho de 2022. Um treinador com as raízes do clube e pedido por muitos torcedores.

Aos 58 anos, o técnico espanhol chamou atenção pela maneira como colocou o Real Bétis para enfrentar Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid; mas foi no Las Palmas que mostrou ser um treinador que gostava de ter a bola, atacar e fazer com que os jogadores se divertissem dentro de campo. Agora, tem a chance de sua vida no Barcelona para buscar a consagração de uma ideia de jogo.

O modelo de Quique Setién

Adepto do “Jogo de Posição”, Quique Setién segue com suas convicções até o final. A equipe começa construindo com três homens, sempre. Em alguns momentos são dois zagueiros + volante, em outros são três defensores de origem. Será muito difícil (mesmo!) ver a busca por um o lançamento para o pivô de um centroavante mesmo que o adversário marque muito alto.

O 4-3-3 é seu esquema base e os lados do campo são muito importantes. Fazendo a saída de 3, seus times buscam amplitude máxima seja com os laterais ou extremas.

O primeiro Bétis de Quique Setién
O esquema 3-5-2 que venceu o Barcelona no Camp Nou por 4-3

Em sua primeira temporada no Bétis, deu liberdade total aos interiores (Fabián Ruíz e Guardado) para buscar o jogo e construir com os zagueiros mais atrás e, assim, sair da pressão ou atacar o espaço mais à frente. O treinador espanhol pede a melhor leitura do momento para estes dois homens gerarem sempre a superioridade no jogo e utilizarem o conceito de terceiro homem. Num segundo momento, ainda no Bétis, teve Lo Celso e Canales como estes jogadores e, no fim, eles foram os artilheiros do time.

“O jogador é mais feliz mesmo quando você dá a bola para ele, deixa as coisas claras. Por que todos viraram jogadores porque iam atrás da bola no pátio da sua casa. Até os menos dotados tecnicamente, todos queriam a bola”

Quique Setién, em entrevista ao The Coach’s Voice

Chegando nos atacantes, liberdade para atuar no último terço do gramado. Como mais posse de bola, os jogadores do lado acabam alternando entre criar chance a partir das jogadas de velocidade e 1×1 com momentos de aproximações por dentro. Assim como seus interiores, um “quê” de liberdade para os jogadores desta posição. Na fase defensiva, a necessidade de recuar para ajudar os laterais adversários.

As transições defensivas acabaram sendo um problema no Bétis. Suas equipes costumam marcar alto e fazer pressão no portador da bola logo após a perda da posse. Ao mesmo tempo que roubar a bola no campo adversário pode fazer o gol estar mais próximo, espaços são deixados as costas da defesa. Riscos e escolhas que podem ser calculadas.

Inspiração em Johann Cruyff

“Recuperar as raízes”. Este era um pedido da torcida nos últimos anos, apesar de todos os treinadores mais recentes terem um pouco de suas histórias enraizadas no clube, se queria algo mais próximo do que foram Pep Guardiola e Johann Cruyff. Quique Setién nunca negou sua paixão pelo Barcelona de Cruyff.

“Quando vi o Barcelona de Cruyff, comecei a moldar o que taticamente senti ao longo de minha vida.”.

Quique Setién no Coach’s Voice

Algo que sempre definiu seus trabalhos foi “coragem” para não abdicar de seus conceitos. Dentro de um clube como o Bétis, teve carta branca para não mudar com resultados ruins – até o momento de sua demissão, claro. De qualquer forma, pergunte a qualquer torcedor bético sobre sua importância para um clube e lembre que, antes de sua chegada, o clube brigava pelo rebaixamento e naquele momento voltou a competir na Liga Europa.

O contexto do atual Barcelona

As eliminações contra Liverpool e Roma foram sofridas, não há duvidas, mas os momentos contra Juventus e Atlético de Madrid também precisam ser analisados no contexto do clube.

Luis Enrique conquistou o triplete em 14/15 a partir do MSN (Messi, Suárez e Neymar). Porém, o envelhecimento natural do elenco aconteceu. Gerard Piqué, Jordi Alba, Sergio Busquets, Ivan Rakitic, Lionel Messi e Luís Suárez ainda estavam no XI titular. Não é fácil montar um esquema intenso com todos estes jogadores dentro da equipe.

Ernesto Valverde recebeu uma equipe sem Neymar e com Paulinho. Naquele momento, utilizou o 4-4-2 pouco usual nos últimos anos culés que acabou recuperando a boa fase de Iniesta, potencializou Busquets-Rakitic e deu ainda mais liberdade para Messi-Suarez. Competiu e, dentro da Espanha, dominou. De qualquer forma, a equipe parecia não ter forças para enfrentar adversários na Liga dos Campeões e o desgaste com a torcida se tornou insustentável.

Próximo do período eleitoral, a escolha de Quique Setién é, podemos dizer assim, um retorno às raízes (como citamos acima). Engana-se, entretanto, quem acha se tratar de uma escolha com convicções. A tentativa – e negativa – de Xavi Hernández poderia ser um indício, mas a busca por Mauricio Pochettino mostrou o oposto. Ir atrás de um treinador que reiterou não ter vontade de treinar o clube e, claramente, um aficcionado do Espanyol, indicou a busca apenas em agradar certas partes do clube.

Uma oportunidade sem Luís Suárez?

O uruguaio está fora por 4 meses e voltaria apenas numa (eventual) final da Champions League. Apesar não jogar para ele, o Barcelona está moldado para atuar como um centroavante como Luisito. Dentro disto, é possível ver pontos positivos e negativos.

Dentro da Liga, é possível que o Barcelona sinta num primeiro momento a ausência de seus gols e assistências – participou dos últimos 10 tentos do BCN -, e colocar Griezmann ou Messi neste local requer uma mudança em muito mais situações.

Entretanto, quando analisamos o contexto da Liga dos Campeões, onde os jogos possuem mais intensidade e, partindo do ponto que Lionel e Suárez não participam ativamente da marcação, é possível que a ausência do charrúa possa ser importante para competir neste cenário. Em suas ideias, Setién adota uma pressão pós-perda muito importante e, mesmo que Messi auxilie pouco, ter 9 jogadores de linha no momento defensivo pode ser importante. Resta saber quem serão estes.

É possível pensar num primeiro time de Setién?

Dentro de todas as situações citadas, ainda não sabemos qual será o poder de convencimento dentro do elenco e se terá carta branca para utilizar as peças que acha mais adequado para o modelo. Por isso, vamos partir do ponto que cenário será amplamente favorável para suas mudanças.

Na defesa, não vejo muitas alterações tendo Ter Stegen, Piqué, Lenglet e Alba como titulares. A primeira briga por posição será entre Semedo ou Sergi Roberto e, imagino que vantagem ao português por ocupar mais zonas do campo pelos lados, diferente do canterano que busca um jogo mais interior. Ainda cabe destacar Junior Firpo, que teve destaque com o próprio treinador e pode ganhar mais oportunidades.

No meio campo, Busquets será peça-chave. O jogador tem grande admiração pelo treinador. Frenkie De Jong será peça vital e pode ter mais liberdade para estar sempre no setor da bola ao lado do camisa 5. Resta saber quem será a terceira peça. Carles Aleña poderia ser o nome, mas este acabou sendo emprestado do Bétis. É possível que, num primeiro momento, Vidal jogue por questões de hierarquia. Arthur precisa estar 100% e, sendo assim, seria ficha um do treinador na posição. Neste processo, me parece que Riqui Puig pode aparecer treinando mais no grupo principal também.

No ataque, já citamos a ausência de Luis Suárez como “fundamental” para a implementação de um 4-3-3 mais simétrico. Sendo assim, Messi pode ser alçado a função de falso 9, onde tanto rendeu pelo clube culé. Ao seu lado direito, imagino que Griezmann possa atuar numa posição que, apesar de não ser sua melhor, se sentirá mais confortável. No lado esquerdo, Quique deve buscar ter mais velocidade para as transições e Ansu Fati, Carles Pérez e Dembélé, caso esteja saudável, brigam por uma vaga.

No fim, Setién terá um contexto diferente de suas antigas equipes. Novos desafios e possibilidades. De qualquer forma, sugiro sua entrevista no (ótimo) The Coach’s Voice.

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